Em retaliação ao governo, oposição derruba vetos de Lula e restabelece o “PL da Devastação”.

Em votação conjunta no Congresso Nacional, nesta quinta-feira (27), foram derrubados  os vetos do presidente Lula à Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei nº 15.190/2025),  o chamado  “PL da Devastação”.

Aconteceu o que as organizações de defesa ambiental temiam: a reabilitação dos dispositivos que autorizam autolicenciamento amplo, emissão automática de licenças e execução de grandes obras sem estudos ambientais.

Também ficaram em risco direitos de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Eles podem ser ignorados nos processos de licenciamento caso seus territórios ainda não estejam demarcados ou titulados.

A restauração do texto original, segundo os ambientalistas, permite que estados e municípios definam sozinhos os empreendimentos que podem ser licenciados automaticamente, sem análise prévia de impactos.

Obras em áreas sensíveis da Amazônia, como estradas e hidrovias, podem avançar sem salvaguardas, ampliar emissões de gases do efeito estufa, contrariando os compromissos defendidos pelo Brasil na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30).

“A derrubada dos vetos é um ataque aos fundamentos da nossa política ambiental, conflitando com tudo o que o país defendeu na COP30. Colegiados como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o próprio papel regulamentar da União ficam esvaziados”, afirmou Suely Araújo, do Observatório do Clima.
As entidades classificam a votação como o maior retrocesso ambiental em 40 anos.

“A  derrubada dos vetos pode nos levar ao precipício ambiental e climático, com mais desastres como os de Mariana e de Brumadinho”, disse Mauricio Guetta, da Avaaz.
“Derrubar os vetos significa ignorar a ciência, ampliar a insegurança jurídica e fragilizar a governança ambiental do país”, segundo Clarissa Presotti, do WWF-Brasil.

Para as organizações, manter os vetos era essencial para evitar insegurança jurídica, conflitos socioambientais e impactos climáticos irreversíveis, além de garantir coerência com a agenda internacional apresentada pelo Brasil em Belém.

Segundo Natalia Figueiredo, da Proteção Animal Mundial, “as incontáveis perdas à nossa biodiversidade promovidas por essa derrubada serão responsabilidade dos legisladores”.

PL da Devastação

A lei com novas regras de licenciamento ambiental foi aprovada na Câmara dos Deputados em julho deste ano, incorporando 29 emendas do Senado ao Projeto de Lei nº 15.190, e contava com apoio do agronegócio e de setores empresariais.

No dia 8 de agosto, o presidente Lula sancionou o projeto de lei com 63 vetos, convencido de que as medidas garantiriam “proteção ambiental e segurança jurídica”.

No mesmo dia, também foi assinada a Medida Provisória  1.308, para permitir licenciamento simplificado de projetos e obras consideradas “estratégicas” pelo governo. Ambientalistas criticam a MP por entender que ela cria atalhos para empreendimentos como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, a pavimentação de estradas e a liberação de outros projetos que passariam a ser aprovados por decisão meramente política.

No dia 18 de setembro, o Observatório do Clima publicou um levantamento que identificou 833 emendas do Congresso à MP. Cerca de 75% das propostas retomam dispositivos rejeitados pelo presidente Lula e 80% representam retrocessos ambientais.

Para a instituição, a estratégia permite usar a MP como atalho para reconstruir integralmente o “PL da Devastação” e incluir novos dispositivos sem debate público ou controle social.

 

Pedimos ao ChatGPT uma avaliação da COP30; veja o resumo que ele fez

A COP30 lançou um chamado histórico para que a humanidade se una em um “mutirão” contra as mudanças climáticas.

Houve aprovação de um pacote ambicioso de decisões para fortalecer a implementação do Acordo de Paris, com foco em mitigação, adaptação, finanças, tecnologia e capacitação.

Foi aprovada a triplicação do financiamento para adaptação das populações mais vulneráveis.

Também foi lançado um programa de trabalho de dois anos para tornar mais previsíveis os recursos públicos para países em desenvolvimento.

No aspecto financeiro, discutiu-se uma reforma para mobilizar capital privado e público.
Avançou a criação de princípios para “interoperabilidade de taxonomias” sustentáveis — para alinhar padrões financeiros sustentáveis entre países.

