Luiz Cláudio Cunha
Ainda não é oficial, mas será: caiu o presidente do Grupo RBS, Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda.
O afastamento do principal executivo do maior grupo de mídia do sul do país deverá ser formalizado em outubro. Uma empresa de head-hunters de São Paulo já está procurando um profissional que assuma o comando do conglomerado sulista e de forte repercussão na mídia nacional, já que a RBS é a maior afiliada da Rede Globo no Brasil.
O grupo possui 18 emissoras de tevê que cobrem 789 municípios do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de sete rádios e seis jornais, liderados por Zero Hora, o diário mais influente da região e o sexto jornal de maior circulação no Brasil.
Eduardo Sirotsky, neto do fundador da RBS, Maurício Sirotsky (1925-1986), assumiu o comando do grupo em 2012, recebendo o bastão de comando do tio, Nelson Sirotsky, da segunda geração da família mais poderosa da mídia da região Sul.
O que parecia promessa virou decepção. O jovem Duda, então com 40 anos, se defrontou com uma crise de conjuntura que mesclou redução de faturamento, aumento de custos, fuga de leitores e a crise existencial da internet que atingiu o fígado, o bolso e o modo de operação dos jornais impressos, núcleo central que sempre deu prestígio e influência às famílias tradicionais da grande mídia brasileira.
A crise que afetou Zero Hora e outros grandes jornais erodiu o prestígio dos Sirotsky – e o comandante em exercício na terceira geração, Duda, acabou pagando o pato. Para tentar estancar a sangria, ele acertou em 2013 a contratação de um consultor respeitado em São Paulo e temido pelo apelido que o define: Cláudio Galeazzi, um especialista em hemorragias empresariais que, à custa de seu rigor impiedoso e cirúrgico, conquistou no mercado a merecida fama de Galeazzi Mãos de Tesoura.
Sua aparição no grupo, sobrevoando o emprego de seus 6.500 funcionários, foi revelada aqui no JÁ numa reportagem em setembro de 2014 sob o título de “A tesoura que assombra a RBS”. A lâmina de Galeazzi cortou fundo na empresa, fundo demais. O fio agudo do consultor acabou sangrando até as relações entre criador e criatura, os dois Sirotsky que se revezaram no poder, Nelson e Eduardo.
Gente de confiança de Nelson foi tesourada, sem piedade, pelo plano de arrocho imposto por Eduardo. Dois homens da tropa de elite de Nelson — o vice-presidente de jornais, rádio e digital, Eduardo Smith, e o diretor de jornalismo, Marcelo Rech — foram excluídos do círculo de decisão da RBS, provocando uma cisão irreparável nas relações entre tio e sobrinho. Eduardo afastou Rech da área crítica da direção editorial, contrariando frontalmente a visão de Nelson, que via o jornalista como uma referência de ponderação nas decisões sempre delicadas da redação.
Apostas erradas
O sobrinho, um inexperiente administrador de empresas com rápida passagem na juventude por uma inexpressiva franquia de pirulitos e balas, acabou sendo uma aposta errada do tio. Eduardo não mostrou o talento e o apego jornalístico que Nelson herdou do pai, Maurício, um homem que trazia a comunicação nas veias do veterano profissional de rádio.
A sangria desatada dos últimos tempos mostrou ao clã Sirotsky que o próprio Galeazzi e sua impiedosa tesoura também foram apostas equivocadas. Nelson e membros da família acham, agora, que a dose foi exagerada, e o desgaste na imagem vencedora da RBS tornou-se insuportável. Os laços profissionais com Galeazzi estão cortados, ele já cumpriu sua missão de serial killer com louvor, e ninguém mais quer lembrar de sua sangrenta passagem por lá. Para conveniência geral, a conta da contratação de Galeazzi ficou nos ombros largos do jovem Duda Sirotsky.
Diante do tamanho da crise que afeta os negócios da comunicação, agravada pelas dificuldades mais amplas da economia brasileira, a família Sirotsky percebeu agora que Eduardo não tem o perfil para cavalgar o tsunami da conjuntura e não tem o pulso necessário para impor um novo rumo à RBS.
