Energia solar: 400 projetos disputam leilão em outubro

Projetos de parques eólicos (energia dos ventos) predominam entre os cadastrados para participar do Leilão de Energia de Reserva, que o Governo Federal fará em 31 de outubro deste ano. No leilão será vendida energia para ser entregue a partir de 2017.
Segundo  a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), foram cadastrados 1.034 empreendimentos interessados em participar do leilão, com uma oferta total de 26.297 megawatts (MW) de capacidade instalada.
São 626 projetos de energia eólica com um potencial de oferta de energia elétrica da ordem de 15.356 MW.
A grande novidade desta leilao, porém,  são os projetos de energia solar (fotovoltaica). Cerca de 400 usinas, com capacidade instalada de 10.790 MW, que pela primeira vez, segundo a EPE, irão disputar o leilão com outras fontes.
Ao avaliar a resultado do cadastramento, o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, disse que a grande surpresa foi o número relevante de projetos de energia solar.
“O número de projetos fotovoltaicos (400) totalizam mais de 10 mil megawatts de capacidade instalada, ou seja, praticamente uma (Usina Hidrelétrica) de Belo Monte”.
Entre os  projetos inscritos estão, ainda, oito usinas termelétricas a biogás e Resíduos Sólidos Urbanos, totalizando 151 MW de capacidade instalada.
Caracterizado por bons ventos e ótima insolação, o estado da Bahia foi o que mais apresentou projetos, tanto para energia eólica (236) como para fotovoltaica (161), totalizando mais de 10 mil megawatts de capacidade instalada.
Além da Bahia, o Leilão de Energia de Reserva 2014 traz, como destaque, o Ceará, com 95 empreendimentos eólicos (2.397 MW) e 15 fotovoltaicas (324 MW); Rio Grande do Norte com 104 empreendimentos eólicos (2.556 MW) e 42 solares (1.155 MW); e o Rio Grande do Sul, com 113 usinas eólicas (2.534 MW).

