Os dados que compõem o Global Wealth Report 2023 (Relatório de Riqueza Global 2023), do banco suíço UBS, que adquiriu o Credit Suisse em junho passado, mostram o pior crescimento em 15 anos, desde a crise financeira global de 2008. No mundo, a riqueza líquida total privada caiu para US$ 454,4 trilhões. A maior parte da queda foi sentida nas famílias da América do Norte e da Europa, que perderam um total combinado de US$ 10,9 trilhões no final de 2022.
Ásia-Pacífico registrou perdas de US$ 2,1 trilhões, enquanto a América Latina é o ponto fora da curva com aumento da riqueza total de US$ 2,4 trilhões, ajudado por uma média apreciação da moeda de 6% em relação ao dólar americano.
Os Estados Unidos, que perderam US$ 5,9 trilhões em 2022, lideram a lista de declínios de riqueza. Perdas de US$ 1 trilhão ou mais foram registradas no Japão (-US$ 2,5 trilhões), China (-US$ 1,5 trilhão), Canadá (-US$ 1,2 trilhão) e Austrália (-US$ 1 trilhão).
Ao contrário, o número de milionários cresceu na Rússia – de 351.000 para 408.000, no Brasil – de 293.000 para 413.000, no Irã – de 142.000 para 246.000, no México – de 323.000 para 393.000 e na Noruega – de 247.000 para 352.000.
O Brasil também teve o maior ganho de milionários em números absolutos em 2022. Foram 120 mil, o que fez o número de pessoas que têm ao menos US$ 1 milhão subir para 413 mil – eram 293 mil no ano anterior – 41% de crescimento, segundo relatório anual do banco UBS.
O relatório sobre a riqueza familiar global aponta que o número de super-ricos, com patrimônio acima de US$ 50 milhões, também caiu, com 22.490 membros a menos no ano passado em relação ao anterior.
De certa forma, os números divulgados esta semana refletem a crise do capitalismo e sua crença fundamental na concentração da renda acima de tudo, às custas da miséria do sul global. Também o final do ciclo Bretton Woods, que no pós-Segunda Guerra Mundial estabeleceu os principais contornos do sistema monetário mundial baseado no dólar, com os Estados Unidos assumindo a hegemonia do mundo.
Um mundo unipolar com seu modo de governança global que desafia a diversidade do mundo moderno e a ascensão de outros estados não ocidentais é coisa do passado, mesmo sendo prematuro definir qual será a estrutura de uma futura ordem mundial multipolar.
Infelizmente, o aumento de milionários no Brasil não significa maior distribuição de renda. Ainda convivemos com questões econômicas do século XVIII, onde os fisiocratas seguidores de François Quesnay, colocavam a agricultura no centro de seu sistema econômico, como fator gerador de riqueza.
Defendiam a ideia hoje ultrapassada de que a economia poderia funcionar por si mesma, sem a interferência excessiva do estado. Cunharam a expressão laissez-faire, laissez passer, que passou a identificar a política de não intervenção na economia. Eles foram a transição do mercantilismo que via a riqueza nos elementos naturais (metais e pedras preciosas), no acúmulo de superávits comerciais.
E assim ainda estamos hoje com nosso Congresso dominado por representantes dos fisiocratas, dos mercantilistas e mais a bancada da bala. Ainda somos uma grande plantation, um modelo muito antigo em que se destacam quatro aspectos principais: latifúndio, monocultura, mão-de-obra escrava e produção voltada para o mercado externo, pouco importando a fome de mais de 30 milhões de brasileiros.
No entanto, as expectativas para os próximos anos são positivas, conforme o UBS. O relatório diz que, apesar da queda no número de milionários em todo o mundo, a riqueza global, que é medida em posses pessoais de ativos — desde imóveis até ações —, deve aumentar 38%, atingindo US$ 629 trilhões até 2027. O crescimento dos países de renda média será o principal impulsionador das tendências globais, incluindo os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).