Casa de Caio Abreu não é caso isolado: Porto Alegre vive apagão no Patrimônio Histórico e Cultural

Anotações para uma reportagem

Não tenho condições de apurar e completar as informações que reuni para uma reportagem sobre o que se afigura como um verdadeiro “apagão” que atinge Porto Alegre nos seus 250 anos, num setor vital da cidade – o da memória e do patrimônio cultural.

Diz meu código de ética que um jornalista não pode deixar de divulgar informações de interesse  público a que tenha acesso e, como considero gravissimos os indícios que tenho, coloco-os disposição, na crença de que há bons repórteres na praça, que poderão completar ou mesmo desmentir este meu relato inicial.

A demolição da casa onde viveu Caio Fernando Abreu é apenas um exemplo do descaso.

Desde 2011, havia um movimento para preservaçao do imóvel, que é “personagem” em vários textos do autor. Mas o Secretário de Cultura, Gunter Axt, declarou aos jornais que não tinha informações sobre o assunto.

Outras fontes:

1) Nelson Boeira, filósofo, ex-reitor da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), professor adjunto de Ética e Filosofia Política na UFRGS e autor de diversos artigos sobre filosofia política e história. Foi “saído” do Departamento de Memória e Cultura, da Secretaria Municipal de Cultura, por divergências com a orientação sobre licenciamentos envolvendo terrenos que têm imóveis inventariados.

Boeira, um professor de 78 anos, ligado ao MDB desde as Diretas JÁ,  evita comentar, mas admite que não concordava com algumas licenças  que envolviam prédios tombados nos bairros Moinhos de Ventos, Petrópolis e Menino Deus.

Depois de sua saída, várias obras foram autorizadas.

No bairro Petrópolis, onde a questão da preservação dos prédios representativos de um ideal de “cidade jardim” se arrasta há mais de dez anos. O inventário de imóveis passíveis de tombamento foi reduzido de mais de 600 para algo em torno de 100.

2)  José Francisco Alves, historiador da arte, autor de A Escultura Pública de Porto Alegre, 412 páginas com quase 2 mil imagens, fruto de mais de 25 anos de pesquisa. Desde os chafarizes franceses instalados em 1865 até peças que passaram a integrar logradouros públicos em 2022.

Alves não contou com nenhum apoio oficial para seu trabalho monumental.

Quando lançou o livro, mandou um exemplar para o prefeito, não recebeu sequer uma mensagem de agradecimento.

Lauro Alves / Agencia RBS

 — Temos obras de arte de valor em todas as linguagens. Isso que é importante. Temos estatuária, bustos, monumentos históricos, obeliscos, fontes ornamentais, arte moderna e arte contemporânea, além de cemitérios. Temos de tudo em grande quantidade para uma cidade do nosso tamanho”, diz o pesquisador.  

Mas esse patrimonio todo está num estado lamentável de abandono. No Departamento de Patrimônio e Memória há um único funcionário para cuidar dos monumentos e esculturas públicas, mais de 700.

O vandalismo que mutila ou rouba estátuas é um problema, mas o poder público pelo descaso faz parte dele.

A própria sede da Diretoria de Patrimônio e Memória, a Casa Godoy, na avenida Idependência, é um retrato da situação.

O prédio tombado está “caindo aos pedaços”. No pátio, esculturas mutiladas retiradas de espaços públicos estão amontoadas.

O prédio da Roco, de 1912, tombado desde 1997

Há casos mais graves, como o da confeitaria Rocco, na esquina da Riachuelo com a Dr Flores, um monumento arquitetônico do século passado, que está ruindo.

A Usina do Gasômetro, fechada há seis anos, é outro caso exemplar. O Centro Municipal de Cultura é outro…  (Continua)

 

 

 

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