Geraldo Hasse
Até 50 anos atrás, a cana-de-açúcar, a laranjeira e o cafeeiro eram os principais exemplos da fácil adaptação de vegetais exóticos ao clima e aos solos do Brasil. Aqui e ali, também se pode apontar a boa assimilação do algodoeiro, do arroz, do coqueiro, do eucalipto e da videira, plantas presentes no território nacional há pelo menos um século. Entretanto, nenhum caso foi tão rápido e intenso quanto o da soja. Em apenas meio século a leguminosa chinesa Glycine max passou por um processo de “tropicalização” sem precedentes.
[floated align=”left”]Tendo partido do zero nos anos 1960, a soja representa hoje 50% do produto agrícola brasileiro.[/floated]
O grão inicialmente cultivado em roças coloniais no clima temperado do Sul do Brasil adaptou-se de forma espantosa às terras quentes do Brasil Central, do Nordeste e da Amazônia. Nesse avanço, apresentou ainda notáveis ganhos de produtividade e de qualidade. Maior exportador mundial de soja, o Brasil pode conquistar na safra a ser colhida no primeiro semestre de 2014 o titulo de campeão mundial na produção de soja, desbancando os EUA de um reinado secular.
O mérito dessa conquista é coletivo e deve ser dividido entre pelo menos sete protagonistas:
1 – os agricultores, que apostaram sem medo na leguminosa, a ponto de dar origem a dois “reis da soja” – Olacyr de Moraes nos anos 1970/80 e Blairo Maggi na década de 1990 –, assim chamados por produzir grandes volumes em áreas da chamada fronteira agrícola, explorando terras nunca antes cultivadas;
2 – os pesquisadores, que desenvolveram novas variedades de sementes e defenderam a nova cultura de doenças e pragas;
3 – a indústria de beneficiamento da soja, que construiu plantas no rastro das fronteiras abertas pela soja;
4 – os produtores de máquinas, implementos e insumos;
5 – os importadores de soja e seus derivados;
6 – o governo, que andou na frente (oferecendo crédito farto) e vem correndo atrás (na oferta de infraestrutura);
7 – São Pedro, que mais ajudou do que atrapalhou na expansão e no fortalecimento do elo mais dinâmico da cadeia do agronegócio.
Tendo partido do zero nos anos 1960, a soja representa hoje 50% do produto agrícola brasileiro. Por tudo isso se pode afirmar que esta leguminosa rica em óleo, proteínas e outras virtudes nutricionais é a protagonista central da maior aventura agrocientífica da história da humanidade na segunda metade do século XX.
Cabe perguntar se esse fenômeno teria acontecido com outra planta. A resposta é: provavelmente não. Falando a propósito da surpreendente adaptabilidade revelada pela Glycine max no Brasil, o agrônomo Eduardo Antonio Bulisani (Jundiaí, 1945-), ex-diretor adjunto do IAC, disse a este repórter em 1996: “Não sei se houve uma tropicalização ou se, simplesmente, o deslocamento para o Brasil Central revelou um potencial genético até então apenas desconhecido na soja”.
Alguns anos antes, em 1988, quando lutava para não perder o cetro de “rei da soja”, o banqueiro e empreiteiro de obras públicas Olacyr de Moraes (Itápolis, 1931-) admitiu a um repórter da revista Veja: “No fundo devemos quase tudo ao trabalho desses rapazes, técnicos e cientistas agrícolas”. Por incrível que pareça, essa foi a primeira vez que um representante da iniciativa privada reconheceu publicamente o mérito do pessoal da pesquisa genética na expansão da cultura da soja em território brasileiro.
Olacyr tinha consciência de que não teria alcançado sucesso sem ajuda técnica no cultivo de variedades adaptadas ao clima e ao solo de Ponta Porã (MS), onde havia comprado terras virgens no início da década de 1970, quando a soja começava sua fenomenal arrancada no Sul do Brasil. Para adaptar a leguminosa aos solos ácidos do cerrado, o megagricultor emergente cercou-se de técnicos de ascendência japonesa liderados por Tuneo Sediyama (Itápolis, 1943-), PhD em genética formado na Universidade Federal de Viçosa, um dos principais núcleos de estudo da soja no Brasil.
Esforço coletivo global
A tropicalização da soja foi um empreendimento conjunto de brasileiros, orientais, europeus e norte-americanos. A lista da legião de melhoristas da soja no Brasil começa no final do século XIX com o agrônomo Gustavo D’Utra, autor do primeiro documento técnico sobre o cultivo de soja na Bahia no final do século XIX; prossegue na primeira década do século XX com o francês Guilherme Minssen, professor de agronomia em Pelotas; avança na década de 1910 com o norte-americano E.C. Craig, professor de agronomia em Porto Alegre; continua na década de 1920 com Henrique Löbbe, pesquisador do Ministério da Agricultura em São Simão, no coração da zona cafeeira paulista; na década de 1930 recebe o impulso do polonês Czeslaw Biezanko, que difunde a soja entre os colonos do norte do Rio Grande do Sul e, nos anos 1940, experimenta o esforço de propaganda de Neme Abdo Neme, do Instituto Agronômico de Campinas.
