Em 1997, já afastado da vida acadêmica e política, o economista Celso Furtado gravou uma saudação ao Encontro Nacional dos Estudantes de Economia, que acontecia em Campinas, São Paulo.
Na oração aos futuros economistas Celso Furtado fez um breve balanço dos desafios do Brasil, dos sonhos de sua juventude, da difícil conjuntura internacional e da necessidade da confiança no País.
Ele disse que, quando jovem, pensar o futuro era pensar o desenvolvimento e pensar o desenvolvimento era pensar a industrialização. A ideia parece plenamente atual uma vez que o Brasil vive o duplo processo de perda de dinamismo de sua economia acompanhada da rápida desindustrialização.
Ao abordar os obstáculos ao desenvolvimento, Celso Furtado apontou a baixa capacidade de investimento do Estado, resultado de sua reduzida poupança, e o elevado endividamento público carreando recursos crescentes para pagamento de uma dívida agregada a juros determinados fora do País.
O tema é contemporâneo e questiona a orientação do grupo que dirige hoje a economia do Brasil, atrelado aos paradigmas fiscalistas e a uma ortodoxia deletéria já aposentados em todo o mundo.
Celso Furtado faria 100 anos em 2020 e o seu nome deve ser reverenciado pelo Brasil e pelos brasileiros. Historiador, intérprete do Brasil, acadêmico, pensador original, sofisticado e cosmopolita, foi um homem do mundo, mas sua alma permaneceu na Pombal onde nasceu na Paraíba, e forjou seu ethos de sertanejo, nordestino e brasileiro que o orientou e sustentou por toda a vida.
Avesso a arroubos nacionalistas, seu patriotismo genuíno está na trajetória intelectual dedicada aos problemas brasileiros, no sotaque que nunca abandonou apesar de décadas em Paris, no afeto quase filial com que se referia ao Brasil, à sua história e cultura.
Homem de ciências e homem de Estado, sua vida foi uma constante preocupação com o Brasil, sempre apontando soluções carregadas de audácia e coragem para os obstáculos ao desenvolvimento nacional.
Cassados os seus direitos políticos em 1964, recebeu convite como pesquisador nas melhores universidades dos Estados Unidos e da Inglaterra. O presidente Charles de Gaulle assinou pessoalmente o decreto que o tornou o primeiro estrangeiro admitido como professor titular da cátedra de Desenvolvimento Econômico da Faculdade de Direito e Economia da Sorbonne em Paris.
Ao Nordeste dedicou a Sudene, sua criação intelectual e de administrador. Ao Brasil destinou toda uma obra que permanece atual e o patriotismo capaz de educar gerações e oferecer referências seguras contra os que buscam orientações nas extravagâncias importadas pelo identitarismo pretensamente progressista e pelo neocolonialismo conservador.
Aldo Rebelo é jornalista, foi presidente da Câmara dos Deputados; ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência e Tecnologia e Inovação e da Defesa nos governos Lula e Dilma.