PINHEIRO DO VALE
O ex-presidente Lula está esticando a corda para levar o juiz Sergio Moro ao desequilíbrio, a ponto de tropeçar em contradições e ser declarado suspeito para julgar as acusações que o Ministério Público está oferecendo como denúncia para um improvável processo criminal.
É uma tática de alto risco, mas desafiar forças antagônicas é o padrão de campanha do ex-presidente.
Se Moro for deslocado do processo por evidenciar parcialidade, deita por terra a imagem de isenção que procura afirmar. Caso contrário, será obrigado de rejeitar a denúncia por inepta, pois Lula não pode ser chamado a responder por tais acusações: não é dono do apartamento do Guarujá nem do sítio de Atibaia.
Se o magistrado de Curitiba se ativer às pretensas provas apresentadas pelos promotores, Lula ressurge do mar de lama em que se pretende submergi-lo como candidato forte e inquestionável para seu terceiro mandato presidencial, em 2018.
Entretanto, desafiando esses agentes do judiciário, o ex-presidente se arrisca a retaliações que podem causar-lhe mais dores de cabeça e, também, a torná-lo inelegível.
Se for condenado em primeira instância, Lula pode recorrer em liberdade, mas sua cidadania estará comprometida num possível enquadramento na Lei da Ficha Limpa. Até que tudo seja passado e repassado, ele perderá tempo de campanha. Este é o lado negativo do confronto direto com juízes e promotores.
Lula parece atingido pela maldição que assombra, até hoje, a todos os ex-presidentes que tentaram reincidir na volta ao poder no Brasil. Nenhum terminou bem.
O primeiro deles foi o próprio fundador da República, marechal Deodoro da Fonseca, presidente provisório e logo eleito para um mandato definitivo.
Caiu renunciando para não ser derrubado por seu vice-presidente, Floriano Peixoto, o marechal de ferro.
O próximo a tentar foi o paulista Rodrigues Alves, 1902 a 1906, reeleito há exatos 100 anos da nova tentativa de Lula, em 1918, que não chegou a tomar posse, abatido pela gripe espanhola.
Ainda na República Velha, o ex-presidente negro Nilo Peçanha tentou voltar em 1921, derrotado nas urnas suspeitas daqueles tempos pelo mineiro Arthur Bernardes.
De Getúlio Vargas nem se fale. Ditador, foi derrubado; voltando nos braços do povo, suicidou-se para não cair (ou para se manter no poder virtual, segundo análises mais recentes).
O delfim de Vargas, Juscelino Kubitschek, também se arvorou para um segundo mandato, o lema JK-65, mas foi defenestrado pelos militares com a cassação de seu mandato de senador por Goiás e candidato presidencial na eleição adiada e depois extinta pelo AI-2, que tornou o pleito indireto só atingível por generais de quatro estrelas.
Depois disso se falou de uma volta de Fernando Henrique e da candidatura de Lula em 2014. Nenhuma das duas vingaram. FHC não se arriscou e Lula teve de dar lugar a Dilma para se apresentar à reeleição, perdendo a vez.
Quando seu nome volta, Lula encontra esse paredão de intrigas e baixarias, com sério risco de ser barrado por uma inelegibilidade de ocasião.
Enquanto a mão pesada de uma condenação criminal é apenas uma ameaça, Lula trabalha fortemente para construir sua base eleitoral para 2018.
O trabalho mais importante é re-aglutinar a esquerda e, logo adiante, recompor suas alianças eleitorais ao centro. Neste sentido, não obstante fazer da oposição ao governo de Michel Temer, o cavalo de batalha nesta fase da campanha, Lula vai costurando a reconciliação com o PMDB.
Os primeiros passos estão na presente campanha municipal, em que PT e PMDB marcham juntos em 8.488 candidaturas em, 570 municípios.
Com o fim de ajudar candidatos petistas em dificuldades, Lula está percorrendo os colégios eleitorais mais importantes do País, sentindo o pulso público. É aí que a cobra arma o bote.