Sem dúvida, porém, é nos anos 1950 que a difusão da soja se multiplica com o entusiasmo do agrônomo paulista José Gomes da Silva, brilha no vale do Paraiba do Sul com Shiro Miyasaka e Geraldo Guimarães; evolui no Sul com Jamil Feres, João Rui Jardim Freire e Francisco de Jesus Vernetti; na década de 1960, rende tributo ao norte-americano Edgard Hartwig e curva-se diante do paulista Romeu Kiihl; e triunfa nos anos 1970 com Emidio Rizzo Bonato, Manoel Miranda, Francisco Terasawa, Johanna Döbereiner, Flavio Moscardi, Tuneo Sediyama et alllii…
Para ser completa, a lista precisaria conter muitos mais nomes. Apenas o time permanente de pesquisadores da soja mantido pela Embrapa congrega uma centena de agrônomos, que trocam informações e compartilham experimentos com entidades e empresas que trabalham pela propagação da planta no Brasil.
Dessa rede fazem parte o Instituto Agronômico de Campinas; as faculdades de agronomia de Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria, Curitiba, Piracicaba, Rio de Janeiro, Lavras e Viçosa; o Ipagro, a Empasc, o Iapar, a Epamig e a Emgopa; e dezenas de estações experimentais oficiais e/ou campos particulares de melhoramento espalhados pelo Brasil com a cumplicidade de centenas de agricultores. Tudo isso sem contar instituições situadas nos Estados Unidos que ao longo da história colaboraram mais estreitamente com os técnicos brasileiros.
Metamorfose
A adaptação da soja ao Brasil baseou-se no melhoramento genético de um material extremamente diversificado. Aqui se plantaram sementes originárias do Japão, da Europa e dos Estados Unidos.
A maior parte das variedades comerciais introduzidas no Brasil veio dos Estados Unidos, cujos técnicos haviam coletado material diretamente na China e em outros pontos da Ásia – fato registrado no prefixo PI (Planta Introduzida) que se encontra na nomenclatura básica da soja norte-americana.
Em sua fantástica metamorfose ocidental, a Glycine max cresceu em número de cultivares, linhagens e variedades, recebendo por isso uma quantidade enorme de nomes pelos quais se tornou conhecida dos técnicos, comerciantes de sementes e agricultores.
Enquanto nos Estados Unidos, depois da Segunda Guerra Mundial, muitas variedades foram batizadas com o sobrenome de comandantes militares (Lee, Davis etc.), no Brasil criou-se o costume de homenagear o lugar onde a semente revelou sua importância. Hoje no Brasil a soja possui centenas de “marcas regionais”.
Parece fora de dúvida que a primeira variedade de soja conhecida no Brasil foi a Amarela ou Comum. Num trabalho intitulado “A Soja no Brasil”, que escreveu na década de 1950 em parceria com Neme Abdo Neme e que não chegou a ser publicado em forma de livro, José Gomes da Silva anotou que a variedade Amarela ou Comum, muito cultivada pelos colonos gaúchos, chegou a ser conhecida por “Rio Grande” em São Paulo na arrancada da Campanha da Soja, no início da década de 1950, quando a variedade mais difundida entre os agricultores paulistas era a Abura, “coletada há cerca de 20 anos, por técnicos do Instituto Agronômico, entre lavradores japoneses do município de Campinas”, segundo a pesquisa de Silva e Neme.
Na realidade, soube-se depois, a Abura foi doada ao IAC em meados da década de 1930 pelo Consulado do Japão em São Paulo.
Pesquisa avança
Tanto a Amarela/Comum como a Abura eram consideradas boas produtoras de óleo para a época – com teores, respectivamente, de 18,3% e 19,37% –, mas apresentavam alguns “defeitos”, escreveram Silva e Neme: acamavam com facilidade, “soltavam” as sementes (característica das vagens conhecida tecnicamente por deiscência) e eram suscetíveis a nematóides.
Parecida com a Abura, mas melhor do que ela, segundo os dois pesquisadores do IAC, era a 455, de porte ereto e menos propícia a jogar longe os grãos. Outras variedades coletadas nas colônias japonesas do interior paulista foram as asiáticas Otootan e Chosen, citadas como “boas forrageiras”, capazes de produzir em torno de 10 toneladas de massa verde por hectare, segundo ensaios de 1952/53.
Em seu trabalho, baseado em dados do começo da década de 1950, Gomes da Silva e Neme admitem que, mesmo depois de realizar ensaios com cerca de 400 variedades de procedência norte-americana, o pessoal do IAC ainda não tinha encontrado a soja “ideal para as nossas condições”.
O que se buscava selecionar para cultivo em solo paulista eram principalmente plantas mais altas/eretas e resistentes à deiscência (visando a colheita mecânica, pois nessa época já operavam nas lavouras de grãos algumas marcas de automotrizes importadas dos EUA); que não fossem suscetíveis ao ataque de nematóides; que se mostrassem mais produtivas por área; e, finalmente, que apresentassem bons índices em dois aspectos essenciais – massa verde e teor de óleo.
