Mudanças climáticas: Banrisul amplia linhas para financiar irrigação e recuperação de solo na 25ª Expodireto Cotrijal

O Banrisul estará presente na 25ª Expodireto Cotrijal, que acontece de 10 a 14 de março, em Não-Me-Toque. Com um portfólio completo para todas as categorias de produtores rurais, a instituição ofertará as linhas disponíveis no Plano Safra Banrisul 2024/2025.

Um estande do Banco, localizado no setor de instituições financeiras, atenderá o público das 8h às 18h, e contará com 40 especialistas em agronegócios, além de times direcionados às linhas de desenvolvimento, consórcio e suporte às máquinas da Vero.

Equipes também atuarão diretamente nas revendas, bem como prestando atendimento por meio de WhatsApp e e-mail.

O presidente do Banrisul, Fernando Lemos, destaca a importância de investimentos com foco em garantir aos produtores gaúchos resistência em casos de eventos climáticos adversos, principalmente após os últimos episódios ocorridos no Estado.

“Nesta edição, as linhas de crédito voltadas para irrigação, correção e recuperação de solos serão destaque, porque são fundamentais para proteger a produção e mitigar os impactos das intempéries”, afirma Lemos.

Para a 25ª Expodireto, empreendedores rurais podem contar com as taxas diferenciadas do Banrisul, com juros a partir de 2,5% a.a. para o pequeno produtor e a partir de 7% a.a. para o médio e grande produtor. Os prazos de financiamentos variam de acordo com a linha de crédito, podendo chegar em até 10 anos.

Novo estudo aponta litoral paulista como o mais poluído por microplásticos

Um estudo de pesquisadores brasileiros classificou o Rio dos Bugres, no litoral de São Paulo, como o segundo mais poluído por microplásticos do mundo.

De acordo com o pesquisador e biólogo marinho William Rodriguez Schepis, do Instituto EcoFaxina, a equipe coletou amostras de sedimentos em dez pontos, incluindo o Canal de São Vicente e o Canal do Porto de Santos, entre abril e julho de 2018.

No trecho mais contaminado do Rio dos Bugres, foram encontradas 93.050 partículas de microplásticos por quilo de sedimento coletado no fundo da água.

Apenas o Rio Pasur, em Bangladesh, no Sul da Ásia, é mais poluído, com 157 mil partículas na mesma quantidade de sedimentos.

São considerados “microplásticos” os fragmentos de plásticos com menos de 5 mm, que podem ser vistos apenas em laboratório.

Os materiais podem resultar da fragmentação de objetos maiores, como embalagens e fibras sintéticas de roupas e pneus.

No Rio dos Bugres, de acordo com o biólogo, as ocupações em palafitas influenciam a concentração de poluentes. Numa dessas comunidades, a Vila Gilda, que ocupa uma área de manguezal, vivem mais de 20 mil pessoas.

De acordo com o biólogo, esses poluentes podem ser cancerígenos e causadores de problemas circulatórios e neurológicos. Testes em peixes revelaram disfunções hormonais e reprodutivas.

A divulgação da pesquisa provocou uma nota da prefeitura de São Vicente, informando que monitora a situação referente ao índice de microplásticos no Rio dos Bugres por meio de estudos e relatórios ambientais internos, com “ações frequentes para minimizar os impactos, como a fiscalização de descarte irregular e multa aos infratores”. Um projeto para reurbanizar a região do Rio dos Bugres, o Parque das Palafitas, já teve suas obras iniciadas.

Outro estudo

Os índices de contaminação registrado no Rio dos Bugres supera o máximo encontrado na costa brasileira em pesquisa anterior da Ong Sea Shepherd Brasil em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).

Esse estudo, divulgado em setembro de 2024, considerou a Praia do Pântano do Sul, em Florianópolis como a “mais poluída por microplásticos do Brasil”. A Praia do Rizzo, na região continental da capital de Santa Catarina, ficou também entre as cinco mais poluídas.

No conjunto, Florianópolis ficou na terceira posição entre as cidades do país com a maior densidade de microplástico por metro quadrado nas praias.

Foram 16 meses de expedição, 7 mil quilômetros percorridos, 306 praias e 201 municípios visitados. Microplásticos foram encontrados em 97% dos locais analisados.

Cidades com maior poluição por microplásticos

Cidade                                  Quantidade por m²
Mongaguá, SP                         83.0000
Conceição da Barra, ES         44.0000
Florianópolis, SC                      43.3333
Arroio do Sal, RS                       43.0000
Natal, RN                                     39.8333
Fonte: Sea Shepherd Brasil e Instituto Oceanográfico da USP.

Conforme o relatório, a poluição do oceano causada por plásticos é descrita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos maiores problemas ambientais da história.

Os detritos entram facilmente na cadeia alimentar dos animais marinhos. Em 2023, o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) já havia detectado glitter e microplásticos em ostras e mariscos.

 

Lagoa da Conceição, símbolo da tragédia ambiental anunciada em Florianópolis

DUDA HAMILTON*

Um dos mais conhecidos cartões postais de Florianópolis, a Lagoa da Conceição está se tornando também um símbolo do acelerado processo de degradação ambiental que atinge toda a Ilha de Santa Catarina e a parte continental da capital catarinense.

Em 2021, a barragem de uma Estação de Tratamento de Esgotos da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) se rompeu, despejando milhões de litros de poluentes – esgoto sanitário – nas águas, nas dunas da lagoa, atingindo também casas e ruas. Foi uma tragédia anunciada.

No início de fevereiro, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) divulgaram um estudo que detectou em suas águas altas concentrações
de 35 substâncias contaminantes, entre elas cafeína, cocaína, antibióticos e anti-inflamatórios.

Resultado: na quarta-feira, 19/02, a Assembleia Legislativa aprovou requerimento do deputado Marcos de Abreu, o Marquito, do PSOL, e a situação ambiental da Lagoa será debatida numa Audiência Pública, prevista para março.

Deputado Marquito (PSOL): “O maior crime ambiental da história de Florianópolis”.

O deputado, que é agrônomo e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia, diz que a poluição das águas e das dunas da Lagoa da Conceição põe em risco não só a saúde dos moradores e turistas, mas também os mananciais que abastecem os aquíferos, garantindo água para a população. A Lagoa da Conceição tem de 19,7 km2 de extensão e no seu entorno vivem cerca de 15 mil pessoas, num dos mais antigos distritos da capital catarinense, criado por uma provisão régia em 1750.
O estudo que detectou a alta carga de contaminantes na Lagoa da Conceição faz parte do Programa de Recuperação Ambiental, imposto à Casan, empresa de
economia mista, responsável pela Estação de Tratamento em que ocorreu o acidente em 2021 na Lagoa, “o maior crime sócio-ambientel da história de Florianópolis, segundo o deputado Marquito .