Energia Elétrica: geradoras aproveitam crise para turbinar os lucros

A Federação Nacional dos Engenheiros e a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor recorreram ao Conselho de Defesa Econômica (CADE), para denunciar “práticas abusivas de empresas geradoras de energia durante crise de estiagem que afetou a produção energética no país”.
Segundo nota das entidades, as concessionárias estão aproveitando a crise para obter lucros estratosféricos, prática que pode “levar a uma crise sem precedentes, que já apresenta reflexos negativos no setor industrial”.
“Para o consumidor, o aumento na conta de luz será inevitável”. As empresas geradoras, segundo a denúncia, estão aproveitando a escassez de energia elétrica disponível, para lucrar com a venda de eletricidade no mercado de curto prazo, com preços abusivos.
Para a FNE, o governo federal está atacando de modo errado a crise do setor elétrico. Ao conceder subsídios e empréstimos com recursos públicos e privados às concessionárias de distribuição de energia elétrica, “está apenas gerando uma dívida, que será repassada aos consumidores ao longo dos próximos anos”.
No documento, as entidades denunciam que, para manter sua lucratividade, as empresas geradoras de energia deixam de firmar contratos, obrigando as distribuidoras a comprar energia no mercado de curto prazo.
Ou seja, as geradoras não participam dos leilões oficiais promovidos pelo governo federal, destinados ao atendimento das distribuidoras, fazendo com que se tenha pouca energia disponível no mercado regulado, “o que aumenta significativamente os custos de aquisição de energia”.
O diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), Carlos Augusto Kirchner, explica que as geradoras estão burlando a legislação que manda contratar 100% da carga disponível. Deixam de vender nos leilões oficiais, para colocar no mercado a curto prazo, a preços elevados.
Dívida impagável
Isso aumenta o prejuízo das distribuidores, que tem que ser socorridas pelo governo.
“A dívida acumulada em empréstimos emergenciais de socorro às empresas distribuidoras e aportes da União será bilionária e se tornará impagável, fazendo com que os prejuízos sejam repassados para as tarifas dos consumidores”, afirma.
As entidades pedem ao CADE que sejam adotadas medidas preventivas e coercitivas – com a abertura de inquérito administrativo para apuração das infrações à ordem econômica – junto a todos os agentes que estão se beneficiando com a venda no mercado de curto prazo.
A consultora do Proteste, Flávia Lefevre, destaca: “São necessárias ações imediatas em vista da bilionária dívida que vem sendo acumulada e que vem sempre aumentando para socorrer as empresas distribuidoras e que serão pagas pelos consumidores de energia”.
Segundo a FNE, essa política energética mercantil poderá desencadear uma crise econômica sem precedentes, além de afetar o setor industrial com a geração de desemprego, instabilidade, perda da competitividade e inflação. O presidente da FNE, Murilo Celso de Campos Pinheiro, argumenta que se trata de uma afronta não somente para os engenheiros, mas ao interesse público, aos consumidores de energia e ao setor produtivo do país.
“Nós cobramos também uma posição da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) sobre a falta de fiscalização e intervenção nesse mercado que vem sendo explorado pelas geradoras, causando forte desequilíbrio entre agentes do mercado, com prejuízos para todo o setor produtivo nacional”, destaca. Carlos Kirchner acredita que a utilização de termelétricas, desde outubro de 2012, devido à forte estiagem no país, não é o único motivo do aumento de custo para a produção de energia. “Na verdade, a geração de energia pela fonte hidráulica não deveria implicar aumento de custos, pois a maioria delas é proveniente de usinas hidrelétricas já amortizadas, ou seja, com seus contratos de venda de energia encerrados no final de sua vigência em 31/12/2012 ou em 31/12/2013”, aponta.
O diretor do SEESP explica que as empresas se respaldam em uma interpretação restrita e distorcida da legislação do setor elétrico para justificar suas condutas anticoncorrenciais e o aumento arbitrário dos lucros está em desacordo com regras de defesa do consumidor.
“O fato de se produzir energia em uma usina hidrelétrica já amortizada como é o caso da Cemig, Copel e Cesp ao custo de R$ 20,00 por megawatt-hora e de vendê-la pelo preço de R$ 822,83, com margem de 4.000% (quatro mil por cento), viola o princípio do serviço público essencial, em que a regra é a do menor lucro possível”, comenta.
De acordo com as entidades, a conduta das concessionárias é anticompetitiva e ilegal, pois o agente gerador transformou a sobra deliberada de energia numa prática corriqueira de lucro. Por sua vez, as distribuidoras de energia, que compram o produto caro no mercado, vão repassar o prejuízo integralmente aos seus consumidores, ainda que alguns empréstimos governamentais e privados protelem o pagamento destas dívidas.
“É inadmissível a conduta que tenha como resultado a retirada de energia do mercado, implicando em escassez artificial que leva ao aumento injustificado dos preços prejudicando a livre concorrência e também os consumidores”, conclui Flávia Lefevre.
Pode se considerar como mercado imperfeito todo aquele em que um dos “players” ou o conjunto deles consegue manipular os preços a seu favor, maximizando assim seus lucros em detrimento da livre concorrência.
Numa época de estiagem em que os valores do PLD atingem seu valor teto de R$ 822,83 por MWh, a forma das empresas geradoras de energia obter altíssimos lucros é muito simples e tentadora: simplesmente não ofertar a energia para ninguém e nem formalizar nenhum contrato de venda, de modo que toda a energia que fica sobrando é automaticamente classificada como uma diferença a seu favor e liquidada ao preço de PLD.
Sobre a Federação Nacional dos Engenheiros: Fundada em 25 de fevereiro de 1964, a FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) tem sede em Brasília e, hoje, é composta por 18 sindicatos estaduais, aos quais estão ligados cerca de 500 mil profissionais.
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Termelétricas a todo vapor

A crise da energia, que não é nova, embute um custo que nem sempre aparece.
Com os níveis baixos dos reservatórios das hidrelétricas, as termelétricas a carvão têm que operar a todo vapor. É uma energia cara e altamente poluente por que as usinas são antigas (a mais antiga tem 60 anos, outras têm 40 anos).
Os técnicos não vislumbram um horizonte em que o Rio Grande do Sul, dependente de reservatórios cada vez mais baixos, possa dispensar a energia do carvão.
Prova disso é que usinas quase sucatas estão operando a todo o vapor neste verão. Novas usinas, mais atualizadas, com menos custo e menos poluição, continuam no papel. E dê-lhe fumaça!

