Morreu nesta segunda-feira 27 de agosto, o folclorista Paixão Cortes, o maior pesquisador da cultura popular riograndense, comparável a Simões Lopes Neto.
Este depoimento foi gravado em 2010, quando ele foi patrono da Feira do Livro de Porto Alegre.
Foi o primeiro de uma série que não se completou.
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ELMAR BONES
Mesmo quando veste calça jeans, Paixão Cortes dá a impressão de estar de bombacha. Penso nisso quando o vejo descer de um carro do Instituto Estadual do Livro na frente do do edifício onde ele mora, na rua André Puente, em Porto Alegre.
Desce atabalhoado com um pacote de folhetos, livros, papéis. Subo no elevador com ele e dona Marina, sua mulher. Ele segue falando como se estivesse continuando uma conversa.
Diz que está chegando da gráfica, onde foi buscar uns folhetos e alguns exemplares do seu livro que será distribuído na Feira. Reclama dos compromissos que não lhe dão folga: “A gente sai dum, entra noutro, sai dum entra noutro…”
O apartamento é simples, um conjunto de estofados, uma mesinha com estatuetas, uma do Laçador.
A dois dias do início da Feira, o patrono está preocupado com a confusão que os jornalistas continuam fazendo nas entrevistas, perguntando sobre o movimento tradicionalista com o qual hoje ele tem profundas divergências.
Paixão Cortes é o “descobridor” do gaúcho riograndense. Numa época em que os gaúchos eram considerados “almas bárbasra egressas do regime pastoril”, como escreveu José Veríssimo, ele foi buscar as origens da cultura popular do pampa brasileiro.
Foram suas pesquisas, com Barbosa Lessa, que levantaram o material original sobre o qual se erigiu o panteão do tradicionalismo, que atualmente ultrapassa as fronteiras do Rio Grande do Sul e chega até ao Japão.
Hoje, Paixão é, de certa forma, vítima da caricaturização das manifestações gauchescas que se vê nos CTGs. Se irrita com os regramentos artificiais e com as demasiadas concessões ao apelo comercial nos conjuntos de dança e música regional.
Confundido com o tradicionalismo cetegista, Paixão Côrtes não consegue ter visibilidade para sua obra como folclorista, que não tem similar no Brasil atualmente.
Por sua figura arquetípica, não consegue se desvincular do gauchismo que tanto critica e por causa disso chegou a ter sua indicação para patrono da 56ª Feira do Livro de Porto Alegre questionada.
Embora tenha mais de 40 livros publicados e seja autor de uma obra original na cultura brasileira, Paixão Cortes paga o tributo de ter sido modelo para a Estátua do Laçador e muitos o vêem como o protótipo do gaúcho grosso e fanfarrão, sem sequer suspeitar do intelectual sofisticado, do pesquisador rigoroso que ele realmente é.
Quando era classificador de lãs, ofício que abraçou aos 17 anos, Paixão Côrtes fez fama por não precisar de instrumentos para calcular a espessura dos fios, que se medem em microns. Com o tato da ponta dos dedos, ele media: “15 microns”, “10 microns”.
Com a mesma sensibilidade aguçada, com a mesma intensidade primitiva e transbordante que coloca em tudo o que faz, ele se dedica há mais de seis décadas a resgatar as raízes da cultura popular riograndense, a “alma do povo”, como ele diz.
Uma conversa com Paixão Côrtes é uma torrente, algo que jorra e inunda a gente. Difícil é sintetizar, depois, para colocar no papel algo que dê uma idéia da riqueza de uma lenda, que chega aos 83 anos viva e atuante.
