Por Felipe Prestes, especial para o Jornal Já
Prefeitura vai levar 586 milhões do BID para despoluir o Guaíba, mas nada faz pelos 17 quilômetros do arroio mais sujo da cidade.
Garças tem habitat no arroio Dilúvio (Felipe Prestes)
“Ir até lá sozinho, sem a companhia de um guarda, é muito perigoso”, alerta um funcionário da prefeitura. Refere-se à nascente do arroio Dilúvio, no meio do mato, no Parque Saint-Hillaire, em Viamão. Longe da área de vivência do parque, em um lugar inóspito que serviria de acolhida para bandidos, tem início a trajetória de 17.605 metros do riacho que depois divide uma das principais avenidas de Porto Alegre.
No parque, a água flui limpa para a superfície. Mas ali mesmo a falta de acesso da população à infra-estrutura básica se faz sentir. “As vilas próximas à nascente não possuem saneamento básico. Pequenos cursos d’água que não nascem no Saint-Hilaire acabam levando a poluição para o Dilúvio”, explica o biólogo da Secretaria Municipal do Meio-Ambiente de Porto Alegre (Smam), Rodrigo da Cunha. Mesmo que apenas 10% da unidade de conservação façam parte do município, a secretaria é responsável pela preservação do local.
Após se esconder embaixo de vias urbanas, canalizado, e depois se embrenhar nas matas do morro Santana, o Dilúvio reaparece espremido entre o pé deste morro e os fundos de oficinas, depósitos de ferro-velho, brechós, restaurantes e moradias localizadas na Avenida Bento Gonçalves, já em Porto Alegre. Ainda rodeado por mata densa, recebe sofás, colchões, todo tipo de saco plástico e restos de materiais de construção.
Mais estreito, devido às estruturas de concreto construídas nos barrancos das duas margens, o riacho passa por baixo da Avenida Antônio de Carvalho e vira característica marcante da Avenida Ipiranga.
Segundo o “Guia Histórico de Porto Alegre”, de Sérgio da Costa Franco, a canalização começa a ser pensada em 1905, por causa das constantes cheias. Entretanto, a obra só foi levada a cabo após a grande enchente de 1941.
Até então, o Dilúvio saía da Azenha e percorria a Cidade Baixa. Naquela região, nas palavras do escritor, “começava a descrever extensos meandros, em terreno baixo e alagadiço, até alcançar a antiga Ponte do Menino Deus, que dava acesso à Av. Getúlio Vargas. Um destes meandros, imediato à Praça Garibaldi dava uma volta de tal modo acentuada, que quase encerrava uma ilhota no seu interior”. Foi nessa região, conhecida então como Ilhota, que nasceu, em 1914, o compositor Lupicínio Rodrigues. Conta-se que o pai de Lupi teve que buscar uma parteira de barco, devido a mais uma enchente.
Para evitar fatos semelhantes, a obra que se arrastou por duas décadas tratou de fazer uma retificação, deslocando esta parte do arroio, formando um único curso reto, até o fim da Avenida Ipiranga. Deslocou também uma bifurcação que ia em direção ao Centro, e passava por baixo da Ponte de Pedra. E os porto-alegrenses já estão tão acostumados que muitos nem se perguntam por quê, afinal de contas, há uma ponte naquele pequeno espelho d’água.
A última alteração se deu nos anos 70, quando o arroio se estendeu até o aterro criado para que surgisse o Parque Marinha do Brasil. Hoje, doze quilômetros do leito são canalizados.
Cláudio Frankenberg, coordenador acadêmico da Faculdade de Engenharia e diretor do Instituto de Meio Ambiente da PUC-RS, explica que o Dilúvio recebe as águas de diversos pequenos córregos que a cidade foi soterrando para construir novas vias, novos bairros. Sua sub-bacia é responsável pelo escoamento de água em uma área de cerca de 83km2 – mais de oito mil campos de futebol – na qual vivem aproximadamente 446 mil pessoas, na capital e em Viamão.
