Já na Feira do Livro

Na 57ª. Feira do Livro, você encontra todos os títulos da JÁ Editores na banca da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), que este ano privilegia as obras das editores locais, principalmente os associados do Clube dos Editores de Porto Alegre.
A banca azul da ARI fica em frente ao Memorial, ao lado da banca amarela do Instituto stadual do Livro (IEL).
Entre os títulos de destaque do catálogo de JÁ Editores, estão com descontos especiais:
“Lanceiros Negros”, de Geraldo Hasse e Guilherme Kolling, que mostra a participação dos escravos nas revoluções gaúchas;
“O Editor Sem Rosto”, de Elmar Bones, ensaio biográfico sobre Luiz Rossetti, o italiano que foi editor do jornal “O Povo”, órgão oficial da Revolução Farroupilha.
“Patrulha de Sete João”, de Euclides Torres, baseado no diário de um alemão trucidado por questões políticas no interior do Rio Grande do Sul.

“Pioneiros da Ecologia”, de Elmar Bones e Geraldo Hasse, com depoimentos inéditos de José Luztenberger e os pioneiros que fundaram o movimento ecológico.
“Três No Divã”, de João Gomes Mariante, uma olhar de psicanalista sobre três líderes políticos: Oswaldo Aranha, Flores da Cunha e Getulio Vargas.

Mariante autografa hoje "Três no Divã", na Feira


João Gomes Mariante, psicanalista há mais de 60 anos, é um fiel seguidor de Sigmund Freud. Aos 92 anos de idade, permanece em intensa atividade intelectual.

Especialista em profilaxia do suicídio – que considera um autocrime –, é autor de mais de 40 artigos científicos e 200 conferências no Brasil e no exterior.
Era um garoto em 1930, quando Getúlio Vargas chegou à Presidência pela primeira vez. Serviu o Exército ao lado de Euclides Aranha Neto, filho de Oswaldo Aranha, ministro de Vargas. Foram amigos até o recente falecimento de Euclides, a quem dedicou o livro ainda em vida.
Trabalhou como jornalista na imprensa carioca. Em 1946, formou-se pela Faculdade Fluminense de Medicina, para então escolher a Psicanálise.
Tinha 36 anos quando Getúlio suicidou-se, em agosto de 1954.
Debruçou-se sobre o comportamento de Vargas com olhar profissional, procurando entender-lhe os processos mentais.
Identificou também em Oswaldo Aranha e em Flores da Cunha, outros dois líderes políticos da época, cada um a seu estilo, um certo destemor exacerbado, uma disposição a correr riscos desnecessários, um constante desafiar a morte.
Ao transformar o estudo psicanalítico destes personagens no livro “Três no Divã”, Mariante lança uma abordagem inédita na bibliografia nacional, uma obra literária e filosófica.

Nela, vai além da personalidade dos biografados, ao observar o psiquismo e as motivações de líderes políticos desde a antiguidade até os dias atuais.
“O propósito fundamental de Três no Divã é de, através
da psicologia profunda, que a psicanálise condensa,
interpretar os segredos do inconsciente de cada um.”
João Gomes Mariante é membro efetivo da Associação Internacional de Psicanálise, da Associação Brasileira de Psicanálise, da Associação de Psicologia e Psicoterapia de Grupos em Buenos Aires, e membro honorário da Academia Sul-Riograndense de Medicina e do Rotary Internacional.

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No Divã do doutor Mariante

Numa manhã de agosto, um tiro no coração mata o presidente do país.
O peso do inconsciente nas decisões pessoais e políticas, a coerência da trajetória do suicida, estão no livro Três no Divã, que o psicanalista João Gomes Mariante autografa hoje, a partir das 19 horas, no auditório da Guarida Imóveis (rua Sete de Setembro, 1087).
Mariante observa, com a lente da psicanálise, o comportamento e os processos mentais inconscientes nas personalidades de três importantes políticos: Getulio Vargas, Oswaldo Aranha e Flores da Cunha. Três homens com os quais conviveu.
Abaixo, entrevista do autor ao editor Elmar Bones, publicada na edição de abril do JÁ Bom Fim.