Depoimento gravado no dia 27 de outubro de 2010:
“Depois que fui indicado patrono não parei mais…é uma série de pedidos… de perguntas… então tu tens que informar as pessoas que vão ou querem participar ou que de uma forma ou de outra estão interligados à tua presença lá… O resultado disso é que tu sai dum entra noutro, sai dum entra noutro…
Os jornalistas de modo geral… há uma confusão entre o movimento tradicionalista e o folclore. Em razão disso, a pergunta que vem da imprensa, da interrogação da televisão, é o tradicionalismo…
O tradicionalismo é um movimento popular… com o fim de reforçar o núcleo de sua cultura. O folclore é a manifestação genuína, viva da alma do povo… o tradicionalismo se serve do folclore… o folclorista é o estudioso de uma ciência, o tradicionalista é militante de um movimento.
Essa noite tava me lembrando… na segunda ou na terceira Feira do Livro em, 1957, eu fui feirante, já levando meus livros editados na época… no começo a feira era uma coisa… não se sabia bem o que era… uns quiosquezinhos… tinhamos nossos livros lá…
Eu tenho esses livros… Manual de Danças Gaúchas e Suplemento Musical, eu já vendia meus livros como feirante, a firma nossa era Tradisul, o Humberto Lopes e eu, nós tivemos banca, né (risos) e tem até fotografia… aí tu começa a pensar, porque naquele tempo nem se pensava, entende, nesse aspecto da projeção, que 56 anos depois estaria vivo… e presenciando mais um ato, sempre participando do ato.
Ai tu começa… mas vem cá… mas chê… mas eu tenho uma fotografia disso ai… aí procurei, pá, pá, pá, achei… meu filho passou para o computar… aparece o Meneghetti*
(*Ildo Meneghetti, ex-governador)|… o Humberto Lopes por dentro da barraca, eu pelo lado de fora recepcionando…tu vê, rapaz…
Além dos livros, tinha disco que a Inesita Barroso gravou* (*Inesita Barroso gravou “Danças Gaúchas”, em 1955, com o selo Copacabana, com as seguintes dançass/músicas recolhidas por Paixão Cortes e Barbosa Lessa: Maçanico, Chimarrita Balão,Quero-Mana, O Anu, Pezinho, Meia-Canha,Tirana do Lenço) nem se sabia direito o que era regionalismo, ninguém sabia quem dançava… então, bota no livro, bota o disco, ah…mas isso é tradição, mas e não tem ilustração?…
Uma vez o Lutzenberger* (*Joseph Lutzenberger, arquiteto, pai do ambientalista) me chamou, para selecionar uns desenhos dele de cenas rurais… ele queria representar o gaúcho, os costumes, o trabalho, os arreios… sábado pelas três horas eu ia lá na casa dele, numa mesa grande todos os trabalhos que ele fazia na semana, dezenas, ele fazia bico de pena… publicou 25 selecionados por mim… tinha um textinho nosso… Barbosa Lessa, o Sanguinetti, Silvio Ferreira… era 1952, nem feira tinha…
Hoje não tem mais cultura superior, inferior, erudita, tanto faz o astronauta como um índio… todos produzem cultura.
A Corag vai colocar na Feira o meu livro “Folclore gaúcho festas bailes música e religiosidade rural”, de quatrocentas e tantas páginas. Registra as manifestações mais genuínas da cultura popular riograndense… no interior de Santo Antonio da Patrulha, Mostardas, Tavares… onde ainda correm cavalhadas isso tudo, rezas, sai bandeiras com peditórios, montados a cavalo.
São os focos originais, herança lusitana, a base do folclore riograndense… é o que ainda resta… nas Missões resta pouca coisa… na fronteira quase nada que remonte às épocas, essas são as manifestações de origem mais remota… a alma do povo.
Quando souberam que eu era patrono me telefonaram… Paixão , queremos dançar pra ti… Há muito convivo com eles, danço com eles, bebo cachaça com eles…queriam vir….as cavalhadas, os quicumbis, os negros com imperador e tudo… aí fui lá na Feira… ah mas não tem verba…bueno, mas depois se resolveu, diz que vem 90 pessoas…
Vem noventa, com roupa, máscaras, tambor e tudo… Então peguei esses cinco temas folclóricos e botei nessas folhas para que os jornalistas tenham esses elementos para se louvar… quicumbi, caiambola… que é isso… vão dizer: o Paixão já inventou coisa…mas não taí, ó. Eles vêm aí em carne e osso.