Transição justa 

Criação do Mecanismo de Belém para Transição Justa, para apoiar países na transição para economias sustentáveis de forma inclusiva.
Reconhecimento da necessidade de que a transição energética leve em conta justiça social, inclusão de comunidades vulneráveis, povos indígenas, e governos subnacionais.
Foram adotados “indicadores voluntários” para medir o progresso na construção de resiliência, dentro da meta global de adaptação.

Lançamento do Global Implementation Accelerator (“Acelerador Global de Implementação”): focado em ações de alto impacto, como redução de metano, remoção de carbono com soluções baseadas na natureza, energia renovável, baterias, digitalização, entre outras.
Criação do Technology Implementation Program (TIP): para apoiar países em desenvolvimento na implementação de tecnologias priorizadas para a ação climática.
Inclusão social e justiça climática

A COP30 reforçou a participação de mulheres, povos indígenas e comunidades afrodescendentes nas decisões climáticas.
Também reconheceu o papel fundamental de governos subnacionais (estados, cidades) no combate às mudanças climáticas.
Foi adotado um novo Plano de Ação de Gênero & Clima, para aumentar a influência das mulheres nas políticas climáticas.
Florestas e biodiversidade

A COP30 colocou uma ênfase especial na Amazônia,  reforçando a conexão entre natureza (florestas, biodiversidade) e clima.

Um dos processos anunciados foi o desenvolvimento de um “Roadmap Florestal e Climático” para deter e reverter o desmatamento.
Saúde e clima

A COP30 integrou a saúde na agenda climática, destacando impactos como doenças respiratórias, insegurança alimentar, saúde mental e acesso à água.

Reconhecimento de que a crise climática demanda uma abordagem de saúde pública, especialmente para populações vulneráveis.]

Apesar dos avanços, a transição dos combustíveis fósseis não teve um consenso claro: não foi acordado um plano global vinculante para eliminação rápida de combustíveis fósseis.

A meta de financiamento ainda é objeto de tensão: países em desenvolvimento pressionam por recursos mais previsíveis e robustos.

Progressos foram limitados em metano: ainda que alguns países tenham compromisso voluntário para reduzir metano, a cobertura não é global e há falta de medidas vinculantes.

Tensões geopolíticas permanecem, especialmente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que dificulta acordos mais ambiciosos.

Em síntese, a COP30 representa uma virada simbólica, com um novo momento de mobilização global (“mutirão”) para transformar compromissos climáticos em ação concreta.
Há avanços importantes em financiamento climático, especialmente para adaptação, e em mecanismos para uma transição justa.
No entanto, não houve uma decisão firme e unificada sobre o fim dos combustíveis fósseis, o que mostra limites nas negociações.
A conferência reforçou a importância da justiça climática, da participação social (mulheres, indígenas, governos locais) e da conexão entre meio ambiente, saúde e desenvolvimento.

COP30 começa com muita expectativa mas ainda longe da meta para conter aquecimento global

Até agora, pouco mais de 100 países enviaram suas novas metas para 2035. Mas a maioria ainda está longe do necessário para conter o aquecimento global. Apenas dois – China e Nova Zelândia – têm planos compatíveis com o limite de 1,5°C, e quase 90 países sequer apresentaram novos compromissos.

No domingo, véspera do início oficial da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), embaixador André Corrêa do Lago, divulgou sua décima e última carta à comunidade internacional, chamando os países para “um ciclo de ação” no enfrentamento da crise climática global. “Estamos concluindo um ciclo de palavras, para que o mundo abra um ciclo de ação”, disse o embaixador, que é o “presidente designado” da conferência.

Na carta, ele relembrou a trajetória de discussões sobre a crise climática, iniciadas com a ECO-92, no Rio de Janeiro. “Em Belém, honraremos essa continuidade: a capacidade de nossa espécie de cooperar, renovar-se e agir em conjunto diante da incerteza”, escreveu

Corrêa do Lago fez um resumo das cartas anteriores, nas quais foram delineadas as prioridades centrais para a COP30: reforçar o multilateralismo e o regime climático; conectar o regime climático à vida real das pessoas e à economia real; e acelerar a implementação do Acordo de Paris.