Desse esforço objetivo de melhoramento genético foram surgindo nomes que merecem registro como marcos da pré-história da soja no Brasil. A nomenclatura das sementes testadas nos anos 1950 em diversos campos experimentais “cita” locais como Avaré, Araçatuba, Aliança, Morro Agudo, Pereira Barreto, Paraná – quase todas, variedades selecionadas em municípios paulistas onde estava presente o imigrante japonês chegado ao Brasil em 1908 com um punhado de grãos de soja para cultivo rudimentar em hortas.
Dessas variedades pioneiras, consideradas “rústicas”, a mais importante para o pessoal do IAC foi a Mogiana, coletada em 1947 na região de Ribeirão Preto. Não fez grande carreira. No Sul, em 1960, os técnicos gaúchos batizaram a variedade Pioneira (seleção do cruzamento Biloxi x Chosen). Também não foi longe, mas a grande aventura da transformação genética da soja no Brasil estava começando.
Liderança técnica
Em todos os casos de sucesso das sementes desenvolvidas para as condições brasileiras, a pesquisa realizada no Brasil contou com a retaguarda de cientistas de outros países, especialmente dos Estados Unidos. Henrique Löbbe, que na década de 1920 testou cinco variedades asiáticas (recebidas de um agrônomo japonês que as trouxe da Manchúria) e 59 variedades norte-americanas (adquiridas pessoalmente em viagem aos Estados Unidos) na estação experimental do Ministério da Agricultura em São Simão (SP), manteve correspondência com o agrônomo William J. Morse, responsável pelo deslanche da lavoura de soja nos Estados Unidos na primeira metade do século XX.
Num artigo publicado em 19 de fevereiro de 1928 em O Estado de S. Paulo, Löbbe afirma ter selecionado três mutações espontâneas, denominadas Jomichel, Julieta e Joalo, de ciclo vegetativo muito precoce (90 dias). Diz ainda ter obtido por cruzamento outra variedade, a Artofi, “muito produtiva, de tamanho grande e coloração original”.
Depois, nas décadas de 1930 e 1940, outros técnicos nativos ou estrangeiros contribuíram para difundir a soja no Brasil. Os mais notórios foram o polonês Czeslaw Biezanko (1895-1986), no Rio Grande do Sul, e o sírio naturalizado brasileiro Neme Abdo Neme (1908-1973), no estado de São Paulo.
De modo geral, entretanto, é praticamente unânime entre os técnicos que o nome-chave na história da soja no Brasil é o do ribeirãopretano José Gomes da Silva (1925-1996).
Evidentemente beneficiado pelo trabalho de observação, pesquisa e seleção dos técnicos mais antigos do Instituto Agronômico de Campinas e de outras instituições, Gomes da Silva deu o pulo do gato quando, recém-formado em agronomia em 1946 em Piracicaba, passou dois anos fazendo mestrado em Iowa, nos Estados Unidos, de onde voltou, no final de 1948, disposto a promover aqui a exemplar integração norte-americana entre lavoura, pesquisa, indústria e governo.
No final da década de 1940 já se sabia em São Paulo e no Rio Grande do Sul que a simples garantia de compra de uma indústria, por mais estimulante que fosse, não era suficiente para manter os agricultores no cultivo regular da soja.
Swift
O esforço da inglesa Swift para fomentar a produção de soja no interior paulista, entre 1945 e 1948, deu bons resultados mas não foi à frente, talvez por falta de uma liderança técnica que promovesse a necessária articulação entre todas as pontas do processo produtivo, especialmente entre a lavoura e a pesquisa.
Foi esse o papel de Gomes da Silva. Com sua dedicação – tão grande que lhe rendeu o apelido de Zé Sojinha – ele mostrou que, ao apontar caminhos e buscar novas saídas, o pesquisador científico possui também uma missão política.
Contratado como pesquisador do IAC, José Gomes da Silva pegou na unha o esforço da indústria de óleos por uma matéria-prima mais rendosa e segura que algodão, amendoim, mamona e girassol.
Embora articulado com a indústria, visava principalmente ao consumidor. Na convivência com os norte-americanos, havia adquirido a convicção de que a leguminosa chinesa estava predestinada a ter grande futuro no Brasil. Falava com frequência na mística da soja.
“Desde o início eu pensei na soja como alternativa proteica para sanar a deficiência nutricional das populações pobres do Brasil, especialmente do Nordeste”, disse ele a este repórter em janeiro de 1996, alguns dias antes de morrer de um ataque cardíaco.
Dono da Fazenda Baguaçu, em Pirassununga, onde desenvolveu principalmente o plantio regular da cana-de-açúcar, Zé Sojinha cultivava idéias que lhe valeram a imagem de “comunista”. Para isso contribuiu seu engajamento na luta pela democratização da posse da terra.
