Usina de R$ 1 milhão está abandonada há cinco anos

Débora Cruz
Porto Alegre daria um salto no reaproveitamento de garrafas PET (uma resina plástica) se tivesse usina de beneficiamento de plástico. Um projeto previa a instalação do maquinário na Restinga, Zona Sul da cidade.
Além de incentivar uma ação ecológica – o recolhimento de plástico –, o equipamento ajudaria a solucionar o problema da falta de empregos, já que prevê 30 funcionários para operá-lo. Além disso, aumentaria a renda dos trabalhadores do galpão de triagem de lixo seco que, mesmo organizados em uma associação de recicladores, ainda sofrem com os atravessadores.
Embora não funcione, o prédio existe. O local que seria a usina foi construído com um investimento de R$ 1 milhão. Fica no último endereço do Distrito Industrial, na rua Diretiz 7119, nº 385. Um cadeado no portão revela que não há – nunca houve, na verdade – fluxo de funcionários.
Apesar do abandono, o local conta com segurança. O guarda explica que trabalha ali há dois anos. Diz que técnicos e diretores do DMLU visitam o local com freqüência. “Eles tiram fotos, examinam, mas tudo continua parado”. E lamenta: “Sempre aparece alguém interessado, mas todos desistem”.
Desde que o prédio ficou pronto, em 2000, várias tentativas de colocar a usina em funcionamento fracassaram. Secretários municipais, diretores do DMLU, políticos e até prefeitos já anunciaram a inauguração do espaço. A promessa nunca se efetivou. Sempre faltava uma coisinha, um detalhe.
Quem não esperou foram os larápios. Em 2004 levaram motores de máquinas e até a fiação. Assim, quem assumir o novo empreendimento terá que gastar um pouco mais na reposição do que foi levado pelos gatunos.
A obra é uma conquista do Orçamento Participativo não implementada – o prefeito Fogaça garante que irá cumprir os projetos dos anos anteriores. A idéia original era processar 360 toneladas de plástico por mês, dando serviço para moradores do bairro, que trabalhariam em sistema de cooperativa. Tudo ainda está no papel.
“Falta vontade política. Estes cinco anos representam um atraso e prejuízo imensos para os catadores”, diz Eliane Nunes Peres, da Federação das Associações de Recicladores de Resíduos Sólidos do RS. Ela conta que fará reuniões com representantes dos galpões de reciclagem de Porto Alegre para apresentar uma proposta para colocar o espaço a funcionar.
A líder comunitária e presidente do Centro de Educação Ambiental da Vila Pinto, Marli Medeiros, sugere que a Prefeitura compre o material separado das Unidades de Triagem para processar na Restinga, já que, pelo alto consumo de energia, “a usina só seria viável se operasse com capacidade máxima”, acredita.
A reportagem do JÁ tentou contato com a assessoria de imprensa do DMLU que não se pronunciou sobre o atraso no funcionamento da usina.
Brasil é o quarto do mundo em reciclagem
O Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial da reciclagem de plástico, reaproveitando 16,5% do total produzido. Está atrás apenas da Alemanha (31%), EUA (20%) e da Áustria (19,1%). Alcançou melhor desempenho do que a Europa Ocidental (12,8%) e a União Européia (14,8%).
O país poderia ser líder mundial se ampliasse a coleta seletiva. Este foi um dos resultados apontados por estudo da Maxiquim Assessoria de Mercado em conjunto com o IBGE, apresentado no I Simpósio Plastivida – Instituto Sócio-Ambiental do Plástico, em 19 de maio, em São Paulo. O estudo, encomendado pela entidade, foi feito em 2004 em todo o país. Revela que apenas 352 municípios brasileiros fazem a coleta seletiva.
“A capacidade ociosa do Brasil é de 26%”, calcula o economista Paulo Mibielli, do IBGE. As regiões que apresentam maior percentual de plástico reciclado são a Sul e a Sudeste, com quase 20% do total gerado. As demais ficam em patamares baixíssimos.
A indústria da reciclagem de plástico mecânica é composta em todo Brasil por 492 empresas recicladoras, com tempo médio de atuação de 11 anos. Nova, portanto e com muito a crescer. A capacidade total de reciclagem de plástico gira em torno de 1,06 milhões de toneladas por ano.
Porém, deste potencial, apenas 780 mil toneladas/ano são aproveitadas. Outro argumento pró- reciclagem: o Brasil tem capacidade para reaproveitar muito mais do que faz de fato. Mesmo assim, a indústria da reciclagem emprega, segundo o estudo, 11.501 pessoas faturando R$ 1,3 bilhão. Imagine se a coleta seletiva estivesse a pleno.
Carlos Matsubara, enviado especial a SP.

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