O negócio é o seguinte: eu sou pessoa de quatro paredes para fora, não para dentro, não sou de palco, nem microfone, nem holofotes, sou de campo… então… vem com o livro, e posso falar: esse é o maior documentário sobre folclore publicado no Rio Grande do Sul valor documental, tudo documento não tem tradição, tradicionalismo, CTG nada disso… aqui é “in loco”…
Olha aqui o Baile do Masque… homens vestidos de mulher… pô mas, então, como é que é, o Paixão vai trazer travestis, então tem que ter um cuidado louco… (vai folhando o livro) olha aqui a Cavalhada… ó aqui, o terno de reis, ó… ensaios e promessas dos quicumbis….elementos originais… os bichos ao natural.
Tem a parte de dança… a parte de dança é reconstituição de dança, isso é tradicionalismo… escreve um livro, pesquisa seu ciclano… seu ciclano dança assim, a música é assim… as que nós reconstituímos já tão na casa dos 100.
Sempre reuni esse material… agora são 100 danças recolhidas… estou escrevendo um livro de 700 páginas que onde vão estar essas coisas todas…
Naquele tempo nem tinha gravações…era de memória… exercitei e fiz sistema de escrever, olho e leio, mesmo a escrita musical… gravador foi grande evolução (riso) quando começou era no olho e no ouvido…ó…é assim… olha, vai de novo… e ai tu ia pegando a coisa.
Essas coisas todas chegam aos dias de hoje…é isso que posso dar de contribuição feita ao lado de professores, ficcionistas, historiadores, sociólogos acho que posso dar essa contribuição, que é a alma do povo, não é matemática, não é número… aprender a alma do povo… importante na preservação dos seus valores… tudo isso é alma do povo isso aprendi na convivência com eles… quando se perde, morreu. (segue)
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Obras na Praça da Alfândega ameaçam Feira do Livro
A praça da Alfândega não estará em condições de abrigar a Feira do Livro de Porto Alegre, em outubro deste ano.
A informação foi transmitida na manhã desta terça-feira, 13/4, pela coordenação do projeto Monumenta ao presidente da Câmara Riograndense do Livro, João Carneiro.
A praça está integrada ao projeto Monumenta, de resgate de espaços culturais, e está em obras desde o ano passado.
A notícia causou indignação na reunião que a Câmara do Livro promoveu à tarde, exatamente para discutir a feira deste ano.
Segundo Carneiro, na reunião pela manhã na Secretaria da Cultura, os representantes do Monumenta sugeriram que a feira este ano seja transferida para o Parque da Redenção ou para o cais do porto.
A diretoria da Câmara do Livro considerou uma “falta de respeito à história da Feira” e já solicitou uma audiência com o prefeito José Fortunatti para tratar do assunto.
Já Editores é destaque com livro sobre petroquímica
O livro “Petroquímica Faz História”, de Elmar Bones e Sérgio Lagranha, recebeu o prêmio Destaque Memória Econômica na promoção do Jornal do Comércio que destaca o trabalho de autores, editores e livrarias ligados à Feira do Livro de Porto Alegre. O prêmio está em sua quinta edição. O livro foi lançado na feira do no ano passado pela Já Editores e reconstitui o movimento que mobilizou o Rio Grande do Sul, unindo governo e oposição, para trazer o terceiro pólo petroquímico – que depois se tornou Copesul – para o Estado.