Na carta, o embaixador conclamou as nações e os diversos atores a estarem “conscientes do privilégio e da oportunidade de transformar as negociações de um fórum de debate adversarial em um laboratório de soluções” — um mutirão global pelo progresso compartilhado”, acrescentou.

Nesta segunda-feira (10), tem início as negociações da COP 30, que girarão em torno das definições das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês). As NDCs são metas de mitigação, ou seja, compromissos adotados pelos países para redução de emissões de gases de efeito estufa.

O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59% e 67% suas emissões até 2035, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.

Até o momento 79 países já divulgaram suas NDCs. Eles são responsáveis por 64% das emissões. Os 118 restantes, são responsáveis por 36%. A expectativa é que a agenda de mitigação da crise climática avance com ações mais concretas de financiamento dos países em desenvolvimento.

COP30 começa com muita expectativa mas ainda longe da meta para conter aquecimento global

Até agora, pouco mais de 100 países enviaram suas novas metas para 2035. Mas a maioria ainda está longe do necessário para conter o aquecimento global. Apenas dois – China e Nova Zelândia – têm planos compatíveis com o limite de 1,5°C, e quase 90 países sequer apresentaram novos compromissos.

No domingo, véspera do início oficial da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), embaixador André Corrêa do Lago, divulgou sua décima e última carta à comunidade internacional, chamando os países para “um ciclo de ação” no enfrentamento da crise climática global. “Estamos concluindo um ciclo de palavras, para que o mundo abra um ciclo de ação”, disse o embaixador, que é o “presidente designado” da conferência.

Na carta, ele relembrou a trajetória de discussões sobre a crise climática, iniciadas com a ECO-92, no Rio de Janeiro. “Em Belém, honraremos essa continuidade: a capacidade de nossa espécie de cooperar, renovar-se e agir em conjunto diante da incerteza”, escreveu

Corrêa do Lago fez um resumo das cartas anteriores, nas quais foram delineadas as prioridades centrais para a COP30: reforçar o multilateralismo e o regime climático; conectar o regime climático à vida real das pessoas e à economia real; e acelerar a implementação do Acordo de Paris.

Na carta, o embaixador conclamou as nações e os diversos atores a estarem “conscientes do privilégio e da oportunidade de transformar as negociações de um fórum de debate adversarial em um laboratório de soluções” — um mutirão global pelo progresso compartilhado”, acrescentou.

Nesta segunda-feira (10), tem início as negociações da COP 30, que girarão em torno das definições das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês). As NDCs são metas de mitigação, ou seja, compromissos adotados pelos países para redução de emissões de gases de efeito estufa.

O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59% e 67% suas emissões até 2035, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.

Até o momento 79 países já divulgaram suas NDCs. Eles são responsáveis por 64% das emissões. Os 118 restantes, são responsáveis por 36%. A expectativa é que a agenda de mitigação da crise climática avance com ações mais concretas de financiamento dos países em desenvolvimento.

COP30 começa com muita expectativa mas ainda longe da meta para conter aquecimento global

Até agora, pouco mais de 100 países enviaram suas novas metas para 2035. Mas a maioria ainda está longe do necessário para conter o aquecimento global. Apenas dois – China e Nova Zelândia – têm planos compatíveis com o limite de 1,5°C, e quase 90 países sequer apresentaram novos compromissos.

No domingo, véspera do início oficial da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), embaixador André Corrêa do Lago, divulgou sua décima e última carta à comunidade internacional, chamando os países para “um ciclo de ação” no enfrentamento da crise climática global. “Estamos concluindo um ciclo de palavras, para que o mundo abra um ciclo de ação”, disse o embaixador, que é o “presidente designado” da conferência.

Na carta, ele relembrou a trajetória de discussões sobre a crise climática, iniciadas com a ECO-92, no Rio de Janeiro. “Em Belém, honraremos essa continuidade: a capacidade de nossa espécie de cooperar, renovar-se e agir em conjunto diante da incerteza”, escreveu

Corrêa do Lago fez um resumo das cartas anteriores, nas quais foram delineadas as prioridades centrais para a COP30: reforçar o multilateralismo e o regime climático; conectar o regime climático à vida real das pessoas e à economia real; e acelerar a implementação do Acordo de Paris.

Na carta, o embaixador conclamou as nações e os diversos atores a estarem “conscientes do privilégio e da oportunidade de transformar as negociações de um fórum de debate adversarial em um laboratório de soluções” — um mutirão global pelo progresso compartilhado”, acrescentou.