No início da década de 1960 ele fundou em Campinas, junto com Carlos Lorena, também agrônomo, a Associação Brasileira de Reforma Agrária, que ficou na história como um dos primeiros focos de resistência ideológica à ditadura militar implantada em 1964.
Não há como negar que a Glycine max tripudiou cruelmente sobre o idealismo socialista de Zé Sojinha. Ele acreditava sinceramente que a soja poderia fortalecer a renda das pequenas propriedades e servir como instrumento de redistribuição fundiária.
Na realidade, deu-se o inverso: cultivada em larga escala, como monocultura, a planta contribuiu especialmente para reduzir o número de minifúndios e ampliar a concentração fundiária no Brasil.
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Embrapa 40 anos: os híbridos do cerrado
Os embrapeanos e seus admiradores estão festejando os 40 anos da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), criada em 1973 por Emilio Medici, o general ocupante da Presidência da República.
O fato de ter nascido em plena ditadura militar não tira o brilho da Embrapa. Mesmo sendo a mais recente joia da república, ela alcançou em relativamente pouco tempo um nível de excelência equivalente ao do Banco do Brasil (1851), BNDES (1952) e Petrobras (1953), sem falar de outros gigantes da civilização brasileira, como a Eletrobrás e a USP.
Com 47 centros de pesquisa onde trabalham mais de 2 mil cientistas e técnicos de nível superior, a Embrapa é um grande laboratório experimental que caminha ao lado dos produtores e, frequentemente, antecipa soluções agronômicas para problemas latentes; outras vezes é obrigada a correr atrás do prejuízo causado por pragas ou doenças. É o
caso da ferrugem da soja, que atormenta os produtores há mais de 10 anos.
Por tudo isso, é praticamente impossível imaginar o Brasil-potência-agrícola sem a ajuda embrapeana em pesquisas de solos, frutas, grãos, fibras e manejo de diversas espécies vegetais e animais.
“Nós vencemos sem seguir nenhum modelo agrícola externo”, afirmou o presidente da Embrapa, agrônomo Mauricio Lopes, na palestra de encerramento de mais um evento comemorativo realizado no final de setembro na sede da Federasul em Porto Alegre. Ninguém o contestou – talvez porque, sendo uma festa, o terreno parecia liberado para a semeadura de falácias.
Não é assim tão simples quanto sugere a fala do executivo estatal. Se o sucesso da Embrapa é indiscutível, não é verdade que ela se estabeleceu sem seguir um modelo.
Modelo norte-americano
Embora tenha muitas peculiariedades regionais – como a vastidão territorial e a variedade de solos e microclimas – que lhe permitiram tornar-se campeão de café, cana, frango, laranja e soja, o Brasil virou uma potência agrícola após adotar o modelo norte-americano que, desde o princípio dos anos 1950, nos impõe pacotes tecnológicos usados hoje de Picos do Piauí aos platôs do Chuí.
Não é difícil compreender o discurso e a postura de Lopes. Formado em Viçosa quando a Embrapa engatinhava, ele é um híbrido de cientista e político formado nos embates entre a pesquisa técnica, a burocracia estatal e os interesses do Agronegócio. Originalmente era geneticista (com pós-graduação nos Estados Unidos, claro) mas a luta pela sobrevivência da Embrapa o levou a trocar o laboratório pelos gabinetes onde nos últimos 20 anos vicejaram diversos projetos da iniciativa privada.
Nessa virada da pesquisa pura para a pesquisa comercial, a Embrapa abraçou como parceiros preferenciais as empresas de sementes e agroquímicos. Muitos pesquisadores com talento para os negócios preferiram tornar-se vendedores de projetos de pesquisa e/ou captadores de verbas necessárias à sobrevivência da empresa num ambiente dominado pelo pensamento neoliberal. Foi uma transformação tão grande quanto a migração das sementes orgânicas para transgênicas nas principais lavouras comerciais brasileiras. Não se deve esquecer que os embrapeanos pouco resistiram à pressão industrial pelos transgênicos.
O pragmatismo empresarial de Mauricio Lopes faz lembrar os agrônomos Luiz Fernando Cirne Lima e Allisson Paulinelli, os dois ministros responsáveis pela criação e implantação da Embrapa, entre 1973 e 1979.
Embora tenham nascido nos anos 1930, eles vieram de escolas diferentes. Cirne Lima formou-se em Porto Alegre e doutorou-se na Inglaterra. Paulinelli estudou em Lavras (MG) e posgraduou-se nos Estados Unidos. De certa maneira representam duas épocas, duas influências. Cirne ligado na pecuária europeia. Paulinelli, no agribusinesse norte-americano.
O marco divisório dessas duas épocas da agricultura brasileira foi uma planta chamada Glycine max, a fabulosa soja. Quando Cirne estava deixando o ministério, em 1973, a soja estava organizando a ponte Ijuí-Chicago. Quem mais se beneficiou dessa tremenda ascensão foi o mineiro Paulinelli, dublê de técnico e político que até mandato de senador exerceu por Minas Gerais, anos depois de deixar o Mapa.