CPI DA CEEE COMEÇA HOJE

Na tarde desta terça-feira o deputado Lucas Redecker vai levar ao protocolo da Assembleia Legislativa um requerimento pedindo a instalação da” CPI da Energia Elétrica”. Na véspera ele já tinha 33 assinaturas e estava confiante que teria mais até a hora de formalizar o ato que, burocraticamente, cria a CPI, já que um quorum de dois terços (são 55 deputados) não deixa dúvidas.
Redeacker, em primeiro mandato pelo PSDB, declarou que está “trabalhando na minuta do plano de trabalho para apresentar aos demais membros da CPI, a partir do momento em que ela estiver instalada”.
Uma CPI em ano eleitoral é como a guerra: sabe-se como começa, não como termina.
A última CPI da CEEE na Assembléia vai completar 20 anos. Rendeu um ano e meio de manchetes, 350 quilos de papel e resultou numa Ação Civil Pública, que tramita em segredo de justiça, já tem 37 volumes principais e 80 anexos e não saiu de primeira instância.
Em valores atualizados, a fraude apurada pelo Ministério Público em dois contratos chega aos R$ 800 milhões.
Não será mais produtivo fazer um esforço para que a CEEE recupere esse prejuízo? .
Declarações do deputado Redecker:
“Em todas as regiões há registros de problemas de energia elétrica, não só nessas duas últimas semanas, quando tivemos uma forte onda de calor e temporais que ajudaram na deficiência energética do RS. Isso prova que o Estado não está preparado para enfrentar problemas sérios de falta de energia e climáticos, mas também problemas antigos como aumento de carga para empresas e produtores rurais.
Há ainda o despreparo das empresas para atender ao cidadão, que passa horas no telefone aguardando o atendimento e ainda mais horas aguardando a solução do problema”, afirmou Redecker.
Ele diz que a CPI” vai analisar, entre outros pontos, o cumprimento de cláusulas contratuais pelas concessionárias de energia”. “Será avaliado o cumprimento ou descumprimento dos contratos por parte das concessionárias públicas.
As agências reguladoras são responsáveis por acompanhar e investigar a execução dos serviços e até que ponto estão fazendo esse acompanhamento”..

Petróleo e cana puxam a oferta de energia no Brasil

Acaba de ser publicado pelo Ministério de Minas e Energia o balanço energético brasileiro de 2013, documento que se baseia nos dados de produção e consumo do ano passado. Na síntese de 55 páginas disponível no site do www.mme.gov.br, a Empresa de Pesquisa Energética-EPE dá ênfase à participação das fontes renováveis na oferta de energia: é de 43,2% no Brasil, três vezes mais do que a média mundial (13,2%).
Entre as fontes energéticas renováveis, o que mais chama a atenção é que a oferta da cana-de-açúcar, com 15,4%, supera a fonte hidráulica (13,8%), seguindo-se lenha/carvão vegetal (9,1%) e “outros” (eólica, lixívia e solar) com 4,1%.
Entre as fontes energéticas não renováveis, que representam 57,2% do total, destaca-se o petróleo com 39,2%, seguido pelo gás natural (11,2%), o carvão mineral (5,4%) e o urânio (1,5%). Os números delineiam uma tendência já perceptível pelo volume de investimentos da Petrobras: o petróleo e o gás natural são as fontes que mais crescem no Brasil e assim será nos próximos anos.
O balanço indica que a oferta interna de energia cresceu 4,1% em 2012 enquanto o PIB não passou de 0,9%. A potência instalada para a produção de eletricidade é de 84 294 MW nas usinas hidrelétricas, de 32 778 MW nas usinas térmicas, de 2007 MW nas usinas nucleares e de 1894 MW nas usinas eólicas. Estas foram as que mais cresceram em 2012: 32,8%, contra 4,9% das térmicas e 2,2% das hidrelétricas..
O maior consumidor de energia no Brasil é a indústria (35,1% do total), seguida dos transportes (31,3%), as residências (9,4%), o setor energético (9%), o setor de serviços (4,5%) e a agropecuária (4,1%). A diferença de 6,6% é representada pelo chamado consumo não energético.
No setor de transportes, que representa quase um terço do consumo e 49% das emissões totais de CO², os principais combustíveis são o diesel (48,1% do total) e a gasolina (30,9%). Os outros insumos são o etanol (12,5%), o querosene de avião (4,7%) e o gás natural veicular (2,2%). Restam outros 1,6%.
Para a EPE, a poluição veicular, embora alta, não deve preocupar, pois a emissão brasileira é de apenas 2,2 t/CO por habitante, enquanto na China é de 5,4, na Europa de 7,3 e nos EUA de 17,3

