Algum resultado prático do encontro do presidente dos Estados Unidos (EUA), Joe Biden, com o presidente da China, Xi Jinping, que aconteceu esta semana, 15, à margem da reunião de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, sigla em inglês), em São Francisco, EUA, é discutível. No entanto, esse é o caminho que a China vem trilhando desde 1978, quando Deng Xiaoping assume o poder e começa as reformas econômicas.
Enquanto isso, os Estados Unidos, com sua prepotência, não deram importância às transformações e ainda suas empresas tecnológicas invadiram a China atrás de mão de obra barata. Desde o fim da União Soviética, os EUA acharam que estava tudo dominado a ferro e fogo. Hoje, atacar a China militarmente seria uma ação tresloucada e aceitar o comércio crescente dos chineses em todos os continentes de uma forma racional não é compatível com ações do imperialismo. Esse é o impasse do governo Biden.
A China realizou recentemente o 3º Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional (BRF), em Pequim, em comemoração ao 10º aniversário da iniciativa. Xi Jinping chamou de “década de ouro”, com a participação de mais de 150 países e 30 organizações internacionais nos cinco continentes. Um bilhão de dólares foi gasto ou comprometido em projetos que estão transformando cada vez mais as perspectivas de desenvolvimento de dezenas de países na Ásia, África, América Latina, Médio Oriente, Caraíbas e Pacífico.
Em um discurso em 26 de fevereiro de 1999, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, fez uma declaração que geralmente é considerada um resumo do pensamento da elite dominante estadunidense, ou da Doutrina Clinton: “É fácil … dizer que realmente não temos interesse em quem vive neste ou naquele vale da Bósnia, ou quem possui uma faixa de terra no Chifre da África ou algum pedaço de terra seca perto do rio Jordão. Mas a verdadeira medida de nossos interesses não reside em quão pequenos ou distantes esses lugares são, ou se temos dificuldade em pronunciar seus nomes. A pergunta que devemos nos fazer é: quais são as consequências para nossa segurança em permitir que os conflitos se agravem e se espalhem. Não podemos, na verdade, não devemos, fazer tudo ou estar em todos os lugares. Mas onde nossos valores e interesses estão em jogo, e onde podemos fazer a diferença, devemos estar preparados para agir.”
O embaixador dos Estados Unidos na China, Nicholas Burns, nomeado pelo presidente Joe Biden, afirmou durante uma audiência no Senado dos EUA, que a China é “o maior teste geopolítico do século 21”. Do seu jeito, os chineses responderam: “O que falta aos EUA são os meios para pressionar a China a se submeter.”
Burns tem motivos para estar preocupado, pois até no chamado “quintal dos Estados Unidos” – usado em ciência política para se referir a América Latina -, os chineses estão por todos os lados. Segundo Wang Youming, diretor do Instituto de Países em Desenvolvimento do Instituto de Estudos Internacionais da China, em Pequim, o comércio da China com a América Latina e o Caribe deve crescer 26 vezes entre 2000 e 2035, chegando a atingir US$ 700 bilhões. O comércio China-América Latina passou de US$ 18 bilhões em 2002 para US$ 315 bilhões em 2020.
Por isso, é possível entender Biden, logo após a reunião com Xi Jinping, quando caminharam de mãos dadas, respondendo uma pergunta deliberadamente provocativa da agência de notícias Bloomberg, disse que ainda acredita que seu colega chinês é um ditador. “Quero dizer, ele é um ditador no sentido que ele é o cara que dirige um país comunista baseado em uma forma de governo totalmente diferente da nossa.”
Quando questionada sobre os comentários de Biden durante uma conferência de imprensa na quinta-feira, 16, Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, disse que a declaração era “absolutamente errada” e que Pequim se opôs a esta “manipulação política irresponsável”. Ela condenou as tentativas de “semear a discórdia entre as duas nações”.
No mesmo dia, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, renovou o compromisso de Washington de defender as Filipinas depois que a China aumentou as tensões no Mar da China Meridional ao disparar um canhão de água contra um navio de reabastecimento filipino.