Com a frieza de um Galeazzi, Nelson aprovou, na família, a dolorosa decisão de tesourar o sobrinho, afastando-o da cadeira de comando antes que o buraco fique maior. Coincidência ou não, isso fará com que Eduardo Sirotsky Melzer compareça à CPI do CARF, no Senado Federal, na condição de ex-dirigente da RBS. Ainda não há data marcada para seu depoimento, mas ele já foi convocado para depor em nome da RBS, uma das principais empresas brasileiras flagradas pela Operação Zelotes, da Polícia Federal, que investiga a manipulação de multas e crimes de sonegação no âmbito da Receita Federal.
Fim da perpetuação
Eduardo prepara o desembarque da RBS há algum tempo. Nunca formalizou a transferência da mulher, Lica, de São Paulo para Porto Alegre e, há algum tempo, trocou a casa na capital gaúcha por um apartamento, onde mora só. A mudança já foi concluída para a sua mansão no elegante bairro do Morumbi, na capital paulista, onde ele pretende morar definitivamente — dentro ou fora da RBS.
A ousada decisão da RBS de requisitar os serviços de uma empresa head-hunter para definir o sucessor de Eduardo mostra que a família desistiu do privilégio hereditário de manter um Sirotsky no comando da empresa. É um exemplo inesperado de profissionalismo, que afeta o dogma da ‘perpetuação’ que o clã Sirotsky cultivou com obstinação até agora. Mas, revela também o reconhecimento de que não encontraram, nas veias familiares, o talento empresarial necessário para manter a RBS no rumo de sucesso que tinha com os dois primeiros Sirotsky, Maurício e Nelson.
No grande evento de Porto Alegre da transmissão de mando na RBS, em 2012, as fotos mostram um sorridente Nelson Sirotsky cumprimentando o eufórico Eduardo Sirotsky Melzer. Sem perceber que o microfone continuava aberto, o tio deu um forte abraço no sobrinho e fez uma clara recomendação, que repetiu duas vezes, numa inconfidência que ecoou pelo salão:
— Não se acadele, Duda, não se acadele!
O verbo acadelar, no restrito linguajar gauchesco, significa desmotivar-se, perder a coragem, apequenar-se, quase uma desonra para o rígido código de ética do gaúcho tradicional. Nelson Sirotsky, sem querer, definiu nesse descuido, num momento de festa, o que acontece agora no momento de tragédia pessoal do sobrinho.
Tag: Duda Melzer
Demissões na RBS: a ponta do iceberg
O que apareceu até agora das mudanças na RBS é a face mais visível de um plano estratégico, que não é coisa da cabeça do Duda Melzer.
Ele mesmo diz, em sua desastrada nota, que foi trabalho de um ano.
Com certeza, envolveu toda a cúpula da empresa e teve a influência de altas e renomadas consultorias externas.
As demissões, que não devem se limitar às 130 já anunciadas, apenas revelam o aspecto mais agressivo, mais impactante do processo. Não o essencial, certamente.
“Otimizar custos” é o sentido claro do corte de pessoal. Centralizar a produção de certos conteúdos, comuns aos diversos jornais impressos, como foi anunciado, é o caminho óbvio nessas circunstâncias.
Nada disso, porém, toca no essencial. São paliativos ante a questão central para a qual eles não têm resposta: como manter a hegemonia num “mercado” que se altera rápida e inevitavelmente.
Em seu diagnóstico, cita-se apenas a internet como o agente das mudanças, o responsável pelos “novos hábitos de consumir de mídia”, como diz Duda Melzer.
O buraco é mais em cima. Não é só a tecnologia que determina as mudanças.
Há uma sociedade cuja qualidade política se altera, há um processo de organização e participação que avança na contra-mão dessa dominação dos meios informativos.
As grandes corporações de mídia não estão perdendo terreno porque fazem mal o que fazem (embora isso também seja verdadeiro, quando se trata de jornalismo).