Leilão de energia: térmicas a carvão não emplacam

O leilão de energia nova A-5, que acabou há pouco, negociou energia a um preço médio de R$ 124,97 por megawatt-hora (MWh). Nenhuma térmica a carvão saiu vencedora. No meio da semana, a gaúcha CTSul já anunciara que não participaria, por considerar baixo o valor de R$ 140. Reivindicava R$ 160.
O resultado foi que, dos 36 projetos habilitados, só 19 projetos competiram. A hidrelétrica Sinop, a única grande hidrelétrica a participar, vendeu energia a R$ 109,40 por MWh, um deságio de 7,3% ao preço máximo inicial estabelecido de R$ 118 por MWh. Foi arrematada por consórcio formado pela Alupar (51%) e as empresas do grupo Eletrobras, Chesf e Eletronorte.
O leilão viabilizou 1.265,5 MW de novos projetos. No total, a competição negociou 165.233.059,2 MWh de energia em contratos que somam R$ 20,6 bilhões.
O preço médio da energia térmica negociada no leilão foi de R$ 135,58 por MWh, deságio de cerca de 3,15% ante o preço inicial de R$ 140 por MWh. Já o preço médio de todas as hidrelétricas, no produto por quantidade, foi de R$ 114,48 por MWh.
O leilão de energia nova A-5 contratou energia para ser entregue a partir de 2018 e contava com 3.535 megawatts (MW) em potência instalada de 36 projetos habilitados para a disputa. (Com informações da Reuters}

Biodiesel, vender para quem?

Os produtores de biodiesel estão em campanha para que esse aditivo feito à base de soja suba gradualmente dos atuais 5% até chegar a 20% do volume de óleo diesel mineral em 2020.
Criado em 2003 pelo presidente Lula, o programa de produção de biodiesel é um sucesso social – em 2012, mais de l05 mil agricultores faturaram R$ 2 bilhões com a entrega de soja nas usinas – mas no aspecto econômico está decepcionando. O motivo é a supervalorização da matéria-prima principal.
A soja entrou nos primeiros meses deste ano custando quase R$ 2 por quilo no atacado, enquanto o litro do biodiesel não chegou a alcançar R$ 2 nos dois leilões realizados em janeiro e março de 2013 pela Agência Nacional de Petróleo e Biocombustíveis.
É um impasse semelhante ao dos produtores de etanol, que não conseguem produzir a um custo competitivo com a gasolina. Por isso os produtores de biodiesel pressionam o governo pelo aumento da adição ao diesel, já que não falta capacidade de produção.
No momento, a capacidade instalada é de 7,1 bilhões de litros de biodiesel.
A maior parte das 93 usinas existentes no país é controlada por grupos tradicionais como ADM e Bunge. Em algumas, como a BsBios, de Passo Fundo, a própria Petrobras é acionista. E a estatal promete aprofundar sua participação: dos US$ 236,7 bilhões que investirá até 2018, US$ 2,9 bi estão reservados para biocombustíveis (biodiesel e etanol).
ESTADO É O MAIOR PRODUTOR
O Rio Grande do Sul com oito usinas ativas detém 30% da capacidade nacional de produção de biodiesel. Como o Estado não representa mais do que 8% do consumo, criou-se uma situação logisticamente desfavorável, já que é preciso transportar a maior parte da produção gaúcha para os principais polos de consumo, no Sudeste e outras regiões.
“Nós vamos pagar o preço da distância”, diz Arlindo Bianchini, 72 anos, sócio-diretor da cinquentenária Bianchini, de Canoas, que acaba de entrar no “clube do biodiesel”, com uma capacidade de produzir 324 milhões de litros por ano.
Enquanto novos investidores estão entrando no biodiesel, outros estão passando suas usinas adiante. O caso mais notório é o da Ecodiesel, uma das pioneiras do ramo. Depois de abrir sete usinas do Ceará ao Rio Grande do Sul, em 2011 ela vendeu duas delas (em Iraquara, BA; e Porto Nacional, TO) para a Oleoplan, de Veranópolis, RS. Uma terceira, implantada em Rosário do Sul, RS, foi vendida à Camera Agroalimentos, de Santa Rosa, que está transferindo essa planta para Estrela. Em Rosário do Sul, faltou matéria-prima para a operação da usina. Os investidores da Ecodiesel desdenharam o fato de que ali predomina a pecuária.
“O biodiesel se ajustou bem à agricultura gaúcha, que produz bastante soja, mas surpreendentemente não despertou a atenção das cooperativas, que estiveram na arrancada da industrialização da soja, décadas atrás”. O comentário é do agrônomo Alencar Rugeri, da Emater, que vê uma dicotomia entre o discurso e a prática em torno dos biocombustíveis.
A energia de biomassa vive de espasmos, diz ele. Já se falou em etanol de arroz, de capim elefante, de resíduos da celulose, mas as conversas se apagam diante de episódios globais como a crise financeira mundial ou o vencimento do Protocolo de Kyoto. Além tanto o etanol quanto o biodiesel e outras alternativas energéticas estão submetidas à lógica do modelo econômico ajustado ao petróleo.
TABELA
Usinas de biodiesel do RS
USINA LOCAL Cap (milhões de litros/ano)
Bianchini Canoas 324
Biofuga Camargo 49
BsBios P. Fundo 387
Camera Ijui 240
Camera Estrela 118
Granol Cachoeira 365
Olfar Erechim 200
Oleoplan Veranópolis 387
Revista JÁ Especial Energia