Nesta segunda-feira (10), tem início as negociações da COP 30, que girarão em torno das definições das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês). As NDCs são metas de mitigação, ou seja, compromissos adotados pelos países para redução de emissões de gases de efeito estufa.

O Brasil se comprometeu a reduzir entre 59% e 67% suas emissões até 2035, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.

Até o momento 79 países já divulgaram suas NDCs. Eles são responsáveis por 64% das emissões. Os 118 restantes, são responsáveis por 36%. A expectativa é que a agenda de mitigação da crise climática avance com ações mais concretas de financiamento dos países em desenvolvimento.

Professora da UFRGS vai ser a voz do pampa na COP 30 em Belém

Márcia Turcato

Tatiana Mora Kuplich, tecnologista da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do INPE- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, é a mulher que vai falar sobre o bioma Pampa em evento no âmbito da COP 30, a conferência internacional sobre mudanças climáticas, em Belém, de 10 a 21 de novembro.

A fala de Tatiana, “Mudanças Climáticas e a Resiliência dos Biomas”, será no dia 12 de novembro, no Museu Emílio Goeldi, a convite do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Graduada em Biologia pela UFRGS- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, doutora e professora da UFRGS na pós graduação em Sensoriamento Remoto, Tatiana acumula conhecimento sobre o Pampa gaúcho, que tem uma área total de 194 mil km quadrados. No Pampa vive uma população de 6 milhões de pessoas e a perda da vegetação nativa já chega a 60%.

O pampa ocupa 69% da área do Rio Grande do Sul e apenas 2,3% do Brasil. No entanto, concentra 9% da biodiversidade do país, abrigando 12.500 espécies da fauna, da flora, bactérias e fungos. Deste total, 622 espécies estão criticamente ameaçadas de extinção.

As monoculturas são responsáveis pela supressão do campo nativo, como as lavouras de soja de arroz e a silvicultura, a de eucalipto para uso na construção civil, por exemplo. “Mesmo assim”, explica Tatiana, “o Pampa consegue manter suas características”.

A Lei nº 14.876, sancionada em 2024 pelo governo federal, retirou a silvicultura da lista de atividades de risco ambiental. Desse modo, a área utilizada para plantar eucalipto, ou outra vegetação exótica, não precisa passar por estudo de impacto ambiental nem por licenciamento, ampliando a vulnerabilidade do bioma.

Um fato alarmante e que ilustra o alerta da especialista, é que a partir do cruzamento dos dados da supressão de vegetação nativa detectado pelo sistema Prodes/INPE no bioma Pampa, entre 2018 e 2022, e as bases de dados emitidas pelos órgãos ambientais na esfera estadual e pelo Ibama, federal, observa-se que 94% da perda da vegetação do bioma  ocorreu sem autorização do órgão ambiental responsável. Esses dados indicam que o Pampa seja, possivelmente, o bioma brasileiro mais ameaçado na atualidade. Apesar do cenário sinistro, o objetivo do governo federal é alcançar a meta de desmatamento zero até 2030, conforme estabelece o Decreto Federal Nº 11.367 de 01 janeiro de 2023.

“As áreas agrícolas são mal manejadas, os rios são assoreados”, diz Tatiana. E explica: “se houvesse preservação, a inundação no Rio Grande do Sul não teria acontecido na proporção que vimos em 2024. Além disso, o bioma armazena gás carbônico no solo, que é um processo conhecido como sequestro de carbono, melhora a fertilidade e estrutura do solo, criando um ambiente mais resiliente e sustentável”. E conclui: “o cenário atual mostra que não estamos cuidando do Pampa, precisamos de mais unidades de conservação e de maior fiscalização”.

Unidades de conservação

Em parte, a supressão da vegetação nativa do Pampa pode ser explicada pelo fato do Rio Grande do Sul ter apenas 49 Unidades de Conservação (UCs), elas integram o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC), que abrange UCs federais, estaduais, municipais e particulares do bioma Pampa. Esta é a região brasileira com a menor cobertura por UCs, protegendo apenas 3,03% de sua área. Vulnerável, o Pampa fica exposto a eventuais fraudes, como a declaração de Área Rural Consolidada, que dispensa a preservação de 20% da vegetação nativa, como determina a legislação.

