Retrato do Brasil canalha

GERALDO HASSE
O Brasil que se faz ouvir e ver na maioria das emissoras de rádio e TV, obrigadas por lei a transmitir a propaganda eleitoral, expõe sem dó a mixórdia cultural que espelha a canalhice dominante. Todos querem fazer parte do circo responsável pela exploração da boa fé do povo mergulhado na ignorância.
A maioria dos candidatos fala em combater a corrupção, gerar emprego e distribuir a renda. Nada mais óbvio.
Examinando as propostas feitas pelos presidenciáveis, salvam-se poucas novidades. Por exemplo, Ciro Gomes (PDT) cresceu nas pesquisas ao sacar o lance de livrar as pessoas do Serasa, no qual estão pendurados mais de 60 milhões — um terço da população ou mais da metade do povo trabalhador.
É uma proposta aparentemente exequível, mas depende de um acordo operacional com os bancos, que não costumam dar pontos sem nós. Ademais, é um lance que pode ser executado por qualquer um, dando como resultado um alívio temporário. Do jeito que a máquina de endividamento funcione, logo o povo estará novamente com a corda no pescoço.
Por isso, a proposta mais importante do ponto de vista sociocultural foi apresentada por Fernando Haddad (PT), que promete a desconcentração da posse dos meios de comunicação — coisa que os governos petistas ensaiaram e não tiveram coragem de fazer, mesmo dispondo de um projeto elaborado pelo jornalista Franklin Martins, que conhece o assunto por dentro.
Evidentemente, o alvo central é a Rede Globo, que combina uma grande competência técnica a uma profunda capacidade de manipulação jornalística, habilidade que se espraia por outros departamentos como os de telenovelas e esportes.
A matriz do problema é que a Globo opera como um complexo cultural que se considera tutor do país, zelador das mentes e explorador dos corações dos brasileiros.
Tamanha distorção não seria tão grave se essa rede sediada no Rio de Janeiro tivesse ideias próprias e/ou independentes.
O pior da história é que a Globo se sente à vontade como agente de ideias alienígenas. A rede não é do tipo vira-lata. É de raça treinada para abanar o rabo aos gurus do famigerado Mercado, que só tem olhos para as roletas viciadas do rentismo favorecedor das cúpulas excludentes.
No programas ditos de jornalismo, somos forçados a assistir a uma matilha de lulus engravatados trabalhando diuturnamente para encher a cabeça dos teleouvintespectadores com algumas ideias prontas, sempre as mesmas. Acostumaram-se a menosprezar a inteligência dos “leitores”.
Enquanto isso, velhos perdigueiros bons de serviços são colocados em programas noturnos onde se resignam a recolher cacos de audiência. Isso quando não precisamos ver goiabeiras dando mangas fora de época.
Verdade que tais espetáculos não são exclusivos da Globo. Outras emissoras operam com o mesmo afã neoliberal, sem demonstrar paciência ou vontade de ouvir os outros lados das histórias, como deveria ser normal na mídia.
Não há dúvida de que o poder da Globo precisa ser diluído entre grupos menores, mas nem isso garante a pluralidade ideológica desejável nos meios de comunicação de um país democrático.
Por isso, é necessário que o povo eleja um presidente consciente de que o domínio globocrático sobre os brasileiros é apenas um dos aspectos mais notórios da desigualdade de oportunidades vigente no país.
Tal como acontece com as redes de rádio e TV, a má distribuição de renda reflete o enorme volume de privilégios expressos na legislação tributária, na posse de terras, no controle dos meios de produção e na acumulação de propriedades em geral, inclusive no volume de aplicações financeiras e depósitos bancários das minorias. Os pobres poupadores de cadernetas estão fora disso.
Sem um retalhamento desses mecanismos de concentração econômica, não se irá longe.
Também é preciso lembrar que nem todo o poder emana da Globo, já que o comando das redes de comunicação está nas mãos de grupos globais que controlam as redes de transmissão de dados.
Claro, Oi, Telefonica e TIM são os nomes dos polvos tentaculares que abusam dos usuários brasileiros sem lhes dar ouvidos ou menosprezando suas queixas, como não acontecia nem na época em que esses serviços eram monopólio estatal exercido pela Embratel.
Os órgãos de defesa dos consumidores e as agências reguladoras da prestação de serviços públicos concedidos têm pouca força diante desses potentados empresariais.
Portanto, não basta implodir legalmente o complexo plim-plim, é preciso reformar diversos itens desse quebra-cabeça chamado Brasil.
 
LEMBRETE DE OCASIÃO
“O país inteiro é uma zona de cangaço pós-moderno, que corrompe não somente o sentido do público e a dignidade da democracia, mas também implode a solidariedade e o respeito à dignidade humana”.

Tarso Genro, em crônica no Sul21 de 5/9/2018

Bolsonaro

Penso que devemos estar preparados para o pior, mas não desistir de lutar para evitá-lo.
Pela minha ótica, o pior no momento seria uma eleição do capitão Jair Bolsonaro, que um alucinado mandou para o segundo turno com uma facada. Bolsonaro vai dividir o país.
Não, não acho que a alternativa seria o Lula. Temo que um terceiro governo Lula seria uma calamidade. Não por Lula, nem pelo PT, nem por nada. Seria um governo sob cerco implacável.
Lula está certo em lutar por sua inocência, se ele está convicto, e exigir provas cabais, não meras deduções a partir de delatores. Mas ele está derrotado no embate jurídico e a eleição tem uma data.
Haddad é uma saída para um impasse que ameaça embretar a eleição mais importante depois da redemocratização.
Há um aspecto positivo: de certa forma ele representa um avanço em relação a Lula, no sentido de ser menos messiânico, mais acadêmico.
Vai disputar com Ciro Gomes a candidatura da esquerda para o segundo turno. Um deles vai enfrentar Bolsonaro, o candidato que já se impôs à direita.
Não poderia haver cenário melhor para a esquerda e para as forças democráticas depois da avalanche de 2016.
(E.B.)

