A imprensa brasileira vive um grave momento de sua história. Dos últimos 50 anos que testemunhei, o pior, com certeza.
Um fato símbolo desse momento são as comemorações dos 50 anos do Jornal Nacional, pela Rede Globo.
O primeiro programa de televisão brasileira transmitido em rede nacional, “a notícia unindo 70 milhões de brasileiros”, era na verdade um mimo dado a Roberto Marinho pelos serviços prestados à ditadura que naquele momento se consolidava.
Por conta desse comprometimento, o Jornal Nacional estreou com uma notícia oficial que tentava esconder da opinião pública a real situação do país.
Naquele dia, o presidente de República, general Artur da Costa e Silva, estava semiconsciente, imobilizado num hospital e uma junta militar assumira o poder.
Há uma semana a saúde do presidente se agravava, mas a censura proibia as notícias. As poucas notas nos jornais justificavam o afastamento do presidente com “uma forte gripe”.
Com tudo isso, a manchete do jornal que estreava era: o preço da gasolina.
Em seguida, Hilton Gomes, que junto com Cid Moreira, apresentou o jornal, falou da saúde do presidente, como se estivesse se recuperando, quando na verdade naquele momento o presidente havia piorado e estava inconsciente.
Já reproduzi em outro artigo o texto lido por Hilton Gomes naquele primeiro de setembro de 1969, mas agora não encontrei. Recorri, então, aos arquivos da Globo e constatei, estarrecido, que a íntegra do primeira e tão festejada edição do Jornal Nacional não está disponível. Por que?
Tem a abertura, tem uma síntese das notícias, tem informações sobre os apresentadores, mas a íntegra do noticiário não tem…
Tentam esconder a fake original? É quase inacreditável. Mas, depois da encruzilhada dos vazamentos (os que renderam manchetes por três anos e os que apontam os vazadores, agora omitidos) não há motivos para surpresas.