A questão é que essas gigantescas e esclerosadas estruturas não dão mais conta das novas demandas por informação e diversidade que a sociedade hoje apresenta.
Esse jornalismo faccioso, sustentado por grandes anunciantes, não engana mais ninguém. Não adianta mudar de plataforma.
A crise na RBS é a ponta de um iceberg rumo ao qual navega impávido o Titanic de toda a dita “mídia nativa”, cevada na ditadura.
Entre os demitidos no Grupo RBS, 40 são jornalistas
Corte de profissionais resultou em enxugamento de equipes e fechamento de sucursais
Nesta semana, pela primeira vez em sua história, o Grupo RBS anunciou, com 48 horas de antecedência, que promoveria mais de uma centena de demissões. Os cortes foram feitos nesta quarta-feira, 6, e, junto com o clima de apreensão entre os profissionais, trouxeram mudanças em veículos, como o fechamento de sucursais de Zero Hora e o enxugamento de equipes em jornais menores. Das cerca de 130 demissões realizadas, 40 foram de jornalistas, segundo informação da diretora de Comunicação Corporativa da organização, Anik Suzuki. Conforme apurado por Coletiva.net, os demais desligamentos atingiram equipes de jornaleiros, que perdeu 45 profissionais, e da área administrativa, tanto na Capital como no interior do Estado e em Santa Catarina.
Entre os profissionais que deixaram o grupo estão Klécio Santos, editor-chefe da sucursal em Brasília; Alexandre Bach, que atuava como editor-chefe do Diário Gaúcho; André Feltes, editor de Fotografia do jornal; Clever Moreira, editor de Cidades do Pioneiro; Sérgio Negrão e André Pinheiro, editor-chefe e editor assistente do jornal Hora de Santa Catarina; Sicilia Vechi, editora de Geral do Diário Catarinense; e o gerente executivo das rádios de Santa Catarina, Gabriel Fiori. Demissões também ocorreram nas áreas de reportagem e arte de veículos como A Notícia e Jornal de Santa Catarina.
Na redação de Zero Hora, os cortes foram reduzidos, uma vez que já vinham acontecendo quase que semanalmente havia meses. O alerta para um movimento maior, no entanto, veio em meados de julho, com as demissões de Ricardo Stefanelli, que estava como diretor de Redação do Diário Catarinense, e de Eduardo Gerchmann, que era diretor Comercial. A partir de então, ganharam força informações de que uma série de dispensas estaria por ocorrer, podendo atingir um expressivo percentual na área de jornais do grupo. Em seguida, também foram confirmados os desligamentos do gerente executivo e do coordenador de produto da Tvcom, Marco Gomes e José Pedro Villalobos, respectivamente, e de produção e reportagem, como Karina Chaves, Maysa Bonissoni e Daniela Azeredo.
A empresa também deve anunciar nos próximos dias alterações em sua diretoria executiva, com a confirmação da ida de Marcelo Rech, diretor executivo de Jornalismo, para Brasília. Ele deve concentrar os postos até então exercidos por Alexandre Kruel Jobim, vice-presidente Jurídico e de Relações Governamentais, que deixa o grupo, e Klécio Santos. É provável que o atual cargo de Rech seja extinto e que algumas de suas atribuições passem a Marta Gleich, que recentemente passou de diretora de Redação de Zero Hora a diretora de Redação dos Jornais do Grupo RBS.
(Coletiva.net)
Cortes na RBS podem chegar a 250
Este texto resume diversas conversas com jornalistas da RBS que, por razões óbvias, preferem não ser identificados:
- A crise na RBS começou a dar sinais mais evidentes há um mês, com movimentos internos que mostravam aos editores e repórteres que se formava uma tormenta no horizonte.
- Decisões que eram vendidas externamente como cases de sucesso, internamente viravam pesadelos empresariais. O melhor exemplo é o da TV Rural. Começou mal, com uma turbulenta negociação com Nizan Guanaes, e acabou ainda pior, sendo vendida a preço de banana para a Friboi do Joesley Batista, hoje mais conhecido como o marido da Ticiana Villas Boas.