A responsabilidade da pesquisa é da UFSC, em colaboração com o Ministério da Agricultura e Pecuária
(MAPA) e da Fundação de Amparo à Pesquisa, Tecnologia e Inovação de SC (Fapesc)
Segundo a assessoria de imprensa da Casan, o custo dos diferentes programas é de R$ 27 milhões. Deste total, pouco mais de R$ 10 milhões foram desembolsados
em indenizações de 78 processos concluídos e relacionados à tragédia de 2021, e cerca de R$ 2 milhões estão sendo aplicados em programas de apoio científico e
tecnológico junto à UFSC, como o que encontrou drogas lícitas e ilícitas em diferentes pontos da Lagoa.

Liderado pela professora Silvani Verruck, do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFSC, este estudo tem um custo de R$ 110 mil e deve ser
encerrado até dezembro deste ano. Em entrevista ao JÁ, a professora afirmou que a equipe ainda tem um grande desafio pela frente. “Vamos tentar remover este tipo de
contaminantes, já que os níveis encontrados são altos dentro de um contexto de química ambiental, embora baixos em termos de toxicidade”, explica.
Co-autor do trabalho, o dr. Rodrigo Hoff (MAPA), ressalta que serão necessários outros estudos na área de ecotoxicidade para avaliar o impacto destas concentrações na saúde humana e no meio ambiente. “É uma tarefa importante
para as próximas etapas”, alerta, acrescentando que agora, na segunda etapa das pesquisas, passam a usar um equipamento, já testado na cidade de São Lourenço
do Sul/RS, capaz de descontaminar a água utilizando um destilador solar, que tem o nome de REACQUA.
O deputado solicitante da audiência pública lembra que, em 2022, a Casan, como medida emergencial para evitar novos extravasamentos da Estação, passou a
bombear o efluente do reservatório para as dunas do Parque Natural Municipal da Lagoa da Conceição. Quatro anos depois do rompimento da estação de esgoto, os canos continuam lá e o problema ainda não foi solucionado.

Principais contaminantes encontrados na Lagoa
Na água: Benzolecgonina, Cafeína, Azeperol, Clindamicina, Piroxicam,
Sulfametoxazol, Dietilpropriona e Flunitrazepan
Nos sedimentos: Benzolecgonina, Cafeína, Piroxicam, Clindamicina, Alprazolam, Clonazepan, Cocaína e Dietilpropriona
No pescado: Nitrazepam, Nimesulida, Temazepan, Bezafibrato, Cocaína, Tramadol, Canabidiol e Codeína

Desastre ambiental
O desastre ambiental de 2021 ocorreu dentro do Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição, uma área protegida com cerca de 700 hectares. O parque foi criado em 1988 com o objetivo de conter o avanço das construções irregulares sobre as dunas entre a Praia da Joaquina e a Lagoa, a área é composta de vastos campos de dunas, cobertas por diferentes tipos de vegetação do ambiente de restinga, e por uma extensa e complexa rede de lagoas e cursos de água.
O Parque tem importância ecológica e econômica, com o intenso turismo. E já foi comparado na campanha política do atual prefeito Topázio Neto, do PSD, aos lençois maranhenses.
Sob a responsabilidade da Casan, foi construída na área a Estação de Tratamento de Esgoto, que se rompeu em 25 de janeiro de 2021, invadindo ruas, como a Avenida
das Rendeiras, cerca de 100 casas e arrastando carros e motos até chegar na Lagoa da Conceição. A Casan instaurou uma Comissão de Sindicância para
apurar o acidente, mas em novembro de 2022, a Comissão decidiu pelo arquivamento da sindicância, sem apontar responsáveis pelo dano ambiental.
Grupo de pesquisadores da UFSC, que monitora os efeitos do rompimento da Lagoa, considera que 90% do volume da barragem chegou à Lagoa.

Sedimentos (areia) e matéria orgânica depositaram-se às margens, modificando a topografia do local.
*Especial para o Jornal JÁ

(O Jornal Já vai trazer outras notícias sobre o grave problema ambiental na Lagoa
da Conceição. Acompanhe por aqui).

Meteorologia prevê “terceira onda de calor” no Rio Grande do Sul nos próximos dias

O Rio Grande do Sul deve enfrentar uma nova onda de calor neste final de semana.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) aponta que o centro-oeste gaúcho pode atingir os 40º C.

Para o Inmet, a nova onda de calor seria a terceira no país neste ano.

A primeira foi entre os dias 17 e 23 de janeiro e a segunda ocorreu entre os dias 2 e 12 de fevereiro, ambas localizadas também no Rio Grande do Sul.

O Inmet explica que, conforme a Organização Meteorológica Mundial (OMM), “uma onda de calor é caracterizada quando as temperaturas máximas diárias ultrapassam em 5º C ou mais a média mensal durante, no mínimo, cinco dias consecutivos”. E acrescenta que “essa condição deve abranger uma área extensa”.

Para as demais regiões, as instabilidades na Região Norte continuam, principalmente nas áreas que vão do Amapá até o Maranhão.

Os volumes de chuva podem atingir 100 mm em 24 horas, e os ventos, até 100 km/h. Situação resultante da presença nestes locais da zona de convergência intertropical (ZCIT).

De norte a sul, o país está sujeito a fortes chuvas no final de semana, com aviso amarelo de perigo potencial. O volume médio previsto é de até 50 mm, e ventos de até 60 km/h.

São Paulo
A Defesa Civil de São Paulo alerta para a ocorrência de fortes temporais nesta sexta-feira (21)  no estado. Conforme o órgão, “a combinação dos elevados índices de temperatura e umidade provocará chuvas em São Paulo, que pontualmente podem ser bem fortes”.

Os principais pontos sujeitos às precipitações são a região metropolitana da capital e o Vale do Paraíba. “Os moradores dessas localidades devem ficar atentos aos possíveis transtornos, pois a previsão aponta chuvas com volumes que podem chegar a 100 mm e ventos de até 100 km/h, de acordo com aviso laranja emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)”, divulgou a Defesa Civil.

O tempo instável em São Paulo deve-se a um sistema meteorológico estacionado próximo à costa do Sudeste. Diante desse cenário, a Defesa Civil do Estado reforça a importância de redobrar os cuidados, especialmente em áreas vulneráveis a alagamentos e deslizamentos de terra.

Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a previsão do Inmet para amanhã também é de um sábado com bastante calor, com a temperatura chegando aos 36º C, mas com pouca nebulosidade.

Já no domingo (23) o calor deve chegar aos 35º C e formação de muitas nuvens, embora sem previsão de chuvas. Na segunda-feira (24) devem acontecer pancadas de chuva isoladas.

O calor no Rio de Janeiro fez com que mais de 5 mil pessoas buscassem atendimento em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) desde o início do ano.

Apenas em fevereiro, cerca de 2,4 mil pessoas recorrem a unidades de emergência do SUS por complicações causados pela onda de calor.

A capital fluminense atingiu na última segunda-feira (17) o nível 4 de calor, o segundo mais alto em uma escala que vai até 5.

Esta foi a primeira vez que o Rio atingiu o patamar, desde a criação dos níveis pela prefeitura, em junho de 2024. Na segunda-feira, os termômetros chegaram a marcar 44ºC, a temperatura mais alta registrada pelo Sistema Alerta Rio desde 2014.

(Com informações da Agência Brasil)

Degelo nos pólos: mudanças no clima e na geopolítica global 

É a 29º viagem do glaciólogo gaúcho Jefferson Cardia Simões aos pólos. Ele sempre veraneia no gelo:  foi duas vezes ao Ártico e 27 à Antártica.

Aos 66 anos de idade, professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, esse cientista estóico, como ele mesmo se considera, vai e volta do gelo com a maior naturalidade.

Concedeu esta entrevista exclusiva apenas três dias após seu retorno a Porto Alegre (RS) em sua sala na Faculdade de Geografia da UFRGS em meio a um alerta da Defesa Civil gaúcha de alerta extremo de calor.

“Sou uma pessoa estóica, posso ficar dois meses fora de casa, mas quando volto assumo minha rotina e minha função de marido, pai e avó”. Simões é casado há mais de 40 anos, tem dois filhos e dois netos.

Nesta última missão, a Internacional Circum-Navegação Costeira Antártica (ICCE), que regressou ao Brasil no dia 31 de janeiro, Simões foi o chefe da expedição e coordenou 57 cientistas de sete países (Argentina, Chile, China, Índia, Peru, Rússia e Brasil).

O trabalho foi a bordo do navio quebra-gelo  Akademik Tryoshnikov, que navegou 27,1 mil km nos 69 dias da expedição. O navio pertence ao Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica de São Petersburgo, na Rússia.

Os dois meses de navegação em mares da Antártica, confirmaram para o pesquisador tudo aquilo que as evidências científicas já haviam indicado: as geleiras estão derretendo, a água do mar está ficando cada vez mais ácida, a fauna e a flora estão sofrendo alterações, assim como as correntes marítimas e as comunidades costeiras, que serão fortemente afetadas.

As regiões polares são mais sensíveis às mudanças climáticas e elas dão sinais claros do que está acontecendo. O derretimento das geleiras expõe as rochas e elas aquecem  a região porque propagam calor.

Quais foram os objetivos da missão?

O objetivo número um foi obter informações sobre a movimentação do gelo nas bordas do continente antártico, porque este gelo pode estar dinamicamente instável. São milhares de toneladas que podem ter um deslocamento abrupto e provocar uma turbulência sem precedentes no mar, algo como um tsunami. O segundo objetivo foi averiguar o nível de salinidade do mar, porque ele está mais ácido.

A pesquisa já identificou que a água do oceano austral está mais ácida devido a concentração de CO2. Isto porque o gelo que cobria a água do mar derreteu. Esse gelo funcionava como um isolante térmico. Sem essa proteção, a água do mar absorveu o CO2 que existe na atmosfera, a maior parte dele produto da interferência humana. As regiões polares são mais sensíveis às mudanças climáticas e elas dão sinais claros do que está acontecendo. O derretimento das geleiras expõe as rochas e elas aquecem  a região porque propagam calor.

As geleiras polares perderam 30% de sua área e as geleiras não polares, como as da Cordilheira dos Andes, por exemplo, perderam 40% de sua área, expondo pedras, gerando calor, provocando inundações no início do fenômeno, e agora escassez hídrica para as comunidades que vivem na base da montanha.

Como foi o trabalho em equipe com tantas nacionalidades envolvidas?

Essa foi a primeira vez que cientistas brasileiros atuaram na Antártica Oriental. O envolvimento de tantos países com o mesmo objetivo é, para mim, um exemplo de “diplomacia da ciência”, houve muita cooperação e entrosamento. Interessante notar que os sete países a bordo do navio eram aqueles que deram início ao BRICS, que é um esforço de cooperação econômica entre nações. O trabalho de pesquisa se valeu de balões atmosféricos para realizar a coleta de dados que permitirão entender melhor a formação das frentes frias e dos ciclones extratropicais, além da coleta de materiais, que são os testemunhos de gelo, e de amostras de água do mar, de neve e do solo.

A Antártica tem 90% do gelo do mundo. 1% de derretimento representa um aumento de 60 cm no nível do mar. Imagine isto em algumas décadas, comunidades costeiras irão desaparecer, assim como várias ilhas. Cenários mostram que o  nível do mar poderá subir 7m até o ano de 2100. O gelo antártico tem até 2 km de espessura, são cerca de 27 milhões de km cúbicos de gelo na Antártica, o suficiente para cobrir o Brasil com um manto de gelo de 3 km de espessura em toda a sua extensão. O território brasileiro tem 8,5 milhões de km quadrados.

Atualmente existe mais consciência sobre as mudanças climáticas em curso?

A questão do meio ambiente é global e os pólos estão inseridos na nossa vida, assim como a Amazônia e o Pantanal, por exemplo, há uma interdependência. Mudanças climáticas sempre existirão, mas é necessário reduzir o impacto sobre o clima imediatamente. Mesmo diminuindo o impacto que já provocamos, o nível do mar subirá 30 cm até o ano 2100.

No Brasil, de um modo geral, as pessoas pensam que a mudança climática está relacionada aos biomas verdes, como a floresta da Amazônia ou a flora do Cerrado. Mas tudo está relacionado, os fatores do meio ambiente são globais. Não há uma discussão relevante sobre mudança climática nas COPs (Conferências do Clima) eu nunca fui convidado para uma Conferência Internacional do Clima e nem devo ir na COP 30 (de 10 a 21 de novembro, em Belém, no Brasil). As COPs são eventos políticos, não são de ciência.

Há um visível derretimento do gelo no Ártico e uma disputa envolvendo várias nações. O que isso significa?

A navegação marítima é afetada com o degelo do mar no Ártico, surgem novos portos, novas rotas comerciais, nova geopolítica e até a militarização em novas fronteiras. O Ártico aqueceu cerca de 4 graus e abriu uma nova passagem marítima. Em breve, o mar congelado deixará de existir nos meses do Verão no hemisfério norte . E assim não haverá mais o albedo, que é o reflexo do Sol na neve, então o Sol vai aquecer diretamente a água do mar, modificando correntes marítimas, fauna e flora.

Na nova geopolítica, com a passagem marítima Nordeste, acima da Sibéria, o tempo das viagens comerciais de navio será reduzido em 10 dias, resultando em uma economia de 100 mil dólares, por embarcação, a cada viagem. Os navios não precisarão mais passar pelo Canal de Suez, no Oriente, ou pelo Cabo da Boa Esperança, na África, para dar a volta ao globo.

Mais ou menos 70% do Ártico é da Rússia, que vai estender sua plataforma continental em mais 350 milhas. O Ártico tem 6 países com costa territorial: Rússia, Estados Unidos (via Alaska), Canadá, Dinamarca (via Groenlândia, território autônomo), Islândia e Noruega. O Ártico também inclui os territórios de Svalbard, uma ilha administrada pela Noruega, e Nunavut, um território autônomo do Canadá. E vem daí toda a recente discussão do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que quer anexar territórios para expandir sua geopolítica. É a nova colonização. Para quem especula como ganhar mais dinheiro, a mudança climática não importa, é encarada como uma consequência para as futuras gerações, não agora. Uma visão simplista.

Qual o custo para realizar uma missão de tamanha importância e envolvendo tantos países?

Conseguimos um financiamento de 98% do projeto, cerca de 6 milhões de euros, da fundação franco-suíça Albédo Pour da Cryosphére e contamos com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-  CNPq, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul- Fapergs.

O degelo fortalece negócios

A Rússia detém a maior extensão litorânea no Ártico, ao longo da qual se estende a Rota Nordeste do Mar, a principal passagem da região. Em seguida, o Canadá possui a segunda maior costa, onde está a chamada Passagem Noroeste. Vivem diversas comunidades tradicionais na região. O Ártico é uma região rica em minerais, com destaque para a abundância de petróleo e gás. O Ártico também se destaca por ser uma área militarmente estratégica.

A região teve papel fundamental durante a chamada Guerra Fria, por conta da proximidade geográfica dos Estados Unidos com a Rússia, via Alaska, e bases militares foram construídas na região.  Com parte do derretimento do Ártico, o mundo do capital vê uma oportunidade de negócios. Não existe um acordo de proteção do Ártico, só existe para a Antártica, que está protegida até 2048. E depois, o que acontecerá?

* Jefferson Cardia Simões Faz parte de diversas entidades internacionais de ciências, como o Commttee on Antartic Research (SCAR/ISC). Obteve o PhD pelo Scott Polar Reserch Institute, University of Cambridge, Inglaterra, em 1990. 

 

 

História e inovação se fundem na paisagem do Cerro dos Porongos

Na fazenda Lanceiros Negros, no município de Candiota, no Rio Grande do Sul, uma pungente simbiose do agronegócio e do passado histórico se apresenta aos olhos do visitante.

Ali,  24 mil e 500 pés de oliveiras compõem a paisagem do cultivo da azeitona, em franca expansão no Estado,
emoldurados ao fundo pelo histórico Cerro dos Porongos, onde se deu o massacre do regimento de Lanceiros Negros, no final da Revolução Farroupilha.
Em versão, ainda controversa, conta-se que o regimento foi traído pelo comandante David Canabarro que os desarmou às vésperas de serem cercados e atacados pelas forças imperiais do comandante Moringue,
pondo fim ao sonho de liberdade de centenas de guerreiros negros que se uniram à luta dos farroupilhas em troca da alforria no final da revolução.

O passado de guerras une-se, silenciosamente, à crescente força da agroindústria na região da campanha gaúcha, que vem passando por gradual transformação da tradicional atividade pastoril para a agricultura e suas indústrias de beneficiamento de grãos.

A fazenda Lanceiros Negros, de propriedade do advogado e produtor rural, Jorge Santos Buchabqui, é um exemplo desta transformação na economia do Rio Grande do Sul.

Os 175 hectares de terra da fazenda, em outros tempos,
teriam sua cotação no mercado bastante desvalorizada, por ser uma terra íngreme e encascalhada, no entanto, encontrou no cultivo da azeitona a cultura ideal para o tipo de solo que oferece, pois, a oliveira gosta de terrenos
drenados e clima frio.

Da extensão total da propriedade, 90 hectares são explorados com olivais consorciados com a criação de ovinos, num manejo integrado que auxilia na limpeza do pasto.

A produção de azeitonas começou em abril de 2017 com a plantação de seis tipos de mudas; a Arbequina, a Arbosana, a Picoal, a Coroneike, a Coratina e a Frantoio. Segundo Buchabqui, “trabalhar com variedade é muito bom para a qualidade final do azeite, pois favorece a polinização das árvores e a produção do blend (mistura), na hora da industrialização do produto”.

Salienta o produtor que as espécies Picoal e Koroneiki , produzidas na fazenda, são destinadas à produção de azeite puro, sem blend. “A Picoal tem muito prestígio no mercado europeu”, comentou.
Nos primeiros anos de colheita, juntamente com o amigo, também olivicultor na região, deputado Luiz Fernando Mainardi (PT/RS), processaram a safra na indústria do empresário Luíz Eduardo Batalha, que lhes deu todo o suporte técnico para que se consolidassem no mercado.

Na busca de maior valor agregado para a produção de azeitona, a partir de 2023, montaram uma indústria própria, Olivas do Brasil, uma sociedade entre nove  empreendedores, que passou a produzir a marca do Azeite Torrinhas, nome dado em referência à localidade onde a indústria foi instalada, as margens da BR 293, entre os municípios de Candiota e Bagé, nas proximidades das
fazendas dos sócios.

Segundo Buchabqui, a localização da indústria de refino perto dos olivais é fundamental para a boa qualidade do azeite, pois quanto mais rápido o processamento menor é a chance de oxidar.

Ele disse que o azeite que vem sendo produzido no Brasil tem uma qualidade Prêmium, superior ao produto importado que chega no país. “O azeite europeu de primeira qualidade é consumido lá mesmo, o que eles vendem para nós é de segunda mão, feito de azeitonas maduras e muitas vezes um produto velho”, comenta.

