Queda do Índice de Atividade Econômica abre espaço para redução da taxa de juros

O Banco Central (BC) informou nesta sexta-feira que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de março teve queda de 0,15% ante fevereiro na comparação dessazonalizada, na contramão da mediana das expectativas de analistas. O IBC-Br é uma das ferramentas usadas pelo BC para definir a taxa básica de juros do país. Com o menor crescimento da economia, por exemplo, teoricamente haveria menos pressão inflacionária, o que poderia contribuir para o relaxamento dos juros.

Então, é possível imaginar que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, a taxa Selic pode ser reduzida e, pelo menos, afrouxar a corda no pescoço do brasileiro, endividado e mal pago. A taxa Selic representa os juros básicos da economia brasileira, influenciando todas as taxas de juros praticadas no país. Tem esse nome por conta do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, um sistema administrado pelo BC em que são negociados títulos públicos federais. A taxa média registrada nas operações feitas diariamente nesse sistema equivale à taxa Selic.

Apesar da redução do IBC-Br, os economistas de plantão da mídia corporativa informam que essa queda na margem, em comparação com o mês anterior, não importa. E têm uma explicação estranha, atribuindo a queda à base de comparação muito forte, bla, bla, bla. Para eles, o que vale é comparação com março de 2022, com alta de 5,5%. Ora, naquele momento o país, com um governo desastroso de Bolsonaro, estava saindo de dois anos de pandemia.

Essas fontes da mídia corporativa também não levam em conta que o Índice de preços no consumidor (IPCA) voltou a perder ritmo em abril, registrando alta de 0,61% na comparação com março. A inflação acumulada em 12 meses cedeu para 4,18%.

Portanto, com BC pagando ao comprador de título público a taxa Selic de 13,75% ao ano, esse felizardo aplicador tem, comparando com o IPCA de 4,18% ao ano, um ganho real acima da inflação de 9,57%. Nenhum banco central no mundo paga isso.

O crescimento da dívida pública é explicado principalmente pela elevação acelerada da Selic pelo Banco Central, a qual alcançou 13,75% em agosto de 2022 e permanece até agora sob falsa justificativa de controlar a inflação, provocando forte impacto em toda a economia do país. Um índice pornográfico, conforme o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes.

E, com o atual índice de 13,75% ao ano, o BC mais do que dobrou os gastos com juros pagos aos bancos com o uso das operações compromissadas, que hoje são o principal instrumento de gestão da política monetária. Somente em 2022, o BC desembolsou R$ 133,22 bilhões com juros, alta de 160% em relação a 2021, quando pagou R$ 51,1 bilhões ao sistema financeiro nacional.

As operações compromissadas significam remuneração da sobra de caixa dos bancos. De 2003 a 2022, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o custo somado para administrar a oferta de recursos disponíveis na economia foi superior a R$ 1 trilhão. Se corrigido pelo IPCA, o montante ultrapassa R$ 1,8 trilhão. Em média, são R$ 60 bilhões pagos por ano com o mecanismo. Essa operação é incluída no cômputo da dívida pública. Quanto mais dessas operações o BC realiza, mais a dívida pública é afetada.

Além disso, os bancos ganharam em 2022, com as transações em cartões, R$ 3,31 trilhões, um aumento de 24,6% em relação a 2021, conforme a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

A inadimplência no rotativo do cartão de crédito para pessoas físicas cresceu nove pontos percentuais em 2022 e chegou a 44,7% no fim do ano — a maior taxa da série histórica do BC, iniciada em março de 2011.

A estimativa do banco suíço UBS é que o 1% mais rico da população brasileira detém 49% de toda a riqueza familiar do país. Depois dos bancos, são esses os que mais ganham com os títulos públicos.

Enquanto isso, em 2022, o Segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil apontou que 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer — o que representa 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome.