Carta de Barcelona

Rivadávia Severo, Jornalista
Acontece que na Espanha a xenofobia segue em alta. Uma pesquisa do Centro de Pesquisas Sociológicas (CIS) divulgada esta semana, indica que o principal problema para os espanhóis é o desemprego, seguido do terrorismo e em terceiro lugar está a imigração. Isso que a imigração é o que permitiu o crescimento econômico espanhol que elevou o PIB per cápita do país para cerca de 20 mil euros por ano e aumentou a população para  44 mil pessoas. Esse impulso econômico está sustentado pelo trabalho de árabes e latinoamericanos na construção civil. Segundo o jornal El Pais, quatro das oito maiores empresas mundiais do setor são espanholas.
O que está ocorrendo no bairro onde vivo aqui em Barcelona, Poblenou, um antigo distrito industrial do princípio do século passado – no tempo em que Barcelona era conhecida como a “Manchester espanhola” pela pujança de suas fábricas – é um bom exemplo do que ocorre nas grandes cidades do país. O bairro está sendo reconvertido em um centro de tecnologia e serviços.
As chamines foram substituídas por gruas, retrato da Espanha atual, um país que se financia com a construção civil que sustenta o seu crecimento econômico na casa dos 5% anuais, os melhores índices da União Européia. O preço pago eu e os meus vizinhos, gente simples da Catalunha e imigrantes de todas as partes do mundo que temos que suportar além do calor do verão, o barulho de britadeiras, escavadeiras, gritos de operários, etc.
Mas a vida também oferece momentos de descontração e prazer. Nesta semana, jantando com um casal de professores da Universidade de Barcelona, em um aprazível chiringuito – restaurante simples à beira mar – nos comentavam da situação política do Brasil. O lodaçal de Brasília, esse que o Zé Dirceu meteu o PT, também é notícia por aqui, embora em páginas internas.
Eles conhecem bem as nossas idiosincrasias, trabalharam em projetos de educação do PT, inclusive em Porto Alegre e têm amigos próximos ao governo de Lula. Segundo o relato desses amigos, que parecem conscientes da lama que envolve o Partido dos Trabalhadores, é até bom que ocorra isso, porque obrigará o PT a apresentar programa nas próximas eleições e não comparecer somente com a plataforma política da ética. É, pode ser.

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