Buchabqui acredita que um rigoroso controle na qualidade do azeite de oliva importado ajudaria muito no fortalecimento da indústria nacional, pois o azeite europeu entra no Brasil como sendo Prêmium e não é.
Os principais clientes do Azeite Torrinhas são os empórios, supermercados e restaurantes no RS, SC, PR e em Brasília (DF), mas a meta do grupo é tornar os preços mais competitivos dentro do país, capazes de competir com o
produto importado.

Para tanto estão montando um galpão industrial com
tecnologia da indústria FAST, de Capinzal (SC), e aumentando a capacidade instalada da fábrica para dar escala à produção.

Mais do que carvão: por um jornalismo que acredite noutras potencialidades da economia candiotense

Jornalismo e Meio Ambiente
Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental

Texto: Eliege Fante* e Eutalita Bezerra**

Imagens: Reprodução do documentário Candiota Natural – Sociedade, Cultura e Ambiente. Rastro – Ecologia Criativa 

Residem no Rio Grande do Sul as duas usinas que mais emitiram gases do efeito estufa no país, segundo os dados mais recentes do Instituto de Energia e Meio Ambiente.

A despeito desses números, abordados anteriormente neste Observatório, a defesa da exploração carvoeira em Candiota (10.710 pessoas, IBGE, 2022), na Campanha Gaúcha, onde localizam-se as referidas termelétricas, predomina nas notícias da imprensa gaúcha. Entre 2021 e 2024 somente Zero Hora publicou 27 notícias abordando aspectos relacionados ao polo carboquímico.

Já Correio do Povo, Sul21 e Brasil de Fato (RS) publicaram um menor número sobre esse tema, variando entre cinco e oito notícias cada um deles. Em comum, as fontes políticas locais e empresariais vinculadas à cadeia produtiva do carvão mineral. Há menos de um mês, a BBC Brasil publicou – e tantos outros meios republicaram – uma abordagem destacando os habitantes que não são “contra o planeta” por defenderem essa mineração.

A notícia O futuro incerto da cidade gaúcha movida ao combustível mais poluente do mundo: ‘Não somos contra o planeta’ é sensível ao modo de viver de uma parcela importante do município de Candiota (RS). Ao mesmo tempo, faz parecer que essa é a única forma de sobrevivência daquela população, obliterando outras cadeias produtivas presentes no município: 11 tipos de pecuária, incluindo gado de corte e de leite e a ovinocultura com produção de lã (IBGE, 2022); 561 estabelecimentos agropecuários sendo 22 tipos de lavoura permanente, como de frutas, e 18 tipos de lavoura temporária incluindo soja, outros grãos e outras culturas (IBGE, 2017).

Sem esquecer da presença das comunidades indígenas e quilombolas, entre os oito povos e comunidades tradicionais do Pampa, que têm direitos reconhecidos através da Convenção 169 (ratificada em 2002).

Candiota não é somente a sede da maior poluente do Brasil. É berço de lugares que merecem destaque na imprensa, como a Rede de Sementes Bionatur, que completa 27 anos no município. O presidente Alcemar Inhaia conta que, desde uma ação judicial vitoriosa para evitar a construção de uma barragem da mineração próxima aos empreendimentos da cooperativa, estão sendo um pouco mais ouvidos. Essa notícia de 2022 destaca a necessária “proteção de centenas de famílias assentadas na região de Candiota/Hulha Negra”. Em entrevista, disse: “Recentemente realizamos um seminário conjunto com outras entidades para construir uma proposta para o município, dialogando o que é a transição energética e o que é Candiota sem carvão. Candiota não é só carvão. Há quase 30 anos vimos a expansão da soja pelo bioma Pampa e resistimos com a nossa rede de produção de sementes orgânicas certificadas, que envolve cinco estados mais municípios da nossa região. Candiota é agrícola, a maior parte da população está na zona rural”. Destaque-se que o referido seminário não foi vislumbrado como notícia em nenhum dos veículos analisados, tomando como palavras-chave “carvão + candiota”.

Também em comum nas notícias, identificou-se as preocupações dos setores de que as decisões (pela continuidade ou não da exploração do carvão) fossem tomadas “de fora”. Porém, considerando-se as fontes ouvidas nas notícias, os setores distintos da mineração muito pouco participam. Em algumas reportagens, acadêmicos pontuam sobre suas pesquisas relacionadas ao tema ou organizações não-governamentais. Aqui destaca-se a fala do biólogo Francisco Milanez (Agapan) em 2023 neste sentido: “É importantíssimo que se fale de transição, mas é preciso que se fale com toda a população, nós queremos também ser ouvidos”. Não obstante o ambientalista não seja um morador de Candiota, alerta “que as melhores alternativas para que a transição seja efetiva ainda não foram colocadas à mesa, seja por demandarem custos mais altos em sua implementação ou por representarem perspectivas de lucros menores para as empresas envolvidas no processo”.

No que tange aos “de dentro”, para manter a analogia, o Movimento pela soberania popular na mineração (MAM) tem trabalhado em Candiota visando a um novo modelo de mineração. De acordo com Iara Reis, dirigente nacional do MAM, em entrevista, o ponto fulcral em Candiota é que o grande capital desconsidera toda a cultura econômica daquele território. “Precisamos pensar que aquele território sempre teve uma economia. Há várias cadeias produtivas para serem pensadas naquela região […] A mineração traz desenvolvimento e lucro apenas para uma parcela da população.”

Para comprovar, basta que se considere o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) do Rio Grande do Sul de 2013 a 2020: somente em 2020 Candiota ultrapassou a média estadual em desenvolvimento. Chama atenção que, mesmo figurando na primeira metade do ranking dos municípios (174 de 497) neste Índice, o maior valor foi atribuído ao bloco renda (posição 47), já que no bloco educação a posição é 249 e no bloco saúde é 459, dados não tão positivos e que jogam Candiota da metade para o final do ranking. Além disso, embora o percentual de 94% do esgoto tenha sido tratado em 2022, apenas 37,9% da população residente com abastecimento de água é atendida com esgotamento sanitário e 47,2% é atendida por serviço de abastecimento de água (consulta em agosto de 2024). Portanto, qual a real condição de vida dos habitantes de Candiota se a riqueza material gerada não reflete bem-estar ou um bem viver para toda a população? O primeiro passo para promover essa distribuição equilibrada pode ser horizontalizar a escuta e mobilizar a participação dos distintos grupos candiotenses. Aqui entra o jornalismo!