Em 2023 a supressão de vegetação nativa do bioma Pampa foi de 654,58 km quadrados, o equivalente a 65.400 campos de futebol, conforme mostra mapeamento feito pelo INPE. No acumulado de 2001 a 2023, a supressão foi de 114.164,65 km quadrados, ou 11,4 milhões de campos de futebol. O Pampa tem 11 sistemas ecológicos identificados: campo arbustivo, campo com areias, campo de barba-de-bode, campo de espirilos, campo de solos rasos, campo graminoso, campo litorâneo, sub-montano atlântico, floresta de araucária, floresta subtropical costeira e floresta subtropical interior.

O bioma Pampa existe há dezenas de milhares de anos, é típico do Rio Grande do Sul, e se estende ao Uruguai e também à Argentina. “É um bioma que convive muito bem com o pastejo do gado. Na região há propriedades rurais familiares com criação de gado, e isso é típico, o modo de vida de centenas de pessoas não prejudica o bioma”,  diz Tatiana, e explica: “este modo de vida pampeano precisa ser olhado com cuidado e ser respeitado. O Pampa não pode ser uma área fragmentada, tem de ser contínua. O campo funciona como um sistema de proteção”.

Carta do Pampa

A pecuarista Vera Colares atua na defesa da produção familiar, sustentável e harmônica com a natureza. Ela promove a valorização dos produtos locais e busca inserir os pequenos pecuaristas nas políticas públicas, estimulando o modo de vida tradicional e a importância da atividade para a conservação dos campos nativos.

Assim como a irmã, Márcia, Vera é uma referência no Sul do Brasil quando se fala em Pampa. Márcia é a coordenadora da União Pela Preservação do Rio Camaquã (UPP Camaquã) e Vera é a presidenta da Associação para Grandeza e União de Palmas (Agrupa).
Vera Colares defende a pecuária como atividade compatível com a conservação do bioma Pampa, onde os animais pastam livremente em campos nativos, prática apoiada pelos especialistas do bioma, porque o pastejo é uma atividade natural do Pampa, praticada há milhares de anos, como confirmaram pesquisas feitas a partir da análise do solo de áreas de  turfas, que armazena material em decomposição, além de fixar gás carbônico.

As irmãs Colares participaram ativamente do 13º Fórum Internacional de Meio Ambiente-FIMA promovido pela Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI) em Porto Alegre, em março. O evento encerrou com a divulgação de uma carta em defesa do bioma. Foram dois dias de debates com a participação de pesquisadores, técnicos, ONGs, empresários, políticos, jornalistas e moradores da região, que trouxeram propostas convergentes sobre como realizar a preservação do bioma.
A Carta em Defesa do Pampa pede que o Poder Público, em todas as esferas,  trabalhe proativamente para manter a integridade do Bioma Pampa, promova a pecuária extensiva, preferencialmente orgânica, ouvindo a sociedade civil, que é partícipe essencial para  qualquer transformação social que promova o bem-estar coletivo em bases ecológicas e permanentes. Íntegra da carta aqui https://fima.org.br/?p=1397

O evento contou ainda com a participação do cineasta Rogério Atama Rodrigues, da Atama Filmes, diretor do documentário Sobreviventes do Pampa (https://www.youtube.com/watch?v=o-hsP0IJwV8) filme com 35 depoimentos.

Protagonizado por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas e indígenas, o longa entrevista esses moradores, apresentando os laços íntimos e a conexão profunda construída no território. Logo na abertura do filme, o narrador explica que a palavra Pampa tem dois sentidos. Quando se fala sobre a terra, é a Pampa, quando se fala do povo e das atividades praticadas no bioma é o Pampa. E, talvez por ser “uma terra feminina, seja tão agredida e violentada,  numa sociedade machista como é a nossa”.

Por meio dos relatos em Sobreviventes do Pampa, é visível a urgência da preservação do bioma e a importância da fauna e da flora local. O filme é um documentário que fortalece a importância das ações de conservação de um ecossistema importante para o equilíbrio ecológico da região.

 

Filha de Trump anuncia resort para super ricos em uma ilha da Albânia

Ivanka Trump e seu marido Jared Kushner anunciaram um ambicioso projeto hoteleiro em uma antiga ilha militar na Albânia.

