Carlos Matsubara
A área plantada com florestas para fins industriais apresentou uma leve queda nos últimos cinco anos no Estado. Conforme dados de 2014 divulgados no relatório “A Indústria de Base Florestal no Rio Grande do Sul”, a área de plantio utiliza hoje 2% do território gaúcho.
O documento, disponível aqui , foi produzido pela Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), em parceria com empresas do setor.
Em 2009, segundo levantamento da mesma entidade, eram 738 mil hectares, ou 2,62% do território estadual ocupados por florestas plantadas. Uma pequena queda, portanto.
A redução vai na contramão do que vinha sendo observado até então, já que em 2009 a área havia dobrado em relação a 2002, quando os plantios de pinus, eucalipto e acácia ocupavam 360 mil hectares, equivalentes a 1,3% do território gaúcho.
Projetos não saíram do papel
Essa queda, no entanto, pode ser explicada em parte com a não confirmação de três grandes projetos na área de celulose no Rio Grande do Sul: Stora Enso, Votorantim Celulose e Aracruz Celulose. Os plantios, em sua quase totalidade, eram apoiados financeiramente por essas empresas, que tinham interesse em construir megaplantas de celulose por aqui.
A Aracruz, absorvida pela chilena CMPC Celulose Riograndense, cuja recente ampliação da unidade em Guaíba vem sendo criticada por ONGs ambientalistas, ainda poderá ser investigada pelo Ministério Público.
Área ocupada é insignificante perto de pecuária e agricultura
No Rio Grande do Sul existem 596,7 mil hectares de florestas plantadas, o que equivale a 8% da área com plantios florestais no Brasil.
As “fazendas” de eucalipto representam 52% (309 ha), enquanto o pinus e a acácia representam 31% e 17% da área plantada no Estado, respectivamente.
Para efeito de comparação, enquanto os plantios de florestas ocupam 2% da área total do RS, a pecuária e a agricultura, ocupam pela ordem, 33% e 25%. Ainda de acordo com o relatório da Ageflor, a região de Encruzilhada do Sul é a que possui maior concentração de florestas plantadas no Estado, com aproximadamente 49,3 mil hectares de pinus, eucalipto e acácia em proporções semelhantes.
O município de São Francisco de Paula ocupa a 2ª posição, com 33,5 mil hectares predominantemente de pinus (90%), seguido por Piratini com cerca de 30,7 mil ha das três espécies.
Setor quer reconhecimento
O presidente da Ageflor, João Fernando Borges, ressalta que o setor florestal contribui com 4% do PIB gaúcho, gerando 7% dos empregos e 3% da arrecadação de impostos, além de responder por 2% do valor das exportações por meio de produtos originários da madeira e derivados químicos.
“Nosso principal desafio é criar condições para a retomada dos investimentos da indústria florestal. O Rio Grande do Sul tem excelentes condições para o crescimento do setor, mas temos gargalos que reduziram nossa competitividade”, lamenta.
Para Borges, é necessário restabelecer a atratividade do setor com visão de longo prazo, equilibrando desenvolvimento e conservação dos recurso naturais. “Neste sentido, achamos fundamental disponibilizar os dados do relatório para sermos reconhecidos como m setor sustentável e relevante para economia gaucha”, conclui.
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Fibria põe à venda projeto florestal no RS
A Fibria, empresa formada com a fusão da Votorantim Celulose e Papel e a Aracruz, está pondo à venda dois ativos considerados não-estratégicos, para reduzir ainda mais seu endividamento.
Além da unidade de Piracicaba (SP), a companhia estuda a venda dos ativos florestais do Projeto Losango, no Rio Grande do Sul.
O projeto Losango previa a construção de uma unidade de 1,5 milhão de toneladas de celulose no Estado, mas ficou sem rumo depois da crise internacional de 2008.
A informação foi dada pelo diretor de Operações Florestais, Suprimentos, Papel e Estratégia da Fibria, Marcelo Castelli.
O executivo substituirá, a partir de 1º de julho, Carlos Aguiar na presidência da companhia.
“Estamos sondando o mercado para verificar a valorização dos mesmos”, disse Castelli a jornalistas nesta segunda-feira, em teleconferência sobre os resultados do primeiro trimestre.
“Estamos tentando verificar se (o projeto) Losango tem atratividade para outros usos, como energia e cavaco para exportação”, completou.
Castelli não respondeu se produtores de celulose também estariam interessados no ativo.
O Projeto Losango pertencia anteriormente à VCP, que adquiriu a Aracruz em 2009, criando a Fibria. Com a alta dívida da nova companhia por conta das perdas com derivativos da Aracruz, em 2008, o projeto foi deixado de lado e o foco de expansão passou a ser a fábrica de celulose de Três Lagoas (MS).
