Temerildo e sua matriosca de mil bonecas

Andres Vince
De origem japonesa e posteriormente adotada pela cultura russa, a matriosca, uma série de bonecas colocadas umas dentro das outras, carrega a simbologia da maternidade e da fertilidade.
É a síntese da promessa do governo Temerildo: o renascimento. Tirar o país de uma estrutura velha e corroída e transforma-lo num país moderno e pujante. Bastava para isso, apenas, atravessar a ponte para o futuro.
Porém, na prática, o lema do governo interino poderia ser: “Cinquenta anos de retrocesso, em cinquenta dias.”
Não podemos negar que é um feito histórico. Mais histórico ainda é o apoio incondicional a tudo isso. Desde o Congresso, passando pela imprensa e chegando, claro, aos setores oligárquicos, todos estão amando a volta do país aos velhos tempos do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
O pato e seus adeptos desapareceram por completo, embora o boato de que haverá aumento de impostos esteja, suavemente, tomando corpo de realidade.
Andresvince_2Déficit fiscal tornou-se algo positivo para o país. Segundo o bloco golpista, isso mostra a solidez da realidade das contas públicas, mesmo que elas sejam um desastre total e completo,  previsto com um ano e meio de antecedência. Um atestado de inoperância futura.
Já posso ver as notas de rodapé estampando em letras miúdas a queda de classificação dos papéis brasileiros pelas agências de risco. Um país quebrado que não para de gastar. Claro que isso transpira confiança. Pelo menos para a equipe econômica atual. Embora com menos ênfase, nem a Mirian Leitão consegue alinhar com isso. É acelerar em direção ao precipício.
Claro que o juízo de culpa pelo déficit futuro já está formado. Assim como o veredicto da presidenta Dilma, já condenada por atos meramente administrativos.
Os escândalos que até ontem causariam um oludum de panelas, hoje, não rendem nem uma condução coercitiva. Dois casos idênticos tratados de forma distinta: dois congressistas apanhados em flagrante forjado, prometendo influência no supremo, pra livrar a cara dos comparsas. Um foi preso no dia seguinte, o outro, até hoje, nem esclarecimentos prestou. Uma bala de goma pra quem acertar de qual partido era o congressista que foi preso.
Mas, ainda tem gente que não quer ver ou, acha que assim tá bom e fica jurando que se importa com o fato do outro congressista e ex-ministro estar solto e operante.
E assim o Temerildo vai brincando de matriosca, tira uma boneca de dentro da outra, alguém reclama, ele coloca de volta, mandando a equipe caprichar mais na pintura para a próxima aparição. Essencialmente, a matriosca é isso, um objeto de escultura tosca, mas que, bem pintadinho, ganha ares de ovo Fabergé.
O problema é que tem gente que fica na expectativa, achando que vai sair algo de novo de dentro da próxima boneca. Pelo tamanho da boneca e de seus apoiadores, parece que o Temerildo tem o suficiente pra manter a expectativa até 2018.
 

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