O que poucos sabem também é que o riacho não foi projetado para ser um grande recebedor de esgoto cloacal. Segundo o Departamento de Esgotos Pluviais de Porto Alegre (DEP), o arroio carrega este tipo de detritos de apenas três bairros de Porto Alegre até o Guaíba. Contudo, o mesmo problema de ligações irregulares de esgoto cloacal encontrado na nascente ocorre por toda a parte, nestes pequenos arroios que vão desembocar no Dilúvio, além de ocorrer diretamente no próprio.
“O sujeito descobre que há um duto perto de onde vai morar, faz uma pequena obra e manda seus dejetos para lá, sem saber que se trata de algo que escoa a água da chuva”, relata Frankenberg. As dificuldades para se descobrir essas ligações são grandes, o que dificulta a ação do estado em reparar sua omissão no provimento de necessidades básicas. “Para testar se uma casa tem esgoto irregular é preciso entrar nela, jogar corante no vaso sanitário e ver onde ele vai parar. Precisa da autorização do morador, o que é complicado. Já há robôs que podem ser colocados na rede de esgotos e rastrear isso, mas é um labirinto muito grande, também é difícil”.
Do pé do morro Santana até a foz, pode-se fazer uma imagem como esta em qualquer trecho do Dilúvio. (Felipe Prestes)
Essa foi uma das causas da poluição no arroio apontadas por uma análise preliminar feita pelo Núcleo de Estudos do Dilúvio, chefiado por Frankenberg. Em 2007, um grande número de peixes apareceu morto na frente da PUC-RS, o que motivou a criação deste grupo. Entre os outros fatores, estão a sujeira que provém da própria água do esgoto pluvial, pela sujeira das ruas; e o lixo que é jogado diretamente no riacho. “Além disso, não sabemos, por exemplo, se um posto de gasolina não joga produtos químicos no arroio”.
A grande quantidade de terra no leito colabora para a acumulação da sujeira, por isso há rotineiramente dragas na Avenida Ipiranga retirando este barro. “Um dos entraves para uma maior eficácia é que a Prefeitura de Porto Alegre não possui este equipamento, precisando alugar toda vez que vai fazer este processo”, lamenta o professor universitário. Ao todo, o córrego recebe anualmente 50 mil metros cúbicos de terra e lixo, o equivalente a dez mil caminhões-caçamba cheios.
O pulso ainda pulsa
Chama atenção que com tantos problemas o Dilúvio atraia cada vez maior população de aves, e ainda répteis e peixes, inclusive nas partes onde há mais selva de pedra no entorno. O biólogo da Smam, Rodrigo da Cunha, acredita que isso possa confundir a população e alerta que não é necessariamente um bom sinal. “Os animais que ali se encontram, como garças, bagres e lambaris, além de tartarugas, são altamente resistentes à poluição. O arroio não vai bem”.
Tartarugas resistem à sujeira do Dilúvio. (Felipe Prestes)
Muitas pessoas também usam as margens do riacho para descansar e fazem das pontes um teto para morar. Das sinaleiras da avenida, tiram o ganha-pão. Uso de drogas, conflitos com os familiares e incompatibilidade com o tipo de assistência oferecida pelo estado nos albergues, vão levando gente humilde a se juntar em verdadeiras repúblicas em torno do Dilúvio.
Na esquina da Santana com a Ipiranga, Gabriel vende santinhos amassados para os motoristas. Mora com o pai, no bairro Glória, e lhe faltou apenas um ano para concluir o segundo grau. Como gosta de “tomar umas”, prefere evitar brigas com o velho, passando a maior parte da semana com um pessoal que dorme embaixo da marquise de uma loja de pneus localizada naquele entroncamento.
