MÁRCIA TURCATO: Quem Ama vacina

Por Márcia Turcato*

Qual deve ser o número razoável de mortes de crianças por covid-19 para o Ministério da Saúde autorizar a vacinação da faixa etária de cinco a onze anos?

A resposta é número nenhum!

Quando existe uma medicação aprovada pela autoridade reguladora máxima de um  país, e ela é capaz de evitar mortes, tem de ser imediatamente adotada.

Por essa razão, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) em parceria com cerca de 200 entidades, lançou a campanha Quem Ama Vacina.

A Anvisa autorizou no começo de dezembro a vacinação na faixa etária entre 5 e 11 onze anos, uma dose  feita especialmente para as crianças. Mas o governo federal, ao contrário do que ocorre com outros imunizantes infantis, não adotou a recomendação da agência reguladora e a colocou em consulta pública, atitude que coloca em dúvida o trabalho dos especialistas.

A consulta é até o dia dois de janeiro e o Ministério da Saúde pede, além da autorização dos pais ou responsáveis para a vacinação, uma requisição assinada por um pediatra.

Dados da própria Pasta, até 29 de novembro, mostram que 558 crianças do grupo entre 5 a 11 anos morreram de covid-19 no Brasil. Foram 297 mortes notificadas em 2020 e mais 261 reportadas até final de novembro de 2021.

As mortes de crianças por covid-19 superam a média anual de óbitos por doenças circulatórias, paralisia cerebral e câncer no cérebro, que são algumas das principais causas de mortalidade nessa faixa etária no país.

As vacinas começaram a ser aplicadas no mundo e no Brasil há mais de 200 anos. Foi assim que vencemos a varíola e muitas outras doenças.

No Brasil, oito vacinas são obrigatórias para os bebês e eles são imunizados logo na maternidade. Algumas das vacinas obrigatórias são a BCG, Pólio, Rotavírus e a Tríplice Viral.

O Brasil sempre foi o maior exemplo de capacidade de imunizar no mundo. Em ações de campanha, como na vacinação contra a Pólio ou a Multivacinação, o país consegue vacinar mais de 11 milhões de menores de 15 anos em um único dia, com uma estrutura de 45 mil postos espalhados por todo o Brasil.

Com a pandemia de convid-19 e o avanço da vacinação da população adulta e de jovens, as crianças se tornaram o público mais vulnerável para contrair a doença.

Conforme dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), este ano foram notificados 1,9 milhão de casos de covid-19 em crianças nas Américas. Além de não serem vacinadas, até o momento, contra covid-19, crianças  e adolescentes também não tiveram acesso às vacinas baśicas de rotina por várias razões.

A principal delas é que seus pais morreram e elas ficaram aos cuidados de parentes que não têm informações sobre esse processo ou porque seus pais ou responsáveis ficaram com receio de procurar uma unidade de saúde no meio da pandemia.

Segundo o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), 23 milhões de crianças em todo o mundo perderam as vacinas básicas em 2020, o que representa 3,7 milhões de crianças a mais do que em 2019.

Estes números abrangentes de imunização infantil são as primeiras informações sobre a interrupção no serviço global de vacinação de rotina relacionada a covid-19.

A maioria dessas crianças, estima-se que sejam 17 milhões, provavelmente não recebeu nenhuma vacina durante o ano, ampliando a imensa inequidade no acesso às vacinas e no acesso à saúde de um modo geral.

A maioria delas vive em comunidades afetadas por conflitos, em locais remotos ou em ambientes marginalizados, onde enfrentam várias privações, incluindo acesso limitado a serviços sociais.

As crianças pobres do Brasil, cujos pais estão desempregados, ou   recebendo auxílio do governo, ou em situação de miserabilidade, estão dentro deste cenário descrito pelo UNICEF, onde é impossível ter acesso a um pediatra para conseguir se vacinar. Quem ama vacina.

*Jornalista, ex-chefe do Núcleo de Comunicação Social da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

 

 

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