João Mariante, 92 anos de idade, 60 de Pasicanálise
João Mariante, 92 anos de idade, 60 de Psicanálise

Entrevista: João Gomes Mariante

-O senhor é um porto alegrense da gema…
-Nasci na rua Mariante com a Castro Alves. Mas toda minha formação até o ginásio foi no Rio, no Colégio Pedro II. Depois fiz Medicina em Niterói, me formei na turma de 1946. Era o único gaúcho, em meio a muitos paulistas, cariocas e nordestinos…
-Sua familia foi para o Rio, é isso?
-Não.Fui sozinho, para estudar. Lá casei e fiquei mais de 20 anos. Depois voltei para o Rio Grande, depois retornei ao Rio, onde me especializei na psiquiatria. De lá fui para Buenos Aires onde morei oito anos. Terminei minha formação psicanalítica lá e retornei para São Paulo, onde trabalhei por 26 anos. Fui professor na Faculdade de Ciências Médicas e várias instituições de São Paulo.
-E sua experiência como jornalista?
-Trabalhei em jornais no Rio, onde conheci o Café Filho, de quem fui assessor mais tarde. Dirigi três revistas médicas em São Paulo. “Medicina Social”, “Imprensa Médica e “Anais de Higiene Mental”. Peguei o virus. Dizem que jornal é uma cachaça…É pior que o crack, não se larga mais.
-Por que o livro Três no Divã?
-Quis conciliar essas duas experiência, da psicanálise com o jornalismo. Os três personagens do livro eu conheci pessoalmente, privei com os três…
Aranha, GV,Mariante
-Tem uma foto sua com Getúlio e Oswaldo…
-Aquilo foi num churrasco. Vou explicar. O dr. Armando Alencar, então presidente do Superior Tribunal Federal era gaúcho de Rio Pardo, era meu padrinho de casamento. Eu me dava muito com ele, com os filhos dele. O dr. Armando a cada três ou quatro meses convidava o Getulio para um churrasco, e eu era hóspede permanente, passava os fins de semana no sítio dele em Itaipava. Aí fiz conhecimento com o Getúlio…
-Falava com ele?
-Sim, sim. Tinha até uma foto aí com ele, tomando o chimarrão, eu estava alcançando a cuia para ele. Era um painel, queimou no incêndio que destruiu meu consultório…
-Incêndio, como foi?
-Perdi quase tudo o que eu tinha. Estava no apartamento em que morava na Anita Garibaldi, fui avisado pela Regina Flores da Cunha, mas ela demorou para me encontrar. Quando vim para cá, isso estava um metro de lodo e cinza, os bombeiros também demoraram muito por causa do trânsito, mas quando cheguei já haviam apagado. Mas nada se salvou, um quadro do Portinari, um bom dinheiro que eu tinha guardado, de umas terras que vendi… Já tinha alugado uma caixa num banco, mas deixei para o dia seguinte, estava muito cansado, fui para casa… aconteceu. Faz oito anos, mas ainda estou pagando as dívidas…
-Porque o senhor voltou para Porto Alegre?
-Tinha uma herança para receber aqui, no fim terminei indo mal, não gosto nem de falar nisso…
-Seguiu, então, trabalhando aqui?
-Sim, em um mês que havia chegado não tinha mais horário. Analisei muita gente: reitor de universidade, professores, juizes, desembargadores…
-Como o senhor conheceu o Oswaldo Aranha?
-Fui colega do filho dele no quartel, servimos no Forte Copacabana, nos tornamos muito amigos. Quando voltei para o Rio Grande, logo depois de formado, o Oswaldo Aranha me vendeu um jipe, vendeu por uma bagatela, só para não dizer que tinha me dado. Botei um reboque no jipe, coloquei minha mudança dentro e vim. Naquele tempo praticamente não tinha estrada, levei oito dias, em muitos trechos tinha que descer para retirar os galhos da estrada.
-Veio para Porto Alegre?
-Não, para Porto Mariante, terra da minha familia. Lá comecei. Tinha uma clínica, fazia de tudo: clinica geral, pediatria, quando via que não dava, levava para o hospital em Taquari ou Venâncio Aires…
-E o Flores, conheceu como?