Assim, não é por falta de conhecimento histórico, mas por conveniência política, que o maior executivo da Embrapa espalha a versão que mais afaga a autoestima nacional. Mas é fraude histórica dizer que o Brasil virou potência agrícola sem pagar tributo a qualquer modelo estrangeiro. Na realidade, é a dependência tecnológica, financeira e mercadológica que mantém o pais numa situação semelhante à da colônia dos primeiros séculos da história nacional.
Podemos sumarizar as influências predominantes sobre a agricultura brasileira, ao longo dos seus 500 anos, da seguinte forma:
I – De 1500 a 1800, cultivamos cana à moda afroportuguesa e mandioca, milho e fumo à base do extrativismo indígena
II – De 1800 a 1900, cultivamos café, algodão e plantamos ferrovias
para atender ao mercado europeu
III – Em 1887, D. Pedro II criou o Instituto Agronômico de Campinas,
entregue à direção técnica de europeus
IV – A partir de 1895, difunde-se o livro “Cultura dos Campos” (Assis
Brasil), uma compilação de técnicas agrícolas da Europa também usadas nos Estados Unidos
V – Após a Primeira Guerra (1914-1918), inicia-se a pesada influência exercida por indústrias de máquinas, pesquisadores e empresas norte-americanas compradoras de matérias-primas agrícolas
VI – Após a Segunda Guerra (1939-45), a importação de trigo amarra
definitivamente o Brasil aos EUA, que passa a nos vender máquinas e diversos insumos de acordo com um receituário que alcançará dimensão internacional com a Revolução Verde financiada pelos irmãos Rockefeller
VII – Em 1962, a citricultura brasileira vive um “boom” para atender o
mercado americano
VIII – A partir da 1973, o Brasil cultiva a soja de acordo com o
modelo americano, presente em todas as pontas do processo produtivo
No livro O Brasil da Soja – A Rainha do Agronegócio, deixei claro que a
revolução agrícola feita no cerrado brasileiro nos últimos 40 anos
teve três protagonistas básicos: a soja, os agricultores e os técnicos/cientistas.
Foi uma corrida de revezamento em que os três atores evoluíram se ajudando mutuamente, mas o denominador comum foi a tecnologia norte-americana, que se impôs por meio de uma presença maciça em termos de máquinas, fornecimento de insumos e compra de produtos.
Nessa saga extraordinária, a soja foi adaptada a diversas regiões brasileiras por um excepcional corpo de agrônomos e técnicos agrícolas – não só da Embrapa, mas também da Emgopa, da Epamig, do IAC, das Emateres estaduais e de escolas superiores e de grau médio de tecnologia agrícola.
Claro que houve subsídios governamentais, mas em todo o mundo a agricultura recebe ajuda oficial. O mais importante é que a partir da soja, muito mais do que antes, o Brasil se tornou tributário e dependente do modelo norte-americano, tanto que acabamos adotando como nossa terminologia que o define: agribusiness/agronegócio.
Como negar toda essa influência modelar se desde a Segunda Guerra Mundial centenas de agrônomos brasileiros foram se aperfeiçoar-se em universidades e centros de pesquisas dos EUA?
Citemos um dos primeiros e talvez o mais conhecido deles: José Gomes da Silva, o Zé Sojinha, voltou de lá em 1948 com a ideia do fomento da lavoura de soja mediante um pacto tripartite entre governo (financiamento da pesquisa e preços mínimos), indústrias compradoras da produção/fornecedoras de insumos e agricultores, que deviam fazer tudo de acordo com o figurino fornecido pelo IAC, a Anderson Clayton, a Bunge, a Cargill etc.
A única grande indústria nacional naquele momento (anos 1950) era a Matarazzo. Outras nativas, surgidas depois, como a Ceval (1972) acabaram sendo compradas por estrangeiros. O cooperativismo, que chegou a despontar como a terceira via de uma agricultura ancorada em pequenas e médias propriedades, deu com os burros n’água e somente nos últimos anos dá sinais de reagir.
Atualmente, indústrias nativas como Cocamar, Coamo, Caramuru, Granol e outras não chegam a se igualar, em volume de produção e compra de produção, às grandes empresas multinacionais, a maior parte de origem americana, algumas européias, uma ou outra japonesa.
Essas nacionalidades se tornaram ricas/poderosas porque têm maior nível educacional/tecnológico, acumularam mais capital e desenvolveram mercados mais amplos. É o que falta para o Brasil se tornar uma potência agrícola autônoma e a Embrapa, uma multinacional realmente livre. Por isso se espera que os embrapeanos, em vez de tapar o sol com a peneira, deixem a luz da verdade cobrir a nossa agricultura.