À espera do leilão

Banido dos leilões, em que o governo garante a compra antecipada da energia de futuras usinas, o carvão era o patinho feio da matriz energica do Rio Grande do Sul, berço de 90% das jazidas nacionais.
De volta aos leilões desde abril, o antigo vilão assume ares de herói. Afinal, foram as velhas usinas de Candiota e Charqueadas, mais o gás importado vindo de Baia Blanca, que evitaram os apagões no Estado no último verão. Fora isso, investimentos de bilhões podem ser viabilizados já no próximo leilão.
Há três projetos de usinas a carvão aptos a participar do próximo leilão de energia da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), já marcado para 29 de agosto. Se arranjarem compradores para sua energia, devem entrar em operação em 2018. São estes:
I – MPX Seival, do grupo de Eike Batista, associado à O.EN alemã, com capacidade de 600 MW, que possui projeto básico e dispõe de licença ambiental de instalação, em Candiota.
II – MPX Sul, do grupo de Eike Batista, também em Candiota, com capacidade de 727 MW, que possui projeto básico e dispõe de licença prévia de instalação. Somado ao anterior, exige investimentos de cerca de R$ 8 bilhões
III – CTSul, projeto de usina de 650 MW, tem licença prévia da Fepam para explorar jazidas em Cachoeira do Sul e pleiteia licença de instalação para projeto desenvolvido por empresa estatal chinesa (ver matéria à parte)
Com possibilidade de disputar o leilão de 2014 para entregar a energia a partir de 2019, alinham-se os seguintes projetos:
A – UTE Pampa, em Candiota, com capacidade de 340 MW, projeto da Tractebel em parceria com a CRM, que forneceria o carvão
B – Fase D da CGTEE em Candiota, 350 MW
C – UTE em Jaguarão do grupo Bertin, de São Paulo, com capacidade de 1200 MW, conforme protocolo que não foi levado adiante mas pode ser retomado.
PERGUNTAS NO AR
A viabilidade na exploração intensiva do carvão de Candiota para fins energéticos está associada aos projetos de Eike Batista, o megainvestidor cuja credibilidade entrou em baixa diante da indefinição de seus negócios em setores estratégicos – do petróleo à logística naval, passando pela mineração e a produção de energia elétrica.
Os dois projetos da sua MPX, já com licença ambiental preliminar, exigem R$ 8 bilhões de investimento, para implantar duas usinas a carvão em Candiota.
A empresa de energia elétrica, que tem usinas a gás e carvão importado, é a que apresenta a melhor situação do grupo. Já responde por quase 10% da energia térmica gerada no país.
A retaguarda tecnológica e financeira do grupo alemão O.EN, que recentemente ampliou sua participação e agora tem 34,5% da MPX, dá consistência ao negócio. Mas dúvidas permanecem, apesar das manifestações de representantes do grupo que já negociam com o governo do Estado condições para o empreendimento. A própria situação da O.EN na Alemanha não é de estabilidade, com sérias perdas na Bolsa. (Revista JÁ Edição Especial Energia)

