Invasão chinesa no “Quintal dos EUA” – Parte II

Entre 2007 e 2020, as empresas chinesas investiram em 176 projetos no Brasil, que recebeu 47% dos investimentos da China na América do Sul, o que mostra a importância econômica e geopolítica do país na área chamada de “Quintal dos Estados Unidos”, um conceito muitas vezes utilizado em ciência política e nos contextos de relações internacionais para se referir à esfera de influência dos EUA.

Nos últimos 14 anos, o total de investimentos chineses no Brasil alcançou US$ 66,1 bilhões – cerca de R$ 364 bilhões -, conforme levantamento Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), que tem entre seus sócios o Bradesco, BRF, Banco do Brasil, Klabin, Suzano, Vale, entre outros. A China tem alternado com os EUA a posição de principal investidor no país desde 2010.

A CEBC descarta que tenha havido abalo nas relações econômicas o alinhamento do governo Bolsonaro ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump. No entanto, reconhece prejuízos à relação política entre Brasília e Pequim com o aprofundamento das tensões.

Do total dos investimentos chineses no país, 48% foram direcionados ao setor de energia elétrica – com a presença de gigantes como as estatais State Grid e China Three Gorges –, seguido por extração de petróleo e gás (28%), extração de minerais metálicos (7%), indústria manufatureira (6%), obras de infraestrutura (5%), agricultura, pecuária e serviços relacionados (3%) e atividades de serviços financeiros (2%).

No início de 2017, a State Grid Brazil Power Participações S.A. (SGBP) assumiu o controle acionário da CPFL Energia, com sede em Campinas, São Paulo. A empresa, líder em geração renovável, detém 83,7% do capital social, cerca de US$ 600 bilhões em ativos e cerca de US$ 11 bilhões investidos no setor elétrico brasileiro​.

Responsável por distribuir cerca de 65% da energia elétrica consumida no Rio Grande do Sul, a State Grid, através da RGE, é hoje a maior distribuidora da CPFL Energia em extensão territorial e número de cidades atendidas: três milhões de clientes em 381 municípios.

Em julho de 2021, a CPFL arrematou o braço de transmissão da CEEE, a CEEE-T, por R$ 2,67 bilhões, ágio de 57,13%. A State Grid Corporation já demonstrou interesse também pela CEEE Geradora. O governo Eduardo Leite (PSDB) projeta a privatização da CEEE G para o início de 2022, que significará a total desestatização da companhia, com o controle da CEEE Distribuição nas mãos da Equatorial e CEEE Transmissão, da State Grid.

Eletrobras

Em 2017, a Shanghai Electric estudava assumir a transmissão da Eletrosul, cujos os investimentos chegavam perto de R$ 4 bilhões. Naquele momento, a subsidiária da Eletrobras pretendia iniciar um processo para selecionar empresas interessadas em tornarem-se sócias do empreendimento. No entanto, em 2018, a Shanghai Electric informou a desistência da parceria com Eletrosul em transmissão.

A Shanghai Electric é uma multinacional chinesa de geração de energia e fabricação de equipamentos elétricos com sede em Xangai. Com faturamento da ordem de US$ 12,3 bilhões.

O assunto retornou à mídia em outubro passado, quando o Ministério de Minas e Energia sinalizou que a capitalização da Eletrobras será realizada no primeiro trimestre de 2022.

Atualmente, a privatização da Eletrobras é questionada em duas ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) que tramitam no Supremo, de autoria dos partidos PT, PDT, PSB, Psol, Rede, PCdoB e Podemos.

Terras raras

Um dos primeiros movimentos do presidente dos EUA, Joe Biden, após a sua posse, foi assinar em 24 de fevereiro de 2021 uma ordem executiva para determinar uma revisão das cadeias de suprimento críticas para o país, em um esforço para diminuir a dependência da China em uma série de produtos estratégicos, como semicondutores e terras raras.

A China monopoliza 80% da produção global de 17 elementos químicos conhecidos coletivamente como terras raras, um dos motivos da guerra tecnológica e comercial travada com os EUA. Produtos como computadores, celulares, carros elétricos, micro-ondas, fibra óptica, cerâmicas avançadas, lasers, mísseis, satélites, necessitam de algum desses minerais.

No Brasil, em junho de 2021, representantes da Câmara Brasil-China de Comércio, Indústria, Serviço e Inovação (BraCham) visitaram a Serra gaúcha e tiveram acesso a diversos projetos que despertaram o interesse dos chineses, dentre eles, a fábrica de grafeno da Universidade de Caxias do Sul (UCS).