*Jornalista, doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS, integra o Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental UFRGS/CNPq. gippcom@gmail.com

**Jornalista, doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS e membro do Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental UFRGS/CNPq. eutalita@gmail.com

Relatório ganhou manchete: China dispara em energia solar e eólica

O Guardian destaca, nesta quinta-feira, um relatório da Global Energy Monitor (GEM) sobre a expansão das energias eólica e solar ao redor do mundo.

Chama atenção a posição da China que tem, segundo a pesquisa, 180 gigawatts (GW) de energia solar em construção e 15 GW de energia eólica.

“Isso eleva o total de energia eólica e solar em construção na China para 339 GW, bem à frente dos 40 GW em construção nos EUA”, diz o Guardian.

“Os pesquisadores só analisaram fazendas solares com capacidade de 20MW ou mais, que alimentam diretamente a rede”.

“Isso significa que o volume total de energia solar na China pode ser muito maior, já que fazendas solares de pequena escala respondem por cerca de 40% da capacidade solar da China”.

“A China , diz o Guardian, tem experimentado um boom em renováveis ​​nos últimos anos, encorajada pelo forte apoio do governo. Xi Jinping… Xi disse que “novas forças produtivas de qualidade” incluem o fortalecimento da manufatura verde.

Entre março de 2023 e março de 2024, a China instalou mais energia solar do que nos três anos anteriores combinados, e mais do que o resto do mundo combinado em 2023, descobriram os analistas do GEM.

A China está a caminho de atingir 1.200 GW de capacidade eólica e solar instalada até o final de 2024, seis anos antes da meta do governo.

“Análises anteriores sugerem que a China precisará instalar entre 1.600 GW e 1.800 GW de energia eólica e solar até 2030 para atingir sua meta de produzir 25% de toda a energia de fontes não fósseis”.

Entre 2020 e 2023, apenas 30% do crescimento do consumo de energia foi atendido por fontes renováveis , em comparação com a meta de 50%.  O principal objetivo da China nesse terreno é reduzir a dependência do carvão.

“Análises anteriores do GEM e do Centre for Research on Energy and Clean Air, um thinktank, descobriram que as aprovações de novas usinas de energia a carvão aumentaram quatro vezes em 2022-2023, em comparação com o período quinquenal anterior de 2016-2020, apesar de uma promessa em 2021 de “controlar rigorosamente” a nova energia a carvão. O crescimento no consumo total de carvão aumentou de uma média de 0,5% ao ano para 3,8% ao ano entre os dois períodos de tempo”.

Tensões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia, que concentrou a atenção de muitos países no fornecimento de energia, e grandes cortes de energia em partes da China nos últimos anos, aumentaram as preocupações das autoridades chinesas sobre a segurança energética.

 

Último glaciar da Venezuela: um recado aos que duvidam das mudanças climáticas

Por Márcia Turcato

As autoridades climáticas confirmaram que a Venezuela se transformou no primeiro país do mundo a perder todos os seus glaciares. Eles faziam parte da cadeia de montanhas da cordilheira dos Andes, de 8 mil km de extensão.

O comunicado oficial foi divulgado no dia 10 de maio. O último glaciar, La Corona, a 4.916 metros de altitude, no Parque Nacional  de Sierra Nevada, descongelou!

O glaciar saiu de 4,5 km quadrados de campo de gelo sólido para apenas 0,02 km de gelo, resultado da mudança climática que elevou a temperatura do planeta e tem provocado catástrofes ambientais não apenas no Brasil, como a recente enchente no Rio Grande do Sul, como também em Dubai, que é um deserto e enfrentou um temporal.

O climatologista e historiador do tempo Maximiliano Herrera lembra que outros países perderam as suas geleiras, mas isso foi no fim da era glacial, a milhões de anos, mas somente “a Venezuela é o primeiro país a perdê-las nos tempos modernos”.

Ele alerta que a Indonésia, o México e a Eslovênia podem ser os próximos, devido aos recordes de calor registrados recentemente.

Em entrevista ao JÁ (edição 11/04/2024), o montanhista e geógrafo Pedro Hauck já havia alertado sobre o degelo na cordilheira dos Andes, ocasião em que falou sobre sua experiência em alta montanha e as alterações que tem percebido em mais de duas décadas de escaladas.  Ele já escalou mais de 170 montanhas acima de 5 mil metros de altitude e a mais recente expedição foi ao Aconcágua, alcançando o seu cume, no período de 18 de janeiro a 04 de fevereiro deste ano.

Há pouco mais de 100 anos, a Venezuela possuía uma área de cerca de 1.000 km quadrados de cobertura de gelo e agora não tem mais nada. A perda da cobertura de gelo foi progressiva, em pouco mais de 60 anos o país perdeu cerca de 98% da área de glaciar.

Desde 2011, restava apenas o glaciar La Corona na Venezuela, também conhecido como Pico Humboldt, agora rebaixado para um mero campo de gelo. Durante seu auge, a cobertura de gelo cobriu uma área de 4,5 km quadrados. A partir de 2016, o derretimento passou a ser de cerca de 17% ao ano.

Geleira, ou glaciar, é uma grande e espessa massa de gelo formada em camadas sucessivas de neve compactada e recristalizada, de várias épocas, em regiões onde a acumulação de neve é superior ao degelo.

Relembre o que Pedro Hauck disse sobre degelo nos Andes:

“O clima é muito mais do que temperatura, o clima é precipitação, é vento, é irradiação. Todos esses elementos mudaram e nos Andes uma coisa que mudou muito é a precipitação, tem nevado cada vez menos, sem falar na temperatura que subiu muito. A média de temperatura no inverno nos Andes oscilava entre 14 graus centígrados negativos e zero. As rotas técnicas, com gelo, estão desaparecendo, assim como todos os glaciares, agora estão surgindo as rochas soltas. As estações de esqui estão fechando porque não há mais gelo”.

“A estação de esqui de Chacaltaya, na Bolívia, perto de La Paz, que era a estação de esqui mais alta do mundo, a 5.421 metros de altitude, fechou em 2009. Acabou o gelo por completo e a estação foi abandonada. Um amigo boliviano me disse que antigamente, a van do Clube Boliviano de Montanhismo passava na casa dos associados e eles iam para o cerro Chacaltaya e passavam o fim de semana esquiando no gelo. Com o fim da neve no cerro, acabou o Clube Boliviano, a estação de esqui, os empregos e a geração de renda oriunda dessas atividades.”