Temporada da mentira

Uma das poucas novidades da atual campanha eleitoral é a participação acintosa de empresários adeptos do liberalismo econômico e de economistas que pregam o livre mercado em palestras, entrevistas e depoimentos aos meios de comunicação. Alguns são assessores, outros candidatos.
Se esses economistas são intelectualmente desonestos, os empresários são oportunistas hipócritas.
Citemos dois nomes “notáveis”: Persio Arida, economista do PSDB de Alckmin, e Paulo Guedes, “ministro da Fazenda” do candidato presidencial Jair Bolsonaro (PSL-RJ).
Agentes bancários dos mais ativos do país, empresários portanto, ambos são irracionalmente egoístas ao defender a primazia do mercado sobre o planejamento estatal num país desfigurado pela desigualdade socioeconômica.
Arida e Guedes são apenas duas cabeças supostamente lúcidas e racionais que sobressaem ao expressar o “pensamento único” que tomou conta do país depois do colapso da gestão petista.
Na realidade, eles defendem suas posições financeiras e os privilégios típicos do andar de cima, ignorando as agruras da maioria da população, que devia ser o alvo central dos projetos de governos ditos democráticos.
A racionalidade recomenda investimentos públicos em educação, saúde, segurança, emprego, habitação e construção de infraestrutura – coisas feitas pelos governos do PT enquanto alguns dos seus membros pisavam na bola em conluios com empresários pragmáticos e agentes públicos identificados com o Centrão político hoje majoritariamente acoplado à candidatura do paulista Geraldo Alckmin.
Nesse temporada de promessas vazias e afirmações falsas, bem faria o PT se reconhecesse seus erros (muito menores do que os acertos) para recuperar a credibilidade e seguir em frente nessa competição em que, evidentemente, leva vantagem quem tem dinheiro ou participa de uma coligação milionária, dessas com direito a muito mais tempo no rádio e na TV.
Se não fizer o mea culpa, o partido ganhador das quatro últimas eleições presidenciais corre o risco de sofrer o chamado “fogo amigo”, disparado por gente que até agora esteve na trincheira da esquerda.
É o que se deduz da manifestação do cientista político Wanderlei Guilherme dos Santos, da Unicamp.
Respeitado pensador de esquerda, ele detona a estratégia política do PT em defesa da candidatura do ex-presidente Lula ao Planalto.
Criticando o “duplo discurso de insultar o Judiciário e a ele recorrer com a linguagem das Vossas Excelências”, WG dos Santos acusa o PT, e Lula, de promoverem a mais profunda e doída divisão nas correntes de esquerda do País” — afirmação injusta, pois a divisão na esquerda brasileira é anterior ao PT e a Lula.
Para o cientista político, “o PT não tem como continuar mobilizando o seu eleitorado e apoiadores mediante a possibilidade de uma sessão mediúnica com eficácia sobre o mundo real”.
WG dos Santos duvida que Lula transfira seus votos para Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, candidato a vice-presidente escolhido para herdar os votos do ex-presidente preso em Curitiba por corrupção.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“O PT e membros estão a um passo de convocarem à mesa da fé o espírito autoritário do antigo Partidão. O PT e os cronistas de boa fé permanecem na senda de conduzir toda a esquerda ao inferno. Que, esse sim, existe”. (WGS)