A obra mostra também como o pólo petroquímico gaúcho se tornou num dos mais modernos e rentáveis do mundo. Todas as transformações que ocorreram na petroquímica brasileira nos últimos 50 anos, inclusive a onda de fusões e incorporações que deu a configuração atual ao setor, também estão no livro. Um caderno de fotos, resgata as imagens da grande mobilização que envolveu toda a sociedade, num dos raros momentos em que os gaúchos de todas as tendências se uniram em torno de um objetivo.
O evento de premiação das melhores obras escolhidas por um júri de professores e intelectuais para o Prêmio do Jornal do Comércio o será realizado no dia 11 de novembro, às 19 horas, no Átrio do Santander Cultural. Os premiados recebem um troféu criado pela artista plástica Claudia Stern.
As categorias premiadas foram:
Livro de Administração Estratégica
Livro de Administração- Comunicação Organizacional
Livro de Comércio Exterior
Livro de Contabilidade
Livro de Direito
Livro de Economia
Livro de Marketing
Livro de Publicidade e Propaganda
Prêmio Destaque Memória Econômica
Prêmio Especial
Livraria
Editora
Homenagem Especial
Corredor Cultural Bom Fim: festa no bairro
O lançamento do Mapa do Corredor Cultural Bom Fim e a 1a Feira do Livro e da Cultura do bairro marcaram, neste sábado, a estréia do Corredor Cultural.
A Feira foi na rua João Telles, 369, das 10 às 18 horas, sob um toldo branco montado no estacionamento do TRT. Praticamente todas as instituições culturais da região compareceram, para exibir seu trabalho e trocar idéias com a vizinhança. Foi exatamente esta a intenção do Memorial do TRT, ao propor o Corredor: reunir e, assim, aumentar a visibilidade sobre o trabalho dos produtores culturais do bairro.
Ao ser homenageado, o livreiro Edgardo Xavier surpreender a todos ao subir ao palco, declamar poemas e exibir uma memória invejável, aos 86 anos de idade. A Sociedade Italiana levou música e o chef Francesco Rosito, que ali ministra cursos de gastronomia, ofereceu um antepasto de berigelas e azeitonas como amostra do seu trabalho.
À tarde, o Museu da História da Medicina contou a crianças e adultos a história de Biblos, o livro-boneco que ensina como os livros gostam de ser tratados. A tarde continuou em clima festivo até o final, com uma apresentação de alunas da escola de dança flamenca Tablado Andaluz, e continou no Bar Ocidente noite adentro.
A Feira do Livro e da Cultura foi o primeiro evento do Corredor Cultural, que foi criado para ser permante. O próximo vento ainda não está definido, mas os participantes já pensaram em vários projetos: música, artes plásticas, culinária, e todo o mais o que o Bom Fim faz.
Instituições organizam Corredor Cultural do Bom Fim
O Memorial da Justiça do Trabalho, com o objetivo de integrar as atividades culturais do bairro, propõe o Corredor Cultural do Bom Fim. Duas idéias que compõem o projeto estão com o orçamento aprovado e começam a ser colocadas em prática: o Mapa Cultural do bairro e a Feira do Livro do Bom Fim.
As instituições culturais que participam do projeto são os museus da UFRGS, da História da Medicina do Rio Grande do Sul, a Sociedade Italiana, o Clube de Cultura de Porto Alegre, o Museu Casarão da Várzea Porto Alegre, o bar Ocidente, o Jornal Já e, claro, o Memorial da Justiça do Trabalho. A expectativa é que pelo menos mais três instituições confirmem a participação.
O mapa deve ficar pronto dia 25 de abril, quando será realizada a feira, no último dia da Semana do Livro de Porto Alegre. Também constará neste mapa as livrarias que participarão do evento: a Zouk, a Letras e Companhia e a Palavraria. No evento, haverá ainda exposição de livros do Já Editores e de livros editados pelo Tribunal de Justiça do Trabalho e pelo Museu de Medicina. Espera-se a confirmação de participação de outras seis livrarias.