“Eu ministro um curso de alta montanha na Bolívia há algum tempo. São aulas práticas de técnica de escalada em gelo. Há três anos eu levava o grupo até 4.900 metros de altitude para praticarmos a escalada em gelo. Não tem mais gelo nessa altitude. Agora nós precisamos subir até 5.300 metros para encontrar gelo e praticar a técnica. Abaixo dessa altitude é tudo rocha exposta ao Sol e às variações climáticas”.

“Recentemente, a estação de esqui Vallecitos, no cerro Cordon del Plata, a cerca de 5 mil metros de altitude, na Argentina, foi totalmente abandonada, não tem mais gelo. A estação de esqui de Penitentes, 4.350 metros de altitude, ao lado da Rota 7, que vai de Mendoza, na Argentina, a Santiago, no Chile, está parcialmente abandonada desde 2016 porque não é em todos os invernos que há neve suficiente para a prática do esporte”.

Por conta do degelo, lugares que tinham abundância de água, agora não têm mais e as pessoas acabam abandonando suas terras e o estilo de vida e migram para as cidades. Em agosto de 2023, a região dos Andes, no pé da cordilheira, registrou temperatura de 38,9 graus centígrados.  E agosto é um mês de inverno.

Para onde vai a água do degelo?

O degelo dos glaciares na região do Andes, além de abalar as atividades econômicas no ramo do turismo, tem provocado o deslocamento de comunidades inteiras que tiveram suas vilas invadidas pela água e arrasado com a lavoura. Essas comunidades são refugiados climáticos, expressão definida pelas Nações Unidas (ONU) para as vítimas das mudanças climáticas.

Os cientistas ambientais são unânimes em afirmar que o degelo agrava ainda mais o aquecimento da Terra, porque durante esse processo ocorre a liberação de gases prejudiciais ao meio ambiente.

O glaciólogo brasileiro, Jefferson Cardia Simões, professor da UFRGS, também estuda o degelo nos Andes, em especial em uma área do Peru. O trabalho começou em setembro de 2022 e deve trazer muito conhecimento à tona. Quelccaya é a maior geleira tropical do mundo, tem 17 km de extensão, uma área de 44 km quadrados e está apenas 5,1 km da cidade de Cusco, mas o acesso é muito difícil e exige preparo físico.

A temperatura média na região é de zero grau. É um lugar muito procurado por praticantes de montanhismo. Desde 1978, Quelccaya perdeu 20% de seu tamanho, fenômeno que costuma ser citado por pesquisadores como um sinal das mudanças climáticas.

O derretimento do glaciar tanto pode ser consequência do aquecimento global como de alguma outra alteração climática, como a diminuição da precipitação de neve. Glaciólogos de outros países estudam Quelccaya desde 1970 e já perceberam um forte derretimento do glaciar e um consequente aumento do volume de água dos riachos locais, o que pode até provocar inundações no futuro.

 

 

 

 

 

 

Degelo nas montanhas mais altas do planeta, o sinal visível das mudanças climáticas

MARCIA TURCATO

Cadê o gelo que estava aqui?

É a pergunta que o montanhista Pedro Hauck, de 42 anos, faz a cada vez que lidera uma expedição ao Aconcágua, a maior montanha  do hemisfério sul, com 6.961 metros de altitude, na Cordilheira dos Andes.

O degelo é a consequência mais visível das mudanças climáticas nos pontos mais elevados da terra.

Nesta entrevista, Hauck fala sobre as alterações que tem percebido em 26 anos de escaladas. Paulista de Itatiba, ele é geógrafo formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), pós graduado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e guia de expedições de montanhismo, além de sócio da loja Alta Montanha e da agência Soul Outdoor, que organiza viagens de montanhismo.

Ele já escalou mais de 170 montanhas acima de 5 mil metros de altitude e a mais recente expedição foi ao Aconcágua, alcançando o seu cume, no período de 18 de janeiro a 04 de fevereiro deste ano.

Nas suas fotos é visível o degelo nas montanhas. Que leitura você faz sobre esse fenômeno?

-Eu sou uma testemunha das mudanças climáticas globais. Em 2002, na minha primeira experiência no Aconcágua, a montanha era totalmente diferente de hoje. Em fevereiro, que é uma época em que o derretimento do gelo está mais avançado, mesmo assim eu escalava em gelo, isso na Plaza de Mulas, que é onde fica o acampamento base, a 4.300 metros de altitude. Atualmente, e eu acabei de voltar de lá, na Plaza de Mulas, não tem nada de gelo. Zero gelo. Já escalei montanhas nos Andes cuja rota era pelo gelo, o gelo derreteu, como na montanha Rincon, com 5.590 metros de altitude. Era uma rota por uma canaleta de gelo e agora a escalada é em rocha pura. É muito perigoso, porque essas rochas estão soltas, elas estavam estáveis por conta do gelo, que funciona como cimento. As mudanças climáticas não são apenas alterações na temperatura. O clima é muito mais do que temperatura, o clima é precipitação, é vento, é irradiação. Todos esses elementos mudaram e aqui nos Andes uma coisa que mudou muito é a precipitação, tem nevado cada vez menos, sem falar na temperatura que subiu muito. A média de temperatura no inverno nos Andes oscilava entre 14 graus centígrados negativos e zero. As rotas técnicas, com gelo, estão desaparecendo, assim como todos os glaciares, agora estão surgindo as rochas soltas. As estações de esqui estão fechando porque não há mais gelo. A estação de esqui de Chacaltaya, na Bolívia, perto de La Paz, que era a estação de esqui mais alta do mundo, a 5.421 metros de altitude, fechou em 2009. Acabou o gelo por completo e a estação foi abandonada. Um amigo boliviano me disse que antigamente, a van do Clube Boliviano de Montanhismo passava na casa dos associados e eles iam para o cerro Chacaltaya e passavam o fim de semana esquiando no gelo. Com o fim da neve no cerro, acabou o Clube Boliviano, a estação de esqui, os empregos e a geração de renda oriunda dessas atividades. Eu ministro um curso de alta montanha na Bolívia há algum tempo. São aulas práticas de técnica de escalada em gelo. Há três anos eu levava o grupo até 4.900 metros de altitude para praticarmos a escalada em gelo. Não tem mais gelo nessa altitude. Agora nós precisamos subir até 5.300 metros para encontrar gelo e praticar a técnica. Abaixo dessa altitude é tudo rocha exposta ao Sol e às variações climáticas. Recentemente, a estação de esqui Vallecitos, no cerro Cordon del Plata, a cerca de 5 mil metros de altitude, na Argentina, foi totalmente abandonada, não tem mais gelo. A estação de esqui de Penitentes, 4.350 metros de altitude, ao lado da Rota 7, que vai de Mendoza, na Argentina, a Santiago, no Chile, está parcialmente abandonada desde 2016 porque não é em todos os invernos que há neve suficiente para a prática do esporte. Por conta do degelo, lugares que tinham abundância de água, agora não têm mais e as pessoas acabam abandonando suas terras e o estilo de vida e migram para as cidades. Em agosto de 2023, a região dos Andes, no pé da cordilheira, registrou temperatura de 38,9 graus centígrados.  E foi em agosto, mês de inverno.

