Ninguém duvidou da revelação que o superministro da Economia, Paulo Guedes, tem R$ 51 milhões numa offshore (extra-território, fora do alcance das leis que regulam os ganhos de capital).
Todos consideraram um fato menor. Toda a dita grande imprensa (Globo e afiliarados, Folha de São Paulo, Estadão, Bandeirantes, etc), que não foi atrás dos fatos, mal tocou no assunto.
Não informou sequer qual o ramo de atividade da empresa, a “Dreadnoughts” ( tipo predominante de navio de guerra encouraçado no início do século XX, segundo a Wikipedia)
As declarações do ministro de que tudo está dentro da lei, bastaram. A questão politica e moral foi desconsiderada.
Uma política econômica, que sacrifica o trabalhador ao atrelar os preços internos ao dólar, beneficia o ministro que tem seu capital aplicado no exterior e, ainda por cima, livre de impostos.
Não é estranho que, pela lógica financeira, se justifique esse contra-senso. Está dentro das leis, o capital é como a água, escorre por onde há menos resistência.
Mas como explicar ao trabalhador que tem seu salário congelado (quando não reduzido) e enfrenta uma escalada dos preços que lhe ameaça a sobrevivência?.
Como levar a sério um ministro que prega o ajuste fiscal e, em nome dele, defende o corte de gastos sociais, ao mesmo tempo em que protege seus cabedais abrigando-os num “paraíso fiscal”, onde não paga impostos.
Um defensor do ministro disse que R$ 51 milhões são “uma merreca” comparados à fortuna de Paulo Guedes. Aí está uma boa pauta para os deputados que vão inquirí-lo: qual o tamanho da fortuna de Paulo Guedes e onde ela está?
A mínima obrigação de um ministro, que impõe sacrifícios ao povo, deveria ser explicar de onde vem o seu dinheiro.
Uma carta da Trident Trust, agente financeiro responsável pela gestão da offshore Dreadnoughts International Group Limited, informa que Paulo Guedes permaneceu como diretor da companhia, de 24 de setembro de 2014 até 21 de dezembro de 2018.
O documento, obtido em primeira mão por O Antagonista, foi solicitado pela defesa do ministro da Economia e encaminhado hoje pela Trident.
Mais cedo, em evento do Itaú BBA, Guedes rompeu o silêncio sobre o caso da offshore, revelado no domingo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Ele negou que tenha feito transações entre fronteiras e disse que tudo foi declarado à Receita Federal.
“Sobre ‘offshore’, elas são legais. Ela foi declarada, não houve movimento cruzando as fronteiras, trazendo dinheiro do exterior ou mandando dinheiro ao exterior. Desde que eu coloquei dinheiro lá, em 2014/2015, eu declarei legalmente. Qualquer dinheiro que está lá, é gerenciado de forma independente. Minha ação não tem influência nenhuma. Eu sai da companhia dias antes de vir para o cargo de ministro.”
São sócias do ministro na offshore a mulher, Maria Cristina Bolivar Drumond Guedes, e a filha, Paula Drumond Guedes. A empresa, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, tem patrimônio de US$ 9,55 milhões.
https://www.oantagonista.com/brasil/exclusivo-carta-de-gestor-confirma-saida-de-guedes-de-direcao-da-offshore-em-2018/
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Voluntariamente, Guedes vai enviar esclarecimentos sobre offshore: Advogados afirmaram que ministro é vítima de ‘ilações e mentiras’
Afonso Marangoni
05 out 2021 – 21:30
A defesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou nesta terça-feira, 5, que, de forma voluntária, vai protocolar petição à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal prestando esclarecimentos sobre a sua offshore.
Segundo a defesa de Guedes, as informações mostrarão “de forma definitiva que o ministro jamais atuou ou se posicionou de forma a colidir interesses públicos com privados”. Os advogados ressaltaram que o investimento é “legal e declarado” e afirmaram que o cliente é vítima de “ilações e mentiras” que têm o “único objetivo de criar um factóide político”.
“Com relação a empresa Dreadnoughts, os documentos que serão protocolados deixam claro que o ministro desde dezembro de 2018 se afastou da sua gestão, não tendo qualquer participação ou interferência nas decisões de investimento da companhia”, afirma a nota.
No domingo, um consórcio internacional de jornalistas publicou o nome de várias autoridades que têm ou tinham offshores. No Brasil, foram citados Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que já teria fechado sua empresa.
Offshores são empresas que ficam em países com baixa ou inexistente tributação, os chamados paraísos fiscais. Ter uma offshore não é crime. No Brasil, o Código de Conduta da Alta Administração Federal veda que funcionários do alto escalão mantenham aplicações financeiras que possam ser afetadas por políticas governamentais.
“Da mesma forma, os documentos demonstram que não houve qualquer remessa ou retirada de valores para o exterior da companhia mencionada, desde quando Paulo Guedes assumiu o cargo de ministro da Economia, sendo certo que este jamais se beneficiou no âmbito privado de qualquer política econômica brasileira”.
A defesa do ministro afirma que “para espancar qualquer dúvida sobre a atuação legal e ética em sua vida pública e privada, Paulo Guedes juntará todas as informações necessárias para demonstrar a licitude e a conformidade de suas atividades com o Código de Conduta da Administração Federal e da Lei de Conflitos de Interesses”.
https://revistaoeste.com/politica/guedes-vai-voluntariamente-enviar-esclarecimentos-sobre-offshore-factoide/
É nítido o conflito de interesse da aplicação em offshore e o cargo de ministro da economia. Basta verificar o valor do dólar quando o ministro assumiu e qual o valor hoje… Há tempos indaga-se quem a atual política cambial estaria beneficiando. A resposta parece clara, nao apenas ao agronegócio.