ELMAR BONES/ Renato Fonseca, o Divino (anotações para um perfil)

Divino Renato Fonseca. Na primeira vez que nos encontramos chamei-o de Renato. Era elegante, simpático, gentil, mas achei que Divino era demais.

Era 1965, cheiro de ditadura no ar, ele era presidente do Clube de Jornalismo, que congregava os alunos curso  de Jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, meia centena de candidatos a uma profissão ainda dominada pelos chapas-brancas.

Nas primeiras conversas me dei conta: o nome Divino calhava naquele cara. Foi um dos meus primeiros amigos em Porto Alegre, um dos mais encantadores.

Certa vez, numa festa, um dos convidados bebeu demais e se exaltou, começou a gritar e a xingar todo mundo. Divino levantou da cadeira, contornou a mesa  e tentou acalmar o sujeito, que reagiu aos berros. Ele agarrou o cara pelo colarinho, deu-lhe uns três tapas e o jogou na cadeira. Deu as costas, saiu calmamente e veio sentar-se. O cara levantou e deu o fora.  “Que foi isso Divino?”.  “Ele estava abusando”.

Seu primeiro emprego, antes de sair da faculdade, foi como fiscal da Secretaria de Indústria e Comércio de Porto Alegre. Numa das primeiras operações de fiscalização encontrou irregularidades numa grande empresa, a multa era alta, o dono ofereceu propina, ele recusou,  foi ameaçado de morte se levasse adiante o processo. Levou o problema ao diretor e foi aconselhado a aceitar o suborno e evitar o pior. Registrou as notificações de multa e pediu demissão do emprego público.

Juca Kfouri lembrou o apelido que os colegas da Placar lhe deram: “O Dostoiéviski dos pampas”.  Seus textos eram lidos em voz alta na redação.

Na “História Ilustrada de Porto Alegre” ele foi o editor de texto. O projeto era uma série de fascículos, descrevendo a formação da cidade, desde a pré-história até o presente (1997).

Era uma operação complexa, com repórteres, pesquisadores, fotógrafos   Ele foi a indicação unânime para finalizar o texto, que precisava ser simples, claro e conciso. A redação vibrava com os títulos e as sacadas. O historiador Sérgio da Costa Franco, que era nosso consultor, devolvia os originais com elogios.  O Caco Schmitt, que chefiava a equipe até hoje se emociona. Sim, o nome Divino definia bem aquele cara.

NR: O jornalista Divino Renato Fonseca morreu no dia 10/12/2022, aos 80 anos.

Equipe que produziu a “História Ilustrada de Porto Alegre”, em 1997: da esquerda para a direita: Luiz Ávila, Divino Fonseca, Adelia Porto, Elmar Bones, Caco Shmitt, Sérgio da Costa Franco, José Antonio Czamanski, Rosana Carlessi, Ricardo Fonseca, Paulo Pingret e Clô Barcellos.

 

 

 

 

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