O jogo sujo

 GERALDO HASSE
Quando eu nasci, já existiam no Brasil pelo menos seis grandes empresas estatais: o BB, a CEF, os Correios, a CSN, a CVRD e a VFRGS, braço sulino das ferrovias.
Em 1953, nasceu pelas mãos do presidente Getúlio Vargas a maior de todas as empresas nacionais: a Petrobras, orgulho dos brasileiros de todas as idades.
Naquele momento, o jogo estava 7 a 0, mas os “entreguistas” não desistiam. Agora que o jogo ainda está 4 a 3 para nós, “eles” estão em plena campanha pela privatização da BR, dos Correios, da CEF e do BB.
Jogo duro, torcida brasileira.
É hora de reagir contra a desnacionalização, privatização ou que nome tenha essa mania das minorias privilegiadas do Brasil de servir como montaria dos poderosos do Hemisfério Norte.
Em vez de investir na educação do povo, as elites afirmam que os brasileiros são vira-latas que precisam ser guiados pelos países mais adiantados. Ou, seja, querem que sejamos escravos, colonizados e submissos.
Ora, acaba de ser publicado no site do GGN, dirigido por Luis Nassif, um artigo, quase um manifesto, sobre a campanha pela privatização da Petrobras.
Seus autores são Felipe Coutinho, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, e Gilberto Bercovici, professor de Direito Econômico da Universidade de São Paulo.
O artigo saiu originalmente na Carta Campinas e destaca a onda de manipulação noticiosa (fake news) contra a BR ou, seja, contra a soberania nacional.
Aqui vai a transcrição completa do artigo:
“Qual personalidade ou instituição brasileira foi a mais perseguida por meio de mentiras e falácias na história moderna do país?
Certamente houve muita injúria contra Getúlio, Prestes, Jango, JK e Brizola.
Mas quando comparamos a difamação contra a Petrobras, com seus quase 65 anos de existência, é possível concluir que foi ainda maior, ponderando sua duração e intensidade.
A Petrobras é um fenômeno, sua história e resultados demonstram a capacidade de realização do povo brasileiro.
Por revelar a nossa capacidade ela é tão admirada e protegida pela maioria dos brasileiros que são imunes às reiteradas falácias e mentiras propaladas pelos porta vozes do interesse antinacional.
Segundo Barbosa Lima Sobrinho: “A Petrobras, desde a sua criação, foi mais que uma empresa pública. Surgiu como emblema da nacionalidade, a sigla mística que podia abranger e reunir o maior número possível de brasileiros fiéis à sua pátria. Petrobras era um símbolo que, por si só, despertava emoções, como se a sua missão fosse a de acender estrelas, para iluminar o céu do futuro do Brasil”.
Pesquisa recente apontou que 70% dos brasileiros são contra a privatização da Petrobras e 78% são contra o capital estrangeiro na estatal.
Recebeu pedras desde sua criação
Para registrar o contexto histórico basta apresentar trechos dos editoriais publicados em outubro de 1953 no jornal O Estado de S. Paulo.
Comentando o discurso do presidente Getúlio Vargas na cerimônia em que sancionou a Lei Nº 2004, o editorial criticou duramente a criação da Petrobras e afirmou que o Brasil enfrentaria sérias dificuldades econômicas e não resolveria o problema da falta de petróleo.
“A atitude do Executivo e do Legislativo federais em relação ao problema do petróleo denuncia absoluta irresponsabilidade em face dos interesses nacionais. Quanto à urgente necessidade de tudo se fazer com o objetivo de prospectar e explorar as riquezas petrolíferas que o nosso subsolo porventura encerre, a “solução” encontrada foi a da “Petrobras”, que onerará excessivamente os contribuintes, a ponto de prejudicar a economia nacional, sem nos trazer a menor esperança de resultados positivos. 
A “Petrobrás” significará um considerável desperdício de dinheiro e de tempo, atestando nossa incapacidade de resolver um dos mais urgentes problemas econômicos nacionais. Além disso, a aprovação e sanção do projeto de lei que cria essa empresa explicam-se menos pela ignorância do que pela sujeição do Executivo e do Legislativo à demagogia e a argumentos eleiçoeiros. Mais de uma vez tivemos o ensejo de registrar e condenar a corresponsabilidade da União Democrática Nacional nessa questão”
Mentiras e falácias atuais
Quem pensa que a Petrobras está quebrada, que a produção do pré-sal é lenta, que o pré-sal é um mico e não tem valor ou que a exportação de petróleo por multinacionais pode desenvolver o Brasil, está sendo enganado. É vítima da ignorância promovida pelos empresários da comunicação, políticos e executivos à serviço das multinacionais do petróleo e dos bancos.
FAKE #1 – O mito da Petrobras quebrada
A Petrobras é a maior e mais importante empresa do país. Embora tenha sido vítima de corrupção, sempre esteve muito longe do risco de falência. A estatal é uma grande geradora de caixa.
Entre 2012 e 2017, a geração se manteve estável entre 25 e 27 bilhões de dólares por ano. Também neste período manteve enormes reservas em caixa, entre 13,5 e US$ 25 bilhões, superiores às multinacionais estrangeiras.
A capacidade de honrar compromissos de curto prazo sempre foi evidenciada pelo índice de liquidez corrente superior a 1,5.
A dívida da Petrobras é proporcional às reservas em desenvolvimento do pré-sal e aos investimentos de mais de US$ 250 bilhões, de 2009 a 2014, sendo perfeitamente administrável pela companhia, que cresce tanto na produção quanto na geração operacional de caixa.
FAKE #2 – O “prejuízo” pelos subsídios ao consumidor entre 2011 e 2014 
Não é verdade que a Petrobras teve prejuízos enquanto adotou preços de combustíveis abaixo do internacional, entre 2011 e 2014, época em que o preço do petróleo se manteve elevado.
Neste período de altos preços do petróleo, os resultados das atividades de refino foram compensados pelos ótimos resultados das atividades de exploração e produção.
No período de 2015 a 2016, com os preços do petróleo mais baixos, os resultados de exploração e produção foram compensados pelos ótimos resultados do refino.
O fato é que o preço de venda dos derivados sempre foi acima dos custos de produção. Assim, a Petrobras, como empresa integrada e verticalizada, sempre apresentou lucros operacionais em linha com as maiores empresas de petróleo do mundo.
O gráfico abaixo mostra os lucros brutos da Petrobras no período de 2008 a 2017. Ao contrário do mencionado pelo Diretor-Geral da ANP, entre 2011 a 2014, a Companhia não teve prejuízos.
Os resultados operacionais apresentados foram estáveis ao longo dos últimos anos justamente para garantir a lucratividade da Companhia, mas sem prejudicar os consumidores brasileiros.
FAKE #3 – Os “maus investimentos” e a corrupção superestimados
Os detratores da Petrobras super dimensionam os prejuízos causados pelos corruptores e corruptos que lesaram a companhia, com o objetivo de justificar a privatização dos seus ativos e do petróleo.
O mito da Petrobras quebrada foi o pilar ideológico do plano lançado em setembro de 2016, Plano de Negócios e Gestão (PNG 2017/21), que tem como principal objetivo reduzir a alavancagem, antecipadamente, a 2,5 no final de 2018.
O indicador escolhido é obtido pela divisão da “dívida líquida” pelo “EBTIDA ajustado” e no plano anterior seria atingido em 2020.
Assim o plano pretende justificar a privatização de US$ 35 bilhões em ativos entre 2016 e 2018.
O mito da Petrobras quebrada é alimentado pela lenda do endividamento ameaçador.
O endividamento teria sido motivado pela corrupção e por maus investimentos.
Agora ele estaria a ponto de quebrar a Petrobras e a única alternativa seria privatizar os ativos da estatal a toque de caixa.
Esta falácia é revelada pela estimativa do impacto da corrupção e dos investimentos em ativos ditos improdutivos no endividamento da Petrobras.
Em síntese, concluímos que do total da dívida existente no final de 2014 (US$ 136,04 bilhões), 4,5% corresponde aos investimentos ditos “improdutivos” e 3,6% corresponde aos efeitos da corrupção.