Já a unidade de Piracicaba produz 160 mil toneladas anuais de papéis térmicos, autocopiativos e couché. “A Fibria tem foco em celulose de mercado, então (a empresa) já vem desinvestindo progressivamente no negócio de papel sem, no entanto, queimar o valor… Temos demonstrado que, ao vendê-lo, não estamos depreciando o patrimônio”, disse o futuro presidente.
No fim de 2010, a Fibria vendeu sua fatia no Conpacel (Consórcio Paulista de Papel e Celulose) por R$ 1,45 bilhão, além da distribuidora de papéis KSR, por R$ 50 milhões, para a Suzano, que já detinha a outra metade da Conpacel.
Com a venda desses ativos, a Fibria reduziu sua relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 5,6 vezes no final do primeiro trimestre do ano passado para 2,9 vezes.
A dívida bruta foi reduzida em 24%, chegando a R$ 10,2 bilhões ao final de março deste ano. Já a dívida líquida caiu 27%, para R$ 7,96 bilhões.
“Hoje temos a perspectiva de que o uso dos recursos de algum desinvestimento prioritariamente vai ser alocado para redução do nosso endividamento”, afirmou o diretor financeiro da Fibria, João Elek.
Segundo ele, a companhia possui “muita disciplina” para voltar a atingir o patamar de Grau de Investimento, por meio de melhores eficiência operacional e perfil de endividamento.
Aracruz e VCP perderam seus respectivos graus de investimento durante a crise financeira mundial e com a divulgação das perdas da Aracruz com derivativos.
Entre janeiro e março, a Fibria obteve lucro líquido de R$ 389 milhões, ante R$ 9 milhões do mesmo período de 2010.
O lucro ficou acima do previsto pelo mercado: de acordo com a média de três estimativas obtidas pela Reuters, a previsão era de lucro de R$ 155 milhões.
No primeiro trimestre, a Fibria registrou Ebitda pro-forma (excluindo Conpacel e KSR) de R$ 607 milhões, alta de 2% sobre o mesmo período do ano passado pelo maior preço médio líquido de celulose em reais. A receita líquida também cresceu 2% na comparação anual, para R$ 1,548 bilhão.
O menor volume de vendas para a América do Norte reduziu em 2% o volume de celulose vendida no primeiro trimestre, para 1,259 milhão de toneladas. A redução, entretanto, foi parcialmente compensada pela maior demanda na Europa.
A produção de celulose cresceu 4% na comparação anual, para 1,319 milhão de toneladas, aumento que “reflete a maior eficiência operacional”.
(com informações da Reuters)
Fábrica da Fibria no RS só depois de 2020
Apesar de ainda depender da redução da dívida, o plano de expansão da Fibria já está traçado. O projeto, em prática a partir deste ano, prevê a construção de duas fábricas de celulose até 2016.
A primeira é uma nova linha de produção na Veracel (BA), em parceria com a sueco-finlandesa Stora Enso. A segunda é a duplicação da fábrica de Três Lagoas (MS), que entrou em operação em março de 2009.
Segundo o presidente da Fibria, Carlos Aguiar, a direção da Fibria já aprovou o plantio de floresta nas duas regiões e aguarda apenas um aval da Stora Enso, que deve ser dado no primeiro semestre. A seguir, os principais trechos da entrevista à Agência Estado:
Desde que foi criada, a Fibria traçou como prioridade reduzir sua dívida. Quando o foco será direcionado para a expansão?
Carlos Aguiar – Já voltamos a conversar com a Stora Enso no sentido de reiniciar os plantios para Veracel II. Antes da crise, iniciamos o plantio nas áreas nas quais já possuíamos licença (ambiental) e chegamos a iniciar o estudo de viabilidade. Mas, com a crise, paralisamos todo o processo. Agora, podemos dizer que ambas as empresas estão em situação de poder caminhar novamente.
Houve uma sinalização positiva da Stora Enso em relação à retomada do projeto?
Carlos Aguiar – Estamos conversando sobre o assunto. Resolvido isso, o que a gente pretende que ocorra ainda no segundo trimestre de 2010, reiniciaremos o plantio onde já temos licença e vamos prosseguir com o processo de licenciamento, de modo que permita que no ano que vem a gente já aumente a área plantada. Com isso, poderíamos estar em condição de iniciar a nova fábrica em meados de 2014.
Quando será tomada a decisão sobre o investimento?
