Claudir Nespolo
Em 1917 os operários brasileiros realizaram a primeira grande greve geral para reivindicar medidas contra a carestia, elevar os salários, reduzir a jornada de trabalho para 8 horas e proibir o trabalho infantil. Cem anos atrás o povo trabalhador entrou em cena e disse: “temos direito a ter direitos”. Antes e depois de 1917, por meio de greves memoráveis, boa parte dos direitos do trabalho, que hoje usufruímos como um patrimônio civilizatório, foram explicitados nas ruas por homens e mulheres que sobreviviam com o suor do seu rosto.
Para as elites da época, acostumadas com o relho e o pelourinho, soava degradante negociar direitos com a “horda indolente”. Açoite e xilindró nos líderes, vociferavam patrões ditos republicanos. A contragosto, sobretudo da elite empresarial paulistana, que também se autoproclamava moderna, Getúlio Vargas impôs um projeto de industrialização com garantias mínimas de direitos do trabalho. Através de artifícios de dominação, o Estado transformou uma conquista dos trabalhadores em presente de governante, até hoje a CLT carrega essa mácula.
Cem anos depois realizamos outra greve geral, em 28 de abril. A maior da nossa história. Só no RS estimamos a paralisação de 2 milhões de trabalhadores e 40 milhões no Brasil. Desta vez, para assegurar direitos conquistados pelos nossos antepassados. O recado foi claro: parem com o trator das “reformas”, pois nós sabemos que são prejudiciais.
Não acreditamos em rompante modernizador que corte direitos. O que traz geração de empregos é crescimento econômico. Segurança jurídica é respeitar a CLT e o trabalho com direitos. Fomos crucificados como adoradores de greve. Não nos peçam para sermos cúmplices deste hediondo retrocesso na Previdência e nos direitos trabalhistas. Temos o dever moral de defender os nossos direitos, honrar os nossos antepassados e zelar pelo futuro dos nossos filhos e netos.
Claudir Nespolo é metalúrgico e presidente da CUT-RS