Ressaltamos que os dois efeitos não podem ser somados porque existem efeitos redundantes pelo impacto da corrupção na “improdutividade” dos ativos.
Assim pôde ser revelada a lenda da origem perversa do endividamento que alimenta o mito da Petrobras quebrada e suporta ideologicamente o objetivo da privatização fatiada da estatal que é disfarçada pela meta da redução da alavancagem.
FAKE #4 – A incapacidade de investir e de exercer o direito de operação no pré-sal 
A construção da ignorância sobre a Petrobras, maior vítima histórica das mentiras e falácias (fake news) da História moderna do Brasil serve para convencer a opinião pública que a estatal não é capaz de exercer o direito de ser a operadora única no pré-sal e investir no desenvolvimento da sua produção.
Apesar do crescimento da produção no pré-sal ter ocorrido em tempo recorde, em comparação com o Golfo dos EUA, o Mar do Norte e a própria Bacia de Campos.
A produção no pré-sal já representa cerca de 55% da produção nacional.
FAKE #5 – A necessidade de privatizar ativos, alienar acumulações de petróleo e ceder direitos no pré-sal, como na cessão onerosa, para reduzir alavancagem no curto prazo. 
Desde 2016 foi demonstrado que a Petrobras não precisa vender ativos para reduzir seu nível de endividamento.
Ao contrário, na medida em que vende ativos ela reduz sua capacidade de pagamento da dívida no médio prazo e desestrutura sua cadeia produtiva, em prejuízo à geração futura de caixa, além de assumir riscos empresariais desnecessários.
A avaliação mostra o equívoco dessa escolha política e empresarial de alienação de ativos, e revela que ela é desnecessária.
A alternativa proposta preserva a integridade corporativa e sua capacidade de investir na medida do desenvolvimento nacional e em suporte a ele.
Enquanto garante a sustentação financeira, tanto pela redução da dívida quanto pela preservação da geração de caixa a médio prazo.
O verdadeiro objetivo da atual gestão é a privatização, por partes, dos ativos rentáveis da Petrobras.
A escolha do indicador de alavancagem, da meta de 2,5 e do prazo de 2018 são arbitrários.
São as consequências da meta de privatização e não o contrário.
Trata-se de uma falácia, de inversão de causa e efeito, que é repetida muitas vezes.
FAKE #6 – A política de preços que teria beneficiado a estatal desde 2016
A política de preços altos e vinculados à variação do preço do petróleo e do câmbio, inaugurada por Parente em 2016, prejudicou tanto a Petrobras quanto o consumidor brasileiro.
O diesel caro da estatal encalhou nas refinarias, assim ela perdeu mercado e receita de vendas com a ocupação de até 30% do mercado brasileiro pela cadeia de importação que é multinacional e estrangeira.
Sem conseguir escoar a produção de diesel, as refinarias da Petrobras precisaram limitar a carga de petróleo e se tornaram ociosas, em até 30%.
Ganharam os refinadores dos EUA, os operadores de logística “traders” estrangeiros e as distribuidoras concorrentes da Petrobras que operaram, lucrativamente e com baixo risco, na importação de diesel.
Assim como, os produtores de etanol que tomaram o mercado da gasolina cara.
Após a greve dos caminhoneiros, com preços mais baixos para os combustíveis e elevação dos riscos aos importadores, a Petrobras retomou o mercado doméstico de combustíveis, propiciando custos menores para a população e aumento da lucratividade para Companhia.
O lucro operacional do segmento de refino aumentou de US$ 3,8 Bi no 1T18, para US$ 7,2 Bi no 2T18, um aumento acima de 90% na lucratividade, através de preços menores na refinaria e recuperação do mercado.
Diante da menor competição com produtos importados, o fator de utilização do parque de refino da Petrobras no Brasil atingiu 81% no segundo trimestre deste ano, o que representa um avanço de 9 pontos porcentuais na comparação com os primeiros três meses do ano e de três pontos em relação a igual período de 2017.
Por outro lado, o aumento da carga processada nas refinarias reduziu a exportação de petróleo cru.
FAKE #7 – O “monopólio” do refino
Desde a promulgação da Lei nº 9.478/1997, a Petrobras não é mais a executora única do monopólio da União nas atividades de refino no Brasil.
Existem outras refinarias operando no País, que podem ampliar sua capacidade, e qualquer outra empresa estatal ou privada pode exercer atividades de refino, de acordo com seu apetite de assumir riscos de investimento, assim como a Petrobras fez, com objetivo de atender ao crescimento do mercado brasileiro de derivados, desde que autorizada pela União.
Obrigar a Petrobras a se desfazer de seus ativos em favor de empresas privadas representa uma ação contra a natureza de uma companhia integrada de petróleo, característica dessa indústria que objetiva a mitigação dos riscos da volatilidade do preço do petróleo e do câmbio, por exemplo.
Mas, acima de tudo, é uma agressão à Petrobras, que assumiu riscos ao realizar investimentos de longa maturação, como as refinarias.
Entregar refinarias ao setor privado irá enfraquecer a Petrobras, em um movimento na contramão da indústria, em um contexto onde as empresas nacionais de petróleo (NOCs) estão se fortalecendo em todo o mundo, inclusive através da expansão da capacidade de refino, a exemplo dos países da Ásia (China, Índia, Indonésia, Malásia), da Rússia (Rosneft e Gazprom) e do Oriente Médio.
Esse tipo de política proposta pelo Diretor Geral da ANP representa uma ação contra a lógica econômica da indústria de óleo & gás e contra o povo brasileiro.
O mercado brasileiro do refino é aberto e competitivo, faz parte da bacia do Atlântico, como demonstra a recente invasão do mercado pelo diesel produzido nos EUA, resultado dos preços altos de Parente na Petrobras.
É descabida a exigência de preços internacionais como condição para investimentos no refino.
Ainda mais estranho é o desejo de impedir a ação do Estado Brasileiro no setor.
FAKE #8 – A Petrobras é uma empresa como outra qualquer
A Petrobras teve sua criação autorizada pela Lei nº 2.004, de 3 de outubro de 1953, como uma sociedade de economia mista.
No debate recente sobre a Petrobras, muito se tem dito e escrito sem que se preste atenção no significado concreto da natureza jurídica da Petrobras como uma sociedade de economia mista.
A sociedade de economia mista é uma espécie de empresa estatal.
De início, basta recordarmos que, segundo o artigo 5º, III do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, a sociedade de economia mista é uma entidade integrante da Administração Pública Indireta, dotada de personalidade jurídica de direito privado, cuja criação é autorizada por lei, como um instrumento de ação do Estado.
Apesar de sua personalidade de direito privado, a sociedade de economia mista, como qualquer empresa estatal, está submetida a regras especiais decorrentes de sua natureza de integrante da Administração Pública.
Estas regras especiais decorrem de sua criação autorizada por lei, cujo texto excepciona a legislação societária, comercial e civil aplicável às empresas privadas.
Na criação da sociedade de economia mista, autorizada pela via legislativa, o Estado age como Poder Público, não como acionista.
A sua constituição só pode se dar sob a forma de sociedade anônima, devendo o controle acionário majoritário pertencer ao Estado, em qualquer de suas esferas governamentais, pois ela foi criada deliberadamente como um instrumento da ação estatal.
Sob a Constituição de 1988, toda empresa estatal está submetida às regras gerais da Administração Pública (artigo 37 da Constituição), ao controle do Congresso Nacional (artigo 49, X, no caso das empresas estatais pertencentes à União) e do Tribunal de Contas da União (artigo 71, II, III e IV da Constituição, no caso das estatais da esfera federal).
Além disto, o orçamento de investimentos das estatais federais deve estar previsto no orçamento-geral da União (artigo 165, §5º da Constituição de 1988).