Quem disse que morador de rua não pode ter jardim? (Felipe Prestes)
No barranco da mesma esquina, Rodrigo tem um jardim. O morador de rua recolhe plantas quase mortas que encontra no lixo, além de utensílios como vasos, e cuidadosamente trata de dar nova vida aos vegetais. Segue à risca os ensinamentos da mãe, com quem morava no Morro da Cruz, até a morte dela. “Um dia meu irmão me disse que três caras armados invadiram lá e eu nunca mais voltei. Tinha que ver o jardim que tinha lá”. Pretende sair da ponte e poder ser um jardineiro profissional.
Embaixo das plantas de Rodrigo, num degrau que o concreto faz em cima do Dilúvio, Kátia e o marido usam uma lona como casa. Ela diz ter vinte e um anos, embora aparente menos idade. Jovem como a maioria por ali, a garota conta que veio de Uruguaiana no ano passado. Viciada em crack, diz com naturalidade que transa por cinco ou dez reais. “Vim de avião para Porto Alegre com a minha família. Um velho com quem eu ficava pagou a passagem para todos nós. Eu disse para ele que queria conhecer a cidade”.
Kátia mora na rua para não vender seus bens
que ficam na casa da mãe. (Felipe Prestes)
Kátia tem um filho de um ano chamado Taison, em homenagem ao atacante do Internacional. A touca do Grêmio que usava havia sido emprestada por um amigo, por causa do frio. Quem cuida do menino é a avó. Os dois agora moram no bairro Bom Jesus. “Eu moro na rua por que não quero vender as minhas coisas por causa do vício. Tenho dvd, televisão”, conta.
O marido não se importa com a profissão de Kátia. “Ele me ajuda e eu ajudo ele”, resume. Foi quem a tirou das imediações do Shopping Praia de Belas, para morar no bairro Santana. Kátia foi convencida por causa da sopa, que é servida por um grupo de caridade a quem dorme embaixo da marquise da loja de pneus.
Gabriel conta que a relação entre os moradores de rua e o estabelecimento é boa, já que os primeiros só se instalam na frente do ponto de comércio após o fechamento deste. O problema maior é com a Prefeitura, que a qualquer vacilo recolhe os pertences de quem quer que viva na rua por aquelas bandas. A Prefeitura, aliás, começou em 2007 a fechar com concreto e tijolos a parte de baixo de todas as pontes que atravessam o Dilúvio. Somente as pontes históricas foram preservadas.
Uma destas construções, na Avenida Azenha, é habitada por um grande grupo de jovens, que se revezam por ali. De dia há sempre alguns sentados em colchões na calçada, com vários cachorros, descansando, enquanto outros se viram no malabarismo para conseguir um dinheiro.
Tiago dorme em um mocó embaixo de ponta histórica na Azenha. (Felipe Prestes)
Tiago, de 25 anos, conta que é possível faturar cerca de R$ 40 por dia com apresentações na sinaleira, ou simplesmente pedindo. Não é de muitas palavras. Arrepende-se quando revela que dentro da estrutura da ponte tem bons locais para dormir. “Revelei o mocó do Batman”, sorri. Só em dias de muita chuva é que é preciso se deslocar até uma marquise próxima por que o arroio enche demais. Começou a viver no local há cerca de três anos, motivado pelo uso de drogas, e pelas brigas com a mãe, com quem morava na Restinga. “Aqui é todo mundo unido, é uma família”.
Mais falante e sorridente, Glessias, de 21 anos, possui casa na Restinga, que comprou em uma área invadida. No entanto, freqüenta a região desde os dez anos, quando vinha buscar loló. Já teve visual punk, vestido sempre de preto e usando moicano, por isso ganhou o apelidado de “Sombra”. Foi nessa época que tatuou no braço os dizeres “Fascismo é uma merda”. Não costuma ficar muito tempo em casa, por não poder levar no ônibus o dálmata Beethoven.