No dia da feira, além da distribuição do mapa cultural do bairro, que depois ficará a disposição dos interessados nos estabelecimentos participantes, haverá apresentação de um grupo de canto folclórico italiano, divulgação de cursos e oficina de contação de história e conservação de livros para crianças.
As instituições culturais interessadas em participar do Corredor Cultural podem entrar em contato com Benito Schmidt, diretor do Memorial, pelo email bschimidt@trt4.jus.br ou pelo telefone 3222-9580.
Fato de 30 anos atrás deixa uma bomba na Feira do Livro
Elmar Bones
A 54a.Feira do Livro, que termina domingo, 16, deixará em Porto Alegre uma bomba de efeito retardado: o livro do jornalista Luiz Claudio Cunha, editado pela LPM, reconstituindo o “sequestro dos uruguaios” ocorrido em novembro de 1978, fato que abalou as ditaduras uruguaia e brasileira e que lançou seus primeiros estilhaços ali mesmo na Praça da Alfândega, em meio às barracas da Feira.
Na abertura da feira daquele ano, o governador Synval Guazzelli foi encurralado pelos repórteres para falar de um assunto do qual vinha fugindo nos últimos dias – a denúncia de que dois adultos (Universindo Dias e Lilian Celiberti) e duas crianças (Camilo, 8, e Francesca, 3, filhos de Lilian) haviam sido sequestrados em Porto Alegre e levados para Montevidéo por uma ação conjunta de policiais uruguaios e brasileiros.
O livro tem 472 páginas, e reconstitui os fatos num ritmo de reportagem, sem buscar isenção, nem distanciamento. O repórter está envolvido desde o primeiro minuto, quando numa tarde de novembro de 1978, acompanhado do fotógrafo J.B. Scalco, bateu num apartamento na rua Botafogo, no Menino Deus, e foi recebido por uma pistola. O autor do livro está do lado de cá da pistola, que como se descobriu depois, a partir do testemunho dele e de Scalco, estava a serviço de uma organização criminosa, que eliminava dissidentes à sombra das ditaduras do continente. Por isso, Luiz Cláudio é impiedoso com todos aqueles que estavam do lado de lá, o da pistola.
O livro, lançado dia 7, com autógrafos na feira, detonou uma série de eventos em Porto Alegre e, de certa forma fez o mundo político local reviver os dias sombrios daqueles tempos “em que adversários eram punidos com a tortura, o desaparecimento e a morte”.
Lilian e Universindo vieram de Montevidéo para homenagens na Assembléia Legislativa, na Ordem dos Advogados, deram dezenas de entrevistas em rádios, jornais e tevês. Lembraram a prisão, as torturas, nominaram os algozes, repudiaram as ditaduras e reitararam sua gratidão aos jornalista, advogados, defensores de direitos humanos e parlamentares que alimentaram a campanha, que não só desvendou o sequestro. Também salvou a vida deles, dos raros que escaparam das garras da Operação Condor.
Luiz Claudio Cunha, que vive em Brasilia, voltou para casa. Lilian, Universindo, Camilo e Francesca voltaram para Montevidéo, onde vivem. O livro ficou como uma bomba silenciosa, demolidora de biografias que se reconstruiam sob a poeira do tempo.
JÁ Editores tem seis lançamentos na Feira do Livro
Rolo Compressor,
a máquina de fazer gols
Repleto de fotografias, Rolo Compressor – Memória de um Time Fabuloso, do cronista esportivo Kenny Braga, será apreciado pelos amantes do futebol de todas as cores, por trazer à luz um pouco do que foi o futebol gaúcho no período em que a profissionalização no esporte, que já se consolidava em São Paulo e no Rio, ainda estava para começar no Rio Grande do Sul.
Para os colorados, terá o deleite especial de conhecer melhor o mitológico Rolo Compressor, o perfil dos seus principais personagens, dos craques que naquele cenário em que o mundo assistia a Segunda Guerra, começavam a virar ídolos da torcida, e depoimentos de alguns dos poucos que viram o Rolo jogar e estão aqui para contar.