- A atual leva de demissões, 130 agora, terá uma segunda onda, de mais 120 em novembro. O número mágico de 250 degolas é o patamar estabelecido pelos mestres da tesoura da RBS, que precisam fazer caixa. Quedas de tiragem nos jornais do grupo, incluindo ZH e Diário Gaúcho, recomendam as demissões.
- A degola só não chegou a 250, agora, por conta das eleições. Era preciso mão-de-obra agora para enfrentar os desafios de uma campanha pesada. Fechadas as urnas, mais 120 serão sacrificados. Ordens da matemática financeira.
- A ordem para economizar centrou fogo no time de executivos, funcionários que, além dos altos salários, acumulavam bônus de rendimento ou gratificações que chegavam a 5 ou 10 salários extras no ano. Como a ideia é fazer caixa, mandaram fogo nos caixa-alta.
- A demissão dos dois comandantes de dois jornais importantes, Alexandre Bach (Diário Gaúcho) e Ricardo Stefanelli (Diário Catarinense) confirmam esta orientação.
- O corte dos dois cargos maiores da mais importante sucursal da RBS – o diretor corporativo Alexandre Kruel Jobim, filho de Nelson Jobim, e Klécio Santos, editor-chefe da empresa – reforça a informação.
- Além da economia com os dois executivos de Brasília, a RBS vai economizar com a remoção de Porto Alegre do diretor de Jornalismo, Marcelo Rech, que ocupou a vaga de Augusto Nunes na direção da redação quando o paulista deixou o jornal.
- Rech deve assumir, em Brasilia, a dupla função de Jobim e Klécio.
- O Diário Gaúcho, que já trabalhava no osso com apenas 20 jornalistas na redação, agora ficará reduzido a 12.
- O nome em ascensão na empresa é o de Fábio Bruggioni, que comanda a louvada e.Bricks, decantada por Duda em sua nota de Pandora como a saída de futuro para a RBS.
- Na nova ordem, ganha força a atual diretora de redação, Marta Gleich, que agora paira sobre o Diário Gaúcho e o Diário Catarinense. Os editores de ZH suspeitam que o desenho da degola foi rascunhado por Marta e seu marido, Cézar Freitas, homem forte da RBS TV e que está voltando para a rádio Gaúcha, uma das poucas unidades que dá lucro na organização.
- Os cortes só não foram maiores na base, na redação, porque os salários já são muito baixos, por volta de R$ 2 mil em Porto Alegre.
- O clima na RBS é de estarrecimento, com a fórmula desastrada para anunciar os cortes. Uma vídeo-conferência e uma nota oficial anunciando na segunda-feira o corte iminente de 130 postos para a quarta-feira. Criou-se um clima de terror durante 48 horas sobre uma comunidade de 6 mil pessoas, desinformadas sobre quem seria ou não demitido.
- Na vídeo-conferência, Duda chegou a responder perguntas anônimas. Uma delas indagava porque a comida nos restaurantes da casa era “ruim e fria”, arrancando gargalhadas em meio à tensão.
- Num certo momento, traindo a irritação, Duda reclamou dos boatos que infestavam a RBS pela ‘rádio corredor’, que sempre entra no ar em momentos de crise: “Isso não monetiza nada”, reclamou.
- No embalo da insensibilidade, Duda misturou o drama das demissões com os mirabolantes projetos do futuro, incluindo as estimativas otimistas sobre os negócios de vinho e cerveja, pouco comuns a empresas de comunicação. “Espero que vocês se tornem sócios da Wine”, conclamou Duda, sem qualquer senso de oportunidade, tentando vender ações da empresa a pessoas atormentadas pela demissão iminente.
- Para culminar, a nota oficial do presidente-executivo do grupo e vídeo-conferencista Eduardo Sirotsky Melzer era assinada informalmente por ‘Duda’, com um sentido íntimo e fofo que não cabe num documento assustador.
