Rio Grande do Sul pode ficar dois anos sem cálculo do PIB

Nos próximos dias estarão divulgados os PIBs de todos os Estados, referente ao segundo trimestre de 2018. Alguns já divulgaram, o do Rio Grande do Sul não será divulgado. Não há um número oficial.
Com extinção da Fundação de Economia e Estatística, em abril, foi dissolvido Núcleo de Contas Regionais. Os pesquisadores que faziam o cálculo do total de bens produzidos no Estado a cada ano foram disperso por várias secretarias.
“Eu fui parar no Departamento de Criminologia da Polícia Civil”, diz  o economista Roberto Rocha, ex-coordenador do Núcleo de Contas Regionais, da FEE, hoje lotado na secretaria da Fazenda..
Para fazer o que a FEE fazia, o governo do Estado contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a FIPE, fundação privada ligada à Universidade de São Paulo. Mas o IBGE não repassou os seus dados à FIPE nem reconheceu o cálculo que ela apresentou em julho para o PIB estadual de 2017.
Segundo o cálculo da FIPE a economia gaúcha cresceu 1% em 2017. O IBGE não  reconhece a metodologia adotada. Os economistas da FEE vão mais fundo: dizem que o cálculo da FIPE subestima o crescimento do PIB estadual por falta de dados e pela metodologia. Dizem que no acumulado do terceiro trimestre, o crescimento da economia gaúcha já havia crescido acima do 1%. “Podemos dizer que a taxa de crescimento pela metodologia correta ficaria entre 1,4% e 1,6%, nunca 1%”, diz Rocha.
Para o cálculo de 2018 também há incerteza. Por orientação da Procuradoria Geral da República o IBGE não transferiu o convênio que tinha com a FEE para troca de dados para a FIPE. Por conta disso o Tribunal de Contas do Estado determinou a suspensão do contrado do governo com a FIPE.
Na semana passada houve um encontro nacional dos pesquisadores que trabalham no cálculo do PIB para consolidar os números de 2016.  Esses números vão influir na distribuição dos recursos às capitais e aos municípios. O Rio Grande do Sul não estava representado.
“É a hora em que se fecham indicadores que influem na distribuição dos recursos”, explica o economista Roberto Rocha ex-coordenador do Núcleo de Contas Regionais, da Fundação Estadual de Estatística, responsável pelo cálculo do PIB no Rio Grande do Sul. “Estão sendo feitos os ajustes nos cálculos, então tem que ter alguém para defender sua parte”.
Desde que o IBGE unificou a metodologia para o cálculo do PIB nacional, uma equipe de técnicos da Fundação de Economia e Estatística (FEE)  sempre acompanhou e contribuiu para esses cálculos. “Recebíamos os arquivos com antecedência, para analisar e discutir nas reuniões técnicas”, diz Rocha.
Para o cálculo de 2018 também há incerteza. Por orientação da Procuradoria Geral da República o IBGE não transferiu o convênio que tinha com a FEE para troca de dados para a FIPE. Por conta disso o Tribunal de Contas do Estado determinou a suspensão do contrado do governo com a FIPE, que parou de fazer o trabalho. Está em aberto como o IBGE vai fazer sem a contribuição da FEE.
Raízes da crise
A Fundação Estadual de Economia e Estatística foi criada em 1973 para atender uma carência, num momento de crescimento nacional: a falta de estatísticas sobre a economia estadual,  números que pudessem gerar indicadores confiáveis para orientar decisões do governo e das empresas.
Dados reunidos em vários departamentos do governo formaram o acervo inicial de informações da fundação. Em busca de uma perspectiva histórica, os primeiros estudos da fundação rastrearam dados econômicos desde 1947, no início do processo de industrialização do Rio Grande do Sul.
Um desses estudos, “Trinta Anos de Economia Gaúcha” já identificava as raízes da crise que hoje abala o ânimo dos gaúchos: a falta de um plano que definisse prioridades, falta de projetos e, consequente, falta de investimentos.
Nessa época não havia metodologia unificada para o cálculo de um PIB nacional. “Cada Estado calculava o seu. Ia somar dava 150%, eram dados que não dava para comparar”, diz Roberto Rocha.
O IBGE começou a unificar a metodologia para obter um PIB nacional em 1985, pela necessidade de ter parâmetros para a distribuição dos recursos federais para Estados e municípios. Foram muitos anos para chegar a produção de números compatíveis que permitissem ter uma noção das partes, sem deformação do todo. Também esse acervo se perde com a extinção da FEE.
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