Qual tua estratégia nas expedições para diminuir o impacto ao meio ambiente?

Nas minhas expedições faço de tudo pra zerar o impacto, não deixamos nada e ainda recolhemos o que é encontrado de lixo no caminho. Muitos dos locais que frequentamos são unidades de conservação e têm suas regras de controle e, por isso mesmo, não encontramos muitos resíduos. Tem ainda uma questão importante, que são as fezes, sempre levamos banheiros, não é químico, e as pessoas fazem suas necessidades dentro de um saquinho, e a gente traz de volta. As expedições ao monte Roraima, no Brasil, também adotam essa prática. Lá na montanha acaba não ficando nada. Deveria haver uma estrutura local para transformar o resíduo biológico em algum tipo de nutriente. É necessário pensar em soluções para essa questão. A gente vê que nesses destinos de montanhismo existe cada vez mais uma consciência ambiental, mas ainda falta organização.

Teu interesse pelo montanhismo, como surgiu?

A inspiração chegou aos poucos. Meu padrasto, Ernst Mossembock, é austríaco, ele viajou muito pelo mundo, eram viagens de aventura, não de montanhismo. Quando eu via as fotos dessas viagens eu achava muito legal. Minha mãe, Solange Vicentini, quando era jovem, fez uma viagem pela Bolívia, chegando até Machu Picchu, no Peru. As fotos dessas viagens também me impressionaram bastante. A primeira vez que vi montanhas foi viajando com eles, nas férias escolares,  fomos para a Argentina, quando conheci montanhas nevadas pela primeira vez e sonhei em fazer escaladas. Com 18 anos, junto com um amigo, fiz algumas viagens de carona pela Argentina e algumas escaladas em alta montanha, mesmo sem muito conhecimento, na base da aventura. Portanto, estou nessa vida há 26 anos e eu amo o que faço.

Nessas quase três décadas de montanhismo, quais foram os momentos mais difíceis?

A expedição mais difícil que realizei foi a primeira, aos 18 anos de idade, que durou seis meses, porque eu tinha pouca experiência. Fui de carona até Ushuaia, na Argentina, e a primeira montanha de altitude que escalei foi o Cerro Plata, em Mendoza,com 5.968 metros de altitude, considerada uma montanha-escola para quem deseja chegar ao cume do Aconcágua. Como eu não tinha dinheiro, dependia muito da ajuda dos outros, e cheguei a dormir na rua quando montei a barraca em um terreno de área urbana, e também ocupei uma casa abandonada. Uma das expedições mais difíceis que fiz foi a escalada do Aconcágua – 6.961 metros de altitude- sem o uso de mulas para carregar os equipamentos. A escalada demora, em média, uns 14 dias -depende muito das condições climáticas- e são quase 40 km para chegar na base da montanha caminhando, é uma aproximação demorada, e eu carregava uma mochila com mais de 40 kg, encarei tempestades terríveis e, além disso, a comida acabou antes que eu alcançasse o cume. Precisei pegar comida que havia sido descartada por outros montanhistas no caminho. Emagreci 8 kg nessa jornada. A montanha não foi a mais difícil, difícil mesmo foram as condições. Eu tenho 1m73 e peso 70 kg. A mochila cargueira que costumo levar nas expedições tem mais de 30kg. Sem dúvida, a prática do montanhismo exige muito preparo físico e uma lombar bem fortalecida. Recentemente estive no Paquistão, uma montanha de 8 mil metros, a Gasherbrum II – 8.035 metros de altitude. É uma escalada perigosa e muito técnica. Quando eu estava perto do cume o tempo virou e tivemos de descer e quando voltamos ao acampamento a tempestade estava muito forte e soterrou toda a nossa estrutura de escalada, como as cordas fixas, elas sumiram na neve e tivemos de procurar o material. A rota foi coberta por muita neve e ficou difícil encontrar o caminho. Nesses meus 26 anos de montanhismo, eu já realizei mais de 170 ascensões a montanhas de grande altitude. Enfrentei vários tipos de dificuldades nesse tempo, inclusive políticas, em países que passavam por crises de governo, mas no fim tudo dava certo.

ACONCÁGUA:

153 já perderam a vida tentando chegar ao cume

O Aconcágua, na Cordilheira dos Andes, com altitude 6.961 metros, localizado na província de Mendoza, Argentina, é o ponto mais alto do hemisfério sul e do Ocidente.

A montanha e seus arredores fazem parte do Parque Provincial Aconcágua, que abriga uma série de importantes geleiras.

O maior glaciar é o Ventisquero Horcones Inferior, com cerca de 10 km de comprimento, que desce a partir da face sul da montanha, com aproximadamente 3.600 metros de altitude, perto do acampamento Confluência. Dois outros grandes sistemas de geleira são o Ventisquero de las Vacas Sur e Glaciar Este/Ventisquero Relinchos, com cerca de 5 km de comprimento. A face mais conhecida é a do nordeste, chamada de  Glaciar dos Polacos, uma rota desbravada por montanhistas da Polônia em 9 de março de 1934. No entanto, a primeira tentativa de chegar ao cume do Aconcágua foi em 1883, por um grupo liderado pelo geólogo alemão Paul Gussfeldt. A rota que ele fez é agora um itinerário bastante  usado. A pessoa mais jovem a chegar ao cume do Aconcágua foi Tyler Armstrong, da Califórnia, Estados Unidos. Ele tinha nove anos de idade quando alcançou o cume em 24 de dezembro de 2013.  A pessoa mais velha a escalar foi Scott Lewis, que alcançou o cume em 26 de novembro de 2007, aos 87 anos de idade.

Desde a primeira morte de montanhista registrada no Aconcágua, do austríaco Juan Stepanek em 1926, 153 pessoas perderam a vida tentando alcançar o cume.