Carlos Aguiar – Precisaríamos tomar a decisão do projeto industrial em meados de 2012. Ou seja, temos 2010 e 2011 para plantarmos e em 2012 decidiríamos sobre a fábrica.
Mas a Veracel ainda enfrenta problemas para obter novos licenciamentos na região.
Carlos Aguiar – O negócio (pedido de licenças) está andando. O que ocorre é que “tiramos a pressão” porque não estávamos com necessidade (de acelerar o projeto). Mas na hora em que decidirmos tomar a decisão, voltaremos a conversar com os órgãos locais.
Com o impasse na Bahia, a empresa pode acelerar o projeto de expansão da fábrica de Três Lagoas?
Carlos Aguiar – A Veracel é nossa prioridade, porque já temos cerca de 35% das necessidades florestais para o projeto e podemos plantar outros 12% em 2010, com as licenças que a empresa possui. Dito isso, também aprovamos em Conselho o início da compra de terras ou o arrendamento de terras em Três Lagoas, visando à expansão da fábrica.
O projeto de expansão da unidade de Três Lagoas já está em andamento? Qual é o cronograma?
Carlos Aguiar – Eu diria que Três Lagoas está decidido. Vamos começar a busca por terras e plantios este ano, para que a fábrica esteja apta a operar até o final de 2016. Para tanto, a decisão (sobre o investimento) precisa ser tomada em 2014. Sobre a Veracel, estamos tratando para que a expansão seja decidida o quanto antes, mas, como temos sócio, não decidimos sozinhos. Temos sinal claro do nosso sócio de que ele também quer decidir isso logo.
E os demais projetos da companhia, como a construção de uma fábrica no Rio Grande do Sul e a instalação de uma nova máquina no Espírito Santo?
Carlos Aguiar – Temos o Projeto Losango no Rio Grande do Sul, onde já temos aproximadamente 60 mil hectares. Só que o projeto lá seria novo e custaria mais caro do que os demais, por isso é nossa terceira preferência. Ele deve entrar em operação só por volta de 2020. O projeto em Aracruz (ES) deve ocorrer apenas depois disso e dependerá da situação do mercado.
Como está o cenário atual para os fabricantes de celulose?
Carlos Aguiar – A tendência de forte demanda na China continua em 2010, porque ainda há grandes máquinas de papel para entrar em operação. A importação mostra sinais de estabilidade, mas isso ocorre porque não há oferta de celulose. Também vemos que o mercado de papéis em geral está voltando nos EUA. O mesmo ocorre na Europa, onde já vemos a demanda de alguns clientes voltarem ao nível pré-crise.
(Agência Estado, Ultimo Segundo, 15/03/2010)
Chilenos que compraram fábrica de Guaiba prometem transparência e respeito à "licença social"
O grupo chileno CMPC, que assumiu o controle da fábrica de celulose que pertenceu à Aracruz, em Guaiba, está pautando seus primeiros movimentos por uma atenção especial ao relacionamento com a comunidade gaúcha.
Manteve praticamente intacto o quadro de executivos que já vinham desenvolvendo o projeto de expansão da produção e, na primeira apresentação de seus planos no Estado, em almoço com a imprensa na última quinta-feira, 4, fez questão de prometer transparência nas suas atividades e respeito às peculiaridades locais.
“Queremos falar sempre, na alegria e na tristeza”, disse Francisco Bueno, que permanece à frente da assessoria de Comunicação.
“Será permanente a nossa preocupação com a licença social, dada pela opinião pública, que para nós é tão importante quanto as licenças legais”, reforçou Walter Lídio Nunes, que já estava à frente do projeto da Aracruz e agora assume a presidência da nova empresa. “Queremos ser e parecer uma empresa afinada com os interesses do Estado”.
Segundo Nunes, o próprio nome adotado – “Celulose Riograndense” – é uma demonstração da sensibilidade dos controladores para os valores locais. “Era para ser Celulose Brasil, mas um dos dirigentes do grupo, que veio ao Estado, sugeriu a mudança, ao saber o quanto os gaúchos são ciosos dos seus valores”.
A CMPC é o maior grupo chileno do setor, com faturamento da ordem de 3 bilhões de dólares e uma trajetória empresarial de 80 anos. A compra da unidade de Guaiba, por 1,43 bilhão de dólares, é o maior investimento feito por um grupo chileno no exterior.
O negócio foi fechado em dezembro passado, como uma saída para a crise que inviabilizou a Aracruz.
Abalada por gigantescas perdas no mercado financeiro em decorrência da crise internacional de 2008, a Aracruz foi absorvida pela Votorantim Celulose e Papel, dando origem à Fíbria, a maior empresa do setor no país. Mas devido ao elevado grau de endividamento que herdou e à necessidade de investimentos maciços para levar adiante o projeto de expansão da unidade de Guaiba, a Fibria preferiu transferí-la para o grupo chileno.
