Cada vez mais recorrente nas falas, o empoderamento estabeleceu-se como prática para um tipo de luta que, antes, em sua maioria, ficava nos bastidores. Não havia muito espaço para a boa e aceitável disseminação de ideias e ações pelos ditos sem voz e eram raras as tentativas de compreensão dos que determinavam verdades. Os discursos de defesa de posicionamento, que envolviam principalmente pobres, mulheres, negros, integrantes do movimento LGBT+ e outros eram comumente alvo de reações preconceituosas e poder aniquilador por parte de representantes das mais variadas correntes conservadoras.
O que vem a ser empoderar-se? O conceito tem conexão direta com assumir o controle da própria vida. No entanto, seu uso requer uma boa dose de atenção, pois envolve a consciência de que é possível fazer escolhas e reconhecer as próprias crenças, significa conhecer-se e não se deixar dominar. Mas não quer dizer que seja razoável atacar de modo análogo aos que conservam em si o ranço de tratar de temas importantes das diversidades sem bases fortes para isso. O discurso precisa ser outro, é preciso pensar e pesar as palavras.
Logo, o empoderamento está intimamente ligado ao ato de argumentar, pois se há a necessidade da consciência de alguém sobre sua própria vida, deve existir, de modo quase obrigatório, o poder do conhecimento sobre si e sobre as coisas do mundo; este poder tão simples e subestimado que vem da reflexão, do aprofundamento nos assuntos, da compreensão do mundo e de si. Afinal, não somos também resultado do mundo e deixamos muito de nós nele?
Ter conhecimento sobre si significa que existe um saber, um real saber, sem interferências, que guia para a melhor palavra, para o melhor texto, para a melhor comunicação, pois se sei, conheço, e se conheço, estou atrelada à verdade. Inclusive à verdade da flexibilidade de saber que sempre há mais por saber.
Argumentar e empoderar-se, portanto, seguem a rota do conhecimento. Não é possível anunciar-se como alguém empoderado se não há conhecimento e verdade evidentes no momento de apresentar o seu poder.
Empoderar-se, como compreendo aqui, em conexão com a argumentação, é muito parecido com o bem argumentar. É buscar a informação correta, é fazer pesquisas nos meios confiáveis, é refletir sem prender-se a dogmas, é debater consigo próprio e com outros para não cair no erro da disseminação de falsas-verdades irredutíveis, sem embasamento e prejudiciais ao bem-estar, ao bem viver, ao direito à vida.
Portanto, quem considera este conceito como mais um dos acumulados pelas modas que surgem nos tempos perdidos da história, pode estar enganado. Isso porque seu uso envolve o reconhecimento de marginalizados de que podem, sim, serem dignos diante da sociedade. Que podem se defender e a suas ideias, e que são capazes de reivindicar uma vida que seja considerada importante aos olhos do mundo como a de qualquer um. E isso não é pouco, e veio para ficar.
* Vânia Möller é licenciada em filosofia, dá cursos de argumentação e é criadora do @canaldoargumento (Instagram).