Energia que vem de fora

Se faltasse um argumento para desmontar as teses separatistas que, vez por outra, ressurgem no Rio Grande do Sul, o caso da energia seria exemplar.
Neste campo vital, a dependência dos gaúchos é total: todo o petróleo, 98% do álcool e 60% da energia elétrica que o Estado precisa vem de fora de suas fronteiras. Na energia elétrica, é mais grave ainda a dependência: por ficar na extremidade de um sistema integrado, o RS é mais vulnerável.
Evidentemente, essa situação é resultado de um planejamento nacional, que relega ao passado as idéias de economia regional autônoma e, hoje, não se concebe que pudesse ser de outra forma.
É interessante, porém, examinar essa relação, porque ela revela algumas fragilidades.
Em 1995, por exemplo, a CEEE gastou R$ 362 milhões na compra de energia do sistema interligado, valor equivalente a 27% da receita líquida da companhia. Mantida essa proporção, pode-se calcular que em 2012 a conta se aproximou de R$ 1 bilhão.
Esses dados permitem estimar, que em 40 anos de existência do Sistema Integrado Nacional, o Rio Grande do Sul despendeu mais de 15 bilhões de reais.
Outro inconveniente da excessiva dependência é a ameaça de apagão, por conta de problemas climáticos. As secas frequentes que ocorrem na região da bacia do Iguaçu, onde se localizam as hidrelétricas de Salto Osório e Salto Santiago, são responsáveis pelos principais transtornos que o Estado enfrenta quanto ao fornecimento de energia.
As maiores deficiências, no entanto, decorrem de estrangulamentos na transmissão e distribuição. É uma situação que se tornou crônica ao longo de sucessivos governos. É onde estão concentrados os investimentos que o atual governo está fazendo com os 2,3 bilhões que recebeu de uma antiga pendência com o governo federal*.
“Atualmente o sistema de suprimento ao Rio Grande do Sul opera em cerca de 66% do tempo em nível de risco de corte de carga, quando da ocorrência de contingência simples nos circuitos de transmissão”, diz um relatório.
Além da evasão de recursos com a compra de energia, tem as perdas na transmissão a longas distâncias. “A Empresa de Pesquisa Energética sinaliza para o risco da dependência, assim como o Operador Nacional do Sistema”, diz uma nota técnica.
“Sucessivos estudos do Operador Nacional do Sistema apontam que, em situação hidrológica desfavorável, a perda de alguns circuitos de 230 kV pode resultar em cortes regionalizados particularmente na fronteira Oeste e Região Sul do Estado do Rio Grande do Sul”.
Quando o sistema foi integrado, apenas uma linha de 530 kv transportava energia até o Estado, alcançando a subestação de Gravataí. Hoje a energia chega ao Estado através de dois “linhões”. A segunda linha de 500 Kv entrou em funcionamento em 1987.
Não há previsão de novas linhas de transmissão para aumentar o intercâmbio com o Sistema Interligado Nacional, mas há a previsão de uma linha de 500 Kv para conexão com o sistema argentino na compra de energia que o Brasil fará deste país.
CARENCIA CRÔNICA
Para mover as suas indústrias e iluminar suas cidades, o Rio Grande do Sul consome por ano 16 mil MW de energia elétrica. A capacidade de geração instalada em seu território que chega a 6,5 mil MW*. O restante, mais de dois terços vem de fora, do Sistema Nacional Integrado. Além das perdas, pelo transporte a longa distância, essa dependência traz insegurança no abastecimento.
Não é só a dependência da energia gerada fora do Estado. Tornou-se crônica falta de investimentos, principalmente em linhas de transmissão, substações e rede de distribuição.
Em certo período, as baixas tarifas eram a causa da carência de investimentos. Em 1986 a lucratividade da CEEE era 5% deveria ser 12% para atender as necessidades de investimento. Isso dá ideia do déficit de invesimentos que foi se acumulando. Depois, as tarifas foram atualizadas, mas teve o terremoto da privatização e das causas trabalhistas. Agora voltaram a ter uma significativa redução. Qual é a situação tarifária hoje? (Revista JÁ Especial Energia – edições temáticas 2013)

Já retoma edições temáticas

A revista JÁ voltou a circular em maio, com a primeira de cinco edições temáticas sobre o Rio Grande do Sul.
A primeira edição aborda a questão energética com ênfase para a retomada das usinas a carvão mineral. Em agosto, no próximo leilão de energia, devem ser viabilizados  projetos da ordem dos R$ 6 bilhões.
O conjunto de reportagens dessa edição mostra a situação de fragilidade que o Estado vive na área de energia.