Austin reuniu-se com Gilbert Teodoro, o ministro da defesa nacional das Filipinas, em Jacarta, à margem da Reunião dos Ministros da Defesa da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Segundo matéria da agência Nikkei Asia, a reunião pretendeu enviar uma mensagem clara de que a administração Joe Biden apoiará o seu aliado asiático e defenderá as reivindicações marítimas das Filipinas, independentemente do resultado da reunião de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.
Em 2022, tomou posse na presidência da República no arquipélago, com apoio dos EUA, Ferdinand Marcos Jr., apelidado de Bongbong – filho do ditador Ferdinand Marcos, que governou de 1965 até ser deposto em 1986.
Em 2 de fevereiro de 2023, durante outra visita de Lloyd Austin às Filipinas, os dois países anunciaram a retomada do Acordo de Cooperação em Defesa ampliado. O secretário de Defesa dos EUA pressionou pelo avanço da expansão de um pacto de defesa, que permite aos EUA posicionar equipamentos militares e rotacionar suas tropas para mais quatro bases militares no país do Sudeste Asiático.
Não devemos esquecer que um conflito no estreito de Taiwan poderia interromper o livre fluxo de mercadorias por mar e ar ao redor das Filipinas. Taiwan passa por uma fase de tensão com a China, desde a visita a Taipei da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, em setembro de 2022.
Nesta semana os principais partidos da oposição de Taiwan concordaram em unir forças com uma candidatura conjunta nas eleições presidenciais de janeiro próximo, consolidando o seu apoio político e aumentando as possibilidades de formar um governo mais amigo da China em Taipei. O Kuomintang (KMT) e o Partido Popular de Taiwan (TPP) concordam em escolher um único candidato presidencial em vez de dividir a votação. Eles também concordaram em formar um governo conjunto caso vençam as eleições.
O candidato apoiado pelos EUA do partido que está no poder, Lai Ching-te, atualmente vice-presidente de Taiwan, escolheu Hsiao Bi-khim como seu companheiro de chapa, de acordo com reportagens da mídia local e ocidental. Hsiao, classificado pela Reuters como “um falante fluente em inglês com profundas conexões em Washington”, é o enviado de Taipei aos EUA desde 2020.
Apesar de todas as ações agressivas dos EUA, a China está vencendo pelo comércio positivo com as nações de todos os continentes, processo chamado pelos chineses de ganha-ganha. Ao mesmo tempo, mantém uma parceria militar com a Rússia para evitar qualquer movimento belicista do Ocidente.
O presidente chinês discursou na Cúpula de CEOs da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico na quinta-feira, 16, durante a qual ele pediu o comprometimento com a “missão fundadora da APEC que enfatiza a abertura, a inclusão, o desenvolvimento para todos e buscando pontos comuns enquanto arquivamos as diferenças.”
O modelo econômico da China atrai a atenção generalizada dos empresários participantes da APEC. Xi Jinping participou de um jantar, onde compareceram representantes do Conselho Empresarial EUA-China e o Comitê Nacional de Relações EUA-China, com a presença de altos executivos dos EUA, como Elon Musk, da Tesla, e Tim Cook, da Apple. Xi Jinping comentou: “a China está disposta a ser um parceiro e um amigo dos EUA.”
Atualmente, a APEC engloba quase metade da população mundial, ou seja, cerca de três bilhões de pessoas; seu PIB é de aproximadamente US$19 trilhões, 60% do PIB mundial. A China é o motor desse crescimento e a reunião de Xi Jinping com os empresários estadunidenses mostrou que eles estão ávidos em aumentar a participação nesse mercado, apesar de todas as ações do governo Biden para frear os negócios com a China. As tarifas retaliatórias impostas pelo governo dos EUA contra as importações chinesas não foram levantadas, além de esforços adicionais para exercer pressão sobre as empresas chinesas de alta tecnologia, como as de semicondutores, citando as chamadas razões de segurança nacional.
“Espero que a China e os EUA possam trabalhar juntos para uma prosperidade mais rica no mundo”, disse Elon Musk, que fez uma viagem à China há poucos meses, após o jantar, de acordo com um relatório da Agência de Notícias Xinhua.
A lista de convidados também incluía o presidente executivo da Nike, CEO da Pfizer, CEO da Qualcomm, presidente da Mastercard, entre outros.
Com Global Times, Nikkei Asia, Russian Today, Valor Econômico e Xinhua