A história da amizade entre o bicho e o jovem é inusitada. Há cerca de quatro anos, o antigo dono do animal pagou para Glessias matá-lo. O guri pegou o dinheiro e o cachorro para si. Também na Restinga mora sua esposa, que está grávida. O “Sombra” diz que sempre quis ter um filho, e que a mulher não se importa com sua ausência. “Ela sabe que eu sou locão”.
Passado e presente
No que seria uma tarde comum de trabalho, alertado por um colega, o economista e fotógrafo amador Cilon Estivalet desceu às pressas da repartição na Borges de Medeiros e fez o registro de uma enorme mortandade de peixes. “Cadáveres dos bichos, que tentaram passar do Guaíba para o riacho, tomavam toda a extensão dele, da foz até a Avenida Praia de Belas”, relata.
1972: família de pescadores contempla a mortandade de peixes no Dilúvio (Cilon Estivalet)
Era o ano de 1972, e aquela cena acabou o ajudando a tomar uma grande decisão na vida. “O (José) Lutzenberger estava começando a alertar a cidade sobre o mau cheiro causado pela antiga Borregard, a gente lia muito marxismo, e eu acabei me tornando ambientalista”. Estivalet optou pelo engajamento e hoje esta à frente da Associação Ecológica Canela (Assecan), que criou no município serrano.
A fotografia acabou sendo deixada de lado, mas o ensaio que fez naquela tarde se tornou um forte registro sobre o meio-ambiente em Porto Alegre e de pessoas que dependiam daquelas águas, sendo exposto em várias localidades no Rio Grande do Sul. Quando foi até a margem do riacho, o fotógrafo eternizou uma família de pescadores que tirava dali seu sustento, habitava uma ponte e se locomovia de barco pelo Dilúvio.
Diferentemente dos atuais moradores de rua, o casal – com um filho – vivia do arroio e do Guaíba, não da avenida; e as drogas ainda não eram uma questão que coloca em xeque a saúde pública no Brasil. Curiosamente, o ambientalista acredita que a poluição era maior naquela época, com uma camada de espuma cobrindo o curso d’água, principalmente nas épocas de pouca chuva.
O professor de matemática Milton Ribeiro morou na Avenida João Pessoa quase na esquina com a Ipiranga, do nascimento à juventude, entre os anos de 1957 e 1977. Ele se lembra da mesma camada de espuma e também de uma visão bem mais leve que a classe média tinha do Dilúvio e dos habitantes das redondezas. “Dava para atravessar por baixo da ponte sem ter de pisar na água, então era o melhor lugar para se brincar de esconde-esconde”.
Gatos e funcionários de uma revendedora de carros eram os que mais sofriam com os piás. “Entre as brincadeiras preferidas estavam jogar os gatos ponte abaixo, e estourar rojões dentro da loja”, recorda.
Volta e meia as crianças se deparavam com algum mendigo dormindo nas redondezas, mas os pais não demonstravam qualquer preocupação com a presença deles, ou com o fato de a garotada brincar perto daquela água poluída. “Nós éramos criados bem mais soltos em relação a como a classe média cria seus filhos nas grandes cidades hoje em dia. Muito pouco se ouvia falar em coisas como assalto e pedofilia”.
Tal ingenuidade Porto Alegre foi perdendo ao longo dos anos. Manteve-se o descaso com a degradação da natureza e com a população. O arroio Dilúvio é um espelho de como a cidade cuida de si. A saúde do riacho se assemelha à dos atingidos pela epidemia do crack. Problemas como a falta de renda, moradia digna, instrução e saúde pública fazem com que as trajetórias do esgoto cloacal irregular e dos moradores das pontes se cruzem no início e no fim do percurso.
As pessoas nos carros que voam pela Avenida Ipiranga raramente param pra ver a paisagem.
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Poda de árvores em Porto Alegre
Por Silvano Antolini
Porto alegre é a metrópole mais arborizada do Brasil. Existe cerca de uma árvore por pessoa, sendo assim, aproximadamente um milhão de árvores, entre estas estão incluídas apenas as de passeio público, praças e parques.