Um investimento de mais de US$ 1 bilhão está levantando uma série de preocupações ambientais, segundo Le Monde
Com uma fortuna conjunta estimada em US$ 7,1 bilhões pela Forbes em 2024, Ivanka,  filha do presidente americano, – e seu marido Jared Kushner acabam de adquirir uma ilha chamada Sazan. É um território albanês de 560 hectares localizado entre os mares Adriático e Jônico. O casal planeja construir um complexo hoteleiro ultraluxuoso reservado a uma clientela seleta. Um antigo local militar, ainda hoje sob o controle das forças armadas albanesas, a ilha poderia, portanto, passar por uma transformação espetacular.

Um projeto faraônico estimado em US$ 1,4 bilhão , já aprovado preliminarmente pelo governo albanês.

Há críticas, porém.  A Ilha de Sazan faz parte do Parque Marítimo Nacional Karaburun-Sazan, uma área protegida por lei. Como tal, qualquer atividade num raio de dois quilómetros da sua costa deve preservar a biodiversidade local.

Um dos críticos é Olsi Nika, biólogo marinho e diretor da ONG EcoAlbania. “Qual será o impacto das grandes obras públicas, da construção de docas, do tráfego de iates e do escoamento de águas residuais neste local? “, pergunta ele em entrevista ao Guardian .

Jared Kushner minimizou: ” Todos estão imaginando o pior . Mas, quando virem nossos planos, nossa lealdade e nosso respeito pelo meio ambiente , acho que as pessoas ficarão encantadas “.

Embora o acesso à ilha pareça claramente reservado a uma clientela muito rica , o casal ainda planeja abrir certas áreas ao público. “Estamos criando um produto de luxo de altíssima qualidade. Mas também acho que podemos desenvolver certos aspectos da ilha para permitir que os visitantes venham e desfrutem de sua gastronomia e de suas trilhas “, completa Kushner.

Já apelidada de “Ilha Trump” pelos albaneses, Sazan pode muito bem se tornar um novo símbolo da expansão imobiliária internacional da família Trump. E isso provavelmente é apenas o começo: segundo o The Guardian, Jared Kushner também está interessado no antigo prédio do Ministério da Defesa em Belgrado, Sérvia, com a intenção de convertê-lo em um hotel de luxo.

(Com informações do Le Monde e The Guardian) 

Aldeia Mbyá Guarani de Porto Alegre faz seu primeiro Carijo tradicional

A Teko’a Anhetenguá (Aldeia da Verdade, Verdadeira), em Porto Alegre (RS), viveu um momento histórico ao realizar seu primeiro Carijo/Karijo (produção artesanal de chimarrão). A iniciativa, que revitaliza saberes e fortalece a identidade cultural da comunidade Mbyá Guarani, integra o Projeto Ar, Água e Terra, realizado pelo Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM), com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

O primeiro Carijo protagonizado pelos moradores da aldeia da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre,  foi um evento de união e aprendizado. Todas as etapas seguiram a forma tradicional indígena.

As fases de colheita e preparação da erva-mate contaram com a participação do cacique Ramon e sua esposa Janaína, da Teko’a Yvyty Porã (Aldeia Serra Bonita), na Barra do Ouro, em Maquiné (RS). O casal desceu a Serra para compartilhar seus saberes tradicionais com a comunidade da Teko’a Anhetenguá.

Técnica de produção da erva-mate que requer tempo e dedicação, o Carijo inclui a coleta e seleção de ramos, passando pela “sapecagem” (ramos chamuscados no fogo um a um, manualmente), secagem sob um braseiro acima do fogo de chão, e a separação das folhas, até a moagem em pilão.

Importante para a autonomia e sustentabilidade dos Mbyá Guarani da Teko’a Anhetenguá, o trabalho se destacou por sua abordagem participativa, contando com a colaboração de indígenas e não indígenas da equipe do projeto, como biólogos e agrônomos.

O evento ocorreu em um dia de sol e céu limpo, o que realçou a simbologia do Carijo, uma vez que, para os Guarani, a ka’a/ ca’a/ caá (erva-mate) é um “presente” de Tupã, simbolizando a conexão com a Mãe Terra, o fortalecimento da energia, do espírito e do corpo.

Embora o chimarrão seja um elemento tradicional da cultura Guarani muito antes da chegada dos europeus à América do Sul, esta é a primeira vez que esta aldeia utiliza sua própria produção.

Para os Guarani, esse ritual é um elo com a Mãe Terra, reforçando a união e a energia vital da comunidade, não somente na roda de conversa, mas também com diversos usos tradicionais medicinais e em cerimônias. O costume, considerado sagrado pelos indígenas, foi observado e difundido pelos espanhóis e portugueses nos séculos XVI e XVII, principalmente pelos missionários jesuítas, no Vice-Reino do Rio da Prata, onde ampliaram o cultivo da erva-mate, tornando-se um dos símbolos do gaúcho e do Rio Grande do Sul.

Nos últimos anos, o IECAM tem intensificado seu trabalho junto a comunidades Guarani do Rio Grande do Sul, desenvolvendo projetos em parceria com instituições de renome como UNESCO, PNUD e IPHAN. O resultado mais recente e abrangente dessa jornada é o Projeto Ar, Água e Terra, que alcança mais de três mil hectares nos biomas Pampa e Mata Atlântica, conectando aldeias indígenas em dez municípios do Estado.

As ações são construídas para atender às necessidades locais e características ambientais de cada aldeia, priorizando a segurança alimentar. Para alcançar esses objetivos, a iniciativa promove atividades práticas como a coleta e o intercâmbio de sementes e mudas, a construção de viveiros e o viveirismo, a educação ambiental, o etnomapeamento e a reconversão produtiva. A finalidade principal é a gestão sustentável dos territórios indígenas.

O Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, fundada em 1991, no Rio de Janeiro, por ambientalistas envolvidos na histórica conferência Rio 92 (Eco 92). Desde 2011, o Instituto tem sua sede em Porto Alegre (RS), onde conduz ações voltadas à pesquisa e ao desenvolvimento de iniciativas socioambientais sustentáveis. Seu trabalho tem como base a valorização da biodiversidade e a revitalização dos saberes tradicionais.

No Rio Grande do Sul, o IECAM atua em parceria com as comunidades Guarani desde 1994, promovendo uma aproximação contínua e respeitosa. Ao longo dessas décadas, construiu relações sólidas com diversas aldeias, realizando projetos, pesquisas e ações colaborativas. Sua atuação também inclui a participação ativa em seminários, conselhos e audiências públicas, fortalecendo o diálogo entre os povos indígenas e a sociedade em geral.

Projeto Ar, Água e Terra

O Projeto Ar, Água e Terra nasceu a partir de uma seleção pública do Programa Petrobras Socioambiental em 2010, iniciando suas atividades em 2012. Desde então, tem se consolidado como uma referência em etnodesenvolvimento, recuperação e conservação ambiental no sul do país.

Com foco na abordagem etnoambiental, a iniciativa atende às principais demandas das comunidades Guarani, como a segurança alimentar através das kokué (roças guarani) e agroflorestas com espécies de uso tradicional guarani. Sua metodologia é construída de forma participativa, valorizando a troca de saberes, técnicas e práticas entre indígenas e não indígenas. Os próprios Guarani atuam como protagonistas e coexecutores das ações, apresentando suas necessidades e contribuindo, em cada etapa do processo, com soluções e caminhos alinhados a seus modos de vida e à preservação ambiental.

Unindo tradição, ciência e sustentabilidade, o Projeto Ar, Água e Terra é mais do que um conjunto de ações socioambientais — é um espaço de respeito, aprendizado e construção conjunta. Uma iniciativa que enxerga nos povos indígenas não apenas beneficiários, mas guardiões da floresta, do conhecimento e da vida.

(Com informações da Assessoria de Imprensa)

 

IBGE lança plano piloto para mapear as áreas verdes das cidades brasileiras

Uma proposta inédita para mapear áreas verdes urbanas no Brasil foi apresentada nesta segunda-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Guarulhos (SP) e Palmas foram escolhidos como áreas-teste por serem regionalmente diferentes, tanto em termos de formação das cidades como de clima e vegetação.

Segundo a responsável técnica da pesquisa, Manuela Mendonça de Alvarenga, a partir deste projeto piloto, a equipe da Diretoria de Geociências do IBGE pretende avaliar proposta metodológica que seja realizada futuramente em todo o território nacional.

