PINHEIRO DO VALE
A antecipação dos prazos, pela comissão do impeachment no Senado, vai acelerar o início da segunda fase da campanha de Dilma para recuperar o seu mandato: seus estrategistas vão antecipar o corpo a corpo com senadores, previstos para o começo de julho.
A segunda fase, que se inicia com o comício da Esquina Democrática, nesta sexta-feira, em Porto Alegre, inclui os protestos contra o golpe se ampliam e tendem a crescer e se espalhar pelo país.
Para isto, conta-se com a crescente impopularidade do Governo Provisório do presidente interino Michel Temer.
Sem soluções para o desemprego crescente e a inflação de preços, o descontentamento tende a passar dos espaços militantes para generalidade das ruas.
Somente a partir dessa fase será prudente a própria presidente Dilma assumir a linha de frente das negociações com os parlamentares eleitores do Senado Federal.
Uma proposta de movimento tático é reproduzir, em parte, a experiência grega.
O primeiro ministro Aléxis Tsipras, cargo com eleição direta, venceu a situação conservadora em janeiro e 2015 com um programa de aumento dos gastos públicos, ampliação de benefícios sociais e moratória da dívida externa.
O projeto não funcionou devido à resistência do sistema financeiro europeu de alargar prazos de pagamento. Ameaçado de exclusão da Zona do Euro o novo governo entrou em semi-colapso. Era queda iminente, nos moldes do sistema político local.
Tsipras deu um lance de grande coragem política: foi para as ruas com um mea culpa, assumiu que seu programa era inexequível e propôs uma nova política econômica diametralmente oposta. Ninguém esperava que ele fizesse isto.
Com a mesma votação de janeiro, reforçando sua legitimidade, venceu novamente em 20 de setembro e deu a guinada que, pouco a pouco, vai tirando a Grécia do buraco.
Também no Brasil a presidente afastada pode usar seu respaldo de legitimidade para propor um novo pacto com seu eleitorado.
Para isto Dilma precisa mudar, pelo menos, oito votos no plenário do Senado, dando, desde já, como perdida a batalha na comissão especial, esmagadoramente favorável ao impeachment.
Seu argumento principal seria a possibilidade real de com ela encontrar uma saída para a crise econômica e abrir espaço para negociações políticas consequentes. Sua força real é a legitimidade dos 54 milhões de votos. Isto é inegável. Tsipras é uma prova palpável.
Em segundo, ela viria com uma nova política econômica que, respeitando a austeridade, aproveitando-se, também, dos avanços no legislativo de propostas que ela apresentou, mas foram rejeitadas.
Apresentaria alguns fatos novos. Primeiro: Lula assumiria ostensivamente o comando político.
Com o ex-presidente dando fiança, a antiga base aliada poderia voltar, aceitando como efetivos os acertos políticos. Esta seria uma queixa removida.
Neste sentido, também com apoio de Lula poderia manter a equipe de Henrique Meirelles, com as bênçãos do ex-presidente. Seria a base de credibilidade para descongelar a atividade econômica.
Tal demonstração de flexibilidade seria o aval para a retomada da confiança para investidores, interna e externa.
Nesse projeto de retomada do crescimento, tendo ênfase as concessões de infraestrutura e joint ventures nas estatais, seriam um elemento poderoso para robustecer o mercado de trabalho nos empreendimentos de engenharia pesada.
Também seriam tomadas medidas para reativar a economia no varejo e serviços, encorajando pequenas indústrias e lojistas a abrirem suas portas, chamarem de volta empregados dispensados e assim dar um sofre no no desemprego.
Não é descartada a proposta de um lance ousado, como convocação de eleições em curto prazo ou de uma constituinte exclusiva para a reforma política. Também nesses casos o estado estaria sob Dilma, pois ela confere a legitimidade.
Tanto no País como no Exterior, a volta da presidente afastada seria um sinal poderoso de normalidade constitucional, algo importante para recuperar a imagem externa abalada pelas tropelias do golpe e a confiança interna de segurança jurídica para a retomada dos negócios.
O projeto de ação com um desenho nesse quadro está sendo examinado.
O desafio a Dilma será recompor seu relacionamento com os parlamentares, incluindo, neste caso, uma modus vivendi com o presidente interino Michel Temer e seu PMDB. Sem o centrão seria impossível governar.
Ela teria de, com esses movimento, comprovar que pode oferecer governabilidade. Esse é o ponto central, pois Temer tampouco está conseguindo domar as forças centrífugas que arrebentam o pacto da coalisão.
Até chegar a uma reforma política, o Executivo terá de se conformar com o multipartidarismo em vigor.
A percepção é que se as ruas não votam no Senado, elas podem ajudar a mover votos contrários. Afinal, a última pesquisa já apontou Dilma com 33% de apoio, um crescimento significativo, pois quando levou o golpe não tinha mais de 11 por cento.
Enquanto isto, Temer está parado nos oito por cento, ou seja, 92 por cento de impopularidade. É um bom desenho, no entender dos estrategistas. O desafio para a presidente afastada é conseguir combinar com os russos.