- O vexame de comunicação da RBS, ao anunciar de forma tão desastrada seus ajustes financeiros e seu drama trabalhista, quebra a imagem nacional do grupo como uma empresa modelar, moderna, pujante, inovadora. Num único dia, a alta direção da RBS escancarou sua fragilidade, sua desorientação estratégica e sua desumana política trabalhista.
- As demissões de hoje e de novembro próximo lançam uma sombra sobre o futuro do maior grupo de comunicação do sul do país.
RBS "desapega" do jornalismo para continuar crescendo
O presidente da RBS, Eduardo Melzer, está certo: mudar não é opcional, é questão de sobrevivência para os grupos empresariais que têm origem nos meios tradicionais de comunicação – rádio, tevê e jornal.
Ante as “transformações radicais” provocadas pela internet, os meios precisam se reinventar, sem dúvida.
As dúvidas começam quando se tenta ver os rumos da mudança, que envolve a maior empresa de comunicação do Sul do país
Em sua carta aos funcionários, Melzer menciona “os ajustes que precisam ser feitos para continuarmos crescendo”. Aí estaria incluida a demissão de 130 funcionários, “principalmente da operação dos jornais”. Se a maioria forem jornalistas, como se diz, sinaliza uma direção.
Melzer diz, com razão, que “os modelos tradicionais estão altamente desafiados”. Não diz, mas se presume: os jornais impressos, mais que tudo.
Por outro lado, há um “mundo novo” conformado pelo “avanço tecnológico e a forma de consumir mídia” que “nunca geraram tantas oportunidades e tanta abertura para a inovação”.
Como o grupo vai enfrentar a crise anunciada dos jornais? A medida concreta é o corte de custos. O jornal Zero Hora passou por uma reforma radical recentemente, mudou até o nome para ZH. Graficamente, ficou mais limpo, mais simétrico, mas com menos espaço para as notícias (a coluna política foi reduzida em quase um terço).
A prometida qualificação do conteúdo não ocorreu, a não ser pontualmente. O grau de independência aos interesses comerciais e políticos também não aumentou.
Embora proclame diariamente nos editoriais sua disposição para a imparcialidade, o noticiário é usualmente engajado.
A reforma da Zero Hora começa agora a ser replicada em outros jornais do grupo “Nesta quarta-feira, 6, Diário Catarinense, A Notícia e Jornal de Santa Catarina entram também nessa nova fase”. O grupo tem dez títulos impressos no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O que não é dito: a crise do jornalismo impresso não decorre só da internet. É mais ampla: é também a crise de um modelo de negócio, em que o jornalismo é sustentado pela publicidade. Desfazer-se do papel, não vai alterar o desgaste desse tipo de jornalismo num universo em que a palavra vai ser: credibilidade. E na televisão, onde a RBS é lider inconteste há décadas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina? “Teremos nesse ano as 18 emissoras com equipamentos totalmente renovados e tecnologia de última geração, cobrindo com sinal digital o Rio Grande do Sul e Santa Catarina antes do prazo determinado pelo governo federal”. E no rádio, origem do grupo? “Em rádio, nosso alcance cresceu com o lançamento da Gaúcha Serra, da Gaúcha Santa Maria e da Gaúcha Zona Sul. O rádio também tem feito um excelente trabalho na internet”. Melzer faz profissão de fé “no jornalismo de qualidade, na comunicação e no desejo cada vez maior por conteúdo de entretenimento diferenciado”. A decisão, diz ele, é “investir em atividades e negócios que geram resultados positivos e deixando de fazer o que não agrega para nossa empresa e para o mercado”.
Melzer faz questão de dizer que a RBS “não passa por uma crise financeira”. Os investimentos visam um “redesenho da nossa operação”, buscando “velocidade e despreendimento”, qualidades que nem sempre favorecem o jornalismo de qualidade. Provavelmente favorecem o “conteúdo de entretenimento diferenciado”.
