Nesta quarta feira o Senado vota e na quinta sai o PT e entra o PMDB, levando de volta para a Esplanada dos Ministérios o mesmo séquito de partidos que compunham e ainda compõem a chamada “base aliada”.
Excluindo PT, PCdoB e PSOL, todos os antigos apoiadores sentam de novo nas suas cadeiras.
Os partidos da esquerda voltam às ruas, trabalhando os dois desafios eleitorais que têm pela`frente, as municipais de outubro e as nacionais de 2018. Este é o cenário geralmente aceito pelos analistas.
Aí está o golpe, que, embora as forças majoritárias neguem o vocábulo, deu-se dentro do Palácio do Planalto, como nos saudosos filmes de capa e espada tirados dos romances de Alexandre Dumas.
Portanto, muito simples: o PT perdeu o comando político e seu aliado PMDB passou-lhe uma rasteira. É assim que acontece.
Já a presidente Dilma Rousseff não aceitara a manobra quando rejeitou o banqueiro Henrique Meirelles como tutor, como era o desejo do líder de suas forças de sustentação, o ex- presidente Lula.
Ali ela assinou sua carta de alforria, mas selou seu destino como presidente, pelo menos por enquanto (ainda vai correr muita água por debaixo da ponte antes de tirarem definitivamente seu mando, se conseguirem).
Meirelles que naquela vez chegara triunfante ao Planalto Central, levando consigo uma queda na cotação do dólar e uma disparada ascendente nas cotações das bolsas, mas deu com a cara na porta, agora volta triunfante.
Nada como um dia depois do outro, repetiria o Conselheiro Acácio.
Os antigos aliados da presidente passam para os escaleres de salvamento, deixando aos fiéis precárias tábuas de salvação que, uma a uma, vão afundando.
Entretanto, Dilma não se entrega. Neste final ela não titubeou e foi para a rua clamar ao povo, mostrando o que acontecia.
Todos os dias ela apareceu no Jornal Nacional denunciando o golpe, mostrando um inimigo visível, o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Poupou os desertores.
Entretanto, cada dia fica mais claro que os verdadeiros algozes estavam dentro de sua própria trincheira.
Agora não adianta mais esbravejar contra Michel Temer. A raposa paulista, mesmo desqualificada pelas ruas (sua popularidade é menor que a de Dilma, que amarga o fundo do poço), soube recompor as forças majoritárias que, no início do ano compunham a base parlamentar do governo.
A peça chega ao fim do primeiro ato. A surpresa que não estava no script é que Dilma não se conforma com o papel de velhinha roubada pelo trombadinha que a nova oposição pretendia colar à sua imagem.
Ela deveria recolher-se ao Palácio da Alvorada e ficar regando as plantas, abrindo a porta aos turistas e aparecer de vítima indefesa nos telejornais, beijando criancinhas. Dilma vai à luta.
Ela surpreende: esperava-se que se comportasse como uma mineira ensaboada, deixando que o governo Temer se afundasse em suas próprias contradições, e assim ganhando espaço para derrubar o impeachment no plenário, daqui a seis meses. Não será assim.
Dilma decidiu pegar o touro à unha. Fora de suas características de tecnocrata, como fez no primeiro mandato, vai para a rua. Deixa para traz a economista de falas confusas e sai como uma oradora feroz botando o dedo na cara dos golpistas.
No lugar da mineira maneirosa ela ressuscita a gaúcha de faca na bota e sai a campo para, sem medo, dar murros em facas de ponta.