O verde latente

Geraldo Hasse
Pode resultar em nada, mas alguma coisa acontece em certas camadas das Forças Armadas.
Fora Bolsonaro, dão o que pensar algumas manifestações recentes de alguns generais do Exército Brasileiro sobre o momento político nacional.
Dias atrás em Porto Alegre, na abertura de um evento sobre o futuro da Amazônia, o general Edson Pujol, comandante militar do Sul, extravazou o sentimento pessoal de que o Brasil está entregando, “de forma criminosa”, seus recursos naturais aos estrangeiros.
Sentimento pessoal ou da comunidade?
Denúncia ou protesto, foi uma fala dirigida a um público de nível superior e de elevado extrato de renda – gente que poderíamos identificar como conservadores “de direita” ou simplesmente “liberais” para o bem e o mal.
Segundo Pujol, que comandou as forças de paz no Haiti e trabalhou por longos anos na Amazônia, os brasileiros precisam tomar consciência de que:
– sem a presença do governo, as reservas indígenas e outras, de natureza simplesmente preservacionista, “favorecem a degradação”;
– sem que o governo faça algo em contrário, “os estrangeiros roubam e degradam a Amazônia”;
– “os ministérios se omitem ou usam sua responsabilidade para favorecer estrangeiros”
– “a nossa legislação é permissiva e favorece a exploração predatória da Amazônia”
– “a forma criminosa como a Amazônia está sendo entregue afeta a todos nós, inclusive aos gaúchos”.
Mais não disse nem lhe foi perguntado – e seria necessário ser mais explícito?
Presente no mesmo evento para receber uma homenagem a seu pai, o agrônomo-ecologista José Lutzenberger (1926-2012), a bióloga Lara Lutzenberger teceu alguns comentários de natureza ecológica – sem críticas diretas ao status quo, procurou apontar novos caminhos para resolver o atual impasse climático da Terra.
Lara Lutz começou lembrando que na década de 80, quando ela ainda era criança, o sábio fundador da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan, 46 anos) deu um depoimento (histórico, hoje) à BBC de Londres, advertindo sobre os riscos da destruição da floresta amazônica. Repetindo seu pai, ela disse:
“A Amazônia não é o pulmão como dizem, mas um sistema gerador de ar-condicionado que regula o clima de uma vasta região, espalhando umidade e calor do Caribe à América do Norte e à Europa e também ao sul do Brasil”, onde se chocam, às vezes com consequências nefastas, as correntes do calor amazônico e do frio do polo sul.
Em seguida, ela advertiu que, persistindo a exploração predatória, “estamos no limiar de um colapso inimaginável”. Por isso sugeriu mudar radicalmente o “modus operandi” das empresas madeireiras e de mineração, as maiores responsáveis pela devastação do patrimônio natural amazônico. E sugeriu: assim como já se exploram alternativas energéticas (solar, eólica), seria recomendável buscar “novas alternativas minerais” e “práticas agrícolas regenerativas em lugar do agronegócio”.
Foi uma fala de apenas dez minutos que, no entanto, revelou a existência de uma sintonia entre o sentimento ambientalista e a visão verde-oliva sobre a Amazônia. O que o general Pujol e a bióloga Lutz sugeriram foram medidas mínimas de proteção e defesa do Verde, no sentido amplo do termo. Ou, falando politicamente, é preciso estabelecer um projeto de desenvolvimento realmente sustentável, coisa que o atual governo não está fazendo – pelo contrário.
PERGUNTA DE PLANTÃO
Quem vai colocar freio na boca dos dragões devastadores da Amazônia?

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