Anistia ao Caixa 2

Pinheiro do Vale
A chamada classe política decidiu chutar o balde. Às favas a opinião pública, aquela “rainha do universo” de que falava Bento Gonçalves.
O importante agora é salvar o pelo, livrar-se da cadeia. Depois, que cada qual se explique a seu eleitorado como puder, safando-se da execração, se for possível.
No Senado e na Câmara dos Deputados, os líderes e as bancadas dos grandes partidos estão esculpindo uma estátua de Belzebu, o “Anjo Caído”, bonito por fora e demônio por dentro: será aprovada no Congresso uma lei duríssima contra o Caixa 2, mandando doadores e beneficiados para o fundo as masmorras se um tostão furado (a moeda mais vil que circulou no mundo lusitano) entrar num bolso “não contabilizado”.
Dureza, tolerância zero, transparência translúcida. Ferro e fogo. Com a nova lei, os velhos crimes ficam no passado. Só paga quem transgredir daqui para frente.
Uma manobra neste sentido já fora tentada, mas caiu diante do clamor da imprensa e de todas as vozes moralistas. Os deputados deram meia volta.
Nesta nova investida os congressistas vão botar para quebrar. Mas não vão dormir de touca: no projeto de reforma política virá algum tipo de votação em lista, isto é, o eleitor sufraga o partido e não mais o nome do candidato.
Com isto, o golpe de mestre: as lideranças envolvidas na Lava Jato, anistiadas pelo Caixa 2 com a lei que vem vindo, por aí podem entrar nas listas, sem necessidade de apresentar seus “santos” nomes ao distinto público.
Os líderes no Congresso aprontam o pé para aplicar um chute no bumbum da Rainha do Universo. É o medo das grades.
Está aí o dia 26 de março, marcado para as grandes manifestações de rua.
É bom lembrar, como está no excelente livro de Euclides Torres, “Bento Manoel, o Caudilho Maldito”, a última reunião do Conselho de Estado do Império, na manhã de 9 de novembro de 1889, horas antes dos primeiros acordes das orquestras no baile da Ilha Fiscal.
Nessa reunião, na presença de Dom Pedro II, o conselheiro Andrade Figueira denunciava: “ Os dinheiros públicos, Senhor, estão sendo desbaratados para pagamento de compra de votos”, e continuava, para concluir que um golpe de estado parecia iminente, oferecendo uma opção perversa: “Corrupção ou violência? Se eu fosse governo e tivesse de escolher entre violência e corrupção, preferia a violência, porque a corrupção avilta não somente quem é corrompido mas também quem corrompe”.
 

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