Marco Aurélio Nunes*
Sentado num banco do Parque da Redenção, na manhã de um domingo, assisti ao movimento do Brique. Era fácil notar famílias passeando sob o sol com o inseparável chimarrão, cães nas guias e suas crianças comendo pipoca ou lambuzadas pelo algodão doce. O fluxo de bicicletas era pequeno. Mas um grupo de ciclistas exibindo suas bikes com marchas desfrutava da sombra de árvores centenárias. Neste momento, retrocedi no tempo. Sem deixar a poluição visual de cartazes e bandeiras de partidos políticos afetar minha memória, comecei a recordar do Parque da Redenção há 35 anos.
O Brique não existia oficialmente. Se não estou enganado, consolidou-se no início da década de 80. Naquela época, então com dez anos de idade, meu avô convidava-me para andar de bicicleta. O rumo era certo. Não precisava nem perguntar. O caminho tinha a direção da Redenção. Saíamos de Teresópolis sempre após o almoço. A idéia era aproveitar ao máximo a tarde de domingo. Antes, porém, eu sempre indagava: “pegou a carteirinha?”. Tratava-se de uma carteira do Sindicato dos Comerciários. Acontece que, com esse documento, meu avô alugava minha bicicleta.
Depois de escolhida – geralmente preferia uma de aro 26, apesar da dificuldade para me equilibrar – pedalava por cerca de uma hora. Meu avô observava-me sentado em um banco próximo do espelho d’água. Após devolver a bicicleta locada, atirávamos pipoca às carpas, andávamos de pedalinho, trenzinho e, ainda, visitávamos o mini-zôo. Admirávamos os macacos-pregos coçar a cabeça e, logo em seguida, caminhávamos pelos recantos existentes no parque. Somente depois pegávamos o ônibus para irmos embora. Chegava em casa exausto, mas aproveitava tudo o que a Redenção oferecia em termos de divertimento.
Quando lembro de tudo isso fico refletindo: como seria hoje a Redenção se ainda houvesse as velhas bicicletas para locação? Sei, alguém me disse, “parece que acabaram com as bicicletas porque estavam sendo furtadas e, além disso, pessoas acostumadas a caminhar pelas trilhas do parque reclamavam muito!”. É, os princípios mudaram e a violência cresceu assustadoramente. Imagine hoje alguém chegar na Redenção e alugar uma bicicleta apenas portando um documento sindical! Aposto que em menos de duas semanas não haveria mais bicicletas para locar. Por isso, quem seria louco de enfrentar um processo licitatório com esse propósito se, atualmente, esse serviço de lazer fosse de interesse da Prefeitura?
Sem garantias de ressarcimento do prejuízo e, também, de segurança, isso não seria possível. Mas que saudade das velhas bicicletas! Será que não há uma maneira delas retornarem? Pessoas como eu, que moram num apartamento pequeno e sem condições de guardar uma bicicleta, creio, gostariam de ter essa opção nos finais de semana, apesar de tudo. Ah! esqueci dos que possuem bicicletas! Porto Alegre não se compara, por exemplo, com cidades da Holanda, que têm o trânsito adaptado ao tráfego das bicicletas. Mas, no Bom Fim, já existem as ciclovias. O ciclista pode chegar tranqüilo na Redenção. Não vamos perder o glamour! A Capital dos gaúchos merece mais charme. Antigamente se ouvia o som do trenzinho, agora não mais.