As empresas estatais, como a Petrobras, estão subordinadas às finalidades do Estado, como o desenvolvimento (artigo 3º, II da Constituição).
Neste sentido, é correta a afirmação de que o interesse público é o fundamento, o limite e o critério da iniciativa econômica pública.
A legitimação constitucional, no caso brasileiro, desta iniciativa econômica pública, da qual a sociedade de economia mista Petrobras constitui um exemplo, se dá pelo cumprimento dos requisitos constitucionais e legais fixados para a sua atuação.
A criação de uma empresa estatal, como uma sociedade de economia mista ou uma empresa pública, já é um ato de política econômica.
Os objetivos das empresas estatais estão fixados por lei, não podendo furtar-se a estes objetivos.
Devem cumpri-los, sob pena de desvio de finalidade. Para isto foram criadas e são mantidas pelo Poder Público.
A sociedade de economia mista é um instrumento de atuação do Estado, devendo estar acima, portanto, dos interesses privados. A Lei das S.A. (Lei nº 6.404, de 17 de dezembro de 1976), se aplica às sociedades de economia mista, desde que seja preservado o interesse público que justifica sua criação e atuação (artigo 235).
O seu artigo 238 também determina que a finalidade da sociedade de economia mista é atender ao interesse público, que motivou sua criação. A sociedade de economia mista está vinculada aos fins da lei que autoriza a sua instituição, que determina o seu objeto social e destina uma parcela do patrimônio público para aquele fim.
Não pode, portanto, a sociedade de economia mista, por sua própria vontade, utilizar o patrimônio público para atender finalidade diversa da prevista em lei, conforme expressa o artigo 237 da Lei das S.A.
FAKE #9 – A Petrobras pode alienar ativos como uma empresa privada qualquer
As empresas estatais, sejam sociedades de economia mista ou empresas públicas, são entidades integrantes da Administração Pública Indireta, apesar de dotadas de personalidade jurídica de direito privado.
Toda e qualquer empresa estatal está submetida a regras especiais decorrentes de sua natureza de integrante da Administração Pública. A alienação de bens e ativos de entes da Administração Pública tem por regra, advinda do próprio texto constitucional de 1988, a exigência de licitação.
A licitação é uma imposição constitucional expressa, conforma determinam os artigos 37, XXI e 173, §1º, III da Constituição de 1988.
A legalidade, a isonomia e a impessoalidade são os princípios estruturantes de qualquer licitação pública. Não apenas a Constituição, mas a legislação específica reitera estes princípios, como a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, dentre outras. A impessoalidade determina, entre outros deveres, o de que a Administração Pública esteja proibida expressamente de discriminar quem quer que seja sem fundamento legal, ou seja, todos devem ser tratados igualmente perante a Administração.
Do mesmo modo, a legislação é explícita ao vedar qualquer tipo de preferência ou distinção sem fundamento no ordenamento jurídico, visando frustrar justamente o caráter competitivo do procedimento licitatório. Afinal, o fundamento da ideia de licitação é o da competição, sem privilégios entre os concorrentes, como possibilidade de acesso de todos e quaisquer agentes econômico capacitados ao certame. No sistema constitucional brasileiro, a licitação, portanto, é a regra e a dispensa de licitação é a exceção.
Empresas e investidores, nacionais ou estrangeiros, que adquiriram, depois do golpe de 2016, recursos do povo brasileiro estão cometendo um crime. Os preços pagos são incompatíveis com o mercado e a situação institucional e política não é exatamente daquelas que inspiram confiança, muito menos certeza.
O que está ocorrendo com ativos da Petrobras e outros bens estatais estratégicos deve ser equiparado ao crime de receptação. Afinal, um bem público foi subtraído do patrimônio público de forma ilegal, pois a venda ocorreu sem licitação, e vendido a preço vil.
A empresa compradora obviamente sabe o que está adquirindo e a que preço.
Não há nenhum terceiro de boa-fé envolvido neste tipo de negócio.
Ou seja, todas as vendas de ativos da Petrobras que foram realizadas nos últimos tempos sem licitação, são nulas.
FAKE #10 – A Petrobras deve atender aos interesses dos seus acionistas minoritários
As empresas estatais passaram a atuar nas bolsas de valores, incentivadas pelo governo, especialmente após 1976, com a promulgação da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que reforma a legislação sobre mercado de capitais e cria a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e da Lei nº 6.404/1976, a lei das sociedades anônimas.
Não por acaso, seus papéis respondem ainda pela maior parte das operações realizadas na bolsa, refletindo a ideia de uma gestão “empresarial” que busca maximizar o lucro na empresa estatal. No entanto, o objetivo essencial das sociedades de economia mista, como a Petrobras, não é a obtenção de lucro, mas a implementação de políticas públicas.
O que legitima a ação do Estado como empresário (a iniciativa econômica pública do artigo 173 da Constituição de 1988) é a produção de bens e serviços que não podem ser obtidos de forma eficiente e justa no regime da exploração econômica privada. Não há nenhum sentido em o Estado procurar receitas por meio da exploração direta da atividade econômica.
A esfera de atuação das sociedades de economia mista é a dos objetivos da política econômica, de estruturação de finalidades maiores, cuja instituição e funcionamento ultrapassam a racionalidade de um único ator individual (como a própria sociedade ou seus acionistas). A empresa estatal em geral, e a sociedade de economia mista em particular, não tem apenas finalidades microeconômicas, ou seja, estritamente “empresariais”, mas tem essencialmente objetivos macroeconômicos a atingir, como instrumento da atuação econômica do Estado.
Conclusão
Um dos mitos mais presentes no imaginário brasileiro é o mito do Brasil como o país que tem um “encontro marcado com o futuro”. Porém, para as elites brasileiras, o futuro só poderia ser a cópia do estilo de vida dos países desenvolvidos, cujo usufruto teria que ser limitado a estas elites, para que não perdessem sua posição de hegemonia oligárquica no sistema.
A construção da Nação, assim, nunca foi um projeto das elites, nem a integração da população. O seu objetivo limita-se à sua integração subordinada ao mercado internacional.O Brasil, em seu processo de formação econômica, sempre oscilou entre duas grandes tendências e a exploração do pré-sal poderia conduzir o país tanto em uma, como em outra direção.
Uma é a constituição de um sistema econômico nacional, autônomo, com os centros de decisão econômica internalizados e baseado na expansão do mercado interno, em um processo de desenvolvimento vinculado a reformas estruturais. Essa alternativa está sendo destruída pelo governo golpista instaurado em 2016.
A outra consiste no modelo dependente ou associado, com preponderância das empresas multinacionais e do sistema financeiro internacional, dependente financeira e tecnologicamente e vinculado às oscilações externas da economia mundial.
Caso se confirme a tomada do pré-sal pelas multinacionais petroleiras e o esvaziamento da Petrobras, estaremos com grandes riscos de sermos apenas mais um fornecedor de óleo cru e de matérias primas, sem qualquer perspectiva de desenvolvimento e de integração social.
Seremos apenas mais um Estado rentista, cuja oligarquia vive de parasitar as rendas obtidas com a venda de produtos primários e da superexploração da nossa mão de obra.
A destruição da Petrobras e a entrega do pré-sal interessam a quem?
Ao povo brasileiro ou a uma minoria privilegiada que vive de rendas no mercado financeiro? A resposta a essa pergunta é mais do que óbvia e a defesa da Petrobras e do controle estatal sobre os nossos recursos petrolíferos é fundamental para o futuro do país como Nação livre e soberana”.
 

