Onde está a esperança?

Tainara Stumpf
Em meio a tantas notícias ruins de corrupção, roubo, exploração, violência e injustiça o desânimo chega. Por mais positivos que tentamos ser, o meio nos neutraliza. Em uma manhã destes últimos dias turbulentos, eu fui até um laboratório fazer exames de sangue. Saí da sala de coleta e fui tomar um cafezinho e comer algo, gentilmente oferecido pelo laboratório.
Nesta sala de espera encontrei um amigo, ex-colega de trabalho em uma empresa na qual me aposentei. Ele perguntou se eu ainda fazia exames anuais. Eu disse que fazia porque com a idade sempre acontecem surpresas. Um colesterol aqui, uma pressão alta ali, a artrose que se apresenta. Enquanto eu brincava com a situação uma senhora me observava atentamente e, no meio da conversa ela falou: tudo isso se previne com a alegria.
Concordei e fiquei encantada! De manhã cedo, ainda com fome, ouvir alguém falar em alegria. Isso não é comum! A esperança me iluminou a partir desta interação. Saí muito animada do laboratório, e dirigi-me a outro compromisso em um dentista.
Desloquei-me até o consultório e buscava um cartão de estacionamento que é vendido em estabelecimentos comerciais. Aguardava pacientemente uma jovem me atender em uma lancheria, mas ela ainda dava atenção a uma pessoa na minha frente.
Havia mesas na calçada, onde as pessoas paravam e pediam algum lanche ou cafezinho. Em uma delas, tinha um senhor sentado de uns 70 anos aproximadamente, que bebericava uma água mineral. Aproximou-se uma pessoa que o reconheceu e foi logo dizendo: Seu Antenor, como vai? Ao que ele respondeu: Muito tranquilo, na Santa paz! E prosseguiram em uma animada conversa.
Eu que ainda estava aguardando a atendente, me surpreendi com a resposta. Dentro do caos social que estamos vivendo esta pessoa tem reservas de tranquilidade? Eu esperava naturalmente ouvir uma torrente de reclamações e queixas.  Apesar de ter a minha expectativa frustrada, sorri por dentro. Pensei: que bom. Ainda há esperança.
Saí sorrindo após ser atendida. Estava contagiada pelo bom humor de Seu Antenor que não me conhecia, mas havia me feito momentaneamente feliz e cheia de esperança.
Em meu caminho até o dentista, eu precisei atravessar a rua e uma saraivada de buzinas chamou a minha atenção. Um motorista distraiu-se na sinaleira e demorou a arrancar o seu carro. Com o susto, ele apagou o carro e se esforçava para ligá-lo rapidamente e liberar o trânsito. Os motoristas que aguardavam não deram trégua. Esganiçavam suas buzinas como se o fim do mundo se precipitasse sobre nós. Novamente tive um choque de realidade. Desta vez não foi agradável.
Mas logo me dei conta que não valia a pena entrar na energia de incompreensão dos motoristas raivosos, pois tinha boas lembranças anteriores para guardar. Pensei nas escolhas que a vida coloca à nossa frente o tempo todo e nas coisas que devo dar mais atenção.
Durante o dia comentei com muitas pessoas sobre as experiências positivas da manhã e esqueci completamente o episódio das buzinas. Percebo que por mais que o contexto se mostre caótico, a esperança está no ar e na vida das pessoas. A partir do desejo de paz e felicidade, contaminamos todos que nos cercam com muito mais força do que com a raiva e incompreensão.
Desejo que pessoas inspiradoras me abordem e surpreendam sempre. Deste modo terei energia e vitalidade abundantes para fazer o mesmo. Se dedicarmos mais atenção para as coisas boas que a vida oferece, penso que não teremos tanta violência e corrupção no nosso contexto. É preciso acreditar para manter a esperança.

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