A continuidade do projeto de expansão – das atuais 450 mil para 1,8 milhão de toneladas anuais – já está assegurada pela CMPC, mas o ritmo da retomada dos investimentos vai ser ditado pelas condições do mercado.
Novas regras…Stora Enso esclarece
A respeito da nota “Novas regras para o plantio de florestas no RS” a Stora Enso, uma das empresas citadas, mandou o seguinte esclarecimento:
Primeiramente, a paralisação do projeto da Stora Enso no RS não foi determinada pela denúncia de suposta infração à Lei de Segurança Nacional, mas sim pela questão financeira global, que afetou drasticamente as vendas de papel e celulose e depreciou os preços do mercado, levando à redução do ritmo de muitos projetos florestais em todo o mundo, inclusive no RS.
Ainda sobre a questão de faixa de fronteira, a referida lei não proíbe a posse de terras a 150 quilômetros das fronteiras por estrangeiros. A Lei 6634/79 determina que, no caso de aquisição de imóveis rurais por estrangeiros, entre outros casos, é necessário o Assentimento Prévio do Conselho de Defesa Nacional.
Como a reportagem explica, o Conselho de Defesa Nacional deu parecer favorável para a Stora Enso recentemente.
Para proteger as compras de terras já realizadas enquanto tramitavam os processos no INCRA e, posteriormente, no Conselho de Defesa Nacional, a Stora Enso criou uma empresa brasileira – Azenglever Agropecuária Ltda.
Esta alternativa jurídica foi alvo de investigação pelas autoridades brasileiras, mas, em março de 2009, a Justiça Federal arquivou o inquérito por considerar que não houve nenhuma ilegalidade nesse procedimento, que ocorreu com absoluta transparência, tendo a Stora Enso informado as medidas tomadas a todas as autoridades relacionadas com o caso.
Diferentemente do informado, a Stora Enso obteve todas as licenças ambientais exigidas para a implantação do projeto de base florestal ainda em 2007, quando a FEPAM expediu a Licença Prévia após análise do EIA/Rima do empreendimento florestal e a Licença de Instalação. Importante salientar que as Licenças de Operação foram obtidas individualmente para cada propriedade que receberia plantios. Assim, a Stora Enso hoje não tem nenhuma pendência relativa a licenciamento ambiental.
Sobre a liberação de áreas para pastoreio nas fazendas florestais, é preciso esclarecer que a atividade de pecuária é feita apenas em áreas permitidas pela legislação.
Assessoria de Imprensa da Stora Enso
VCP e Aracruz formam maior empresa de celulose do mundo
Fibria é o nome da empresa resultante da incorporação da Aracruz pela VCP, que já nasce como líder no mercado mundial de celulose, com receita líquida anual estimada em R$ 6 bilhões.
A companhia, que será apresentada nesta terça-feira aos investidores, tem capacidade para produzir 6 milhões de toneladas de celulose e papel por ano.
Os projetos de expansão, já anunciados nos últimos anos e suspensos por conta da crise internacional, deverão ser executados “de acordo com as condições de mercado”, segundo material de apresentação.
Quando concluídos, esses projetos deverão agregar mais 6,7 milhões de toneladas à capacidade de produção da nova empresa.
A presidência da Fibria ficará a cargo de Carlos Aguiar, executivo originário da Aracruz. José Luciano Penido, executivo da VCP, assume a presidência do Conselho de Administração. A Fibria mantém em R$ 4,5 bilhões previsão inicial de sinergias a serem geradas pela fusão da Aracruz com a VCP.
“Os negócios de papel seguem na estratégia, porque ele mitiga o risco em mercados cíclicos, como o de celulose”, afirmou o diretor da área de papel, estratégia e suprimento, Marcelo Castelli.
Em evento para o lançamento da marca e do nome Fibria, o diretor comercial da companhia, João Felipe Carsalade, disse que alguns mercados na Europa têm mostrado sinais de melhora mais consistente da demanda, mas ainda insuficientes para se falar em novo reajuste de preços.
“Vamos esperar o final do verão no Hemisfério Norte para ter mais clareza sobre os movimentos futuros”, comentou. No ano, as produtoras de celulose já anunciaram quatro aumentos de preço. “Os ajustes de preços têm buscado recuperar a paridade das moedas”, explicou.
