GERALDO HASSE
A dita greve dos “caminhoneiros” foi pedagógica ao mostrar o intenso arrocho de preços exercido pela Petrobras sobre o transporte rodoviário, onerando toda a população, só para favorecer seus acionistas privados, que pensam exclusivamente em obter os dividendos do crescimento empresarial e desdenham da responsabilidade sobre o desenvolvimento do país.
O governo cedeu às exigências dos grevistas, mas não alterou a política de preços da estatal situada estrategicamente na maior encruzilhada da economia – a encruza energética. É exatamente aí que mora o grande perigo.
A demissão de Pedro Parente, o bode expiatório da crise, não é solução. Ele deixou em seu lugar o diretor financeiro Ivan Monteiro, que o ajudava a preparar o terreno para a entrega da Petrobras aos tubarões internacionais.
Esses graúdos, capitaneados pelos americanos, não se conformam em ver as jazidas brasileiras de petróleo nas mãos de um estado nacional que não faz parte do clube dos gigantes da economia mundial. Querem a restauração do Brasil colonial e contam com a ajuda de muitos brasileiros ilustres.
Contra esse vergonhoso movimento entreguista da Petrobras, levantaram-se os engenheiros reunidos na AEPET e os trabalhadores organizados na Federação Única dos Petroleiros. Estes, ameaçados de multa milionária pelo Tribunal Superior do Trabalho, desistiram de uma greve de protesto de 72 horas, mas permanecem mobilizados na defesa da empresa. O que vem por aí não se sabe.
Já os engenheiros, que desde os anos 1950 se destacam pela defesa do interesse nacional, garantem que a Petrobras tem condições de obter lucros de 50% sobre o custo de produção mesmo se vender o óleo diesel a R$ 1,50 por litro, bem mais barato do que os preços praticados atualmente.
Trata-se de uma informação que tem a dimensão de uma denúncia, acrescida de uma acusação grave: segundo a AEPET, a diretoria da Petrobras está lesando o país ao exportar petróleo cru e importar derivados, como fazem os países subdesenvolvidos.
Em consequência dessa política exótica, as refinarias nacionais estão operando bem abaixo de sua capacidade, perdendo receitas e valor de mercado, o que configura uma prática destinada a favorecer a privatização desses ativos “descartáveis”.
Com esse comportamento antinacional, a Petrobras permanece como alvo dos nacionalistas e alimenta a insatisfação de todos os consumidores de derivados de petróleo.
Pelo sim, pelo não, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) decidiu entrar lateralmente na história, abrindo uma consulta pública para obter indicações sobre a formulação de uma política de preços dos combustíveis.
Pode ser uma medida demagógica ou protelatória, mas o presidente Ivan Monteiro disse que vai esperar os resultados da consulta para, então, tomar as providências cabíveis, se forem do agrado da diretoria, do conselho, dos acionistas privados e do acionista maior, por ora representado por um governo cujo norte é agradar ao Norte.
Lembrete de ocasião
“Eu disse em 2009, quando recebi o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia, que uma potência é muito mais perigosa quando está em decadência do que quando conquista o seu império, e os EUA são uma potência em decadência. São muito mais perigosos do que antes”.
Luiz Alberto Moniz Bandeira, historiador brasileiro, em entrevista à Sputnik Brasil em 2016, quando afirmou que “o objetivo das ações externas contra o Brasil é quebrar a economia e comprar as empresas estatais a preço de banana”.