A dez dias das urnas, a eleição em Porto Alegre está tomando um rumo inesperado.
O crescimento nas intenções de voto (de 11 para 17%, segundo a última pesquisa feita pela Quaest) e a entrada do governador Eduardo Leite na campanha, nos últimos dias, colocam a candidatura de Juliana Brizola, do PDT, numa posição decisiva.
Se confirmada a tendência de crescimento de Juliana, que já se pode perceber nas conversas informais e nas redes sociais, estará quebrada a polarização prevista entre Sebastião Melo (MDB/PL) e Maria do Rosário (PT/PSol/PCdoB).
De onde estão vindo esses votos, que alimentam a tendência de crescimento da candidata, se ela se comprovar? É a pergunta no ar.
As contundentes críticas que Juliana Brizola tem feito à administração de Sebastião Melo certamente vão sensibilizar, no mínimo, aquela fração que vai votar em Melo só por antipetismo.
Em qualquer circunstância, a candidata da frente de esquerda, Maria do Rosário, é a mais ameaçada neste novo cenário.
Até a hipótese de Maria ficar fora do segundo turno, impensável duas semanas atrás, se torna plausível nessa nova configuração e já há inquietantes discussões em grupos de WatsApp sobre o voto útil: levar Juliana para o segundo turno para impedir a reeleição de Sebastião Melo, repetindo o que ocorreu na eleição estadual que reconduziu Eduardo Leite ao Piratini, em 2022.
A campanha de Maria do Rosário melhorou, ela afinou seu discurso, tem se saído bem nos debates e entrevistas, seu programa no rádio e na tv se tornou mais objetivo e incisivo, mas a militância, grande força da esquerda, continua encolhida. Tudo indica que ela crescerá, mas pode não ser na medida necessária, apesar da garra e da determinação da candidata.
Quanto a Juliana Brizola, mesmo que permaneça em terceiro lugar no primeiro turno, ela será decisiva no segundo turno.
Candidata de uma aliança do PDT com o União Brasil, PSDB e Cidadania, mesmo que ela não declare apoio, seu eleitorado tende a migrar para Melo no segundo turno, selando, assim, mais uma vez, a sorte da frente de esquerda, liderada pelo PT.
É preciso considerar, porém, que um ponto forte da campanha de Juliana são as duras e pertinentes críticas que tem feito à gestão do prefeito, o que alimenta a hipótese de que seu provável crescimento possa se dar em cima do eleitorado de Melo. Melo nesta ultima semana incorporou à campanha o apoio dos caciques do MDB que se bolsonarizou, encabeçados pelo nonagenário ex-governador Pedro Simon. Mas sua campanha, repetitiva, dá sinais de que ele não tem muito o que mostrar. Os bordões e as frases de efeito tem um limite.
A consequência desses movimentos na reta final da campanha é que nem a hipótese de um segundo turno entre Maria e Juliana pode ser descartada. Mas nem nessa hipótese, pouco provável, a situação de Maria seria confortável, já que Juliana tende a ter, então, o apoio de Melo.
Aos 49 anos, Juliana Brizola iniciou sua carreira em 2008, quando se elegeu vereadora em Porto Alegre. Foi duas vezes deputada estadual (2010/2016), concorreu a vice-prefeita de Porto Alegre, na chapa de Sebastião Melo em 2016, na eleição vencida por Nelson Marchezan.
Apresenta-se sempre como herdeira política de Leonel Brizola, seu avô, mas para viabilizar alianças à direita nesta eleição suprimiu o símbolo que Brizola adotou para o PDT, a rosa vermelha da Internacional Socialista.
As cores predominantes em todas as peças de sua campanha são o azul e o amarelo.
Nota do Editor: Este artigo já estava escrito quando saiu uma pesquisa do Instituto Futura Inteligência, “em parceria com a empresa 100% Cidades” usando a abordagem CATI (entrevista telefônica assistida por computador). A pesquisa mostra um crescimento exponencial de Sebastião Melo e queda das suas duas oponentes. Não nos parece consistente o suficiente para alterar a nossa avaliação.