A dívida líquida da empresa, que será reestruturada segundo seus executivos, estava em R$ 13,4 bilhões ao final do segundo trimestre. De acordo com o diretor de Tesouraria e Relações com Investidores da Fibria, Marcos Grodetzky, a empresa está empenhada em perseguir a classificação grau de investimento junto às agências de rating, nota que Aracruz e VCP perderam com a piora de seus indicadores financeiros.
“Temos um leque de alternativas para melhorar nossos indicadores. Em breve a empresa dará claramente demonstrações disso para o mercado”, afirmou Grodetzky, sem dar detalhes. (fonte: Invertia)
Stora Enso acelera projeto de celulose no Uruguai
Dois gigantes do setor florestal – a sueco-finlandesa Stora Enso e a latinoamericana Arauco – anunciaram nesta segunda feira a compra de todos os ativos da española Ence, no Uruguay.
O negócio, de 343 milhões de dólares, envolve 130 mil hectares de terra, plantações, uma área industrial e outras operações da Ence no país.
As duas empresas compradoras já eram proprietárias de grandes extensões no Uruguai: a Stora Enso tinha 74 mil hectares, a Arauco 39 mil hectáres. Agora, as duas juntas ficarão com 255 mil hectares no país.
Desse total, 123 mil hectares já estão plantados, o que assegura a matéria prima necessaria para a planta de celulosa de classe mundial (um milhão de toneladas/ano) que as duas empresas pretendem construir em conjunto no Uruguai.
A Stora Enso, que opera em 35 paises e faturou 11 bilhões de euros em 2008, tem um projeto semelhante no Rio Grande do Sul, também iniciado em 2005, mas retardado, inicialmente, por dificuldades na compra de terras nas zonas de fronteira. Hoje, com 20 mil hectares plantados apenas, está suspenso em função da crise internacional.
O negócio agora anunciado acelera o projeto no Uruguai, uma vez que a planta da Ence já tem até licença ambiental.
Aracruz suspende projeto em Guaíba
A Aracruz informou na tarde desta sexta-feira (17), por meio de sua assessoria de imprensa, que o projeto de expansão da sua fábrica em Guaíba está suspenso para “preservar a liquidez da companhia”. A empresa teve prejuízo líquido de R$ 1,642 bilhão no terceiro trimestre deste ano, sendo que, no mesmo período do ano passado, obteve lucro de R$ 260,9 milhões.
Conforme a direção da companhia, existe a necessidade de adequar os estoques de celulose e papel, em decorrência da crise internacional, que prejudicou os resultados financeiros da empresa. A Aracruz ainda anunciou que pode retomar os investimentos em Guaíba assim que a situação do mercado se estabilizar.
Destaque na fabricação de celulose
A Aracruz recebeu o prêmio Destaques do Setor, promovido pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), na categoria “Fabricante de Celulose de Mercado”. A escolha dos destaques ocorreu em duas etapas: a primeira, aberta para a opinião pública, e a segunda, disputada pelas três empresas mais votadas em cada categoria. Os vencedores foram eleitos pela Comissão Especial de Julgamento, integrada por representantes da diretoria da ABTCP, especialistas em diversas áreas da cadeia de produção, gestores de RH e empreendedores florestais. A entrega da premiação será dia no dia 15 de outubro, em São Paulo.
Quadruplicação da Aracruz: o que mostram estudos sobre dioxinas?
Cláudia Viegas, Ambiente JÁ
Na memória do morador da Região Metropolitana de Porto Alegre que já passou dos 30 anos de idade, especialmente os da orla da Capital, um dos fatos mais marcantes foi sem dúvida o odor exalado pela Borregaard. A antiga planta de celulose, fechada em dezembro de 1973 pelas autoridades da Saúde do Estado, reaberta alguns meses depois, fechada novamente no final de 1974, e só reativada depois de vários compromissos de melhorias tecnológicas para reduzir impactos ambientais, representou um dos marcos mais importantes da luta socioambiental pelo direito de respirar melhor em Porto Alegre e arredores.
Nos dias atuais, esta que é Aracruz, que já foi Riocell e Klabin, não apenas afugentou um nome estranho como também deixou de atormentar os porto-alegrenses com o velho conhecido cheiro. Porém, a contenda não parou por aí. A consciência ecológica atiçada dos gaúchos desviou seu olhar do próprio nariz para as caladas águas do Lago Guaíba e seu percurso no cotidiano coletivo, da bomba de captação às torneiras. Se água não tem gosto, pelo menos não deveria ter, isto não quer dizer que não possa trazer danos à saúde. Uma grande bandeira se levantou, desta vez apontada contra as chamadas dioxinas e furanos, compostos cancerígenos e mutagênicos que muito comumente se formam a partir de certos processos industriais que utilizam o cloro e seus compostos.
