Muito tem-se falado que está em curso um realinhamento global que levará a uma nova configuração das potências, comparável à Conferência de Yalta, com um possível encontro entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping.
A Conferência de Yalta reuniu três grandes líderes históricos: Franklin D. Roosevelt (EUA), Josef Stalin (URSS) e Winston Churchill (Reino Unido) de 4 a 11 de fevereiro de 1945 em Yalta, na Crimeia, após mais de cinco anos de guerra e milhões de mortos.
Se o objetivo de Yalta era criar as condições para uma ordem pós-guerra genuinamente pacífica, então a conferência fracassou. Na verdade, devido as aspirações contraditórias de EUA e URSS, esse objetivo nunca foi considerado.
Praticamente já ocupada, a Alemanha não estava mais em condições de resistir por muitas semanas. A Itália estava rendida e o Japão ainda resistia. Na Conferência de Yalta, Roosevelt, Churchill e Stalin, considerando-se vencedores sobre os nazistas e fascistas, moldaram o mundo do pós-guerra. Iniciava-se a discussão sobre a nova ordem internacional.
Apesar de suas diferenças ideológicas, eles concordaram em erradicar o nazismo alemão e o militarismo japonês de uma vez por todas. Os acordos alcançados na Crimeia foram posteriormente confirmados e expandidos na Conferência de Paz de Potsdam em julho-agosto de 1945.
Um dos principais resultados dessas negociações foi a criação das Nações Unidas e a adoção da Carta da ONU, que continua sendo a principal fonte do direito internacional. Os propósitos e princípios consagrados na Carta são projetados para garantir a coexistência pacífica e o desenvolvimento progressivo das nações.
O sistema Yalta-Potsdam foi baseado no princípio da igualdade soberana: Nenhum estado poderia reivindicar domínio – todos são formalmente iguais, independentemente de território, população, poder militar ou outros fatores. A realidade foi bem outra nas décadas seguintes.
A Conferência de Yalta, às margens do Mar Negro, foi uma das três grandes conferências que determinaram o futuro da Europa e do mundo no pós-Guerra (além da de Teerã, em 1943, e a de Potsdam, em meados de 1945). Mesmo que a divisão do mundo não estivesse nos planos das lideranças aliadas neste momento, a Guerra Fria acabou sendo uma das consequências do encontro.
Foi aprovada uma declaração sobre a Europa libertada e discutiram-se várias questões, cuja solução era apenas parcial. Por fim, eles tiveram que se curvar aos fatos: os russos estavam às margens do rio Oder, no Leste, e os estadunidenses, na fronteira oeste da Alemanha.
Tanto os EUA quanto a URSS queriam cooperação em seus próprios termos. Apesar dos acordos da Conferência de Yalta, em poucos meses o palco estaria montado para a Guerra Fria — a disputa entre as duas superpotências recém-emergidas que dividiram o mundo em dois campos ideológicos durante décadas.
“A Rússia, como a maioria da comunidade internacional, sempre aderiu ao princípio da cooperação interestatal. No entanto, o Ocidente, ainda afligido por uma síndrome de excepcionalismo e acostumado a agir dentro de um paradigma neocolonial, nunca se sentiu confortável com uma estrutura de cooperação interestatal baseada no respeito ao direito internacional. Como a ex-secretária de Estado adjunta para Assuntos Europeus e Euroasiáticos dos Estados Unidos, durante a administração do presidente Barack Obama (de setembro de 2013 até janeiro de 2017), Victoria Nuland admitiu abertamente, que em sua opinião os acordos de Yalta não foram um bom negócio para os EUA e nunca deveriam ter sido assinados. Essa mentalidade explica muito do comportamento de Washington no pós-guerra, pois as elites americanas viam o sistema Yalta-Potsdam como uma restrição inconveniente”, disse em entrevista para a Russian Today, Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Federação Russa.
Segundo ele, “a revisão da ordem pós-guerra pelo Ocidente começou quase imediatamente, com o infame discurso de Fulton de Winston Churchill, em 1946, efetivamente declarando uma Guerra Fria contra a União Soviética. Os acordos de Yalta-Potsdam foram tratados como uma concessão tática em vez de um compromisso vinculativo. Consequentemente, o princípio fundamental da igualdade soberana consagrado na Carta da ONU nunca foi totalmente adotado pelos EUA e seus aliados.”
Lavrov se refere a um dos discursos mais importantes que Churchill faria em sua carreira, o “Sinews of Peace”, também conhecido como o “Discurso da Cortina de Ferro”, onde definiu como “ambições agressivas da União Soviética”. Proferido no Westminster College, na cidade de Fulton, Missouri, apenas um ano após o fim da Segunda Guerra Mundial, este discurso serviria como base na retórica do Ocidente para os próximos quarenta e cinco anos da Guerra Fria. Churchill havia viajado para os Estados Unidos a convite do presidente Truman.
Os acordos e tratados de paz internacionais, negociados sobretudo a partir de 1944, consagraram a primazia da moeda norte-americana por meio de diferentes mecanismos. No capítulo V sobre reparações, presente no documento aprovado na Conferência de Yalta, em seu artigo quarto, ficou acordado, entre os Estados Unidos e a URSS, que as reparações a serem pagas pela Alemanha em forma material seriam contabilizadas em dólares, numa quantia máxima de US$ 22 bilhões, sendo que 50% à URSS.