Pinheiro do Vale
A pá de cal. É assim que muitos observadores chamavam ontem à noite, em Brasília, a ação do ex-governador de Santa Catarina, Espiridião Amim, que fez o PP descer do muro para o lado do impeachment, trazendo consigo uma enxurrada de indecisos, que está pondo em perigo o mandato da presidente Dilma Rousseff.
Se o governo cair, Amin vai se consagrar como líder da direita no sul do País. Dizem quequando Lula soube, anteontem, que o catarinense poderia dobrar o seu partido, herdeiro em linha direta, de sangue da antiga Arena, comentou com os intelectuais que estavam junto com ele na Fundação Progresso, no Rio, numa manifestação pró Dilma: “a vaca foi pro brejo”, disse o ex-presidente a um grupinho que tinha, entre outros interlocutores, Chico Buarque de Hollanda e Eric Nepomuceno.
Entretanto, como dizia Honório Lemes, “não está morto quem peleja”.
A presidente e seu grupo, ainda na linha do Leão do Caverá, “está batendo em retirada com pouca munição, mas lutando”.
Ao contrário do que se imagina, não há hipótese de ela achicar se for perdendo os embates políticos nesta fase parlamentar.
Seu plano é que se a crise chegar à beira do precipício, ou seja, tendo de se afastar da presidência enquanto o Senado Federal julga as razões da Câmara dos Deputados, ela vai se entrincheirar no Palácio da Alvorada para comandar a resistência.
Como presidente, Dilma tem o direito de permanecer na residência presidencial. Temer fica com o Planalto, mas não pode mandá-lo embora do Alvorada.
O plano é não se entregar. Muitos aliados da presidente, os mais aguerridos, chegam a dizer que vão construir um bunker, expressão que os seus marqueteiros não gostam por suas conotações históricas negativas, embora a ideia de uma fortaleza inexpugnável, que é o sentido dessa palavra, seja o objetivo.
Dilma e seus seguidores pretendem manter acesa a chama da resistência, mobilizando os partidos que a apoiam e demais movimentos sociais. Todos na rua, bradando contra o golpe, enquanto, esperam os dilmistas, que o vice-presidente em exercício se afunde nas mazelas da crise econômica.
Em 180 dias o país poderá ter outra cara e todos os atores políticos venham a entender que Dilma é a melhor solução, pois não é candidata e terá propostas concretas para pacificação do país.
Uma delas seria chamar uma constituinte para a reforma política, tal como ela propôs e todos rejeitaram, depois das grandes manifestações de 2013.
Um ator insuspeito, o senador Paulo Paim, pois embora sendo da esquerda, não pertence ao círculo íntimo nem ao núcleo duro do governo, mas é petista de carteirinha e gaúcho, como Dilma, o que dá uma certa credibilidade à iniciativa. Paim apresentou ontem no Senado um
projeto de reforma constitucional convocando as eleições para essa constituinte já agora em outubro, junto com o pleito municipal. Seriam 129 membros eleitos com a finalidade de mudar o sistema político partidário e, eleitoral do Brasil.
Isto tudo são conjecturas, para que ninguém diga que não há um Plano B.
A verdade verdadeira, até o momento, é que o jogo continua empatado, pois se Temer não tem os 342 votos que precisa para derrubar a presidente, Dilma também ainda não conta com os 171 para barrar o processo no plenário da Câmara.
O ambiente piorou muito depois que o PP desembarcou. Como se dizia: O Espiridião abriu a porteira. É o efeito manada, que já se expressa em algumas crônicas. Para os articuladores do governo, o importante é conter a debandada.
É um desafio descomunal para uma executiva de perfil administrativo, como Dilma, ter de enfrentar as mais felpudas raposas da política brasileira. É possível que ela tenha subestimado seus adversários.
Um comentário em “Um plano B para o Alvorada”
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A esperança é a ultima que morre, já diria o adágio.
Ademais, seria lindo de se ver um resultado de triunfo dos contrários ao impeachment.
Colocaria no chão toda essa patota de pseudos jornalistas mequetrefes dos grandes canais, os quais se acham “bem informados” por fazerem mera boataria midiática.
Dilma fica!