Ar e água
As emissões atmosféricas são a marca registrada da fábrica de celulose em sua trajetória de aproximadamente três décadas e meia em Guaíba. Mas as melhorias no processo de produção, a introdução de sistemas de filtros mais eficientes e, especialmente, a conversão do processo de branqueamento – que, em meados dos anos 90 passou a ser livre de cloro elementar para adotar compostos de cloro – levaram, aos poucos, a uma nova rotina de questionamentos populares sobre os efeitos ambientais das ações da fábrica, desta vez, em relação à água. O principal ponto de dúvidas voltou-se à emissão de organoclorados (dioxinas e furanos), considerados extremamente prejudiciais ao meio e à saúde humana por sua persistência no ambiente, baixa volatilidade e característica lipofílica, ou seja, de facilmente se acumular no tecido gorduroso, causando toxicidade aguda, com efeitos como o câncer e disfunções no sistema reprodutivo.
As dioxinas, na realidade, são o nome genérico de uma família de aproximadamente 210 compostos ente os quais se destacam 17 isômeros por sua toxicidade, em especial o grupo 2,3,7,8 tetraclorodibenzeno-para-dioxina (TCDD) e 2,3,5,7 tetraclorodibenzeno para-furano (TCDF).
No EIA da Aracruz, a abordagem da qualidade da água utilizou como parâmetros as resoluções Conama para qualidade da água, sendo analisados cerca de 120 parâmetros em 15 pontos de amostragem nas águas do Guaíba. Foi também utilizada como referência a Portaria 518/204 do Ministério da Saúde, que estabelece os padrões de potabilidade da água. A empresa, de acordo com o estudo, cumpriu todas as exigências da Fepam, atendendo a critérios de classificação existentes na literatura.
Sem limites
A questão é que, para emissões de dioxinas, não existe um parâmetro nacional de limite na legislação brasileira. Mesmo internacionalmente, os critérios para emissão deste tipo de poluente são bastante variáveis e chegam a ser controversos porque dependem de séries históricas de análises realizadas por laboratórios em níveis de detecção da ordem de nanogramas por tonelada equivalente por litro (parte por bilhão, 10-9) ou picogramas (parte por trilhão, 10-12).
O coordenador de Pesquisa Tecnológica, Qualidade e Processo e gerente de Qualidade e Meio Ambiente da Aracruz em Guaíba, engenheiro Clóvis Zimmer, confirma que “não há limites internacionais para emissões de dioxinas e furanos”. Segundo ele, pesquisadores da Universidade de Tübingen, Alemanha, realizaram uma pesquisa no Lago Guaíba sobre este assunto, em 1991, e este é um estudo de referência que está descrito no EIA. Para abordar a questão, afirma Zimmer, “a Aracruz segue padrões de potabilidade da água que são dados pela Portaria 518”. Ele explica que “pelos padrões de potabilidade da água da Agência Norte-americana de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency, EPA), é aceitável o índice de dioxinas e furanos de 30 ppq (partes por quatrilhão)”, o que significa 30x 10-12 picogramas por litro.
Zimmer destaca que a Aracruz trabalha de acordo com as diretivas do IPPC (International Plant Protection Convention), o qual resulta de uma Diretiva Européia de 1999. Esta diretiva visa a prevenir, ou, onde não for possível, reduzir a poluição de instalações industriais e outras, permitindo acesso às melhores tecnologias disponíveis. “Somos cobrados a operar dentro do conceito de Melhores Tecnologias Disponíveis (Best Available Technologies)”, diz o engenheiro.
A planta da Aracruz em Guaíba tem uma série histórica de avaliações dos teores de dioxinas emitidos há cerca de 10 anos. São realizadas duas coletas de amostras anualmente, e enviadas para análise de um laboratório canadense, pois, conforme o engenheiro, no Brasil não há instituições que realizem esses testes de detecção, que exigem rigoroso controle. “Os resultados das análises realizadas em 2 de julho de 2007 e 2 de janeiro de 2008 apontam zero emissões. O monitoramento dos efluentes vem sendo realizado desde 1998, e os valores ficaram sempre na média de 0,01 x 10-12 (ou seja, 0,01 picogramas por litro ou partes por quatrilhão). Para cada uma dessas análises, a Aracruz paga US$ 3 mil cada uma, o que implica uma média de US$ 50 mil por ano em análises.