A Secretária Munipal do Meio Ambiente (Smam) possui um departamento de arborização em todas as zonas de Porto Alegre, zona leste, sul, extremo sul, centro, oeste e norte. Antigamente não existia este departamento na zona extremo sul da capital, mas neste ano a prefeitura resolveu cria-lo, devido ao número excessivo de árvores na capital gaúcha.
As árvores são responsáveis pela purificação do ar, o impedimento do ruído além de ajudar a diminuir sensação de calor para aqueles que circulam pelas rua. A estagiária da Smam, Mariana Mendonça de Alemdia, afirma que “Porto Alegre mesmo sendo uma metrópole, a população pode gozas de áreas e ruas muito bem arborizadas, isso é fundamentel para uma alta qualidade de vida ”, disserta a estudante de controle e monitoramento ambiental da UFRGS Mariana.
Para se podar uma árvore em Porto Alegre, é preciso estar de acordo com a legislação ambiental. Ninguém têm posse e nem autonomia por um vegetal, mesmo que este esteja em área privada é necessário fazer uma solicitação a Smam. Se a árvore estiver localizada no passeio público é preciso entrar em contato ligando para o número 156. Se for em área privada, a pessoa deverá ir até a Smam e logo depois abrir um processo via protocolo para podar a árvore.
Smam lança tema do Concurso Fotográfico 2009
‘Porto Alegre Rural’ é o tema do Concurso Fotográfico 2009 promovido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A cidade é considerada a segunda capital brasileira com maior área rural, aproximadamente 30% de seu território, o que significa 142,8 quilômetros quadrados.
Os interessados em participar do concurso poderão retirar o regulamento a partir de maio na sede da Smam, na Avenida Carlos Gomes, 2.120, das 9h às 11h30 e das 14h às 17h30. O edital deverá ser publicado até o final do mês, com premiação de até R$ 1.000.
Gatos vencem batalha da Redenção
Vice-prefeito José Fortunatti garante que ninguém vai tirar a bicharada do parque.
Dirigentes de várias ongs de proteção animal estiveram reunidos quinta pela manhã com o vice-prefeito José Fortunatti e o secretário do Meio Ambiente Professor Garcia, assim como representantes da administração do parque, para decidir o futuro dos gatos e cachorros que são abandonados no local. Pelo menos um ponto ficou claro: o poder público não pretende remover ou exterminar os animais. Palavra de Fortunatti, “bicheiro” de longa data.
Mas as reivindicações da ong Movimento Gatos da Redenção, que atua há mais de 10 anos e já tratou e encaminhou para doações responsáveis mais de 1000 animais resgatados ali, ficaram pendentes de promessas vagas. Sim, os voluntários podem continuar alimentando os animais (o que fazem de seu próprio bolso), desde que em novos locais delimitados pela administração. Podem continuar usando, provisoriamente, um pequeno espaço como recinto de quarentena para filhotes e adultos debilitados. E podem, é claaaaro, continuar higienizando, esterilizando, curando e doando os animais, com seus próprios recursos, atividade voluntária sem a qual hoje a superpopulação de gatos e cachorros no parque seria caótica.
O MGR quer porém um compromisso formal e público, estabelecendo o cumprimento de três pontos:
1.Local seguro, funcional e garantido para a casa de passagem (abrigo provisório até a adoção).
2.Material de divulgação alertando contra o abandono de animais (que é crime) e pela posse responsável.
3.Treinamento dos guarda-parque para vigilância contra o abandono.
Despejo
A polêmica em torno dos gatos e cães deixados no parque e atualmente sob guarda das ongs começou no final de março, quando o MGR foi comunicado que deveria desocupar o local onde mantinha 16 filhotes em tratamento, concessão da administração anterior. Também foram ordenadas várias medidas que dificultavam o trato dos animais, como restrições aos locais de alimentação. As justificativas: higiene do parque, e possíveis contaminações da fauna silvestre por doenças dos felinos, suposição derrubada por laudo veterinário apresentado na reunião.
