Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse esta semana em uma coletiva de imprensa, em Pequim, que em 2021 o comércio entre a China e a América Latina ultrapassou US$ 450 bilhões pela primeira vez. A China construiu e colocou em uso mais de 100 instalações de infraestrutura na América Latina de 2005 a 2020, criando mais de 600 mil empregos locais.
O crescimento do comércio China-América Latina e Caribe (ALC) vem acontecendo de forma constante nas últimas duas décadas. Passou de US$ 18 bilhões em 2002 para US$ 315 bilhões em 2020 e, um ano depois, chegou a US$ 450 bilhões. “A China está disposta a trabalhar com os Estados da ALC para construir interconectividade transoceânica e marítima na construção do Cinturão Econômico da Rota da Seda e da Rota da Seda Marítima do século 21”, disse recentemente o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi.
Proposta em 2013, a Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), conforme o governo chinês, visa alcançar conectividade política, infraestrutura, comércio, financeira e pessoa a pessoa ao longo e além das antigas rotas de comércio da Rota da Seda.
Segundo Mao Ning, a China está pronta para aprimorar e expandir ainda mais a cooperação prática com os países latino-americanos, depois que os dois lados concordaram recentemente em aprofundar a cooperação em áreas como tecnologia e comunicações por satélite.
Mao destacou os acordos e consensos alcançados pelos dois lados no Fórum de Inovação Científica e Tecnológica China-ALC, realizado online na semana passada para expandir a cooperação em várias áreas.
Mais de 20 representantes de autoridades científicas e tecnológicas de países da América Latina e Caribe participaram do encontro online. Os representantes expressaram fortes expectativas de fortalecer a cooperação China-América Latina em tecnologia agrícola, economia digital e desenvolvimento viabilizado pela tecnologia.
Em artigo recente, Wang Youming, diretor do Instituto de Países em Desenvolvimento do Instituto de Estudos Internacionais da China, em Pequim, escreveu que o comércio da China com a América Latina e o Caribe deve crescer 26 vezes entre 2000 e 2035, chegando a atingir US$ 700 bilhões. “Essa trajetória impressionante do comércio China-ALC nos últimos 20 anos tornará a China um parceiro cada vez mais importante das perspectivas econômicas da ALC na recuperação pós-COVID”, afirmou.
Parceria Brasil e China
O estudo “Investimentos Chineses no Brasil – 2021, um ano de retomada”, de Tulio Cariello, diretor de Conteúdo e Pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), informa que, em 2021, empresas chinesas investiram US$ 5,9 bilhões no Brasil, valor 208% superior ao de 2020 e o maior desde 2017. O CEBC tem entre seus sócios o Bradesco, BRF, Banco do Brasil, Klabin, Suzano, Vale, entre outros.
Foram realizados 28 projetos – número idêntico ao de 2017 e o segundo maior já registrado –, refletindo um crescimento de 250% em relação a 2021. Mesmo com essa retomada, Cariello observa que é importante observar que os aumentos de três dígitos refletem uma base de comparação historicamente baixa, uma vez que 2020 foi um ano particularmente afetado pela pandemia de Covid-19.
A taxa de efetivação do número de projetos em 2021 chegou a 97%, com apenas um empreendimento não confirmado, sendo a maior da série histórica. O crescimento dos investimentos chineses no Brasil foi muito superior ao aumento de 23% no total de aportes estrangeiros no país em 2021 registrado pelo Banco Central do Brasil. Fontes distintas, como a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontam crescimentos de 79% e 89%, respectivamente, nos investimentos estrangeiros no Brasil.
Entre 2007 e 2021, empresas chinesas anunciaram 270 projetos no Brasil com potencial de investimentos de US$ 116,5 bilhões. Desse total, 202 projetos foram efetivados, levando o estoque de investimentos chineses no Brasil a US$ 70,3 bilhões.
Os setores de eletricidade e extração de petróleo foram os que mais receberam recursos financeiros chineses entre 2007 e 2021, com participações de 40,5% e 30,9% no valor dos investimentos, respectivamente.
Uma análise comparativa mostra que o crescimento dos investimentos chineses no Brasil acompanhou a tendência de aumento dos investimentos estrangeiros no país de forma geral. Dados do Banco Central (2022) apontam que esses aportes somaram US$ 46,4 bilhões em 2021, 23% a mais do que em 2020. Apesar disso, à diferença dos investimentos chineses, que chegaram a um patamar relativamente alto em comparação com anos anteriores, os aportes de outros países no Brasil registraram o segundo valor mais baixo desde 2010, atrás apenas dos US$ 37,8 investidos em 2020, o primeiro a sofrer os impactos da pandemia.
Com Global Times