JÁ no debate

A partir do 31 de agosto todo nosso espaço será dedicado às eleições de 7 de outubro, que se configura como a mais importante desde a redemocratização.
É um esforço que pretendemos fazer, em que pesem nossas limitações, para não deixar fora do debate certas abordagens, certos fatos e informações que não entram na pauta dominante embora sejam decisivas para o entendimento do quadro eleitoral e político.
Estamos pensando até em edições impressas, além do noticiário on line.
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Ciro Brizola

Impressionante a sinceridade do discurso de campanha de Ciro Gomes. Em entrevistas e palestras, ele extrapola tudo que já se viu e ouviu de um candidato à Presidência.
Ciro Gomes é uma “versão cangaceira” de Leonel Brizola.
É bem falante e articulado, talvez o único candidato presidencial capaz de usar corretamente a palavra “cujo”. Gabola mas francamente autêntico, kamikazi, quase.
Um fenômeno tal como Bolsonaro, só que pelo outro lado do espectro político, mas sem ser exatamente de esquerda.
Ciro diz que não será “alisando” que se atacará a crise. Se fizer tudo que fala, ou tira o Brasil da crise ou o enterra por mais um período.
Promete encaminhar todas as reformas necessárias nos seis meses iniciais.Diz que no dia 1 de janeiro de 2019 vai tirar o Banco do Brasil e a Caixa do cartel do sistemafinanceiro (liderado, segundo ele, por Bradesco, Itaú e Santander).
Três promessas dele:
-reforma fiscal pra aumentar a receita;
-tributação dos ricos e alivio fiscalpara os pobres;
-uso das reservas cambiais para reduzir a dívida pública.
Duas frases para resumir a situação econômica:
1 – “O mundo da produção está definhando e o mundo do trabalho está em colapso”.
2 – “Nosso inimigo comum é o rentismo, mas 80% dos credores da divida são brasileiro — porque os estrangeiros já saíram fora”.
Ciro não ataca Lula, de quem se declara amigo e admirador, mas critica a direção do PT.
“Sob Lula o salário mínimo subiu de 76 para 320 dólares, mas todas criações do PT não foram institucionalizadas”, sendo destruídas em menosde um ano pelo governo de Michel Temer, “um cadáver que fede e incomoda.”
A maior crítica de Ciro volta-se contra os dirigentes petistas por “enganar o povo” com a manutenção da candidatura Lula à Presidência, mesmo sabendo que ele está impedido pela Lei da Ficha Limpa.
Ciro esgrime com habilidade diversos números que refletem o caos social do Brasil:
13 milhões de desempregados,
32 milhões de trabalhadores na informalidade “fugindo do rapa”,
11 milhões de jovens “nem nem” (não estudam e não trabalham),
63 milhões de inadimplentes do SPC e Serasa.
“Como corolário de tudo isso, temos 63 mil homicídios/ano”.
Agora, se o governo deu R$ 175 bilhões para facilitar o Refis das empresas, por que não fazer um acordo com os bancos para recuperar o crédito das pessoas endividadas?
Na visão de Ciro, será moleza resolver esse problema pois  a dívida média da população inadimplente é de R$ 1,4 mil per capita.
Os adversários estão dizendo que é demagogia. Apelação ou não, é um discurso que atende aos anseios do povo.
Resta saber se os demais poderes concordarão com tamanha consideração à bolsa popular.
De qualquer maneira, segundo Ciro, o Brasil precisará de 10 a 20 anos pra acertar o passo e chegar a um projeto nacional que sirva a todos.
Não se pode negar que ele tem razão. Mas daí até virar o salvador da pátria…
Com uma retórica igualmente maliciosa e virulenta, o criador do PDT nunca chegou lá.
Chegará lá a versão cearense de Brizola?
LEMBRETE DE OCASIÃO
“O PT é como uma galinha que cacareja para a esquerda, mas põe os ovos para a direita“
Leonel Brizola (1922-2004)
 