A comunidade de ativistas pela causa animal iniciou então uma campanha de e.mails de apoio, a partir do site do GAE – Grupo pela Abolição do Especismo – que chegou às 2.500 mensagens, enviadas ao poder público e mídia. O resultado foi o agendamento da reunião de hoje, onde a rigor, tudo ficou como está. Ficar onde estão, no entanto, já significa uma grande vitória para os animais provisoriamente abrigados no parque.
Smam derruba últimos cinamomos do Bosque Rio Branco
Paula Bianca Bianchi
A arquiteta Maria Lúcia Sampaio abriu as janelas de seu apartamento no dia 7 de julho e se deparou com a derrubada dos 11 cinamomos remanescentes do bosque Rio Branco – área verde que dá nome ao empreendimento habitacional construído no local em 2003. A preservação das árvores havia sido considerada obrigatória para a provação do projeto.
Uma análise da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAM) autorizou a remoção diante do argumento de que os cinamomos estavam “secos e irrecuperáveis”. Como compensação, o condomínio terá que doar 20 mudas de ipê roxo Smam. “A justificativa para a doação é que a o jardim do condomínio não tem espaço adequado para um novo plantio. Mas ali havia u bosque!”, denuncia Maria Lúcia.
O empreendimento causou polêmica desde o princípio. Foram derrubadas 372 árvores para dar lugar aos dois prédios de 16 pavimentos que hoje dominam a vista e o sol da rua. Diante dos protestos dos moradores antigos, ficou acertado que a Rossi Incorporação e Construção paltaria mudas na região, e reformaria uma praça no bairro Santana. A empresa também se comprometeu a preservar alguns pontos de vegetação do antigo bosque dentro da área do condomínio, entre eles um agrupamento de 11 cinamomos na beira da Álvaro Alvim. A responsabilidade sobre as árvores, consideradas áreas de preservação ambiental, ficou com o condomínio sobre a fiscalização da Secretária Municipal do Meio Ambiente (Smam).
“O condomínio não zelou pelas árvores, que foram tomadas por erva de passarinho e a Smam não fiscalizou como deveria para evitar que as árvores fossem mal cuidadas”, denuncia a vizinha. Maria Lúcia vai entrar com uma representação no Ministério Público contra o empreendimento e responsabilizando a Smam. “Deveriam ter multado o condomínio e não o presenteado com a solicitação atendida pela secretaria responsável pela manutenção das árvores”.
Ela garante que conhece relatos semelhantes de moradores de outras áreas da cidade – “Alguém está fazendo o cidadão de Porto Alegre de Bobo”.
Smam teve que parar o trabalho
A arquiteta Maria Lúcia Sampaio, moradora da rua há mais de 15 anos, levou um susto quando viu os caminhões arrancando os cinamomos. Perguntou aos funcionários a razão da derrubada. Eles disseram que as árvores estavam causando risco aos moradores dos prédios pois poderiam desabar.
“Aquelas árvores estavam em perfeitas condições. É natural que elas fiquem sem folhas durante o inverno”, observa.
Inconformada, a moradora ligou para o gabinete do vereador Beto Moesch (PP), que na época da construção, era o titular da Smam. “Em reunião com a comunidade da rua Álvaro Alvim, ele havia se comprometido com a manutenção dos cinamomos”, recorda.
Diante da intervenção, de Moesch, uma bióloga da Smam fez uma vistoria que determinou a paralisação do corte – restavam apenas duas árvores em pé.
Mas no dia 8 de julho, outra equipe da secretaria voltou ao local e determinou que a remoção continuasse. “Da janela do meu quarto eu via uma pequena e linda mancha verde, cheia de pássaros que não existe mais”, lamenta.