O assassinato do mestre de capoeira Moa do Katendê pode ter, no segundo turno, efeito semelhante, mas inverso, ao da facada que feriu Bolsonaro no início da campanha.
O atentado ao candidato foi um fator decisivo para a escalada final que quase o elegeu no primeiro turno. Inclusive por lhe dar uma justificativa plausível para sua ausência nos debates, onde seria difícil esconder o seu despreparo.
As 12 facadas que abateram mestre Moa foram dadas pelas costas, depois de uma discussão banal com um eleitor de Bolsonaro, quando o resultado do primeiro turno já era conhecido.
O candidato diz que não pode ser culpado por um ato, que ele considera “um excesso”, praticado por um eleitor seu no calor de uma rixa política.
Não há, porém, como dissociar os dois crimes do discurso de intolerância, da violência dos gestos e da linguagem do candidato que fala em “metralhar a petralhada” ou armar a população para enfrentar a bandidagem.
A médica Tereza Dantas, de Natal, que rasgou a receita de um paciente quando descobriu que ele havia votado em Haddad expressa o mesmo comportamento, que não reconhece o outro e só sabe lidar com ele quando o transforma em inimigo.
Quando rechaça a proposta de Haddad para um acordo contra as fake news na campanha, numa reação grosseira, chamando-o de “pau mandado” e de “canalha”, Jair Bolsonaro não está fazendo outra coisa senão semear a violência como tática de campanha.
É daí que vem o que ele considera apenas “excessos”, embora sejam práticas fascistas, intoleráveis.
A morte de Mestre Moa, figura querida e respeitada na Bahia, com discípulos em todo o país, chocou e provocou pronunciamentos candentes de figuras notáveis como Caetano Velos e Gilberto Gil.
O fato brutal ainda está repercutindo e terá novos desdobramentos, podendo ter efeitos nesta campanha, contribuindo para que os brasileiros acordem e percebam aonde leva esse caminho da militarização da política.