As decisões não são impensadas, obviamente. Há um ano o grupo analisa e propõe caminhos para seus “negócios e atividades”, segundo diz Melzer. “Eu me envolvi pessoalmente nesse processo. A partir do que vimos, fizemos investimentos importantes que ajudam a deixar clara a nossa crença no negócio”.
A opção é explícita: “Dobramos as equipes dedicadas ao digital, tanto nas redações quanto no Tecnopuc, e triplicamos os investimentos nesta área. Até o fim do ano, só no Tecnopuc, em Porto Alegre, teremos quase 100 profissionais trabalhando exclusivamente na criação de soluções digitais para nossos produtos, em especial para os jornais”.
A e.Bricks, lançada em São Paulo há três anos, marcou a aposta da RBS no negócio digital: “Lançamos o Early Stage, um fundo para impulsionar ideias em tecnologia – um negócio contemporâneo que atrai empreendedores em busca de parceria para crescer. O fundo deve chegar ao final do ano com 16 empresas no portfólio”.
Através da e.Bricks, opera a Wine, “que já é a maior empresa de vinhos online do mundo, tanto que estamos agora preparando sua entrada no mercado internacional”.
Muitos funcionários da RBS são sócios da Wine, “agora poderão também ser da Have a Nice Beer, o maior clube online de cervejas da América Latina, que está vindo para o Grupo”.
Segundo Melzer, “dois exemplos de inovação e empreendedorismo que marcam a nossa gestão” são: 1) O HypermindR, um centro de pesquisa no Rio de Janeiro, que vai desenvolver softwares para medir hábitos do consumidor. E o segundo diz respeito ao nosso modelo de gestão de pessoas, baseado na meritocracia. As ferramentas que desenvolvemos para dar mais transparência aos planos de carreira tornaram-se benchmark para muitas empresas e agora serão disponibilizadas ao mercado através da Appus, um negócio que nasceu aqui, dentro do RH”.
,Segundo Melzer a situação exige “coragem, energia e desapego para deixar de fazer coisas que não agregam e investir no que pode nos fazer crescer”.
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RBS anuncia 130 demissões
O presidente da RBS, Duda Melzer, enviou aos funcionários na tarde desta segunda-feira a seguinte carta:
Caros colegas,
Escrevo para reforçar a mensagem que compartilhei com vocês nesta segunda-feira, em videoconferência, e para detalhar minha visão em relação ao futuro da nossa empresa, pois quero manter entre nós um ambiente de clareza e transparência.
As transformações radicais e a velocidade impressionante pelas quais a indústria da comunicação tem passado exigem energia e dedicação para entender o momento e também coragem para promover os ajustes que precisam ser feitos para continuarmos crescendo.
Mudar não é opcional. É vital para o nosso projeto empresarial.
O cenário atual apresenta realidades paradoxais. Por um lado, os modelos tradicionais estão altamente desafiados. Por outro, o avanço tecnológico e a forma de consumir mídia nunca geraram tantas oportunidades e tanta abertura para a inovação como nos dias de hoje. Aquelas empresas que têm a coragem de se posicionar no mundo novo sairão fortalecidas.
Nesse sentido, acredito muito na relevância dos nossos produtos, no jornalismo de qualidade, na comunicação e no desejo cada vez maior por conteúdo de entretenimento diferenciado. As necessidades continuarão existindo. O que muda é a forma como serão atendidas. Se queremos continuar crescendo temos de nos reinventar imediatamente, investindo em atividades e negócios que geram resultados positivos e deixando de fazer o que não agrega para nossa empresa e para o mercado.
Quero convidar todos vocês a romper paradigmas, quebrar barreiras e colocar a RBS cada vez mais no grupo das empresas vencedoras, daquelas empresas que constroem oportunidades de mercado para se posicionar e conquistar a liderança.
Teremos uma semana intensa pela frente, pois na quarta-feira faremos cerca de 130 demissões, de um universo de 6 mil pessoas, com o objetivo de buscar produtividade e maior eficiência. São cortes que precisam acontecer, principalmente na operação dos jornais. Não estou de forma alguma insensível ao impacto que demissões geram na vida das pessoas e da própria empresa, porém acredito que tanto os profissionais quanto as empresas precisam repensar o modo como atuam.