 

Temer Zero

Estatísticas no campo da política são aproximações matemáticas imprecisas diante de uma realidade complexa e cambiante.
É de se presumir, então, que o zero dado pelo Ibope ao governo Temer para o conceito “ótimo” é uma licença estatística. Ou será que em duzentos e tantos milhões de brasileiros não há um que ache ótimo o governo do presidente Michel Temer?
Mesmo que seja uma licença, trata-se de uma unanimidade, enfim uma unanimidade num país tão dividido. Temer presidente nota zero em ótimo. Merece uma citação no Guiness.
Não se enganem no entanto. Os que acham o governo Temer ótimo existem, só não são alcançados pelos pesquisadores do Ibope e não dormem em serviço. Já preparam inclusive a continuidade. Têm até um candidato boi de piranha para  atrair o cardume enquanto a manada vai passando.

Falta o bigode

GERALDO HASSE
O ex-presidente Lula completou quatro meses na cadeia e a única novidade nesse período foi o crescimento nas pesquisas da candidatura presidencial do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), capitão do Exército reformado por comportar-se inadequadamente como membro das Forças Armadas.
O tempo não apagou o que ele fez nos anos 1980, quando projetou explodir um trecho do centro do Rio. Seria uma ação terrorista, algo parecido com o que resultou no acidente do Rio Centro, onde morreu um dos militares envolvidos num atentado frustrado. Felizmente ele foi detido a tempo. Virou “ficha sujíssima”.
Bolsonaro devia ter sido internado para tratamento psíquico. Ao contrário, ele encontrou uma saída na política. Hoje está no quinto mandato como deputado federal, o que põe em dúvida a sanidade do seu eleitorado. Uma recente matéria de jornal informou que ele enriqueceu na política.
Na sessão em que a Câmara mandou a presidenta Dilma para casa, Bolsonaro fez a declaração de voto mais agressiva e inconveniente: deu um viva ao coronel Brilhante Ustra, torturador-mor na época em que a ditadura militar combatia dissidentes de armas na mão.
Agora, declarado candidato presidencial por um partido sem expressão, o ex-capitão atrai como vice um general aposentado que recentemente andou pregando a intervenção militar no governo federal. É uma chapa pra nenhum extremista botar defeito.
Seria cômico se não fosse trágico. Há desavisados que acham graça nele. Uma pesquisa da antropóloga Esther Moreno, da USP, constatou que jovens da periferia paulistana admiram a linguagem desbocada do deputado. Acreditam que ele destoa dos políticos bem falantes que pontificam nos parlamentos.
Focalizando apenas Bolsonaro, trata-se de uma figura assustadora. Ele é boquirroto, grosso, ignorante, machão e mal informado. Quando aparece em fotos com o cabelo puxado para o lado, lembra Adolf Hitler. Para ficar igual, só lhe falta o bigode do ditador nazista.
Acredito que Bolsonaro é um fenômeno temporário que se apagará no horizonte como um desses fogos de artifício que as pessoas soltam em datas festivas para demonstrar alegria ou simplesmente para “queimar dinheiro” — um desabafo de luxo.
Temo porém o comportamento do eleitorado, que desabafa votando em figuras bizarras, como aconteceu com a eleição do deputado Tiririca, que arrastou consigo para a Câmara cinco correligionários mal votados.
Pode-se argumentar que Tiririca representa o povo e que sua presença em Brasília “não infloi nem diminoi”, pois individualmente um deputado representa apenas 0,2% da Câmara, mas quando se somam as nulidades o total vai se afastando do zero.
Quando passou pelo parlamento brasileiro, durante a Constituinte de 88, Lula concluiu que lá havia, atuando em causa própria ou a serviço de interesses espúrios, 300 picaretas. Ou, seja, a maioria. Ninguém liga porque é o Congresso, “caixa de ressonância dos valores nacionais”. Lá a voz de Bolsonaro é abafada pelos picaretas. E na Presidência da República?
Na Presidência, um destemperado é um risco a temer.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Com mais de cinco milhões de seguidores no Facebook, Bolsonaro zoa, com sucesso, em busca de empatia. Põe uma braçada na frente de seus adversários, em redes sociais, repetindo a dianteira irreverente de uma direita que em campanhas como a do ex-prefeito de São Paulo, João Doria, e do atual do Rio, Marcelo Crivella, ambas em 2016, foi bem-sucedida”.
* Maria Cristina Fernandes, Jornalista em artigo de 13/7/2018 no jornal Valor Econômico.

