Por Márcia Turcato*
Antes de escrever sobre a posse de Lula, preciso comentar sobre Anderson Torres. O ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres (União Brasil), 46, vai retornar à secretaria de Justiça do Distrito Federal.
Convidado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), 51, eleito para um segundo mandato, Torres aceitou. Ele foi homem de Ibaneis de 2019 a 21, depois foi repassado para o governo federal onde cumpriu com desenvoltura o papel de ser o homem de Bolsonaro.
Advogado de formação e ex-delegado de polícia, Torres não considerou antidemocrático, nem imoral, nem absurdo ético, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) matar por sufocamento Genivaldo Santos, 38, em uma abordagem de rotina em Umbaúba (SE), em maio. Também não fez nada para permitir o acesso de eleitores às salas de votação no segundo turno quando foram parados nas estradas pela PRF, ela de novo. Nem solicitar ao STF que institutos de pesquisas fossem investigados. Requerimento rejeitado pelos ministros da Suprema Corte.
Torres também considerou normal viajar ao Rio de Janeiro para dar apoio ao ex-deputado Roberto Jefferson, que atirou contra policiais e ainda jogou granadas nos veículos oficiais.
Em 12 de dezembro, em Brasília, ele não interrompeu o jantar com amigos para assumir o enfrentamento aos bolsonaristas que tentaram invadir a sede da Polícia Federal, incendiaram carros e ônibus e promoveram o vandalismo pelas ruas centrais da capital da República.
Coube ao futuro ministro da Justiça do governo Lula, Flávio Dino, tomar a ação para si.
Diante dessa performance, não foi surpresa para ninguém o silêncio de Anderson Torres diante da tentativa de atentado a bomba em Brasília, por um terrorista bolsonarista, na véspera do Natal.
No sábado, 24, a polícia desmontou uma bomba que estava presa a um caminhão-tanque carregado com querosene e que iria abastecer o Aeroporto Internacional de Brasília.
George Washington Souza, 54, empresário de Xinguara, Pará, admitiu participar do acampamento bolsonarista em frente ao QG do Exército em Brasília e que sua motivação foi o incentivo de Jair Bolsonaro ao armamento civil e que pretendia provocar o caos para que fosse decretado o Estado de Sítio em Brasília e assim impedir a posse do presidente da República eleito Luís Inácio Lula da Silva.
Em depoimento, Souza entregou o nome de outro terrorista, Alan Diego dos Santos, foragido.
Em entrevista coletiva, o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que alguns aspectos da cerimônia da posse de Lula serão reavaliados e que os “acampamentos bolsonaristas são incubadoras de vandalismo” e que são intoleráveis.
Extra-oficialmente circula em Brasília a informação de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ofereceu ajuda para a posse de Lula e que a embaixada do país no Brasil fez a reserva de 240 apartamentos na rede hoteleira.
Além disso, teriam sido mobilizados 700 agentes da Polícia Federal para o ato e 300 atiradores de elite estão a postos em diversos prédios da Esplanada dos Ministérios, cenário do trajeto da cerimônia da posse presidencial. Também haverá barreira nas estradas de acesso à Brasília e vistoria rigorosa em bolsas e mochilas das pessoas que cruzarem a cerca de segurança para entrar no espaço da Esplanada para assistir a posse.
A recomendação é que as pessoas não utilizem mochilas, nem sacolas, no dia primeiro de janeiro de 2023 para agilizar o acesso ao cenário da posse de Lula.
Sim, vai ter posse. Antes das cerimônia oficial, que começa às 15h, haverá show no gramado da Esplanada a partir das 11h do dia primeiro de janeiro.
A proximidade do governador do DF, Ibaneis Rocha, com o pior do bolsonarismo, não será um fator impeditivo para a festa popular.
As forças de segurança do Estado irão garantir a ordem e a tranquilidade para o grande evento democrático da posse do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva em seu terceiro mandato.
*Jornalista, autora do livro Reportagem: da ditadura à pandemia