Livro ” A Lanceirinha” conta a história dos Lanceiros Negros para o público infantil

Ilustração: Alisson Afonso/ Divulgação

Livro infantil de Ângela Xavier, com ilustrações de Alisson Affonso, tem lançamento no ano em que os Lanceiros Negros são inscritos no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria

A história resgata o orgulho de um povo na voz de um avô e emociona os leitores com o brilho nos olhos da netinha Aisha. E comprova, com afetos cotidianos, que é possível acreditar na luta por um futuro mais justo e inclusivo.

A autora conta como surgiu a abordagem: “Sou educadora, e ao trabalhar com a EJA, fui instigada a estudar sobre o tema. Uma jovem negra me questionou sobre o assunto, que ouvira de seus avós. O ano era 2004 e pouco se falava sobre o tema. Desde então, comecei a pesquisar a temática, fiz especialização, escrevi um artigo e decidi incluir o assunto em minhas práticas pedagógicas.

A escritora Ângela Xavier foto Marco Nedeff/ Divulgação

No ano de 2018 escrevi uma esquete sobre os Lanceiros Negros, que foi contemplada em um Festival de Teatro Estudantil do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, nascia minha primeira obra literária: O Lanceirinho Negro, seguida de O Lanceirinho Negro: Herança de Porongos e Jerá Poty”. Em suas obras, a escritora tem valorizado bastante a oralidade dos mais velhos e também a ancestralidade. E, segundo ela própria, esse aspecto reflete um pouco da Ângela Xavier. Na infância ela sempre teve o hábito de escutar muito as pessoas mais velhas.

O ilustrador Alisson Affonso foto by Clô Barcellos/ Divulgação
Sobre os Lanceiros:

Em 14 de novembro de 1844, no Rio Grande do Sul, aconteceu o Massacre de Porongos. Quase 10 anos antes começara a Guerra dos Farrapos, em 1835. Estancieiros gaúchos pediam independência econômica e redução de impostos ao governo imperial. Os negros escravizados ingressaram no exército dos Farrapos em 1836, através da criação do 1º Corpo de Cavalaria de Lanceiros Negros, lutando a pé e a cavalo. Foi feita a eles uma promessa de liberdade, e essa era a única motivação do grupo.

 

A lancerinha. Aisha. Ilustração/ Divulgação

No entanto, já em épocas de tratativas de paz com o Império, alguns líderes farroupilhas entregaram aos imperiais o batalhão dos lanceiros desarmados em uma emboscada. Quase todos os combatentes negros foram massacrados. A monarquia escravagista não desejava a libertação daqueles homens e esta foi a solução encontrada. Morreram mais de cem homens negros, e os que sobreviveram voltaram à escravidão.

Em 2024, mais de 180 anos depois, no dia 8 de janeiro, foi publicada, no Diário Oficial da União, a Lei 14.795, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que insere o nome dos Lanceiros Negros no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Esta foi uma vitória coletiva do movimento negro, que continua lutando pelo protagonismo de seu povo na construção de nosso país. “É uma reparação ainda que tardia. Fico satisfeita em saber que A Lanceirinha poderá ajudar no resgate do protagonismo negro junto as nossas crianças”, coloca Ângela.

Eventos de lançamento:

No dia 13 de abril (sábado), em Porto Alegre, Ângela realiza duas atividades de contação de história, além dos autógrafos: das 10h às 12h, com o Projeto Cultural Nossa Identidade no Instituto Sociocultural Afro-sul Odomodê (Av Ipiranga, 3850) e, a partir das 16h, na Livraria Cirkula (Av Osvaldo Aranha, 522). A programação é aberta ao público e com entrada franca.

Ângela Maria Xavier Freitas nasceu em Porto Alegre, em 1972, e é professora desde 1997. Começou com EJA (educação de jovens e adultos), depois, educação infantil e séries iniciais, na rede municipal de ensino de Gravataí, no Rio Grande do Sul. Escreve para o público infantil desde 2018, é formada em Letras (Ulbra/IERGS), com especialização em História e Cultura Afro-brasileira (Instituto Dom Alberto). Dentre seus livros já publicados, O Lanceirinho Negro foi contemplado em edital, sendo distribuído em mais de 50 escolas da Região Metropolitana de Porto Alegre. Também atua como diretora de teatro, ganhando em 2018 o troféu Desconstrução da História Oficial com a esquete Lanceiros Negros no Festival Estudantil de Teatro no RS. Seus filhos, William e Vallentina, foram os seus primeiros leitores.

Alisson Affonso é cartunista e ilustrador. Nasceu em 1979, em Rio Grande, no interior do Rio Grande do Sul. É bacharel em Artes Visuais pela FURG. Começou desenhando plaquinha para a tia do picolé, e hoje, já ilustrou dezenas de livros. É premiado pelo Brasil (São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro), expôs no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e até na França, em Saint-Jus-le-Martel. Em 2023, foi patrono da 49ª Feira do Livro da FURG.