O Grupo RBS emprega milhares de pessoas. Não promover mudanças seria uma irresponsabilidade com estes profissionais, um erro com todos vocês, além de um descaso com nossos clientes e com o nosso projeto de futuro, que já está em andamento.
É importante destacar que a RBS não passa por uma crise financeira. Ao contrário. Estamos investindo e redesenhando a nossa operação, buscando velocidade e desprendimento que são vitais para a preservação do nosso projeto empresarial.
Fizemos, nos últimos 12 meses, uma análise muito detalhada de todos os nossos negócios e atividades. Eu me envolvi pessoalmente nesse processo. A partir do que vimos, fizemos investimentos importantes que ajudam a deixar clara a nossa crença no negócio.
Dobramos as equipes dedicadas ao digital, tanto nas redações quanto no Tecnopuc, e triplicamos os investimentos nesta área. Até o fim do ano, só no Tecnopuc, em Porto Alegre, teremos quase 100 profissionais trabalhando exclusivamente na criação de soluções digitais para nossos produtos, em especial para os jornais.
Os 50 anos de Zero Hora marcaram o início de uma grande renovação do jornal, que agora começa a ser replicada em outros veículos. Inovamos na organização do conteúdo e criamos novos espaços para fortalecer o vínculo com o leitor. A partir de amanhã, Diário Catarinense, A Notícia e Jornal de Santa Catarina entram também nessa nova fase.
Na TV, teremos nesse ano as 18 emissoras com equipamentos totalmente renovados e tecnologia de última geração, cobrindo com sinal digital o Rio Grande do Sul e Santa Catarina antes do prazo determinado pelo governo federal.
Em rádio, nosso alcance cresceu com o lançamento da Gaúcha Serra, da Gaúcha Santa Maria e da Gaúcha Zona Sul. O rádio também tem feito um excelente trabalho na internet.
Na e.Bricks, nossa empresa digital criada há três anos em São Paulo, lançamos o Early Stage, um fundo para impulsionar ideias em tecnologia – um negócio contemporâneo que atrai empreendedores em busca de parceria para crescer. O fundo deve chegar ao final do ano com 16 empresas no portfólio.
Também na e.Bricks, ampliamos a operação da Wine, que já é a maior empresa de vinhos online do mundo, tanto que estamos agora preparando sua entrada no mercado internacional. E muitos de vocês que já são sócios da Wine agora poderão também ser da Have a Nice Beer, o maior clube online de cervejas da América Latina, que está vindo para o Grupo.
Gostaria ainda de citar dois exemplos de inovação e empreendedorismo que marcam a nossa gestão. O primeiro é o HypermindR, um centro de pesquisa no Rio de Janeiro, que vai desenvolver softwares para medir hábitos do consumidor. E o segundo diz respeito ao nosso modelo de gestão de pessoas, baseado na meritocracia. As ferramentas que desenvolvemos para dar mais transparência aos planos de carreira tornaram-se benchmark para muitas empresas e agora serão disponibilizadas ao mercado através da Appus, um negócio que nasceu aqui, dentro do RH.
Temos apoio dos acionistas nas nossas decisões e temos também pessoas qualificadas e comprometidas, recursos financeiros, solidez de caixa, coragem, energia e desapego para deixar de fazer coisas que não agregam e investir no que pode nos fazer crescer.
Na próxima sexta-feira, vou apresentar aos líderes da empresa a Carta Diretriz, um documento que reforça na RBS princípios como simplicidade, produtividade e eficiência, qualidade, inovação, crescimento sustentável e meritocracia. Tenho dito que somos uma empresa em beta. Isso significa que nosso processo de transformação será contínuo e permanente.
Como presidente, tenho compromisso com os acionistas, com a história da nossa empresa, com o nosso público e os nossos clientes.
Estou motivado, principalmente, pela grande confiança que tenho no trabalho e no comprometimento de cada um de vocês.
Vamos em frente!
Duda