‘Acordei ontem, ainda era hoje’ na exposição fotográfica de Fábio Del Re

Foto de Fábio Del Re/Divulgação

O fotógrafo Fábio Del Re inaugura no dia 15 de março próximo, sábado, às 17h, sua nova exposição, “Acordei ontem, ainda era hoje”, no V744atelier. A mostra reúne uma série de trabalhos fotográficos que exploram a interseção entre memória, esquecimento e o tempo, criando uma reflexão profunda sobre a efemeridade da vida e a permanência das imagens. A exposição faz parte do projeto “Portas para a Arte – Fundação Bienal do Mercosul” e ficará aberta para visitação até o dia 26 de abril.

Foto de Fábio Del Re/Divulgação

A nova fase de Fábio Del Re, que sempre se destacou por sua produção autoral em fotografia, traz uma proposta mais introspectiva, com um olhar sensível para o abandono e a perda de identidade. Em “Acordei ontem, ainda era hoje”, o artista explora, entre outros temas, a “linearidade do tempo e como ele pode ser desconstruído”. Em suas palavras, “estou fazendo um trabalho que internamente está mexendo muito comigo, com questões sobre o esquecimento, o tempo e a memória”.

Foto de Fábio Del Re/Divulgação

Diferente de suas produções anteriores, que muitas vezes focaram registros de arquitetura e cultura, esta exposição adentra um universo mais pessoal, refletindo sobre o processo de descarte e o esquecimento das imagens, em especial, através da compra de fotografias antigas e esquecidas. “Chamo estas fotografias de meus órfãos, são órfãos. Elas foram descartadas, ninguém mais sabe quem são aquelas pessoas. Fui encontrando nelas algo que me tocou profundamente”, explica Del Re.

Foto de Fábio Del Re/Divulgação

O trabalho não se limita à fotografia tradicional. Fábio, que prefere “a parceria do acaso, do acidente”, se utiliza de técnicas que incluem o tempo como elemento próprio da obra, com fotos mal fixadas, mofo e furos causados por insetos. Esses elementos acabam criando uma estética única que reforça o conceito de impermanência. Ele afirma: “O tempo fez sua marca nas fotos, nos furos dos insetos, no mofo dos livros… o mais importante foram os achados e as escolhas das fotos que acompanham a narrativa”. Ainda sobre este tema, em seu texto crítico, o escritor Flávio Kiefer comentou:  “Estamos diante de uma produção que quer falar sobre o tempo, sobre a memória, sobre a presença e a ausência como conteúdo norteador, mas, se nos deixarmos levar pela fruição do que nos é apresentado, fala de muito mais”.

Foto de Fábio Del Re/Divulgação

Além da questão estética e conceitual, o ambiente do V744atelier, uma casa que também é atelier de Vilma Sonaglio, idealizadora de V744, proporciona uma relação mais íntima e orgânica entre as obras e o público. Del Re destaca: “Este espaço é muito diferente, é uma casa, pessoas moram aqui, não é uma galeria. Isso tira a ideia de uma exposição convencional e coloca o foco no trabalho em si”. Para ele, esse ambiente sem filtros e sem a formalidade de uma galeria tradicional aproxima o espectador da arte.

A exposição contará com 16 obras, aproximadamente, que variam de tamanhos e formatos, e propõem uma experiência sensorial e introspectiva, convidando os visitantes a refletirem sobre a atemporalidade e a finitude. Fábio Del Re expressa sua expectativa para a mostra: “Gostaria que as pessoas saíssem atordoadas, tocadas pela ideia de que o tempo é algo que nos escapa, que a memória e o esquecimento caminham juntos, e que o que é visto nem sempre reflete a realidade”.

Sobre Fábio Del Re

Fábio Del Re é fotógrafo e iniciou sua trajetória na New England School of Photography, em Boston (EUA), onde viveu por seis anos. Durante esse período, foi premiado com o School Honors (1989) e o Honors in Black and White (1989). Desde então, Del Re tem se dedicado a desenvolver um trabalho autoral em fotografia, sempre com uma forte presença de reflexão sobre a memória, o tempo e a arquitetura.