A novidade é Manuela

Aos 22 anos, Manuela D’Ávila, vinda do movimento estudantil, fez quase dez mil votos e se elegeu vereadora em Porto Alegre pelo PCdoB.
Dois anos depois estava na Câmara Federal levada por 270 mil votos, da juventude principalmente. Fez 280 mil votos na eleição seguinte, a deputada mais votada no Estado. Sofreu duas derrotas quando tentou ser prefeita de Porto Alegre, mas em 2014 foi a deputada estadual mais votada no Rio Grande do Sul.
Agora, aos 36 anos, estará disputando a vice-presidência da República.
As duas derrotas, em Porto Alegre, tornam-se contribuições para o seu amadurecimento político.
Jovem, inteligente, bem humorada e bonita, ela vai chamar a atenção quando começar a aparecer na campanha eleitoral. O discurso dela é forte, articulado, sem ser radical, e sua linguagem toca as mulheres e a juventude.
Se é possível destacar uma novidade nesta “estranha eleição”, sem dúvida é Manuela.
Para começar ela é vice antes que o cabeça de chapa esteja definido: é Lula, mas pode  ser Haddad.

Estranha eleição

Nunca antes neste país se viveu um processo eleitoral tão estranho.
Recapitulando, esta é a primeira eleição após o impeachment da primeira presidenta do Brasil.
Eleita em 2010 e reeleita em 2014, ela foi descartada em 2016 por meio de uma sucessão de artifícios legais que, partindo de denúncias de corrupção, geraram uma pororoca moralista no Congresso Nacional.
Hoje se vê claramente que Dilma Rousseff foi escalada pelos oportunistas de plantão e os moralistas de ocasião para pagar os pecados do PT no exercício do poder.
Sim, o PT cometeu erros, mas nos 13,5 anos em que governou o Brasil deixou um saldo positivo nos campos social, educacional e econômico. Saldo que o governo do vice Michel Temer tratou de desfazer rapidamente.
Aí estão a reforma trabalhista, o congelamento dos investimentos sociais e a alienação de ativos da Petrobras, num esforço inédito de subserviência ao imperialismo neocolonialista.
O ciclo de prosperidade sob o PT atravessou galhardamente a grave crise financeira global de 2008, cujos efeitos sobre a economia brasileira até hoje ainda não foram devidamente avaliados. Uma das maiores perdas foi provocada pela queda das cotações internacionais de commodities, que ajudaram a tirar parte do dinamismo da economia nacional.
Nesse contexto caótico, aflorou a incrível, lamentável contrariedade de setores da classe média alta com a recente ascensão dos pobres, particularmente o acesso deles às viagens aéreas e a outros itens de consumo antes restritos aos mais abonados.
Desprezo, inveja, raiva e ódio – tudo junto numa monumental mistura de preconceitos, falta de educação civil e de senso de justiça social.
As melhorias que deviam ser motivo de orgulho para todos os brasileiros passaram a alimentar uma campanha de depreciação do espírito cordial e generoso do povo que, segundo tal visão caolha, seria incapaz de se livrar de um suposto complexo de vira-lata.
Na realidade, parece que as elites beneficiárias das históricas desigualdades econômicas do Brasil preferem que o complexo de vira-lata não seja resolvido mediante políticas públicas regeneradoras, como ensaiado pelos governos petistas.
O clima de incerteza pré-eleitoral vigente traduz a perplexidade da população quanto à mixórdia criada pelos políticos em seu sórdido conluio com o Mercado (nome genérico da turma movida pelo dinheiro), com a Mídia (liderada pelos grupos Globo, Folha e Estadão) e com amplos setores do Judiciário.
Preso numa cela especial da Polícia Federal em Curitiba, condenado a 12 anos de prisão por corrupção, Lula lidera as pesquisas de intenção de votos. É portanto o protagonista central de um processo eleitoral aparentemente normal que, no entanto, está carregado de anomalias.
Começa que ninguém, fora Lula, empolga o eleitorado.
Alckmin, reencarnação de Adhemar de Barros (1901-1969), o piracicabano que pontificou na política paulista a partir dos anos 1940, tentando em vão ser o presidente do Brasil. Ficou conhecido como o “Rouba Mas Faz”.
Alvaro Dias, postiço rei do botox.
Henrique Meirelles, com o peso do governo Temer, não decola,
Bolsonaro, alma penada da ditadura militar extinta há 30 anos.
Boulos, o melhor candidato para daqui a 15 anos, se a Dialética da História ainda persistir até lá.
Ciro, o amigo da Onça.
Eymael, o que não faz mal a ninguém.
Paulo Rabello de Castro, um bom ministro do planejamento de qualquer governo.
Marina Silva, a crente inconvicente.
Manuela d’Avila, militante exemplar do PCdoB.
Pode ser que alguém desista ou outro alguém se candidate, mas a perspectiva não é segura nem tranquila. Os eleitores, as pessoas, os cidadãos se fazem indagações:
1 – Como seria a campanha eleitoral se Lula não estivesse preso?
2 – A liderança dele nas pesquisas é fruto de uma verdadeira confiança popular em seu taco ou uma resposta sentimental a uma condenação sem provas convincentes?
3 – Como serão contados os votos a Lula se ele for inelegível?
4 – Qual a legitimidade do candidato mais votado se sua votação for superada pela soma dos votos nulos + brancos?
5 – Poderá a eleição ser anulada?
Por enquanto, não há respostas. Que as tragam as urnas.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Não sei, não entendo como possa ser livre um povo ignorante e pobre. Não sei como possa deixar de ser escravo um povo pobre e ignorante”.
J.F. de Assis Brasil (1857-1938) em conferência pública realizada em 22 de setembro de 1917 no Teatro Municipal de São Paulo.
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