(Geraldo Hasse)
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Crescimento econômico e sustentabilidade ambiental não são antagônicos, podem ser sinérgicos”
Maurício Lopes, presidente da Embrapa
Agricultura familiar vai abastecer o Conceição
Agricultura familiar: edital do Conceição encerra dia 18
O Grupo Hospitalar Conceição vai comprar 38 toneladas por mês de produtos da agricultura familiar, das 215 toneladas que os quatro hospitais do grupo consomem mensalmente em refeições para funcionários, pacientes e acompanhantes. O valor pode chegar a R$ 3 milhões. O prazo do edital para o fornecimento acaba nesta sexta-feira, 18/10, pelo Programa de Aquisição de Alimentos do governo federal.
Com esta modalidade de compra, a ideia é que, por virem da agricultura familiar local, os produtos são mais frescos, os recursos para adquirir estes alimentos ficam fica no próprio município ou Estado e vão circular no comércio local. Para o pequeno agricultor, a garantia de compra traz estabilidade. Entre os produtos solicitados, estão arroz, feijão preto, massa seca, farinhas de trigo e de milho e diferentes tipos de leite.
Este ano, antes deste edital, a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do Rio Grande do Sul realizou uma chamada pública para compra de 21 toneladas de arroz (R$ 37,8 mil) para o Conceição. O fornecedor foi a Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa do RS, que representa cerca de cinco mil agricultores familiares.
Safra brasileira de soja deve superar a dos EUA
A safra brasileira de soja deverá superar a norte-americana em pouco mais de 2 milhões de toneladas na temporada 2013/14, mostraram dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgados pela agência Reuters.
A estimativa de colheita dos EUA foi reduzida para 85,71 milhões de toneladas, ante 88,6 milhões do relatório de agosto, devido a “menores perspectivas de produtividade, especialmente no oeste do cinturão de grãos”.
“O USDA deu o primeiro passo para reconhecer os problemas da soja. Nós esperamos uma nova revisão no relatório do próximo mês”, disse o estrategista-chefe da Allendale Inc, Rich Nelson.
As plantações de soja dos EUA têm sofrido com falta de chuvas nas últimas semanas. O desenvolvimento das lavouras está em fase avançada, com a colheita nos EUA prevista para iniciar nas próximas semanas.
Já para o Brasil, onde o plantio deve começar em poucos dias, o USDA elevou a estimativa de safra para 88 milhões de toneladas, ante 85 milhões na projeção de agosto.
O órgão do governo norte-americano cita um aumento da área destinada à oleaginosa no Brasil nesta temporada.
“A recente força dos preços e um real desvalorizado deverão dar incentivos para os produtores de soja elevarem a área em 4 por cento ante o ano passado”, disse o USDA.
O Brasil se aproximou dos EUA em produção de soja nos últimos anos, um mercado tradicionalmente liderado pelos norte-americanos.
Na safra passada, os EUA produziram 82,06 milhões de toneladas, contra 82 milhões de toneladas do Brasil.
Agricultura na região sul perde R$ 2 bilhões devido à seca
?Além dos transtornos causados à população, a seca afeta a produção agrícola regional, causando prejuízos de mais de R$ 2 bilhões ao setor e contribuindo para o aumento dos preços de diversos alimentos em todo o país.
No Rio Grande do Sul, 291 cidades decretaram situação de emergência. Segundo a Defesa Civil estadual, mais de 1,6 milhões de pessoas estão sendo afetadas.
Em Santa Catarina, 80 cidades estão em situação de emergência por conta da seca. Quase 490 mil pessoas já foram prejudicadas pela falta de chuvas. Até ontem (16), a Secretaria de Agricultura do estado estimava que as perdas agropecuárias chegassem a R$ 497 milhões. De acordo com a Defesa Civil catarinense, a estiagem deve permanecer até o próximo dia 19.
No Paraná, o governador Beto Richa decretou situação de emergência em 137 cidades. A Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento do Paraná estima que a estiagem comprometa 11,5% da safra de verão, prevista em 22,13 milhões de toneladas, o que significa um prejuízo financeiro de R$ 1,52 bilhão.
Ações emergenciais
Nos últimos dias, os governos federal e dos três estados anunciaram medidas para auxiliar as localidades e agricultores afetados. No último sábado (14), o governador gaúcho, Tarso Genro, anunciou a liberação de R$ 54,42 milhões para ações emergenciais e medidas preventivas contra a estiagem.
Desse total, R$ 28 milhões são provenientes do governo federal, dos quais o estado já recebeu R$ 18 milhões. Tarso também anunciou que a Secretaria Estadual de Habitação e Saneamento irá investir R$ 5 milhões na extensão de redes de água, compra de bombas para poços artesianos e reservatórios nos municípios atingidos pela estiagem.
Em Santa Catarina, somados os recursos federais e estaduais, o socorro chega a R$ 28,6 milhões. Já no Paraná, o governador Beto Richa também prometeu aplicar R$ 21,5 milhões na instalação de 300 sistemas comunitários de fornecimento de água em várias regiões.
Outros R$ 10 milhões serão investidos junto com o Ministério da Integração Nacional na implantação de cisternas em comunidades rurais historicamente afetadas pela falta de água, iniciativa que irá atender especialmente os produtores de frangos, suínos, leite e hortaliças.
