Do alto dos seus 75 anos, o incansável jornalista Ayrton Centeno está distribuindo a amigos, colegas e bibliotecas públicas seu último livro, Dicionário da DitaDura, onde consolida uma contundente síntese de atos, fatos, personagens e versões sobre o regime militar vigente no Brasil de 1964 a 1985.
Em 324 páginas, alinha 528 verbetes vazados na linguagem enxuta que marcou os melhores anos do Jornal do Brasil do Rio e os anos iniciais da revista Veja (nenhum desses dois veículos ganhou verbete no livro, embora sejam citados incidentalmente aqui ou ali).
Poucos textos do dicionário ocupam uma página (32 linhas). A maioria absoluta tem mais ou menos 16 linhas, o suficiente para dar conta dos causos recheados de ironias e sarcasmo, num dos mais didáticos resumos dos anos 64/85.
Folheando o livro, a gente acaba se perguntando como e por que ninguém teve essa ideia antes. O próprio Centeno explica: viu-se com a faca e o queijo na mão após concluir o livro “Os Vencedores” (Geração Editorial, 2014), no qual conta histórias dos que pegaram em armas contra a ditadura. Para escrever suas 856 páginas, entrevistou dezenas de pessoas e, além de checar arquivos, leu todos os livros sobre a ditadura.
Dez anos depois de juntar uma grande massa de informações, “achei que seria um desperdício não publicar nada sobre os 60 anos daquela tragédia que estropiou várias gerações”, disse Centeno. Assim o dicionário veio à luz quase automaticamente. Saiu com excelente qualidade de impressão em tiragem mínima custeada pelo autor, que só tem esperança de recuperar o investimento se o livro extrapolar as previsões da Editora Autografia, do Rio, responsável pela edição inicial e pelas vendas on line em seu site.
Produto de um veterano jornalista que começou nos anos 60 na revisão do Diário Popular de Pelotas até hoje não parou de trabalhar, o livro tem chance de fazer sucesso se for encarado como fonte de consulta didática – pedagógica, na realidade – por jovens estudantes ou professores que não vivenciaram os anos de chumbo.
(Geraldo Hasse)