Pinheiro do Vale
O presidente nacional do PDT, Carlos Luppi, entrou na primeira noite do verão de 2016/17 sonhando arrebatar a bandeira da esquerda das mãos do ex-presidente Lula, aproveitando-se que o fundador do PT está meio combalido pelo cerco implacável à sua pessoa e seu partido ainda lambe as feridas do desastre eleitoral do último pleito municipal.
Passo a passo, o político carioca vai pavimentando seu caminho. De início fechou questão com a resistência ao golpe, mas com ressalvas: não impôs posição partidária à bancada, pois poderia cair do cavalo. Deixou a bola passar pelo meio das pernas: os três senadores do PDT votaram contra Dilma no impeachment. Luppi engoliu em seco.
Nesse mesmo tempo lançou um candidato presidencial para enfrentar ou, conforme o caso, tomar o lugar do PT na cabeça de chapa para 2018, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes.
Nesta virada de ano, quando se inicia a formação das candidaturas presidenciais, Luppi aumenta o tom de suas advertências aos dissidentes, ameaçando-os de expulsão, em pronunciamentos públicos, mas sem admoestar nenhum deles oficialmente.
Não há um papel do partido traçando limites ou orientando seus parlamentares nas votações.
O passo seguinte virá neste verão: limpar a área de nomes incômodos para receber as adesões da esquerda parlamentar.
No Senado o PDT já se livrou de quatro cadeiras incômodas: as duas do Distrito Federal, Cristovam Buarque (foi para o PPS) e José Reguffe (sem partido), e o mineiro Zezé Perrela, que pousou seu helicóptero no PTB. Nesta quarta-feira, o gaúcho Lasier Martins se antecipou às ameaças de Lupi e pediu sua desfiliação.
Faltam dois: Telmário Motta, que acusa o PT de Roraima de traição ameaçando romper a aliança estadual e Acyr Gurgacz, estrategicamente em licença. Os dois também apoiaram o golpe na cassação da presidente Dilma Rousseff.
O sonho de Luppi é estar com seu cavalo cearense na ponta dos cascos, no partidor, quando a candidatura do ex-presidente Lula sucumbir ao cerco de ameaças de forças hostis combinadas para torná-lo inelegível.
Há, entretanto, uma pedra no caminho do chefão pedetista: em seu próprio estado, o Rio de Janeiro, está o chefe da resistência parlamentar e líder inconteste da oposição ao governo ilegítimo, o senador Lindbergh Farias. Livre concorrência.
Luppi e Lindbergh procuram avançar um sobre o terreno do outro. Luppi tem uma bancada que vai da direita à esquerda, busca colher frutos no petismo envergonhado; Lindbergh propõe uma frente de “salvação nacional” encabeçada pela esquerda, procurando aliança no “centrão” decepcionado. É uma briga de foice no escuro.
Tudo isto vai se mostrar as claras assim que sair a tal reforma política, que extinguirá, na prática, os pequenos partidos. PDT e PT serão legendas de tradição esquerdista sobreviventes e devem estar prontas a receber minipartidos, ditos de aluguel, que estão à procura de um pouso.
A grande dúvida é se Luppi conseguirá abocanhar os quadros do PT e seus aliados tradicionais. O chefe pedetista está de olho na inelegibilidade de Lula. Entretanto, o ex-presidente ainda não mostrou suas cartas. Ele é um dos políticos mais hábeis da História do Brasil.
Lula não joga para a torcida. No último episódio crucial, o impedimento judicial do presidente do Senado, Renan Calheiros, o ex-presidente manobrou no sentido de evitar a desestabilização precipitada do governo de Michel Temer. No quadro atual, melhor deixar o presidente ilegítimo sangrar.
Enquanto se esvai, Temer leva consigo o PSDB para a vale de lágrimas. Cada dia seu governo fica mais tucano e menos peemedebista. Parece uma jogada maquiavélica, pois isto poderia reconfigurar uma futura aliança eleitoral do PMDB com o PT, a fórmula vencedora das últimas três eleições presidenciais. Não se subestime a capacidade de manobra de Lula. Tampouco se esqueça do nome de Henrique Meirelles.
Luppi é ingênuo ou arrojado? Ingênuo se acreditar que pode engolir o PT; arrojado se acredita que Ciro Gomes poderá empolgar a esquerda, atraída no vácuo da inelegibilidade de Lula?
A verdade é que as cartas não estão embaralhadas, como se pensa a olho nu. Como diz o velho conselheiro Acácio: “Quem ver verá”