EUA e Canadá
Em países onde há grande número de plantas de celulose, como Estados Unidos e Canadá, também se verificam parâmetros bem diferentes quanto a emissões de dioxinas. E muita controvérsia. Um estudo do governo australiano encomendado a um grupo de especialistas da consultoria Beca Amec Limited assinala que nos Estados Unidos o limite legal é de 10 picogramas tonelada equivalente (TEQ) por litro. Contudo, outro documento divulgado em 11 de julho de 2007 pelo professor Andrew W. Wadsley, consultor de riscos ligado aos meios ambientalistas australianos, que levanta dúvidas da ONG WWF sobre o relatório da Beca, defende que podem ser atingidas concentrações de 2 picogramas TEQ por litro lançando-se mão das chamadas “melhores tecnologias disponíveis” (Best Available Technologies/BAT). Em um documento de réplica, a Beca Amec atesta que a maioria das empresas de celulose em território canadense e norte-americano estão abaixo do limite legal, apresentando já índices de 2 a 3 picogramas TEQ pot litro. Incursionar por essas discussões técnicas leva a uma busca incansável por certezas, ou pelo menos a uma tentativa de reduzir cada vez mais as incertezas. Porém, isso é muito difícil quando se têm realidades diferentes entre os países e, principalmente, quando se está tratando de escalas de medida, por assim dizer infinitesimais. No final, a pergunta recorrente é: qual o limite aceitável para emissões de dioxinas que possa evitar danos à saúde?
Tira-teima
A reportagem do Ambiente JÁ consultou, além de documentos, técnicos e especialistas para verificar como funciona a detecção de emissões de dioxinas e o que é estabelecido como critério no caso da Aracruz. Foram ouvidos o engenheiro Renato das Chagas e Silva, chefe da Divisão de Controle da Poluição (Dicop) da Fepam; Josete Sanches, pesquisadora da Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Cientec); Elba Calesso Teixeira, também pesquisadora da Fepam e do Centro de Ecologia da UFRGS, doutora e pós-doutora em Geoquímica, e Fernando Willrich, assistente técnico da Divisão de Pesquisa do Dmae.
A pesquisadora Josete Sanches confirmou que não há lei limitando emissões de dioxinas e furanos no Brasil. A doutora Elba Calesso Teixeira, afirmou que não acompanha atualmente este assunto porque está dedicada a pesquisas sobre hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. O pesquisador Fernando Willrich afirmou que “as concentrações de dioxinas são muito baixas” e que esses compostos “podem ser gerados espontaneamente, por ação da luz solar, por exemplo”. De acordo com ele, “não há leis que limitem emissões de dioxinas, pois a detecção delas é algo tão preciso que até mesmo a vidraria de laboratório precisa ser muito bem controlada”. Ele concluiu que “as concentrações são tão ínfimas que não chegam a ser um problema em si, mas isto não quer dizer que não possam se acumular ao longo do tempo”.
Detecção e Restrição
Renato das Chagas e Silva, engenheiro da Divisão de Controle da Poluição da Fepam, assinalou que “o laboratório é quem determina limites para dioxinas”. Isto significa, segundo ele, que os padrões são estabelecidos pelos limites de detecção de laboratórios internacionais. “Ao avaliar que as detecções são, em uma média, 100% próximas de zero, eles estabelecem esse padrão”, observa. Segundo Chagas, que trabalhou na avaliação do EIA da quadruplicação da capacidade de produção da Aracruz, mesmo considerando os períodos em que a fábrica operou, no passado, com outras tecnologias, que possivelmente levaram a maiores níveis de emissões, “não foi encontrado nada gritante”. Ele garante que “a Fepam exigiu sempre um teste por semestre”, quando, em muitas situações, no exterior, são exigidas análises anuais. “Existe uma série histórica indicando a não-ocorrência de dioxinas, ou índice praticamente zero neste caso. A não-detecção não quer dizer zero, mas é insignificante, da ordem de picogramas”, diz.
Chagas destaca que a Fepam trabalha em uma linha restritiva, “quer dizer, busca a redução na geração”. O órgão “exige que o resultados sejam inferiores sempre aos limites de detecção”, o que, de acordo com ele, garante uma melhoria contínua. “A Aracruz tem mais ou menos 15 anos de monitoramento. Em 1991, o processo de branqueamento dela era com cloro elementar, e foi modificado para livre de cloro elementar (Elementar Chlorine Free, ECF). A fábrica fez outras mudanças em 2000, que ajudaram a diminuir ainda mais as emissões”, observa.
“Os resultados de AOX (compostos halogenados, de substâncias com Cloro, Iodo ou Bromo) e de dioxinas e furanos sempre ficaram abaixo dos limites de detecção do método de análise utilizado pelos laboratórios mais exigentes, os que dão as referências nesta área”, diz o engenheiro, acrescentando que “a possibilidade de toxicidade existe, mas há um padrão, e ele consiste em buscar a não-existência de dioxinas, o que só pode ser confirmado por monitoramento”. “Acredito que não exista, no Brasil, uma empresa com a série histórica de dados como a da Aracruz. É uma base de dados que serve para estudos”, constata.