Agronegócio exportará mais de US$ 100 bilhões em 2012
O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, disse hoje (10) que o agronegócio brasileiro deve exportar, em 2012, mais de US$ 100 bilhões em produtos.
“Para chegar a US$ 100 bilhões precisamos apenas de um crescimento de 5,7% das exportações, que é um número que temos como alcançar”, disse o ministro ao se referir aos US$ 94,6 bilhões vendidos para outros países no ano passado.
O resultado de 2011 é o melhor desde 1997 – quando iniciou o registro da série histórica – e supera em 24% o alcançado em 2010, quando foram vendidos US$ 76,4 bilhões em produtos agropecuários.
Os complexos soja, sucroalcooleiro e carnes fizeram as maiores contribuições para o crescimento das vendas. Os principais destinos foram a União Europeia, China, os Estados Unidos, a Rússia e o Japão.
Falta de água é o maior entrave à expansão da produção de alimentos
O futuro diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, disse que a necessidade de aumentar a produção agrícola para alimentar a crescente população mundial pressionará a busca por recursos naturais, principalmente pela água. Graziano assume o posto no primeiro semestre de 2012.
“A água se tornou o maior entrave à expansão da produção, especialmente em algumas áreas como a região andina, na América do Sul, e os países da África Subsaariana”, disse Graziano, que atualmente é diretor da FAO para a América Latina e foi ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável pela implementação do Programa Fome Zero.
Segundo Graziano, apesar da pressão sobre os recursos naturais, é possível pôr fim à fome no mundo por meio de quatro ações principais: a aplicação de tecnologias modernas na lavoura (muitas já disponíveis), a criação de uma rede de proteção social para populações mais vulneráveis, a recuperação de produtos locais e mudanças nos padrões de consumo em países ricos.
“Se pudéssemos mudar o padrão de consumo em países desenvolvidos, haveria comida para todos”, disse o futuro diretor-geral da FAO. “Desperdiçamos muita comida hoje não só na produção, mas também no transporte e no consumo”. Segundo Graziano, enquanto a comida é mal aproveitada em nações ricas, cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome em países emergentes.
“Precisamos assegurar que esse 1 bilhão de pessoas sejam alimentadas, que tenham bons empregos, bons salários e, se não pudermos dar-lhes empregos, encontrar uma forma de proteção social para eles.”
Graziano ressaltou ainda que o estímulo à produção de alimentos tradicionais ajuda a diversificar a fonte de alimentos. “Hoje caminhamos para ter poucos produtos responsáveis pela alimentação de quase 7 bilhões de pessoas. Precisamos diversificar essa fonte, criar maior variabilidade.”
Segundo ele, a prioridade dada a alimentos cotados em mercados internacionais tem feito com que a América Latina, por exemplo, venha perdendo a capacidade de produzir feijão – um alimento tradicional altamente nutritivo, produzido a um custo baixo.
Estiagens no RS: conhecidas e diagnosticadas há 80 anos
Em 1942, quando ainda não se falava em La Niña, o geólogo Mariano Sobrinho, professor da UFRGS e técnico do governo estadual, coordenou um grupo de pesquisa que avaliou e propôs soluções para as secas periódicas que atingem algumas regiões do Rio Grande do Sul, principalmente na Fronteira Oeste.
Com base em dados meteorológicos e estatísticas econômicas, os pesquisadores constataram que o fenômeno aparece desde os primeiros registros, cerca de 100 anos antes.
Em períodos de seis ou sete anos, a estiagem se manifesta com mais intensidade, causando enormes danos econômicos e incômodos às populações.
As soluções então propostas são praticamente as mesmas de agora: pequenos açudes, poços artesianos, pequenas obras de irrigação.
Nao resolveriam o problema, mas atenuariam em muito seus piores efeitos. Em quase 80 anos, o governo do Estado ainda não fez o que seus técnicos recomendaram – e que, como se vê agora, estavam certos.
Hoje não se encontra sequer cópia do estudo do professor Mariano Sena Sobrinho na biblioteca do Departamento de Produção Mineral. Mineiro, formado em Ouro Preto, ele foi um dos fundadores da geologia no Rio Grande do Sul.
Cientistas denunciam falta de liberdade para pesquisar transgênicos
Ganha grande repercussão nos meios acadêmicos o editorial da revista Scientific American, na edição de, julho de 2009, questionando o controle que as empresas sementeiras estabeleceram nas pesquisas sobre os transgênicos. “Cientistas precisam pedir permissão às empresas antes de publicar pesquisas independentes sobre lavouras transgênicas. Esta restrição precisa acabar”, diz a revista.
O texto está circulando na Internet como uma definitiva demonstração da “farsa dos transgênicos”. Talvez não seja tanto, mas sem dúvida ele coloca em outro patamar a discussão que até agora engantinhou.
Leia a íntegra do editorial:
As empresas sementeiras controlam a pesquisa sobre transgênicos?
“Avanços na tecnologia agrícola — incluindo, mas não apenas, a
modificação genética em culturas alimentares — tornou as lavouras
mais produtivas do que nunca.
