Réquiem para um estádio

Réquiem para um estádio

Anuncia-se para 5 de abril o leilão do estádio do G.E. Força e Luz, da rua Dr.Alcides Cruz., bairro Santa Cecília, pelo valor estimado de 11 milhões de reais. Alega sua diretoria dificuldade financeira. Trata-se de uma área de 16 ha., a maior existente na zona. Só que, além do valor patrimonial, tem imenso valor histórico, paisagístico, ambienta! e sentimental, para as comunidades circundantes (Rio Branco, Bom Fim, Petrópolis, Partenon).

Ali, desde 1932, foi o palco de grandes partidas do futebol profissional (o Força e Luz era da divisão principal), mais tarde, e até hoje, acolhe o futebol amador (com escolinha para jovens atletas, também); é local de lazer (churrasquinhos de fim de semana, rodas de samba, aniversários), sediou ,anos a fio, os “Bambas da Orgia”) e ainda ostenta o famoso pavilhão pelo qual trocou, com o Grêmio, o passe do grande zagueiro Airton Ferreira da Silva.

A concretizar-se a anunciada transação, tudo isso ficará apenas em nossa memória, pois é mais que provável que a área, ao sabor do mercado imobiliário, tenha a destinação conhecida.

Nada contra o direito de o clube alienar o seu patrimônio. Só que, por revestir-se -de indiscutível interesse público, não pode o referido estádio ser tratado como uma coisa, um mero bem imóvel, sem quaisquer considerações para com a qualidade de vida de sua vizinhança e da comunidade em geral.

Lamentavelmente, estas, dada a cortina de silêncio que se fez sobre a alienação (à exceção do “Jornal do Comércio” e “Já”), foram tomadas de surpresa. Nenhum, ao que se sabe, dos inúmeros cronistas esportivos desta cidade, manifestou qualquer restrição ao desaparecimento de um dos nossos últimos gramados tradicionais. Igualmente, os poderes públicos permanecem silentes: SPM,SMOV,SMAM,SMT, nada disseram até agora.

É sabido que o município, pelo Estatuto da Cidade (Lei Federal no.l0.257, de 20.07.2001), tem o direito de preempção sobre áreas como essa, ou seja, preferência na aquisição. Por que não o exerce, buscando ressarcir o clube com índices construtivos e/ o u outras modalidades de ressarcimento ?!

Esta cidade tem sofrido, nos últimos anos, inúmeras agressões, para não dizer crimes, contra sua malha urbana, a exemplo, nesta mesma região, do empreendimento implantado na antiga Instituição Chaves Barcelos, à rua Dna. Leonor. Os espigões se multiplicam no Morro do Ipa, Bela Vista, Petrópolis, Higienópolis etc. As normas do Plano Diretor sofrem constantes modificações e deturpapação em sua aplicação. Será que estamos diante de mais um capítulo dessa tragicomédia que se chama “fato consumado”? !

Espera-se que, diante de tanta omissão, o Ministério Público e/ou o Judiciário venham em socorro da cidadania. Esta, por sua vez, tem que superar o conformismo e mobilizar-se. É hora de lembrar-se do recente “S.O.S. Porto Alegre, da historiadora Sandra Pesavento: “uma cidade é composta de materialidades, sociabilidades, sensibilidades.” Mais: “uma cidade sem memória, sem história, sem passado, é uma cidade sem futuro.”

Assim, se o estádio do Força e Luz, uma vez leiloado, der lugar simplesmente a um dos mega-projetos tão conhecidos, além do bater de martelo dos leiloeiros, o bairro santa “Cecília e comunidades vizinhas nem precisarão perguntar por quem dobram os sinos de sua paróquia: eles dobrarão por nós.(John Dohne).

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