A situação do Partido dos Trabalhadores lembra o desabafo do veterano treinador de futebol acusado de erros numa partida decisiva, após uma campanha muito bem sucedida. Na sua linguagem muito peculiar, o treinador defendeu-se nos seguintes termos:
“Minhas faia todo mundo vê, mas minhas virtude ninguém reconhece”.
Como o PT até agora não fez a autocrítica cobrada por adversários e até por militantes, é provável que a sigla continue sangrando em praça pública até que algum dia cicatrizem as chagas que suscitaram o movimento político responsável pelo impedimento da presidenta Dilma, a posse do vice Michel Temer (MDB) e a eleição do ex-capitão Bolsonaro (PSL).
Sendo penosa e demorada a cicatrização, seria então recomendável que o partido fizesse o “mea culpa”, jogando companheiros e aliados na fogueira? Ou será melhor deixar que cada um se defenda das acusações levantadas aqui e ali?
A julgar pela atitude de sua direção, o partido deve continuar negando que tenha cometido deslizes eleitorais, políticos ou administrativos. Isso fica bastante claro pelo comportamento do ex-presidente Lula e do ex-ministro Zé Dirceu, que se declaram inocentes ou, pelo menos, não culpados.
O único figurão a destoar dessa linha de defesa foi o ex-ministro Antonio Palocci, que assinou acordo de delação em que acusou Lula de orientar a distribuição de propinas originárias de contratos da Petrobras. Das grandes figuras do partido, só escapou da lama até agora o nome da ex-presidenta Dilma. Providência que parece estar a caminho.
Sabemos que a opinião pública costuma relativizar as declarações dos partidos e dos políticos, mas ainda não se acostumou a lidar com a atuação de outras instâncias públicas – o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário – e o ativismo dos meios de comunicação, especialmente os mais modernos, pendurados na Internet e articulados com os antigos: jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV.
É nesses terrenos sensíveis que o PT, junto com os outros partidos citados como aliados ou cúmplices, vem perdendo a batalha da credibilidade. Em sua última manifestação oficial, no início de dezembro, a direção do partido continuou se colocando como vítima de uma conspiração.
Não se pode negar que haja fundamento nessa linha de argumentação ou, seja, que Lula estaria na cadeia para pagar malfeitos alheios, sendo portanto um refém, um bode expiatório ou uma espécie de prisioneiro político, mas está provado que só isso não basta para libertá-lo.
No fundo o PT está no purgatório, chorando o banimento do paraíso e declarando-se alvo de uma trama urdida por uma aliança de funcionários públicos, políticos, empresários e jornalistas.
Na nota oficial distribuída dias atrás, a direção do PT afirma que “setores que dirigem o judiciário criminalizaram a própria política”, ao caracterizar o partido como uma organização criminosa.
Em outras palavras, o PT admite que a atividade política em geral, no Brasil, tem caráter criminoso. É uma acusação indireta a outros partidos e aos políticos em geral, categoria a quem acaba de se alinhar o ex-juiz Sergio Moro, que abandonou o Judiciário para ocupar o cargo de ministro da Justiça no futuro governo Bolsonaro.
Se bem entendida, a afirmação do PT sugere que o partido estaria disposto a admitir erros, desde que outros façam o mesmo. Com essa atitude defensiva, mais e mais o partido se imobiliza.
LEMBRETE DE OCASIÃO
(ditado latino)
Inops, potentem dum vult imitari, perit
(A desgraça do pobre é querer imitar o rico).