João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, o gaúcho inconfundível, nascido no rincão dos Ávila, no distrito do Cerro Chato, em Santana do Livramento, foi sepultado nesta terça-feira, 28 de agosto, no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.
Ele viveu 91 anos, 70 dos quais dedicados integralmente ao resgate da cultura popular do Rio Grande do Sul, em busca da “alma do povo”, como ele dizia.
Em sua faina incansável, revolucionária, ele resgatou expressões, já quase extintas, de todas as componentes da cultura popular rio-grandense: dos açorianos, dos negros, dos indígenas, do peão pampeano. Mais de 100 danças e bailados, que já estavam esquecidos, ele resgatou. Não foi bem compreendido.
Em seu velório, no Palácio Piratini, circularam patrões dos CTGs e falaram da sua “contribuição ao tradicionalismo”, hoje um movimento conservador, nada parecido com o que João Carlos D’Avila pretendia quando fundou um Centro de Tradições Gaúchas em 1948.
As manchetes dos jornais reduziram-no ao “tradicionalista”, “símbolo do gauchismo”
Hirto em seu caixão, com o inconfundível boné, no centro de um salão palaciano, ele parecia estar rindo da confusão que semeou.
Sua obra, em todo caso, ficou e o tempo há de fazer justiça, não ao gaúcho Paixão Côrtes, idolatrado como arquétipo de um tempo perdido. Justiça ao pesquisador que foi buscar junto ao povo as raízes da cultura e da vida social.