Lançamento dia 24 de outubro, 6ª-feira, 18hs, no térreo do Mercado Público de Porto Alegre, perto do Gambrinus e da Banca 40. Autógrafos da Feira: 2 de novembro, domingo, 18h30, na praça.
As estradas de água
do Rio Grande
Navegar pelo território gaúcho é possível e necessário. As hidrovias, adormecidas desde que o Brasil optou pelas rodovias como principal meio de transporte interno para cargas e pessoas, na década de 1950, começam a despertar impulsionadas por investimentos públicos e privados.
Já é possível fazer quase 800 quilômetros por hidrovias, e os planos chegam a prever um caminho de 1.300 quilômetros desde o rio Uruguai até o porto de Rio Grande, em obras para tornar-se o porto mais importante do Cone Sul, maior que os de Buenos Aires e Montevideo. Pelos rios e lagos até Rio Grande, o Mercosul ganha uma nova via para o mundo.
O livro-reportagem Navegando pelo Rio Grande, do jornalista Geraldo Hasse, conta a história deste Rio Grande aquático, que não habita o imaginário popular. Desde a chegada dos primeiros desbravadores europeus, pela brava barra de Rio Grande; a epopéia que foi a construção dos molhes que domaram a entrada do porto; os rumos da povoação do Estado determinada pelo cursos d’água; e todo o potencial deste meio de transporte – tudo ilustrado com fotos e mapas. Um livro para estudantes de todas as idades.
Autógrafos na Feira: 3 de novembro, 2ª-feira, 17h30, na praça.
Um inventário
do Ferrabraz
Uma das regiões mais prósperas e urbanizadas Rio Grande do Sul, o Vale do Rio dos Sinos viu desaparecer grande parte de suas florestas. A comunidade da região, liderada pela Organização Não-Governamental Araçá-piranga, iniciou um projeto para definir a criação de uma unidade de conservação com base no núcleo da reserva do Morro do Ferrabraz.
Para garantir a conservação do ambiente natural, flora e fauna remanescentes, a idéia é criar uma área de preservação envolvendo, inicialmente, os municípios de Araricá, Nova Hartz e Sapiranga. O respaldo do Ministério do Meio Ambiente, desde 2006, viabilizou o estudo para a criação da unidade de conservação, nos vales do Sinos e do Caí. O livro Ferrabraz, Reserva da Biosfera resume o trabalho de caracterização da região, que incluiu a elaboração de mapas e imagens, feito por uma equipe de 14 pesquisadores e apoiadores da ONG. O livro foi organizado pelo biólogo Luís Fernando Stumpf e pelo jornalista Guilherme Kolling.
Autógrafos na Feira: 4 de novembro, 3ª-feira, 19h30, na praça.
Chananeco
além da lenda
A micro-história é efeita a partir de pesquisas como esta que resultou na biografia Chananeco, da Lenda para a História, de César Pires Machado. O historiador foi além do mito quase folclórico de Vasco Antonio da Fontoura Chananeco, um guerreiro que virou mote de causos sobre façanhas e bravuras mantidas vivas pela tradição oral da Campanha gaúcha.
Cesar Pires Machado investigou quem foi, além da lenda, este carreteiro e bodegueiro de campanha, que largou a carreta cheia de mercadorias na beira da estrada para acompanhar uma tropa de guerreiros que pasava rumo à Guerra do Paraguai e, de lá, voltou coronel.
Autógrafos na Feira: 12 de novembro, 4ª-feira, 18h30, na praça.
Como chegamos
à petroquímica
A petroquímica brasileira tem meio século. A Petroquímica Faz História, dos jornalistas Elmar Bones e Sérgio Lagranha, narra os fatores econômicos e políticos que influíram na petroquímica brasileira, especialmente no Rio Grande do Sul.
