O crime tendo a sociedade como cúmplice

A tolerância com os recém-iniciados como infratores é agravada pela inconsistente polí-tica de segurança pública.
A criminalidade obedece a uma hierarquia, a um escalonamento que, em primeiro plano, é natural e, logo depois, se torna um projeto organizado, teorizado, inclusive com códigos para julgamentos cuja pena maior é a da execução pura e simples. Nos planos inferiores, na fase de iniciação, a co-munidade participa, em massa, de alguma forma, na formação do infrator. A pirataria é tolerada e até incentivada, a extorsão de falsos guardadores de carro e de flanelinhas é atendida, a venda de vales-transporte de origem criminosa tem clientela permanente e por ai afora. No patamar mais alto do crime organizado, especialmente no tráfico de drogas, as classes mais ele-vadas da sociedade têm participação efetiva e da maior importância. Junte-se a isso a incompetência dos governos, inclusive dos atuais, que estabele-cem políticas de segurança pública com permanentes fumos de experiên-cias efêmeras, mas de repercussão midiática bem sucedida, não obstante enganosa.
Outro dia chamei a atenção para um roubo de vales-transporte e a atividade tranqüila dos “valeiros” nas proximidades dos terminais de ônibus. Num e-mail em que me explica a dialética da violência e da criminalidade, o co-mandante do 9° BPM, tenente-coronel Carlos Alberto Bondan da Silva, revelou-me que a Brigada está fazendo a sua parte. Só no primeiro semestre de 2008 foram apreendidos, aproximadamente, 37 mil vales-transporte, o que totalizou 385 ocorrências que foram encaminhadas à Justiça. Trata-se de um fato concreto, como concretas são a continuidade dos roubos de va-les e a ações dos “valeiros”. Continua, pois, valendo, o que este humilde marquês, vez por outra, lembra: “Se não tem carne e tem pastel de carne, algo há!”
Família
O Iargs (Instituto dos Advogados do RS) promoverá no próximo dia 9, terça-feira, em sua sede (travessa Acelino de Carvalho, 21), às 12h, a pales-tra “A Crise de Referências da Humanidade e os Reflexos na Subjetividade da Família”, a ser proferida pela psicóloga Sonia Sebenelo. O evento é a-berto ao público e tem entrada franca. O evento é coordenado pela vice-presidente da entidade, Helena Conti Raya Ibañez. Maiores informações pelo 3224.5788, www.iargs.com.br e iargs@iargs.com.br.
Redução
A comunidade de Cachoeirinha, na Grande Porto Alegre, está indignada com a possibilidade do 26º BPM vir a ser reduzido numa companhia. O município é um dos que mais colaboram com os organismos policiais e, segundo suas lideranças, não poderá ser castigado por isso.
Mobilização
As operações “Flanelinhas e Jogos de Azar”, “Sensação”, “Caixa Forte” e “Esforço Concentrado”, realizadas pela Brigada Militar entre quinta e sexta feira, mobilizaram no Estado um efetivo de 4.215 PMs em 1.534 viaturas. Foram presas 27 pessoas.
Cadeira vazia
A indecisão da governadora Yeda Crusius em escolher o coronel que irá preencher a vaga de juiz existente no Tribunal de Justiça Militar está pro-vocando uma angústia profunda entre os oficiais de mais alta patente da Brigada. Os mais próximos do Piratini são pródigos em sorrisos e gestos para com a chefe do Executivo ao mesmo tempo em que cuidam para não se submeterem a riscos que os façam cair em desgraça. É uma dança inte-ressante, mas que não combina com a nervosa operacionalidade do polici-amento ostensivo, que deve ser permanente e independente dos objetivos ou ambições pessoais. Mas enquanto uma cadeira estiver vazia naquela Corte, nenhum coronel terá suas noites com tranqüilidade absoluta.
Subsídios
Um dos mais importantes estudiosos do campo da segurança pública do Rio Grande do Sul, o professor Romeu Karnikowski, envia-me as seguintes observações: “Eu acredito que daqui alguns anos todos os salários dos ser-vidores será por subsídio. A questão é qual e como será implantada essa política. Por exemplo: uma coisa é o subsídio dos Magistrados e Procura-dores do Estado e a outra é o das categorias “mais baixas” no sentido remu-neratório. O subsídio de R$ 3.000 é diferente daquele de R$ 24 mil de um magistrado. Descontados quase 30% de imposto de renda, mais Previdência Social e outros pinduricalhos reduz-se os R$ 3.000 a quase metade desse valor. Além disso, deve haver uma diferença grande entre o soldado que ganha os R$ 3.000 de subsidio, no início de carreira, para o soldado com mais de vinte anos de atividade. No subsídio deste último devem estar in-corporadas algumas vantagens como triênios e quinquênios como premio, pelo menos, pelo tempo de serviço. Caso contrário, o subsídio para os ser-vidores com remuneração mais baixa pode ser uma catástrofe e uma cruel-dade.”

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