-Conheci quando ele era deputado federal. Eu estava de volta ao Rio fazendo minha especialização, morava no mesmo hotel em que ele ficava. Um dia no elevador eu o cumprimentei. Ele disse: “Pelo jeito, tu és do Rio Grande”. Perguntou o que eu fazia no Rio, quando disse que era médico ele falou: Então vou te pedir para me fazer umas injeções na veia”. Aí, eu ia todos os dias ao quarto dele fazer a injeção. Fizemos amizade, ele me deu um revólver de presente.
-Ele era falante…
-Mas não se abria muito, não…
-E o suicídio do Getulio? Chegaram a dizer que foi assassinato…
-Isso é mito, lenda. Queriam culpar alguém. Foi suicídio. O suicida não se mata, ele mata alguém dentro dele. Quem ele quis matar? seus inimigos da UDN, o Carlos Lacerda, as multinacionais…
-De qualquer forma, a morte dele é um enigma…
-Ele sempre se moveu entre enigmas. O mito é algo que ninguém viu. É eterno e perene. O herói é perene, mas não é eterno. O mito é eterno, Getulio se mitificou para a eternidade…
-Mas as verdadeiras causas…
-Muitas dessas coisas são inconscientes. Não se pode provar nada nessa área. Tem que trabalhar com hipóteses e a hipótese para ter alguma validade tem que ser um pouco arrojada…
-O senhor estava no Rio quando ele se matou?
-Sim. Fui ao Catete quando correu a notícia, quando cheguei ninguém sabia direito o que tinha acontecido. O Euclides Aranha já estava lá e disse: “Senta aí, o presidente está morto”. Na familia ninguém acreditava que ele fosse se matar…
-Mas ele tinha tendências suicidas?
-Eu mostro no livro que ele sempre foi um suicida em potencial. Tem uma cena na noite em que foi deflagrada a Revolução de 30. Era uma correria danada, todo mundo agitado. A esposa do Osvaldo Aranha, dona Vindinha, contava que entrou no gabinete, o Getulio estava sentado, alisando um gato no seu colo. Ela perguntou o que ele pensava em fazer, ele tirou o revolver da cintura mostrou e continuou alisando o gato…Ele já estava sinalizando: em último caso tinha uma bala…
-Ele era realmente um manipulador?
-Ele era frio, gelado, tudo era estudado, falso, até o riso imotivado. Ele ria por qualquer coisa. Sempre foi mais preocupado com a tradição, a posteridade, do que com a própria vida. Se poderia dizer que ele amou mais a morte do que a vida.
-Ele amava o poder…
-Sabe qual era a biblia dele? O Principe, do Machiavel. Mas tinha influências do positivismo de Augusto Comte, seguia a cartilha castilhista-borgista. Nesse livro, não tive preocupação com a parte histórica, tanto que quase não cito datas. O objetivo era fazer um estudo profundo da personalidade de cada um, algo que ninguém fez até hoje…
-O que o senhor constata, por exemplo?
-A hipomania do Oswaldo Aranha. É uma manifestação branda do que hoje se chama de sindrome bipolar… O Flores tinha surtos epileptiformes, não quer dizer que fosse epilético, tinha rajadas epilépticas. Aquela investida dele no combate do Ibirapuitã, enfrentando de peito aberto a metralhadora, é sintomática. É um comportamento suicida…É inconsciente, porque a reação consciente é sempre de defesa, de preservação.
-É a coisa do heroísmo…
-O aspirante à heroicidade prefere morrer como herói do que viver como um cidadão comum… Erico Veríssimo diz no Retrato: “Cambará macho não morre na cama”.
-Pode-se dizer que o senhor é um freudiano?
-Eu sou um kleiniano (de Melanie Klein), mas não desprezo o Freud. Não há nada na psicanálise que Freud não tenha abordado, às vezes com outras palavras, mas nada escapa dele.

Três políticos no divã da psicanálise

tres_no_divaPsicanalista há 60 anos, João Gomes Mariante sonda o inconsciente de três grandes  líderes políticos: Getulio Vargas, Oswaldo Aranha e Flores da Cunha. O autor conviveu com os três e identificou comportamentos suicidas. Vargas foi o único que chegou até o “gesto extremo”:  na madrugada de 24 de outubro de 1954, matou-se com um tiro no peito.
2010, 200 páginas 16 x 23 cm, 375 gr
ISBN: 978-85-87270-35-1 R$ 30,00
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