“Para nós é importante lançar este estudo em caráter experimental, para que possamos colocar a proposta de metodologia em discussão, testar sua aplicabilidade a diferentes contextos e, a partir de um retorno de outros pesquisadores, de gestores e de demais partes interessadas, propor algo que possa ser aplicável a todo o Brasil”, disse Manuela.
De acordo com o IBGE, a metodologia realizada nesta investigação utilizou a definição de áreas verdes urbanas do Código Florestal Brasileiro, que considera áreas públicas ou privadas de vegetação (natural ou recuperada), que têm uma destinação no planejamento urbano diferente de loteamentos e moradias.

O instituto explica que a classificação de áreas verdes seguiu a proposta do Ministério do Meio Ambiente e de Mudança do Clima, que contempla diferentes tipos, como parques, praças, canteiros.

“Para a área de mapeamento,  foi considerada uma delimitação que segue o padrão internacional da ONU-Habitat pautado em densidade demográfica e tamanho da população em áreas contínuas. Além disso, foi proposta a utilização de dados de cartografia colaborativa, que indicam a presença de áreas verdes diversas. Estes foram utilizados como insumos para identificação preliminar, cruzados com outros de imagens de satélite, que indicaram a presença de vegetação”, diz o IBGE.
>> Siga o canal da Agência Brasil no WhatsApp

Conforme o instituto, em Guarulhos, foram identificados 7.096,37 hectares de áreas verdes urbanas, o que representa 45% das áreas urbanizadas do município, levando em conta a área de 800 metro em torno do centro urbano. Considerando as áreas verdes intraurbanas, o tamanho é reduzido para 6.036,73 hectares, e a proporção passa a ser de 38% das áreas urbanizadas da cidade.

“Com esse resultado, podemos interpretar qual é o grau do impacto que o entorno do centro urbano possui para a composição do mosaico de áreas verdes da cidade e consequentemente os serviços fornecidos à população”, explicou Manuela.
O IBGE informou que, em Palmas, o total de áreas verdes urbanas foi de 5.137 hectares, considerando a área de mapeamento com o entorno de 800 metros do centro urbano, o que representa 49,11% do total de áreas urbanizadas da cidade.

“Considerando apenas a área intraurbana, as Áreas Verdes Urbanas passam a somar 977,99 hectares, representando aproximadamente 10% da mancha urbanizada do município. A diminuição de cerca de 80% de áreas verdes entre os recortes intraurbano e periurbano se deve ao fato de que Palmas possui grandes extensões de matas ciliares de rios tributários ao Rio Tocantins que cruzam a cidade e não são consideradas áreas urbanizadas, devido à sua grande extensão sem moradias ou área construída”, afirma o instituto.
“O mapeamento foi proposto considerando a disponibilidade de insumos e a simplicidade de processamento, e, com isso, podemos chegar a um dado de qualidade para todo Brasil. Assim, a partir de uma primeira versão e de sua validação, o próprio mapeamento pode servir como entrada para treinar algoritmos de inteligência artificial, que poderão permitir uma atualização do mapeamento mais automatizada”, completa Manuela.

(Com Agência Brasil)

“Cidade lajota” toma mais um espaço da “cidade esponja”

São pouco menos de 250 metros quadrados , na extremidade do parque da Redenção na confluência com a avenida José Bonifácio.

Foi cedido a um posto de gasolina num tempo em que não havia preocupações ambientais, embora alguns “malucos” já falassem em mudanças climáticas.

Depois de décadas e de inúmeras tentativas dos movimentos ambientalistas para removar aquele corpo estranho dali, chegou-se a um acordo e a Petrobras, a última concessionária do espaço, devolveu-o à prefeitura.

Em vez de reincorporá-lo ao parque ou utilizá-lo para alguma atividade relacionada ao parque a prefeitura decidiu novamente concedê-lo para uma atividade comercial.

Resultado: está recebendo uma base de lajotas, para a instalação de contêiners de fast food. É um pequeno terreno triangular num extremo da área, mas a impermeabilização de um espaço do parque da Redenção tem uma conotação simbólica, numa cidade como Porto Alegre, onde o que se recomenda é o conceito da cidade-esponja.