Na primeira parte, Bones conta como foi o movimento que mobilizou o Estado para que o 3º pólo petroquímico brasileiro fosse construído em Triunfo, três décadas atrás. Na segunda parte, Lagranha descreve inovações tecnológicas e as demandas dos mercados, que hoje desenham um quadro completamente diferente do que era nas primeiras fases desta indústria que hoje está presente no cotidiano de todos.
Antonio Olinto,
atual há meio século
Leitura obrigatória para quem escreve e satisfação para quem gosta de ler, Jornalismo e Literatura, o ensaio que Antonio Olinto escreveu em 1952, volta a ser publicado, com um capítulo final escrito especialmente para esta edição de 2008.
Até agora, o único exemplar disponível para venda no Brasil, usado, podia ser encontrado na estante de livros raros de um sebo paulista, por R$ 185,60. Este lançamento é, portanto, uma oportunidade imperdível para agregar este clássico a toda e qualquer biblioteca razoável.
Aos 89 anos, Olinto vive no Rio de Janeiro. Sai cedo de casa, rumo às favelas e subúrbios cariocas, a montar bibliotecas comunitárias. É um projeto ao qual se dedica há anos e se consolidou com a criação do Instituto Antonio Olinto. Sua obra literária estende-se poesia, romance, ensaio, crítica literária e análise política. Montou uma preciosa coleção de arte africana, pela qual se interessou mesmo antes de viver na África, onde foi adido cultura na Nigéria.
Em 1994, este mineiro de Ubá, nascido em 1919, recebeu pelo conjunto da sua obra o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, a mais alta laúrea literária do Brasil. Em 1997, foi eleito para a Academia na cadeira nº 8, sucedendo o escritor Antonio Callado. Seus romances são traduzidos em vários idiomas.
O livro Jornalismo e Literatura, editado pelo MEC em 1955, foi adotado e cursos de Jornalismo em todo o Brasil.
Feira do Livro responde à crise: “Ler enriquece”
Elmar Bones
“Ler enriquece” é o bordão da Feira do Livro de Porto Alegre de 2008, que abre nesta sexta-feira.
As peças da campanha de divulgação foram apresentadas à imprensa na terça-feira.
Luiz Coronel, diretor da Agência Matriz, explicou que a campanha já estava pronta em setembro, quando estourou a crise financeira que abalou a economia mundial.
“Foi premonição”, brincou. “A crise fortaleceu o apelo que tem a idéia: a solução pelo conhecimento, que está contido nos livros, ao qual se chega através da leitura”
A campanha estará no rádio, jornal e tevê até o dia 16 de novembro quando encerra a feira, que há 54 anos ocorre na Praça da Alfândega, no centro cultural da cidade.
Incentivos ainda não aprovados
Apesar do otimismo do presidente da Câmara do Livro, João Carneiro, havia uma certa tensão na apresentação da programação da 54ª. Feira do Livro, na terça-feira.
O motivo era evidente: a aprovação do projeto da feira pelo Conselho Estadual de Cultura. O projeto está no conselho desde abril, mas só será examinado nesta quinta, 30, na véspera da abertura da feira.
A aprovação permite que a Câmara Riograndense do Livro, que organiza o evento, capte cerca de 700 mil reais via Lei de Incentivo à Cultura (o patrocinador abate do imposto a pagar a maior parte do valor que aplica ).
É pouco provável a não aprovação. Se isso acontecer, os organizadores terão que cortar 30% das atividades programadas para os 16 dias de feira, o que significa segundo uma estimativa, suspender 450 atividades. Por isso, ninguém conta com essa hipótese.
Mesmo com a aprovação, o fantasma da perda dos incentivos fiscais seguirá rondando a Feira do Livro de Porto Alegre. Ganha adesões no Conselho a tese de que “projetos consolidados”, como é o caso da feira, não possam se habilitar a benefícios fiscais, cuja finalidade principal seria estimular novos projetos.