“Agricultores produzem mais e alimentam mais pessoas usando menos terra. Eles também podem usar menos agrotóxicos e reduzir o número de aragens que provocam erosão. E dentro dos próximos dois anos, empresas de tecnologia agrícola planejam introduzir lavouras avançadas desenvolvidas para resistir a ondas de calor e a secas, características de resiliência que se tornarão cada vez mais importantes num mundo marcado pelas mudanças climáticas”.
“Infelizmente, é impossível verificar se as lavouras transgênicas de
fato apresentam a performance propagandeada. Isto porque as empresas
de tecnologia agrícola outorgaram-se poder de veto sobre o trabalho de
pesquisadores independentes”.
“Ao comprar sementes transgênicas, qualquer cliente é obrigado a
assinar um acordo que limita o que pode ser feito com as sementes (se
você instalou algum software recentemente, saberá reconhecer o
conceito de acordo de licença do usuário final)”.
“Acordos são considerados necessários para proteger os direitos de propriedade
intelectual das empresas, e eles justificadamente proíbem a replicação
dos aprimoramentos genéticos que tornam estas sementes únicas. Mas
empresas de biotecnologia como a Monsanto, a Pioneer e a Syngenta
foram além”.
“ Por uma década seus acordos de usuários vêm explicitamente
proibindo o uso de sementes para qualquer pesquisa independente. Sob a
ameaça de litígio judicial, cientistas não podem testar uma semente
para explorar as diferentes condições sob as quais ela prospera ou
falha”.
“Eles não podem comparar sementes de uma companhia com aquelas
de outra empresa. E talvez mais importante, eles não podem examinar se
lavouras transgênicas apresentam efeitos ambientais colaterais inesperados”.
“Pesquisas sobre sementes transgênicas ainda são publicadas, é claro.
Mas somente estudos que recebem a aprovação das empresas de sementes
são aceitos para publicação em periódicos científicos”.
“Em muitos casos, experimentos que receberam um aval implícito das sementeiras
para seguir adiante tiveram posteriormente sua publicação bloqueada
porque seus resultados não eram positivos sob a ótica das empresas”.
” – É importante compreender que não se trata apenas de uma recusa geral
para todos os pedidos de pesquisa, o que já seria ruim o bastante, mas
sim de recusas e permissões seletivas baseadas na percepção das
indústrias sobre o quão ‘amigável’ ou ‘hostil’ um cientista em
particular pode ser em relação à tecnologia [de aprimoramento
genético]”, escreveu Elson J. Shields, um entomologista da
Universidade de Cornell (EUA), em uma carta a um representante da
Agência de Proteção Ambiental (EPA, o órgão do governo americano
encarregado da regulamentação dos transgênicos no que tange as
consequências para o meio ambiente)”.
“Shields é o porta-voz de um grupo de 24 pesquisadores de insetos que
se opõem a estas práticas. Pelo fato de os cientistas dependerem da
cooperação das empresas para a realização de suas pesquisas — eles
precisam, afinal de contas, ganhar o acesso às sementes para realizar
os estudos — a maioria preferiu permanecer anônima com medo de
represálias”.
“O grupo submeteu uma declaração ao EPA protestando que
o resultado do acesso restrito [às sementes] é que nenhuma pesquisa
verdadeiramente independente pode ser legalmente conduzida sobre
muitas questões críticas a respeito da tecnologia”.
“Já seria assustador o bastante se qualquer outro tipo de empresa fosse
capaz de evitar a realização de pesquisas independentes para testar
seus produtos e relatar suas descobertas — imagine fabricantes de
carros tentando impedir as comparações entre modelos de diferentes
empresas feitas pela Consumer Reports [uma revista para consumidores
de grande circulação nos EUA, produzida pela ONG Consumers Union], por
exemplo”.
“Mas quando cientistas são impedidos de examinar os
ingredientes do suprimento alimentar da nossa nação ou de testar o
material vegetal que cobre uma grande porção das terras agrícolas do
país, as restrições sobre a pesquisa livre tornam-se perigosas”.
“Embora nós prezemos a necessidade de proteção dos direitos de
propriedade intelectual que impulsionaram os investimentos em pesquisa
e desenvolvimento que levaram aos sucessos da tecnologia agrícola, nós
também acreditamos que a segurança dos alimentos e a proteção do meio
ambiente dependem de que os produtos agrícolas tornem-se disponíveis
ao escrutínio científico regular”.
“Empresas de tecnologia agrícola deveriam portanto suspender imediatamente as restrições à pesquisa impostas por seus acordos de usuário final. Indo além, a EPA deveria também exigir, como uma condição para a aprovação da venda de novas
sementes, que pesquisadores independentes tenham acesso irrestrito a todos os produtos disponíveis no mercado”.
“A revolução agrícola é importante demais para ficar escondida atrás de portas trancadas”.
[Scientific American, editorial da edição de agosto de 2009, publicado
em 21/07/2009. http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=do-seed-companies-control-gm-crop-research]