A civilização ocidental, o liberalismo e a ameaça do rentismo

Aldo Rebelo
Em artigo recente publicado no diário  londrino Financial Times, e reproduzido no Brasil pelo jornal Valor Econômico, seu principal colunista, Martin Wolf, adverte que o capitalismo e a democracia estão ameaçados pelo capitalismo rentista e os privilégios por ele criados em prejuízo da maioria das pessoas e da sociedade.
O jornal de Wolf é o principal porta-voz do mundo das finanças, e não está sozinho na severa advertência que faz dos riscos para a própria democracia ocidental, derivados da desenfreada ganância e dos exagerados ganhos financeiros produzidos pelo sistema.
Mas o Financial Times não é voz solitária na grave denúncia que faz do abismo que separa as expectativas da sociedade da realidade criada pelo capitalismo dos nossos dias.
Em setembro de 2018, a revista The Economist publicou um longo manifesto para celebrar os 175 anos de sua fundação. O texto intitulado “Reinventando o liberalismo para o século XXI” é um precioso balanço das ideias que promoveram o liberalismo econômico, do qual a revista inglesa foi e continua sendo o mais respeitável e entusiasta porta-voz.
O manifesto reafirma a defesa do livre comércio, do livre mercado, e das liberdades individuais como postulados centrais para a humanidade alcançar o bem-estar material e espiritual.
Chama atenção, porém, a autocrítica dos erros cometidos pela revista ao longo de sua já longeva existência, entre eles, em período mais remoto, o apoio ao colonialismo e ao imperialismo e contra o sufrágio universal, as leis de proteção da pobreza e das vítimas da fome na Irlanda.
No período mais recente, The Economist se penitencia do aval à desastrada invasão do Iraque pelos Estados Unidos, apoiada pela Grã-Bretanha.
O manifesto conclui com uma dura sentença: ou o liberalismo se reinventa, voltando a significar progresso para as pessoas e esperança em um mundo mais justo, ou pagará um alto preço por se confundir com a elite financeira, vista pela população como responsáveis por suas dificuldades e seus infortúnios.
A verdade é que a ameaça ao sistema capitalista, à chamada civilização ocidental e à democracia liberal não nasce de um movimento socialista poderoso, ou de “hordas” de bárbaros atravessando o Danúbio, mas das próprias contradições criadas pelo rentismo ao agravar o fosso social entre ricos e pobres, ao pauperizar as classes médias e inviabilizar o capitalismo concorrencial.
Embora o diário e a revista deixem fora de sua agenda a questão nacional, é importante destacar que o capital financeiro engendrou também o colonialismo cambial, determinando perdas irreparáveis às nações cujas moedas não dispõem de defesa contra os ataques especulativos e demais mecanismos de submissão impostos pelos monopólios internacionais das finanças.
Financial Times e a revista The Economist abordam suas preocupações a partir da realidade das nações centrais do capitalismo.
Não estão focados no desdobramento dos efeitos nefastos do rentismo na periferia do sistema. Mas é evidente que os efeitos são muito mais graves e nefastos para as nações desprovidas dos meios capazes de se proteger dos prejuízos de sua ação deletéria.
É preciso lembrar que as crenças no rentismo estão plenamente instaladas na direção da economia do Brasil.
A ação demolidora contra o Estado Nacional e suas responsabilidades deixa o País ainda mais exposto aos danos que o rentismo provoca contra o interesse social e o interesse nacional.
 

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