Conforme dados do EIA, a carga de poluentes da Aracruz para a água, após realizado o tratamento de efluentes, resultará nos seguintes valores: demanda bioquímica de oxigênio (DBO): 600 Kg/dia; demanda química de oxigênio (DQO): 11.875 Kg/dia; sólidos suspensos totais: 1.690 Kg/dia; compostos halogenados (AOX): 0,09 Kg/tSa (tonelada seca de celulose) (a exigência legal para este último parâmetro é de 0,25 Kg/tSa).
Saúde
Cabe ressaltar que dioxinas são compostos cumulativos e não derivam apenas de processos de produção de celulose. Podem ser geradas a partir de incineração de resíduos, queimadas florestais, atividades em fornos de cimento, disposição de esgotos em aterros e até mesmo da queima de lenha para se aquecerem famílias em suas casas. Uma questão é o conhecimento e o controle de padrões de emissões para plantas industriais, a outra – tão ou mais relevante – é delimitar os níveis toleráveis pelo organismo humano a esses agentes. Em vários países, autoridades da área de saúde estabelecem limites para a ingestão diária considerando a massa corporal de um indivíduo. Assim, por exemplo, na Alemanha, tem-se o teto de 1 picograma por quilo; na Holanda, de 4 picogramas; no Canadá e nos EUA, 10 (picograma é a trilhonésima parte de um grama).
As dioxinas são armazenadas no fígado e no tecido adiposo e leva até dez anos, em media, para o corpo reduzir a metade da quantidade delas, uma vez armazenadas. Em dezembro de 1990, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu limite de 10 picogramas por quilo de peso como o limite tolerável para a ingestão diária de dioxinas da família TCDD.
Mas como controlar esta ingestão podendo esses compostos estarem presentes em alimentos diversificados como leite, ovos, peixes e diversos outros tipos de carnes? Esta é uma questão que tem levado à insegurança e, ao mesmo tempo, à disseminação de práticas de alimentação vegetariana sem agrotóxicos.
Incerteza
A incerteza sobre a quantidade de ingestão de dioxinas aliada à certeza de sua cumulatividade no ambiente e nos organismos leva à necessidade de precaução. Por um lado, apresenta-se, em geral, um vácuo legal ou uma grande variabilidade para o estabelecimento de limites. Por outro, no que diz respeito à questão da água, por exemplo, tem-se, no Brasil, uma significativa precariedade institucional. Boa parte das companhias de abastecimento de água, no país, não consegue nem fechar, na prática, o checklist relativo aos padrões de potabilidade. Segundo o técnico do Dmae Fernando Willrich, “os órgãos que trabalham com qualidade de água para abastecimento não estão conseguindo sequer trilhar todas as exigências da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde sobre potabilidade da água. Talvez três ou quatro companhias o façam no Brasil – Sabesp, Sanepar, Dmae, entre elas. Faltam recursos, investimentos, pessoas, a aplicação da metodologia é cara”, diz.
Um exemplo disto foi constatado nesta segunda-feira (08/09), quando o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) ordenou a apuração da presença de índices de alumínio acima do permitido na água consumida em Florianópolis (SC). Segundo o MP-SC, exames realizados no ano passado por um laboratório privado e pela Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), a pedido do síndico de um condomínio do bairro Agronômica, mostraram que a água apresentava entre 0,5% e 1% de alumínio, quando o índice máximo previsto por legislação federal é de 0,2%.
Vigilância
Ações isoladas para a vigilância da qualidade da água, ao invés de coletivas e organizadas, são o mais comum. Há um generalizado desconhecimento de leis e de recursos dos quais o cidadão pode lançar mão para obter mais informações e evitar abusos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há uma lei recente sancionada pela governadora do Estado em junho deste ano, para garantir o acesso de qualquer pessoa a informações sobre atividades potencialmente poluidoras (produção, armazenagem, transporte) que utilizem os chamados POPs – Poluentes Orgânicos Persistentes, entre os quais se incluem compostos empregados na produção de PVC, na geração e composição de herbicidas, inseticidas e fungicidas, na incineração de lixo e nos processos industriais que empregam cloro e derivados do petróleo. Para isto, a lei, de iniciativa do deputado Elvino Bohn Gass, prevê que o interessado faça uma requisição por escrito aos órgãos ambientais responsáveis pelo controle do uso dessas substâncias.