Na fazenda Lanceiros Negros, no município de Candiota, no Rio Grande do Sul, uma pungente simbiose do agronegócio e do passado histórico se apresenta aos olhos do visitante.
Ali, 24 mil e 500 pés de oliveiras compõem a paisagem do cultivo da azeitona, em franca expansão no Estado,
emoldurados ao fundo pelo histórico Cerro dos Porongos, onde se deu o massacre do regimento de Lanceiros Negros, no final da Revolução Farroupilha.
Em versão, ainda controversa, conta-se que o regimento foi traído pelo comandante David Canabarro que os desarmou às vésperas de serem cercados e atacados pelas forças imperiais do comandante Moringue,
pondo fim ao sonho de liberdade de centenas de guerreiros negros que se uniram à luta dos farroupilhas em troca da alforria no final da revolução.
O passado de guerras une-se, silenciosamente, à crescente força da agroindústria na região da campanha gaúcha, que vem passando por gradual transformação da tradicional atividade pastoril para a agricultura e suas indústrias de beneficiamento de grãos.
A fazenda Lanceiros Negros, de propriedade do advogado e produtor rural, Jorge Santos Buchabqui, é um exemplo desta transformação na economia do Rio Grande do Sul.
Os 175 hectares de terra da fazenda, em outros tempos,
teriam sua cotação no mercado bastante desvalorizada, por ser uma terra íngreme e encascalhada, no entanto, encontrou no cultivo da azeitona a cultura ideal para o tipo de solo que oferece, pois, a oliveira gosta de terrenos
drenados e clima frio.
Da extensão total da propriedade, 90 hectares são explorados com olivais consorciados com a criação de ovinos, num manejo integrado que auxilia na limpeza do pasto.
A produção de azeitonas começou em abril de 2017 com a plantação de seis tipos de mudas; a Arbequina, a Arbosana, a Picoal, a Coroneike, a Coratina e a Frantoio. Segundo Buchabqui, “trabalhar com variedade é muito bom para a qualidade final do azeite, pois favorece a polinização das árvores e a produção do blend (mistura), na hora da industrialização do produto”.
Salienta o produtor que as espécies Picoal e Koroneiki , produzidas na fazenda, são destinadas à produção de azeite puro, sem blend. “A Picoal tem muito prestígio no mercado europeu”, comentou.
Nos primeiros anos de colheita, juntamente com o amigo, também olivicultor na região, deputado Luiz Fernando Mainardi (PT/RS), processaram a safra na indústria do empresário Luíz Eduardo Batalha, que lhes deu todo o suporte técnico para que se consolidassem no mercado.
Na busca de maior valor agregado para a produção de azeitona, a partir de 2023, montaram uma indústria própria, Olivas do Brasil, uma sociedade entre nove empreendedores, que passou a produzir a marca do Azeite Torrinhas, nome dado em referência à localidade onde a indústria foi instalada, as margens da BR 293, entre os municípios de Candiota e Bagé, nas proximidades das
fazendas dos sócios.
Segundo Buchabqui, a localização da indústria de refino perto dos olivais é fundamental para a boa qualidade do azeite, pois quanto mais rápido o processamento menor é a chance de oxidar.
Ele disse que o azeite que vem sendo produzido no Brasil tem uma qualidade Prêmium, superior ao produto importado que chega no país. “O azeite europeu de primeira qualidade é consumido lá mesmo, o que eles vendem para nós é de segunda mão, feito de azeitonas maduras e muitas vezes um produto velho”, comenta.
Buchabqui acredita que um rigoroso controle na qualidade do azeite de oliva importado ajudaria muito no fortalecimento da indústria nacional, pois o azeite europeu entra no Brasil como sendo Prêmium e não é.
Os principais clientes do Azeite Torrinhas são os empórios, supermercados e restaurantes no RS, SC, PR e em Brasília (DF), mas a meta do grupo é tornar os preços mais competitivos dentro do país, capazes de competir com o
produto importado.
Para tanto estão montando um galpão industrial com
tecnologia da indústria FAST, de Capinzal (SC), e aumentando a capacidade instalada da fábrica para dar escala à produção.